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Apresentação, análise e interpretação dos dados empíricos

5. Política educativa, liderança e as manifestações culturais na Escola Secundária Belga

5.4 Manifestações culturais na Escola Secundária Belga

No contexto escolar podemos observar três tipos de manifestações culturais: a integradora, diferenciadora e a fragmentadora (cf. Cap. II). Contudo, na escola estudada apenas conseguimos identificar duas manifestações (a integradora e a diferenciadora), embora predomine a perspetiva integradora, pois, de acordo com os dados recolhidos, existe um consenso na partilha dos valores e crenças da escola, ou seja, todos os membros obedecem a um e único comando que é o diretor da escola, que é o líder na instituição escolar. As pessoas não partilham esses valores por ser só o diretor, mas sim um líder que possui habilidades técnicas e pessoais, conseguindo mais simpatia dos funcionários e transmitindo-lhes confiança na execução das suas tarefas quotidianas.

Tabela 13: Ambiente da escola em termos de conflitos

E1 Representante dos alunos E2 Diretor da escola E3 Representante dos professores E4 Presidente do conselho da escola E5 Representante dos funcionários (não docente) Ambiente da escola em termos de conflitos

Não existe Clima cordial e boa cooperação As vezes tende a distanciar-se da direção Opositores que criam um impulso à direção para o desenvolvimento Temos um bom relacionamento

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

De acordo com os nossos entrevistados e segundo a tabela n.º 13, no cômputo geral, na escola não existem conflitos, prevalecendo um bom ambiente, consenso e partilha de valores, caraterísticas patentes da manifestação cultural integradora. Esta realidade também foi confirmada nas nossas observações, particularmente esse bom clima entre o pessoal docente e não docente no desenvolvimento das suas atividades (notas de campo 19/02/2019)

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O diretor da escola sente-se mais representante dos atores escolares, principalmente dos professores, porque preocupa-se muito com os aspetos informais mais subtis e simbólicos da vida escolar.

Esta partilha dos valores entre os funcionários da instituição deve-se à abertura do diretor no processo de tomada de decisão. Além dos dispositivos legais, ele privilegia a auscultação e depois é que são tomadas as devidas decisões. Nem sempre a auscultação é possível na presença de todos os funcionários; ele recorre frequentemente ao coletivo de direção e ao conselho da escola.

Uma das caraterísticas visíveis da manifestação cultural integradora na Escola Secundária Belga é que notamos esta partilha dos valores e crenças no espírito de partilha da informação difundida pelo diretor para os seus colaboradores através de vários meios, sejam circulares, avisos, despachos, etc, que auxiliam os funcionários no comportamento que devem adotar dentro e fora da instituição de ensino, de modo a que sejam o exemplo ou espelho da sociedade e a prestação de contas que não deixa muitas penumbras na sua gestão quotidiana.

Todos os funcionários (docentes e pessoal não docente), alunos, pais, encarregados de educação e o coletivo de direção respeitam os seus direitos e deveres plasmados no regulamento interno da escola e outros documentos normativos que guiam as atividades escolares.

O diretor da escola reúne consenso na direção da escola. Antes de ser indicado como diretor fez parte da comissão interina que assegurou a Escola Secundária Belga depois da cessação do antigo diretor até à sua indicação. Percebemos que todos os atores da escola estão sob um único comando do diretor e cumprem todas as orientações exigidas a nível central e as produzidas localmente, ou seja, no contexto escolar.

Nas reuniões com o coletivo de direção, entre os funcionários e no conselho de escola reina um ambiente democrático e participativo, já que todos têm direito à palavra, não há intimidação, as pessoas são livres de expor o que pensam de modo a solucionar um problema ou mesmo para alcance de certo objetivo planificado pela escola. Antes de tomar qualquer decisão, o diretor ausculta primeiro as pessoas, ouvindo as suas opiniões, depois é que toma a decisão ou o coletivo presente toma a decisão.

