2 AÇÃO REINVINDICATÓRIA
2.1 Natureza jurídica e objeto
A ação reivindicatória decorre do ius possidendi - direito do proprietário de ter a coisa sob o seu poder (art. 1.228 do CC). É a tutela específica do direito de propriedade, da qual dispõe o proprietário com o objetivo de retomar a coisa de terceiro que injustamente a detenha.
Segundo a doutrina de LAFAYETTE135, a reivindicatória é a ação real que compete ao proprietário da coisa para retomá-la do poder de terceiro que injustamente a detém. A ação tem como fundamento o domínio. O esbulho, a retirada da coisa de
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MIRANDA, Pontes de. Direito das coisas: Ações imobiliárias. Perda da propriedade imobiliária. Atualizado por Jefferson Carús Guedes e Otávio Luiz Rodrigues Junior. 1. ed. São Paulo: RT, 2012. (coleção tratado de direito privado: parte especial; 14) p.81 e PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito das coisas. Atualizado conforme o Código Civil de 2002 por Ricardo Rodrigues Gama. 1. ed. Campinas: Russell, 2003, p.227.
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PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito das coisas. Atualizado conforme o Código Civil de 2002 por Ricardo Rodrigues Gama. 1. ed. Campinas: Russell, 2003, p.242.
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PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito das coisas. Atualizado conforme o Código Civil de 2002 por Ricardo Rodrigues Gama. 1. ed. Campinas: Russell, 2003, p. 228.
sob a posse do proprietário é o que motiva o seu exercício. PONTES DE MIRANDA formulou assim:
Quem reivindica, em ação, pede que se apanhe e retire a coisa, que está contràriamente a direito, na esfera jurídica do demandado, e se lhe entregue. (Nas ações de condenação e executiva por créditos, não se dá o mesmo: os bens estão na esfera jurídica do demandado, acorde com o direito; porque o demandado deve, há condenação dêle e a execução, que é a retirada de bem, que está numa esfera jurídica, para a outra, a fim de se satisfazer o crédito; portanto, modifica-se a linha discriminativa das duas esferas)136.
Nesse mesmo sentido são os ensinamentos de WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO:
A fórmula jurídica que sintetiza a ideia do que seja e significa a ação reivindicatória, estabelecendo direta relação entre o proprietário e a coisa, é o conceito res ubicumque sit, pro domino suo clamat, ou, em vernáculo, onde quer que se encontre a coisa, ela clama por seu dono.137
A reivindicatória é, portanto, ação de natureza real que tem como objetivo a retomada da coisa que se acha em poder de terceiro. A posse ou detenção do terceiro deve ser injusta para que o titular do domínio possa se utilizar da reivindicatória. Se, ao contrário, a posse ou detenção for justa, o proprietário será carecedor de ação reivindicatória138.
A ação reivindicatória encontra amparo no art. 1.228 do CPC que assim dispõe: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”. O direito de reavê-la é a faculdade do proprietário de reivindicar a coisa de posse de terceiros para que possa ele usar, gozar e dispor da coisa.
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MIRANDA, Pontes de. Direito das coisas: Ações imobiliárias. Perda da propriedade imobiliária. Atualizado por Jefferson Carús Guedes e Otávio Luiz Rodrigues Junior. 1.ed. São Paulo: RT, 2012. (coleção tratado de direito privado: parte especial; 14), p.84.
137
MONTEIRO, Washington de Barros; MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de direito civil: direito da coisas , v.3. 42 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p.108.
138
HAENDCHEN, Paulo Tadeu; LETTERIELLO, Rêmolo. Ação reivindicatória: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p.31.
Como explica FRANCISCO EDUARDO LOUREIRO em comentário ao referido dispositivo:
A faculdade de reivindicar é a prerrogativa do proprietário de excluir a ingerência alheia injusta sobre coisa sua. É o poder do proprietário de buscar a coisa em mãos alheias, para que possa usar, fruir e dispor, desde que o possuidor ou detentor conserve sem causa jurídica. É efeito dos princípios do absolutismo e da sequela, que marcam os direitos reais. A ação reivindicatória, espécie de ação petitória, com fundamento no jus posidendi, é ajuizada pelo proprietário sem posse, contra o possuidor sem propriedade. Irrelevante a posse anterior do proprietário, pois a ação se funda no ius possidendi e não no ius possessionis; ou, em termos diversos, não no direito de posse, mas no direito à posse, como efeito relação jurídica preexistente139.
O que se busca com a ação reivindicatória, na verdade, não é a declaração do domínio, mas a restituição do bem. Vale dizer que o reconhecimento do domínio do autor é imprescindível para procedência da ação, mas não é a finalidade da reivindicatória.
A finalidade do autor ao propor a ação reivindicatória é a de obter uma sentença com força executiva que lhe outorgue o direito de reaver a coisa independentemente de uma ação de execução ou fase executiva.
Nesse diapasão oportunas são as lições de OVÍDIO BAPTISTA DA SILVA:
Por esse critério, à semelhança do que ocorre com a ação de despejo - e por mais fortes razões - deverá ter-se por executiva a ação reivindicatória. Não seria, realmente, justificável que a ordem jurídica outorgasse ao locador uma determinada forma de proteção jurisdicional, fundada em seu direito de reaver a coisa dada em locação, e, ao mesmo tempo, negasse ao proprietário uma proteção similar quando este pretendesse reaver a posse da coisa que lhe pertence140.
E acrescenta esclarecendo que:
Interessa-nos, aqui, demonstrar que a ação reivindicatória é executiva porque dispensa, torna inútil, prescinde, faz supérflua uma demanda subseqüente
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LOUREIRO, Francisco Eduardo. In: Peluso, Cezar. Código civil comentado. Barueri, São Paulo: Manole, 2007, p.1.044.
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executória. Isso decorre da circunstância de exaurir-se, amplamente, na própria demanda do "processo de conhecimento", a cognição de todas as possíveis defesas que o demandado poderia suscitar, na eventual ação de embargos do executado e a hipótese fosse de ação condenatória141.
Oportuna colocação de OVÍDIO BATISTA pois deixa claro o esgotamento da ação reivindicatória em relação à atividade cognitiva do juiz. Todo o debate possível de haver entre as partes, se dá na fase de conhecimento, inclusive, no que diz respeito a eventual direito de retenção do réu. O cumprimento de sentença de procedência da reivindicatória dispensa que se inaugure nova fase no processo para execução, considerando que agora adotamos a sistemática de um processo sincrético, não há a partir da sentença espaço para oferecimento de impugnação do réu, pois toda a matéria de defesa deve ser arguida em contestação. Aquelas que não forem estarão atingidas pela preclusão temporal.
Por tanto, dúvidas não há quanto sua natureza executiva de modo que é de rigor a aplicação dos arts. 461 e 461-A do CPC, com a possibilidade de antecipação de tutela, aplicação de multa diária e da adoção de outras medidas de apoio para a efetivação da tutela.