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Estratégias metodológicas

6. Técnicas de pesquisa

Para Chizzotti (2001:89), "a coleta de dados não é um processo acumulativo e linear cuja frequência, controlada e mensurada, autoriza o pesquisador, exterior a realidade estudada e dela distanciando, a estabelecer leis e prever fatos". O autor realça,

"Os dados são colhidos, iterativamente, num processo de idas e voltas nas diversas etapas da pesquisa e na interação com seus sujeitos. No desenvolvimento da pesquisa, os dados colhidos em diversas etapas são constantemente analisados e avaliados. Os aspetos particulares novos descobertos no processo de análise são investigados para orientar uma ação que modifique as condições e as circunstâncias indesejadas. (Chizzotti, 2001:89; itálico no original)

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Neste estudo de caso, optamos pelas seguintes técnicas de recolha de dados: a análise documental, a entrevista e a observação.

6.1 Análise Documental Segundo Yin (2009),

“para os estudos de casos, o uso mais importante dos documentos é para corroborar e aumentar a evidência de outras fontes”. Em primeiro lugar, os documentos são úteis na verificação da correção da ortografia e dos títulos ou nome das organizações que talvez tenham sido mencionados em uma entrevista. Em segundo lugar, os documentos podem proporcionar outros detalhes específicos para corroborar a informação de outras fontes. Os documentos desempenham um papel explícito em qualquer coleta de dados na realização de estudos de caso. As buscas sistemáticas de documentos relevantes são importantes em qualquer plano de coleta de dados". (Yin, 2009:129-130)

Bogdan e Biklen (1994:180) referem que "nesses documentos os investigadores podem ter acesso à perspetiva oficial, bem como as várias maneiras como o pessoal da escola comunica".

Muito frequentemente, os documentos “servem como substitutos de registos de atividades que o investigador não poderia observar diretamente. Às vezes, é claro, a pessoa que faz os registos é um bom observador, mais especialista do que o investigador”. (Stake, 2009:85).

Conforme Bogdan e Biklen (1994:180), "as escolas e outras organizações burocráticas têm a reputação de reproduzir uma profusão de comunicações escritas e ficheiros".

Deste modo, analisamos os seguintes documentos na escola: o plano de atividades e orçamento, o regulamento interno da escola, o relatório anual das atividades, as atas das reuniões do conselho da escola, circulares, os mapas estatísticos e de outros documentos elaborados pelo diretor da escola.

Para poder compreender melhor o Sistema Nacional de Educação e o papel do diretor recorremos também à análise da legislação publicada desde o período colonial, após a independência, até aos dias de hoje, para percebermos como é que a educação está organizada e como a figura do diretor das escolas em Moçambique foi concebida e quais as suas funções e competências.

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Não obstante, consultamos regulamentos e manuais do conselho de escola, que é um dos órgãos que prevê a participação dos pais e encarregados de educação na vida da escola.

6.2 Entrevistas

Para Rubin e Rubin (1995:17), "a entrevista qualitativa18 requer uma escuta intensa, um respeito

e uma curiosidade sobre o que as pessoas dizem, e um esforço sistemático para realmente ouvir e entender o que as pessoas dizem". O autor acrescenta "em entrevistas, muitas vezes estamos tentando descobrir as regras da cultura que estamos estudando".(Idem:17)

Na mesma senda, o autor afirma que as,

"Entrevistas qualitativas diferem em estilo. Algumas entrevistas são mais agressivas que outras. Eles também diferem na ênfase relativa em entender a cultura como o objeto principal do estudo. Em algumas entrevistas, o objetivo é extrair narrativas; em outros, você fica feliz se o entrevistado lhe contar uma história. O escopo da arena de pesquisa também varia de um tipo de entrevista para outro". (Rubin e Rubin, 1995:26)

Conforme referencia Yin (2009:133), “as entrevistas são conversas guiadas, não investigações estruturadas”. Esta colocação do autor vem ao encontro de Quivy e Campenhoudt (2017),

“a entrevista distingue-se pela aplicação dos processos fundamentais de comunicação e de interação humana. Este processo permite ao investigador retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados. Carateriza-se por um contato direto entre o investigador e os seus interlocutores e por uma fraca diretividade por parte daquele”. (Quivy e Campenhoudt, 2017:191-192)

Dentro desta ótica, para Haguette (1995:86), a entrevista “é um processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”. Paralelamente, para Ghiglione e Matalon, (1997:7) a entrevista pode ser definida “como uma interrogação particular acerca de uma situação englobando indivíduos, com objetivo de generalizar”. Corroborando Bogdan e Biklen, (1994:134), a entrevista é “utilizada para recolher dados

18Como refere Rubin & Rubin (1995:19), "a entrevista qualitativa abrange uma variedade de formas de questionamento. A família de entrevistas qualitativas difere no grau de ênfase na cultura, na escolha da arena ou nos limites do estudo e nas formas específicas de informação que são procuradas".

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descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo”.

