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Crescimento Económico sem Desenvolvimento Sustentável

Capítulo I. Sociedade (Civil) Moçambicana face ao Capitalismo

1. Moçambique face ao Sistema-Mundo Capitalista

1.3. O Contexto Sociopolítico e Económico na Era Capitalista (1985 2015)

1.3.2. Crescimento Económico sem Desenvolvimento Sustentável

Os desafios do século XXI são ilimitados e detêm contextos internacionais não favoráveis para a ASS e também para Moçambique, pelo menos a médio prazo. Os capítulos anteriores mostraram que a estrutura económica, o desenvolvimento atual das sociedades, a natureza das relações externas e o processo da globalização constituem individualmente e configuram globalmente contextos de médio prazo que indicam a continuidade dos principais elementos caracterizadores da situação socioeconómica e política moçambicana.

A atual estrutura foi formatada principalmente durante os últimos 150 anos, está integrada no que Wallerstein (1990) designa “economia-mundo”, com um modelo

124 económico dominante que cria hierarquias nas sociedades, regiões e continentes, e dita

políticas que reproduzem os mecanismos de acumulação cada vez mais centralizadas no quadro de relações de funcionalidade (dependência), que subordinam o desenvolvimento dos povos a uma crescente minoria de interesses económicos e políticos.

As políticas económicas sempre procuraram integrar Moçambique no quadro de lógicas e objetivos cujo centro de interesses se localiza no exterior e onde as variáveis endógenas tiveram e têm um grande efeito sobre o comportamento da economia e dos agentes económicos. Internamente, os setores tradicionais foram sujeitos à influência de variáveis que não dominavam e que, devido às crises e conflitos persistentes, estiveram sujeitos a oscilações e instabilidades produtivas e sociais que conduziram à pobreza absoluta de uma elevada percentagem da população.

Moçambique, por razões políticas e por resultado das opções económicas, manteve-se refém das relações externas: primeiro com Portugal e com os países da região, sobretudo da África do Sul; depois, relativamente aos financiamentos e aos apoios do bloco socialista; finalmente, refém das organizações financeiras internacionais que condicionam os financiamentos às políticas sugeridas pelas IBWs. Esta subordinação refletiu-se na configuração de uma estrutura económica extravertida, dependente em termos tecnológicos e financeiros, na formação de relações intersectoriais de baixa intensidade considerando a verticalização setorial46 (Mosca, 2005).

Segundo Fauvet e Mosse (2004), os países desenvolvidos têm grande responsabilidade pelo facto de a cooperação não ter ajudado para a diminuição ou saída da crise. A implementação de projetos sem que estes se tenham adaptado às necessidades das populações também é da responsabilidade dos doadores. Existiram grupos económicos e países que mantinham relações com a FRELIMO e com a RENAMO em plena guerra. O volume da ajuda (mesmo a humanitária) está diretamente relacionado com as alianças externas e com o bom desempenho do governo na aplicação do PAE.

As políticas e imposições assimétricas que as IBWs impõem aos PvDs refletem-se negativamente nestas economias. Os subsídios dos PDs para a agricultura e exportações deturpam os mercados e fazem com que os produtos dos países pobres deixem de ser competitivos. Enquanto se impõe a liberalização do setor externo nestes países, os PDs mantêm elevados protecionismos. O compromisso de afetar 0,7% do PNB dos PDs para a

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Verticalização no sentido de as fileiras produtivas não possuir muitas relações horizontais (intersectoriais).

125 ajuda pública em prol do desenvolvimento (APD) nunca foi alcançado47, antes pelo

contrário decresceu na última década do século XX (PNUD, 2003).

Os doadores e a maioria das ONGs têm dificuldades de introduzir as suas propostas de cooperação nas políticas dos governos recetores, o que implica que muitos dos projetos tenham consequências pontuais, de curto prazo, e produzam mecanismos de dependência externa nos sistemas de produção e nos hábitos de consumo das populações abrangidas. Outros exemplos poderiam ser colocados. Em resumo, muitas das transformações consideradas imprescindíveis para que a cooperação concorra para o desenvolvimento dos países pobres, compete aos países desenvolvidos realizá-las. Segundo Mosca (2004), nada aponta que os objetivos para o 3º Milénio tenham encontrado as estratégias para mudar substancialmente a situação atual da cooperação e das relações externas mundiais48.

