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2 AÇÃO REINVINDICATÓRIA

2.11 Cumprimento de sentença

2.12.1 Conversão em perdas e danos

A sentença de procedência da ação reivindicatória tem por fito a coisa. "O juiz toma, para o autor, a posse, vindica a coisa"334. Se a execução da sentença se impossibilitou, por ato praticado pelo réu após a citação, tem esse que satisfazer por perdas e danos. Não se trata das perdas e danos decorrentes de fatos anteriores à citação, que deverão ser discutidas em ação própria de indenização, que poderá ser proposta de forma autônoma, ou cumulada com a ação reivindicatória. Trata-se, todavia, de execução da sentença de procedência da ação reivindicatória, que converteu-se em perdas e danos por decorrência da impossibilidade de efetivar a imissão na posse. Nesse sentido, as lições de PONTES DE MIRANDAS:

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MIRANDA, Pontes de. Direito das coisas: Ações imobiliárias. Perda da propriedade imobiliária. Atualizado por Jefferson Carús Guedes e Otávio Luiz Rodrigues Junior. 1.ed. São Paulo: RT, 2012. (coleção tratado de direito privado: parte especial; 14), p.123.

Se a execução se impossibilitou depois da citação, por perecimento da coisa, com responsabilidade do possuidor-réu, tem êsse de satisfazer perdas e danos: bem assim, se acudiu à citação, sem ter a posse, e não o alegou, sendo condenado. Aqui não se trata de ação de indenização, mas de execução da sentença de reivindicação. Tôda responsabilidade por fato anterior à citação só é apurável em ação de indenização, se não foi matéria da petição mesma de reivindicação335.

Assim, sendo impossível a execução da tutela específica, a execução se converterá em perdas e danos, conforme estabelece o art. 461, § 1° do CPC:

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§ 1o A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

Convertendo-se a ação reivindicatória em perdas e danos, se da sentença constar o valor da indenização, a ação seguirá em fase de cumprimento de sentença para execução de quantia certa, provocada por simples petição do autor da ação reivindicatória (art. 475-J do CPC).

No caso da ação reivindicatória, a impossibilidade de execução da tutela específica pode se dar: a) pelo perecimento da coisa; b) pelo consumo; c) pela perda do valor econômico; ou d) pela perda da posse. Se a impossibilidade somente for constatada após a sentença, as perdas e danos de responsabilidade do réu deverão ser apuradas, em liquidação de sentença, de acordo com as circunstância do caso concreto (art. 475-A do CPC).

Consoante ensina LAFAYETTE: A solução dessas dificuldades depende das circunstâncias do caso; a saber:

1° O possuidor de má-fé responde pela perda da coisa ou da posse dela, causada por negligência, culpa ou dolo, e ainda pelo caso fortuito a que a coisa

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MIRANDA, Pontes de. Direito das coisas: Ações imobiliárias. Perda da propriedade imobiliária. Atualizado por Jefferson Carús Guedes e Otávio Luiz Rodrigues Junior. 1.ed. São Paulo: RT, 2012. (coleção tratado de direito privado: parte especial; 14), p.123.

escaparia se estivesse em poder do dono. A sua responsabilidade começa da data da má-fé.

2° O possuidor de boa-fé não é obrigado pela perda anterior à litiscontestação, houvesse, ou não, culpa ou negligência da sua parte: até aquele momento é tratado pela lei como proprietário e, pois, não deve conta de seus atos. Mas, pela perda que ocorre depois da litiscontestação, cabe-lhe a mesma responsabilidade que ao possuidor de má-fé: todavia, se tinha justa causa para litigar, não responde pelos casos fortuitos que obrigam o de má-fé. Da litiscontestação resulta para o possuidor de boa-fé a obrigação de administrar a coisa com todo o zelo, atenta a possibilidade de ser outrem julgado dono; daí a razão por que a lei dessa data em diante o equipara ao de má-fé.

3° A responsabilidade do possuidor pela perda da coisa ou da sua posse, sempre que é motivada por culpa ou negligência, traduz-se na obrigação de satisfazer as perdas e danos resultantes (oestimatio litis, nel rei). Mas se o réu perdeu a posse por dolo , isto é, com a intenção de tornar a entrega impossível, ou, se sem ter posse, acudiu à ação, deve ser condenado a restituir o valor da coisa pelo juramento do autor (valor real e o de afeição)336.

Assim, se a sentença reconhecer a má-fé do possuidor, este responderá pelas perdas e danos pelo tempo em que esteve na posse do imóvel. Se reconhecer a boa-fé, considera-se que ela existiu até a citação do réu.

É muito comum, nas ações reivindicatórias convertidas em perdas e danos, que haja necessidade de perícia para apurar o valor da indenização devida pelo réu. Nesse caso, a liquidação deverá ser realizada por arbitramento, nos termos do art. 475-D do CPC:

Art. 475-D. Requerida a liquidação por arbitramento, o juiz nomeará o perito e fixará o prazo para a entrega do laudo. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

Parágrafo único. Apresentado o laudo, sobre o qual poderão as partes manifestar-se no prazo de dez dias, o juiz proferirá decisão ou designará, se necessário, audiência. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005).

O autor deverá requerer a liquidação, por simples petição nos autos. Requerida a liquidação, o juiz nomeará um perito e fixará o prazo para entrega do laudo. Embora o dispositivo não faça menção, em respeito ao contraditório, entendemos que poderão as partes, no prazo de cinco dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito, nomear assistentes técnicos e apresentar quesitos,

aplicando-se à liquidação por arbitramento, subsidiariamente os arts. 420 e seguintes do CPC337.

A perícia deverá versar, principalmente, sobre: a) o estado e valor da coisa antes e depois da posse do réu; b) as benfeitorias realizadas, descrevendo-as de modo que se possa identificá-las como úteis, necessárias ou voluptuárias; c) os gastos despendidos com as benfeitorias; d) o valor atual das benfeitorias; e) o valor atual da coisa e f) sobre os frutos pendentes à época da citação.

Apresentado o laudo, as partes poderão se manifestar no prazo de 10 (dez) dias. O juiz proferirá decisão, ou se necessário, designará audiência (art. 475-D, parágrafo único do CPC). Nessa fase, também, será admitida, se necessário, prova documental e testemunhal.