Conforme Yin (2009),

"as entrevistas19 são uma fonte essencial de evidência do estudo de caso porque a maioria delas

é sobre assuntos humanos ou eventos comportamentais. Os entrevistados bem informados podem proporcionar insights importantes sobre esses assuntos ou eventos. Eles também podem fornecer atalhos para a história prévia dessas situações, ajudando-o a identificar outras fontes relevantes de evidência". (Yin, 2009:135; itálico no original).

A fim de compreender o papel do Diretor como instância de regulação cultural e simbólica da escola, utilizamos a classificação do tipo de entrevistas segundo Yin: privilegiando a entrevista focada, na qual a pessoa é entrevistada durante um curto período – uma hora, por exemplo. Nesses casos “as entrevistas até podem permanecer abertas e assumir uma maneira conversacional, mas é a maior probabilidade de ser seguido um determinado conjunto de questões derivadas do protocolo do estudo de caso” (Yin, 2009:134). Neste sentido, entrevistamos os membros do Conselho de Escola (o Diretor da Escola, o Presidente do Conselho da Escola, os Representantes dos professores, do corpo técnico administrativo e dos alunos).

De salientar que as entrevistas decorreram no ambiente escolar, nos seus respetivos postos de trabalho, sem nenhuma perturbação, exceto a entrevista feita ao presidente do conselho que se realizou fora do recinto da escola. Por causa da sua agenda de trabalho tivemos que arranjar um meio-termo para que tal acontecesse e a entrevista decorreu normalmente, sem sobressaltos.

Para Guerra (2010:60), as entrevistas "devem ser realizadas preferencialmente num lugar neutro, ou pelo menos de fácil controlo pelo informador. O controlo do território da entrevista coloca mais à vontade e permite-lhe também uma melhor gestão do tempo se a entrevista for longa".

19 “Ao mesmo tempo, mesmo que as suas entrevistas foquem os eventos comportamentais, porque são os integrantes principais de seu estudo de caso, elas devem ser sempre consideradas apenas relatos verbais. Como tal, mesmo ao relatarem esses eventos ou explicarem como ocorrem, as respostas dos entrevistados estão sujeitas aos problemas comuns de parcialidade, má lembrança e articulação pobre ou inexata. Novamente, uma abordagem razoável é corroborar os dados das entrevistas com informações de outras fontes”. (Idem:135; itálico no original).

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6.3 Observação direta

Segundo Quivy e Campenhoudt (2017:96), “as observações sociológicas incidem sobre os comportamentos dos atores, na medida em que manifestam sistemas de relações sociais, bem como sobre os fundamentos culturais e ideológicos que lhes subjazem”.

Conforme referenciam Ghiglione e Matalon (1997),

“observação é um olhar sobre uma situação sem que esta seja modificada, olhar cuja intencionalidade é de natureza muito geral, atuando ao nível da escolha da situação e não ao nível do que deve ser observado na situação, e que tem por objetivo a recolha de dados sobre a mesma”. (Ghiglione e Matalon, 1997:7; itálico no original)

A respeito da observação, Yin (2009:136) refere que "o estudo de caso deve ocorrer no ambiente natural do caso, isto significa que se cria a oportunidade para as observações diretas20 do fenómeno ou

acontecimento a ser estudado". O autor salienta,

"As observações podem variar das atividades de coleta de dados formais e informais. Mais formalmente, os instrumentos observacionais podem ser desenvolvidos como parte do protocolo do estudo de caso. Isto pode envolver a observação de reuniões, atividades de rua, trabalho em fábrica, salas de aulas e outros. Menos formalmente as observações diretas podem ser feitas durante a visita de campo, incluindo as ocasiões em que outras evidências, como as das entrevistas, estão sendo coletadas. Por exemplo, a condição dos edifícios ou dos locais de trabalho indicará algo sobre o clima ou o empobrecimento da organização; igualmente, a localização ou o mobiliário do escritório de um entrevistado pode ser um indicador da sua situação na organização". (Yin, 2009:136)

Para o autor "a evidência observacional é frequentemente útil para proporcionar informação adicional sobre o tópico sendo estudado". (Yin, 2009:136)

Para Stake (2009:78),

“as observações conduzem o investigador a uma maior compreensão do caso”. Durante a observação, o investigador do estudo de caso qualitativo mantém um bom registo dos acontecimentos para providenciar uma descrição relativamente incontestável para análise posterior e para o relatório final". (Stake, 2009:78; itálico no original)

20 De acordo com Chizzotti (2001:90), "a observação direta ou participante é obtida por meio de contato direto do pesquisador com o fenómeno observado, para recolher as ações dos atores em seu contexto natural, a partir de sua perspetiva e seus pontos de vista".

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Segundo Quivy e Campenhoudt (2017:164), "a observação direta é aquela em que o próprio investigador procede diretamente à recolha das informações, sem se dirigir aos sujeitos interessados". Neste estudo de caso observamos a estrutura física da escola, o ambiente interno e externo da escola e as interações dos atores escolares (professores, alunos, pais e encarregados de educação e o diretor da escola).