As relações externas tanto podem estimular como formar um obstáculo ao desenvolvimento. A configuração da estrutura económica moçambicana teve como base mecanismos que transportam recursos para o exterior, a criação de mais dependência, o surgimento de alianças que desligam as elites das expetativas e problemas reais dos cidadãos e a persistência de padrões de acumulação centralizados no setor externo da economia. Estes aspetos estiveram presentes antes e depois da independência e sofreram em cada fase processos de aprofundamento. A cooperação, o financiamento e o

investimento externos com políticas internas desajustadas intensificam as

disfuncionalidades das economias recetoras e aprofundam a estrutura dependente49.

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Poucos países ultrapassam os 0,35% (metade do compromisso) para a APD, PNUD (2003).

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Os oito Objetivos do Desenvolvimento Milénio resumem-se/resumiam-se nos seguintes pontos: reduzir a pobreza e a fome; alcançar o ensino primário universal; promover a igualdade de género; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; garantir a sustentabilidade ambiental; reforçar a parceria entre países ricos e pobres. Na visão de Mosca (2004), estes objetivos “demostram claramente que não

existe uma perspetiva de desenvolvimento económico e social, mas sim a tentativa de redução dos principais sintomas da pobreza, existindo a virtualidade de incentivar os países e a comunidade internacional para a conjugação de esforços com o objetivo de reduzir os principais problemas das sociedades pobres. Os objetivos do 3º milénio e as propostas sugeridas também podem ser interpretados como fazendo parte de um pacote de medidas pontuais e não contextualizadas em políticas de desenvolvimento global”.

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As relações externas constituem um tema interminável de debate que teve início em meados do século XX com as contribuições dos cientistas da CEPAL e de outros autores como Gunter Frank, Immanuel Wallerstein, NormanLong, Paul Baran, Paul Sweezy, Samir Amin, Teotónio dos Santos e outros. Mosca (2004) refere que, para mudar as relações externas, é necessário introduzir profundas reformas nas políticas internas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. No caso dos países pobres, as transformações estruturais da economia são uma das condições necessárias para a mudança da natureza do relacionamento que subalterniza e reproduz os mecanismos de dependência configurados durante a colonização e aprofundados depois das independências. Se não é possível a desconexão, termo de Samir Amin (1988) para designar a manutenção das relações apenas quando estas interessam aos países em desenvolvimento, então é importante fazer com que o setor externo interfira positivamente no desenvolvimento dos países.

126 Um dos dilemas da atualidade é a rutura com as políticas económicas anteriores.

Mudar de políticas implica necessariamente mudanças na distribuição de recursos, nos grupos sociais favorecidos, nas relações e hierarquias dos poderes, e exige ajustes nos padrões de acumulação com efeitos a longo prazo. Estas implicações são geralmente acompanhadas de fortes tensões e reações dos grupos sociais que veem limitados os benefícios e as acessibilidades inerentes aos privilégios. As mudanças de políticas apenas têm efeitos a médio e longo prazo, sendo, por isso, necessário que haja estabilidade política e constância nas escolhas e estratégias económicas e sociais; isto, em democracia, com as possibilidades de alternância, pode ser difícil.

As elites nacionais possuem um papel decisivo; a aliança principal destas deveria ser com os cidadãos, com o país (e não com o capital externo) e o Estado utilizado como um instrumento de defesa dessa aliança. Isto significa que as elites, tanto político-sociais como económicas, têm de ser nacionalistas e possuir posicionamentos éticos ajustados; para o efeito, é necessário que o sistema democrático possua mecanismos de controlo e fiscalização eficientes sobre as burocracias e sobre as atividades económicas. A corrupção e as alianças pouco transparentes não contribuem para a construção da Nação e para atenuar os elementos de conflito da sociedade (Mosca, 2005).

O segundo dilema é que estas mudanças, sobretudo as económicas, encontrariam uma forte oposição das organizações financeiras internacionais que mantêm ortodoxamente os PAE, independentemente dos resultados. Estas organizações resistem de forma radical aos cortes dos financiamentos externos e influências sobre os governos dos países desenvolvidos para alterações bilaterais e a APD50.