Maioritariamente as decisões da escola são tomadas pelo coletivo de direção, mediante a consulta do órgão máximo que é o conselho de escola. O conselho de escola reúne-se quatro vezes por ano ordinariamente e extraordinariamente sempre que houver necessidade.

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O coletivo de direção reúne-se sempre uma vez por semana (cf. figura n.º11 acima), o que facilita a não acumulação de dossiers para a tomada de decisão de certos assuntos que estejam na agenda da semana, permitindo, assim, a fácil resolução dos problemas, evitando o descontentamento e a fúria dos visados em caso de problemas com os funcionários. Não só, para estes tipos de situações, mas também assuntos relacionados com o quotidiano da escola.

O ambiente interno é saudável, nota-se que os funcionários trabalham livremente e cumprem com as suas obrigações duma forma natural, não duma forma coerciva ou sob pressão. De salientar que há momentos de pico, por exemplo, no início do ano letivo, no período de matrículas, no final de cada semestre e final do ano que, por natureza, exigem esforços dobrados para a realização das suas tarefas.

Para o representante dos professores o diretor,

“participa nas preocupações dos funcionários, […] ele atende a todos sem descriminar, isto faz com que as pessoas se queriam distanciar-se aproximem”. (RPCE, E3:11)

Na escola, todos os funcionários, independentemente do cargo que ocupam, desde o elementar até ao topo, partilham os mesmos valores, crenças e ideologias, carregam a instituição escolar nas suas costas, nos momentos felizes e tristes, ou seja, de sucessos e insucessos. Têm uma visão comum de onde estão e para onde querem ir, isto é, a dado momento, deve-se à maior divulgação e socialização de todos os instrumentos normativos existentes nas escolas. Podemos notar no seguinte exemplo, segundo o relatório anual de atividades referente ao ano de 2018, que a assiduidade dos professores, duma forma geral, foi boa, o cumprimento das atividades ronda os 96.6%. Tal taxa de cumprimento pode ser explicada pelo elevado nível de centralização do sistema educativo moçambicano e a hierarquia existente no mesmo a partir do ministério até as escolas, onde o regulador ou legislador traça minuciosamente as políticas, missão, visões, métodos e meios de ensino, cabendo as instâncias a nível micro (a escola) incutirem nos seus membros as orientações e procedimentos centrais.

Conforme o regulamento interno da escola, os professores nas férias intercalares participam nas atividades programadas pela escola, têm autoridade para solucionar quaisquer problemas que surjam na sala de aula e devem canalizar para o diretor de turma e por sua vez para a direção os problemas que não conseguem solucionar na sala de aulas. As aulas de recuperação devem ser comunicadas atempadamente ao setor pedagógico, isto mostra-nos a entrega que esses atores têm pela escola e o espírito de partilha da informação.

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No seio da escola o diretor criou uma cultura de estabilidade e partilha entre os membros, incentivando o diálogo, comissões de trabalhos permanentes, de modo que as pessoas possam conhecer-se melhor, porque, às vezes, julgam as pessoas sem de antemão as conhecer. Deste modo, é fácil distinguir o comportamento de um em relação ao outro, quem está bem-disposto ou indisposto, ou seja; quando tem dificuldades ou não.

De tal forma incute-se nos funcionários um espírito de solidariedade e cooperação que as pessoas parecem que estão numa organização familiar, transmitindo-lhes mais confiança e segurança nos seus postos de trabalho.

Esta confiança garante-lhes mais produtividade e a acreditarem no seu líder, seguindo os seus ideais, não só por ser o líder formal, mais sim pelas suas capacidades e habilidades em convencer as pessoas a seguirem conduta em detrimento da outra. As pessoas acreditam que com o seu líder as coisas funcionam bem e criam condições favoráveis para a realização do trabalho tanto docente como não docente.

Deste modo, nos últimos dois anos, o nível de conflitos na instituição escolar reduziu-se drasticamente, muito embora não tenham sido extintos pois, como sabemos, os consensos nem sempre são unânimes. Quando assim acontece, estamos perante a manifestação diferenciadora da cultura na escola, expressa pelos dissensos e conflitos entre os atores escolares.

