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Apresentação, análise e interpretação dos dados empíricos

1. Direção e Administração do Sistema Educativo Moçambicano

Desde o período colonial, a Direção e Administração do Sistema Educativo Moçambicano esteve sob tutela do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique - MINEDH, que é a instância responsável pela planificação, direção e controlo do Sistema Nacional de Educação, assegurando a sua unicidade. Os currículos e programas de ensino escolar têm um caráter nacional e são aprovados por este mesmo Ministério.

Figura 4: Organigrama do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano

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Segundo a Lei n.º 6/92, de 6 de maio, existe a possibilidade de proceder a adaptações de caráter regional aos currículos e programas nacionais, por forma a garantir uma melhor qualificação dos alunos, desde que, com isso, não se contrariem os princípios, objetivos e conceção do Sistema Nacional de Educação. Estas devem ser aprovadas pelo MINEDH. É o ministério que define a forma e o método de implementação progressiva do SNE.

Conforme ilustra a figura acima (fig. 4), nota-se claramente que o SNE em Moçambique está centralizado, sob tutela do MINEDH, que regula e toma as decisões a nível macro do sistema educativo, obedecendo a uma estrutura ou hierarquia: no topo encontra-se o ministério e na base as escolas a nível meso e micro. Neste caso, as decisões são tomadas ao nível do Ministério, descendo para as Direções Provinciais, depois para os Serviços Distritais de Educação e Tecnologias e, por fim, para as escolas, a fim de cumprirem tais orientações emanadas pelo ministério.

Os currículos, programas, métodos e meios de ensino são uniformes em todo país, elaborados a nível central pelo MINEDH; às vezes não vão de acordo com certas especificidades de certas comunidades ou zonas mais recônditas. Como sabemos, Moçambique é um país muito amplo com uma vasta e rica diversidade cultural e algumas escolas estão muito dispersas das sedes distritais, cujo acesso dificultado pela precariedade das estradas dificulta a circulação dos transportes para chegar a esses postos administrativos ou localidades. Assim vê-se dificultada a ação dos legisladores no momento de fazer o diagnóstico preciso das realidades desses locais para a elaboração das suas políticas.

Apesar da uniformização dos currículos, programas e meios de ensino, de modo a atingirem os seus objetivos, o governo, em certas escolas, introduziu o sistema bilingue de modo que os conteúdos fossem ministrados em línguas maternas (a primeira língua é a que o cidadão tem contato logo depois do seu nascimento) de cada região ou província em que a escola está inserida nas classes iniciais. Os conteúdos, programas e meios de ensino aprovados centralmente, não são alterados, o que alterna é a língua utilizada pelos professores na transmissão dos conteúdos para os alunos.

A Direção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano coordena a elaboração do calendário das avaliações trimestrais, com base no calendário escolar elaborado e aprovado pelo MINEDH. Este deve ser comunicado aos alunos, pais e encarregados de educação no início do ano letivo e é relembrando no início de cada trimestre e uma semana antes das avaliações. Os resultados devem ser informados aos alunos, até ao final do trimestre.

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Os exames finais do 1.º e 2.º ciclos (10.ª e 12.ª classes respetivamente), a elaboração e coordenação competem ao MINEDH, tendo um caráter nacional para todas as escolas públicas e privadas. A partir do ano letivo (2019) foi abolida a dispensa dos alunos nas classes com exames, ou seja, todos são submetidos aos exames mediante uma classificação positiva igual ou superior a 10 valores.

Quanto às avaliações, houve uma desconcentração para as províncias no que tange as avaliações trimestrais, mas o exame final ou nacional ainda continua a cargo do ministério.

Existe uma uniformização das avaliações finais trimestrais. Todas as escolas realizam a mesma avaliação independentemente de o professor ter concluído o programa ou não. As provas são elaboradas ao nível provincial e em cada Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologias. Concretamente, nas escolas há uma supervisão para controlar o processo das provas e, para as classes com exames, as provas também são de caráter nacional, seguindo o mesmo protocolo.

O calendário letivo é o mesmo para todas as escolas públicas e privadas. A abertura solene do ano letivo decorre no mesmo dia para todas as escolas, mediante um lema e respetiva data escolhidos pelos órgãos centrais, para o evento ser realizado com impacto nacional.

Para a redução das desigualdades sociais e assimetrias entre os alunos, o ministério da tutela viu a necessidade da introdução do uniforme escolar em todas as escolas públicas e privadas, de modo que as desigualdades sociais não transparecessem tanto. Esta é uma das medidas tomadas pelos órgãos centrais e todas as escolas passaram a adotar.

Para o exercício das suas funções, os professores devem ter uma formação psicopedagógica para o desempenho do seu cargo. Atualmente, podemos garantir que quase todos professores têm essa formação, comparado com o período colonial e após independência, pois, por falta de quadros qualificados, recrutavam qualquer cidadão desde que tivesse terminado a 4.ª classe do antigo sistema de educação. À altura as pessoas eram recrutadas mesmo sem vocação para lecionação. Com o passar do tempo tiveram que conformar-se com a situação, passando a gostar da profissão docente. O governo, após a independência, de modo a suprir a falta de professores com formação psicopedagógica, adotou vários modelos de formação de professores, a título de exemplo: 6 + 1 mês, 6 + 2 meses, 6 + 1 ou 2 anos, 7 + 1 ano, 7 + 3 anos, 10 + 1 ano, 10 + 3 anos, 12 + 1 ano, etc. De realçar que, todos os

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funcionários têm os seus direitos e deveres no cumprimento das suas atividades ou funções nas instituições de ensino, de acordo com as normas que os regem.

Os funcionários são promovidos mediante o tempo de serviço e são mudados de carreira segundo o nível académico concluído, quando ingressam com um nível inferior.

No Sistema Educativo Moçambicano, conforme ilustra a (figura 4), nota-se claramente as seis dimensões de Richard Hall (1978) na conceitualização da burocracia de Marx Weber. A maioria das dimensões aparecem em alto grau e as restantes em pequeno grau no SNE.

Nota-se uma centralização do Sistema Nacional de Educação no Ministério de Educação e desenvolvimento Humano, no que concerne a planificação, controlo e monitoria de todas as atividades e conceção das políticas educativas.

É notória a hierarquização, a departamentalização e a divisão de trabalho, do topo (ministério) e a base (as escolas) no sistema educativo. Nessa ótica, observamos um grande distanciamento entre o legislador e o executor das políticas educativas.

No Sistema Educativo Moçambicano existe igualmente uma uniformização dos currículos, programas, métodos e meios de ensino e aprendizagem e das avaliações para todas as escolas do território nacional, ou seja, tudo no sistema educativo moçambicano é regulamentado.

No exercício das suas funções os funcionários têm os seus termos de referência para desenvolverem as atividades, para além disso têm direitos e deveres no exercício do cargo. Podemos constatar que para a promoção e progressão não é muito considerada a competência técnica, mas a antiguidade no posto de trabalho. Nesse aspeto a avaliação da confiança a observar não é tanto técnica, mas muitas das vezes é mais política.

Conforme o modelo racional de Per-Erik Ellström (2007:456), no sistema educativo moçambicano podemos notar objetivos claros e compartilhados em toda a sua hierarquia, partindo do ministério até às escolas, incidindo em métodos e técnicas de ensino e aprendizagem transparentes, de modo que os intervenientes as percebam, para a sua fácil concretização.

Nos últimos anos, assistimos a um esforço na profissionalização dos funcionários, no caso de introdução de várias reformas para a formação de professores para suprir o défice de falta de professores qualificados no sistema de ensino ou professores com formação psicopedagógica.

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