É muito difícil que os PvDs, como Moçambique, sem capacidade de gerar recursos externos suficientes para garantir o desenvolvimento “independente”, consigam resistir a ruturas de relacionamento com as principais instituições do sistema financeiro internacional. Este dilema pode inviabilizar as escolhas nacionais de desenvolvimento; as medidas, que têm por objetivo iniciar mudanças estruturais, deveriam acontecer paulatinamente no quadro de um amplo consenso interno e sem conflituar diretamente com as forças dominantes externas (idem).

Lula da Silva disse que,

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É sobejamente conhecida a “influência” das IBWs sobre outras organizações internacionais (sobretudo a OMC), sobre os bancos regionais, sobre os clubes de negócios da dívida e as cooperações bilaterais entre governos. Stiglitz (2002) afirma: “(…) a condicionalidade, a imposição de múltiplas condições, algumas

frequentemente de natureza política, como pré-condição da ajuda, não funciona, não conduz a políticas melhores, a mais crescimento, a melhores resultados. (…) Ainda pior, a condicionalidade tem comprometido os processos democráticos”.

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“Para o caso de Moçambique, que tem cerca de 40% do orçamento

financiado por doações dos países desenvolvidos, sobretudo da Europa, isso faz com que o país tenha menos mobilidade do que um país cujo orçamento não depende de doações”, e ainda acrescentou que “ao invés de vermos isso como um problema, temos que encarar isso como um desafio e começar a discutir a lógica para que o país tenha o seu orçamento próprio a partir da sua realidade, da sua capacidade produtiva, da sua capacidade de pensar e de estudar” (Jornal «O País»,

23/11/2012).

Há economistas que defendem que as desigualdades promovem o crescimento económico. Kuznets apud Mosca (2005: 508) dizia que o crescimento aumenta as desigualdades, numa primeira, fase e reduz as mesmas posteriormente. É a velha questão de primeiro crescer e criar riqueza para depois ser possível distribuí-la. Mas, na verdade, as relações e combinações entre crescimento e equidade são, teoricamente, todas possíveis. Nas condições de Moçambique, parece haver suficientes razões (pobreza, desigualdades, instabilidade social que podem criar de novo situações de conflito, etc.) que justificam soluções que procurem alcançar simultaneamente o crescimento com maiores níveis de equidade. Engelhard (2003: 28) afirma que “estas questões teóricas são

verdadeiras, mas não contradiz, mesmo sob um ponto de vista estritamente económico, a ideia de fazer da luta contra a pobreza uma exigência imediata”. Por outro lado, afirma

basear-se e aceitar apenas o princípio de primeiro crescer e depois distribuir, que é “estar

a um passo de legitimar a economia da pobreza”. Por sua vez, Lula da Silva (2012)51

diz: "Crescer e distribuir ao mesmo tempo? Sim, é possível".

Em abono da verdade, Moçambique encontra-se presentemente numa encruzilhada delicada: ou investe na melhoria do desenvolvimento humano, assente num crescimento económico rápido, que o país regista, ou concentra-se e dá prioridade exclusivamente ao crescimento económico rápido, esperando que o desenvolvimento humano também acabe, eventualmente, por beneficiar dos dividendos de tal crescimento. A primeira alternativa – que achamos importante e justa – pressupõe o desenvolvimento de uma economia “virada para dentro”, como bem sugere Osman (1998: 86): “Uma

economia nacional, em que o aumento da procura doméstica seja tão ou mais importante que as exportações. Um processo deste tipo exige um Estado diferente, um Estado que queira servir a população em vez de a controlar, um Estado que queira também distribuir

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Numa palestra em Maputo diante de membros do governo, de jornalistas, e do público em geral, cujo tema foi: “Moçambique: Desenvolvimento Sustentável”. In Jornal “Opais”, 20/11/2012.

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recursos e não cobrar apenas impostos”. Moçambique poderá, também, enveredar por

uma economia ´virada para dentro` (“out-in”52

), esperar que o rápido crescimento económico melhore, eventualmente, o desenvolvimento humano da maioria da população. Mas tal opção foi já experimentada em Moçambique e o desfecho não podia ter sido mais trágico.