Além dessa caraterística, como a liderança do diretor é democrática e participativa, logo a priori, existem pessoas com opiniões ou pontos de vistas diferentes em relação ao diretor ou o coletivo de direção. Essas ideias nem sempre são destrutivas de modo a criar um mal-estar, são também construtivas para o bem da escola, forçando a direção para que dê o máximo de si.

Podemos observar na tabela n.º 13 que alguns dos nossos entrevistados deixam claro que no seio da escola, por vezes, tem havido alguns comportamentos desviantes, e que no fim acabam conformando-se, desenvolvendo as atividades normalmente. Segundo o presidente do conselho da escola, o conflito,

“existe em qualquer sociedade, quanto a oposição na direção da escola não discordo que não exista, como sendo uma instituição, nunca notabilizei duma forma direta, sei que alguns não podem gostar de algumas atitudes da direção ou do conselho, mais estão sujeitos a cumprir porque não te outra forma se não cumprirem as tais decisões.” (PCE, E4:17)

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Os conflitos também surgem na escola por causa da forma de acesso ao cargo do diretor no interior da organização (é nomeado), principalmente quando se lida com seres humanos com uma vasta diversidade cultural, como realça o presidente do conselho da escola.

Em todas as organizações com e sem fins lucrativos existem pessoas com ideias diferentes de modo a pressionar os dirigentes a pautarem pela boa conduta, trabalharem em prol do desenvolvimento da instituição, bem como dos seus colaboradores.

No final da abertura do ano letivo 2019, numa conversa informal com um dos professores, notamos um distanciamento, quando abordávamos as premiações dos melhores funcionários do ano transato: dizia o seguinte, “não é para mim, tem certas pessoas que são reconhecidas” (notas de campo 01/02/2019).

Para o representante dos professores,

“uma das coisas que acontece com as instituições dessa natureza, se um professor se sente lesado, tem a tendência de distanciar-se da direção, mas depois de passar um tempo verá que aquilo que ele alegava ter razão, descobre que não tinha razão e volta”. (RPCE, E3:16)

Segundo as nossas observações, o elenco atual de direção da Escola Secundária Belga, nesses dois últimos anos, parece ter minimizado esses conflitos entre a direção e os funcionários, bem como as expetativas pessoais, apesar de ainda existirem em pequena escala, que não afetam o funcionamento normal do trabalho na instituição. São mais rumores de pequenos grupos que estão descontentes num ou outro aspeto.

Conforme o Presidente do conselho da escola, apesar desses pequenos episódios,

“ a direção era muito jovem e criativa, a liderança do diretor da escola, importa frisar, que é uma direção que é impenetrável” (PCE, E4:12)

Como é uma direção robusta, conhecedora de todos os problemas da escola por causa da sua larga experiência e com o diálogo permanente, consegue sanar esses pequenos incidentes que ocorrem. Segundo o presidente do conselho da escola, a sua liderança no órgão é democrática, privilegiando a contribuição de todos atores escolares,

“nos integramos as ideias quer dos alunos, quer dos pais, quer dos professores nos acolhemos, somos sensíveis no acolhimento das ideias e dai nos balanceamos o que é vital e conseguimos

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desenhar dentro do ideal ver aquilo que é mais primordial para o consumo imediato da escola mais do princípio somos democráticos”. (PCE, E4:11)

No que diz respeito à perspetiva fragmentadora da cultura, na Escola Secundária Belga, conforme a tabela n.º 13, elaborada a partir das entrevistas dos nossos cinco entrevistados e as nossas observações, mesmo na nossa análise documental, não constatamos essa manifestação no interior da escola. Como sabemos, ela carateriza-se por uma desconexão de quase todos os processos, ligada a certas ambiguidades.

Constatamos a quase a inexistência dessa manifestação no seio da escola, o que não quer dizer que não possa existir.