Assim, resta-nos esperar que as forças económico-sociais minoritárias, que atualmente controlam os recursos e as instituições, se tornem mais virtuosas do que as elites do passado; o que duvidamos, dada a avidez e a correria desenfreada para o enriquecimento ilícito e o nível de corrupção que se regista. A Procuradoria Geral da República de Moçambique, no ano de 2012, através do seu representante (Procurador Geral da República) observou:

“O Governo reconhece que o índice de corrupção está a aumentar

no país, apesar dos esforços para o seu combate. No âmbito da celebração do dia Internacional de Combate à Corrupção, o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) divulgou dados recentes que confirmam os relatórios do Centro de Integridade Pública e da Transparência Internacional, segundo os quais a corrupção está a aumentar no país. De Janeiro a esta parte, o Gabinete instaurou 619 processos criminais por corrupção, 188 dos quais com indícios fortes, implicando perto de 100 funcionários públicos. Deste número, 75 foram julgados e 61 condenados, situação que preocupa a Procuradoria – Geral da República. Só este ano, a corrupção lesou o Estado em cerca de 200 milhões de meticais e apenas 17 milhões foram recuperados” (Jornal “O Pais”, 07/12/2012).

Contrariamente à fantasia ideológica do mercado-livre global, o País precisa de mais governação e administração estatal. O problema não está em defender uma intervenção ativa do Governo e do Estado na economia e no desenvolvimento; outrossim, deriva da natureza, finalidade e métodos de tal intervenção. Como afirma Francisco (2003) in Santos & Trindade (2003: 174),

“a longo prazo a estabilidade das minorias nacionais irá ser condicionada por dois fatores principais. Por um lado, a capacidade real de substituírem a dependência e o endividamento externo por um forte mercado interno e um investimento amplo no aumento da procura interna, da produção e da produtividade nacionais. Por outro lado, o fortalecimento de ligações e de fluxos fortes e sustentáveis entre o

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crescimento económico e o desenvolvimento humano da população moçambicana no geral”.

Os ideais da modernidade, em que as três restruturações económicas – que se seguem – se inspiraram, revelaram um profundo desprezo pelas circunstâncias históricas, a diversidade sociocultural e os desafios de Moçambique no âmbito do desenvolvimento humano. Todas elas foram incapazes de estabelecer ligações e fluxos fortes, saudáveis e sustentáveis entre o crescimento económico e o desenvolvimento humano.

O primeiro processo (1930-1974) de restruturação económica, na verdade, o último da governação colonial portuguesa, fracassou porque a governação colonial portuguesa recusou-se a promover o progresso social da população em geral e, em particular, de uma burguesia nacional minimamente capaz de evitar que o corte do sistema colonial conduzisse à destruição do sistema de mercado capitalista desenvolvido em benefício principalmente de uma minoria branca.

A segunda restruturação, realizada pelo primeiro governo moçambicano (1975- 1984), distendeu a todo o país a experiência e a estratégia de desenvolvimento que a FRELIMO concebera durante a sua luta pela independência política, como Mondlane (1977) havia esboçado, que era promover o progresso económico e social assente em largas bases, suprimindo as forças socioeconómicas que favoreciam as minorias, através de um forte planeamento central. Esta estratégia fracassou, tanto na forma como no conteúdo. No conteúdo, porque o esforço de supressão das forças socioeconómicas que beneficiavam as minorias instigou violentas oposições, de inspiração interna e externa, com consequências trágicas para a população moçambicana. Quanto aos aspetos de forma, o sistema de planeamento central, de cima para baixo (“top-down”), revelou-se economicamente inoperante e insustentável.

A terceira restruturação económica (1985-1994) assentava em objetivos a atingir a curto prazo: reverter e ultrapassar as causas imediatas da crise económica e da guerra. Porém, para além da reforma económica, aconteceram também profundas reformas políticas, administrativas e legislativas, de entre as quais se destaca a troca do sistema monopartidário por sistema multipartidário. O governo chegou à conclusão de que o processo de monopolização e estatização da economia em nome do povo não levou à socialização do país, tendo, sem dúvida, centralizado poder suficiente na classe político- administrativa. Neste contexto, o planeamento central, de cima para baixo (“top-down”), deu lugar ao planeamento de fora para dentro (“out-in”), em que as instituições e

130 representantes dos doadores internacionais passaram a desempenhar um papel ativo na

direção e gestão económicas.

Decorridas estas etapas ou este tempo, de modo especial após a Independência, Moçambique foi atravessado por dois processos de mudança político-económica e social de sentido oposto: um, caracteristicamente revolucionário, ocorrido no período da guerra fria, por isso num contexto internacional de conflito entre dois sistemas antagónicos, determinando a rutura com “as estruturas de opressão e a exploração coloniais e

tradicionais e da mentalidade que lhes está subjacente”53 e adotando a planificação centralizada (“top-down”) e administrativa da economia como estratégia de desenvolvimento; o outro, caracteristicamente reformador, adotado numa altura em que a guerra fria dava lugar a um período de détente (apaziguamento) e o neoliberalismo se tornava o modelo hegemónico de desenvolvimento, prosseguindo na atualidade o cumprimento dos Programas de Ajustamento Estrutural (PAE), da desregulação e liberalização da economia, determinados pela conferências das agências multilaterais, a que se convencionou chamar Consenso de Washington.

Como processos de mudança, mais ou menos profunda, a sua evolução não foi linear nem pacífica, antes sujeita à dialética própria da transformação social e à conjuntura em que se estendeu. Na descrição que fizemos das opções de natureza político-económica e de conformação jurídica sucedidas em cada um dos períodos históricos indicados, podem detetar-se distintos tipos de situação: ruturas do período revolucionário com o período colonial, que subsistem válidas até hoje; ruturas do período revolucionário, que a reforma neoliberal veio desfazer, repondo o status anterior; rutura do período neoliberal com ambos os períodos que o antecederam.

O exemplo mais diligente de uma decisão política que se inscreve na primeira categoria é, talvez, o da propriedade de terra. O regime estabelecido no art.º 8º da Constituição de 1975,54 que revelou um corte com o que dominava na ordem jurídica colonial, teve continuidade no art.º 46 da Constituição de 199055 e condicionou fortemente os debates em torno do processo de elaboração da nova Lei de Terras (Lei nº 19/97, de 1 de Outubro). A segunda categoria de ruturas pode ser ilustrada com dois exemplos, entre muitos outros: na área económica, a mudança economia

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Artigo 4º, Constituição da República (Popular) de 1975

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Que proclamava que “A terra e os recursos naturais situados no solo e no subsolo, nas águas territoriais

e na plataforma continental de Moçambique são propriedade do Estado. O Estado determina as condições do seu aproveitamento e do seu uso”.

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Cujo teor é como segue: “1. A terra é propriedade do Estado; 2. A terra não pode ser vendida, ou por

qualquer outra forma alienada, nem hipotecada ou penhorada; 3. Como meio universal de circulação da riqueza e do bem-estar social, o uso e o aproveitamento da terra é direito de todo o povo moçambicano”.

131 mercado/economia centralmente planificada/economia de mercado; na área judicial, a

variante permissão/proibição/permissão da advocação privada. Como exemplos da

terceira categoria de ruturas, apontamos as bifurcações

monopartidarismo/multipartidarismo ou subordinação/autonomia (do sistema de administração da justiça relativamente ao executivo), sendo o monopartidarismo e a subordinação, ambos comuns no período colonial e no período revolucionário, (Trindade, 2003 in Santos & Trindade, orgs., 2003).

Podemos afirmar que os indicadores macroeconómicos melhoraram após o PRE e, sobretudo, depois do AGP. Não obstante, não existem transformações estruturais. Contrariamente, verifica-se um reforço da estrutura e dos mecanismos de reprodução do modelo colonial. Destacam-se os seguintes aspetos: a extração de recursos do meio rural e a secundarização da agricultura; as políticas de urban bias56, a prioridade das exportações e a extroversão da economia. A grande mudança é a perda de importância do Estado, tanto nas funções de agente económico como na regulação da economia. Finalmente, o ajustamento estrutural tem contribuído com mais corrupção, não priorizou erradicação da pobreza, criou maiores desigualdades e tornou o país mais dependente.

Para terminar, é de salientar e reter que estas etapas de restruturação económica, experimentadas em Moçambique nas últimas décadas, não conseguiram estabelecer conexões e fluxos fortes, saudáveis e sustentáveis entre o crescimento económico e o desenvolvimento humano. Os fracassos associados a estas etapas mostram estarem ligados ao facto de as forças político-económicas que os executaram serem prisioneiras de ideias de modernidade e de quadros institucionais que não favorecem o aumento