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Capítulo II. Conceitos-Chave

1. Políticas Sociais

A vida em sociedade é complexa e envolve diferentes interesses que geram conflitos. Para tornar possível a convivência, os conflitos, as exclusões, as desigualdades, etc., torna-se necessário administrar, através de políticas coordenadas, um conjunto de procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto aos bens públicos.

Antes de desenvolver este tema, há que clarificar que “políticas sociais” não é sinónimo de “políticas públicas”, embora possam ser complementares entre si. Todas as políticas públicas podem ser consideradas, direta ou indiretamente, como políticas sociais. Porém, nem todas as políticas sociais podem ser consideradas públicas, visto que estas também podem ser realizadas por outras instituições que não sejam o Estado. O nosso estudo, como vimos, visa entender o papel da sociedade civil – e suas organizações – nas políticas sociais de inclusão social e de desenvolvimento sustentável em Moçambique. Outra observação importante a ser feita é que as políticas sociais são transversais. Quando o governo realiza qualquer atividade, de qualquer ramificação das suas políticas públicas, tem por objetivo concretizar políticas sociais. Nesta ordem de ideias, Wanderley G. Santos (1989) afirma que a política social é “(...) uma ordem

superior, metapolítica que justifica todo o ordenamento de quaisquer outras políticas”.

Os Países em vias de Desenvolvimento (PvDs) são confrontados com conflitos sociais relacionados com a repartição da riqueza produzida; disso aproveita-se, sobretudo, uma oligarquia ávida, devido a um tipo de desenvolvimento económico que minimiza a questão agrícola e os problemas climáticos. Como bem afirma Hervé Kempf (2013: 76),

“o sistema social está atualmente organizado de tal maneira em

todos os países que permite atribuir um pequeno número de membros que dominam a sociedade. E as oligarquias de todos os países do mundo formam uma classe transfronteiriça. É uma classe que partilha um interesse comum, o de manter as condições da sua riqueza, que atua em bloco e solidariamente (o que não impede as relações de força, segundo a evolução das potências respetivas), e que se apoia, o mais possível, nas classes ricas e médias, as quais ascendem aos prazeres do modo de vida ocidental ou esperam alcançá-los”.

19 Por via disso, constata-se frequentemente a oposição entre a classe dirigente, que

se apoia nas elites urbanas com um nível de vida elevado, e os habitantes de bairros suburbanos, bem como os camponeses com nível baixo.

Nessa ordem de ideias ou de factos, não há sombra de dúvidas de que o mundo está em ebulição; as estatísticas assinalam um aumento contínuo de revoltas desde há vários anos, levando, por vezes, a abalos sísmicos como foi a Primavera Árabe de 2011, sem descurar a “Geração à rasca”, “Wall Street”, “Povo no poder” (em Moçambique). O fosso entre ricos e pobres continua a ser enorme. Há, portanto, uma necessidade de melhorar as condições de vida, de modo particular, dos habitantes do terceiro mundo: o acesso ao bem comum, à justiça, à saúde, à educação, etc. Daí que haja necessidade de implementação de políticas sociais para fazer face a este problema. Aqui, as OSCs, como grupo de pressão, desempenham um grande papel para que estes valores e necessidades sejam satisfeitos, pressionando o Estado para o cumprimento das políticas sociais e servindo de complemento através de ações sociais de solidariedade caritativa.

Segundo Filipe Carreira da Silva (2013), políticas sociais são um conjunto de medidas tomadas visando melhorar ou mudar as condições de vida material e cultural da sociedade ou de uma parcela da sociedade, buscando uma progressiva tomada de consciência dos direitos sociais6 e tendo em conta as possibilidades económicas e políticas num dado momento. Tais políticas ajudam os processos de inserção dos indivíduos e dos grupos mais vulneráveis, bem como possibilitam a reconstrução e a reafirmação de identidades individuais e coletivas. E, para que se tenha estabilidade democrática, paz social e desenvolvimento económico, é necessária a conjugação das políticas sociais e de regulação económica com a política de concertação social.

Políticas sociais são, portanto, um conjunto de políticas públicas (intervenções planificadas do poder público com finalidade de resolver situações problemáticas, que sejam socialmente relevantes) voltadas para o campo da proteção social, ou então, que têm em vista necessidades sociais (pobreza, desigualdades, vulnerabilidades, etc.). As suas áreas são a solidariedade social, a segurança social, a igualdade de oportunidades, entre outras. Dito doutra forma, as políticas sociais têm como finalidade responder a situações de desigualdade social, na sua maioria relacionadas com fenómenos de pobreza

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Direitos sociais têm a ver com a previsão de bens e serviços essenciais à vida e justiça social. O reconhecimento dos direitos sociais está associado à existência de uma participação ativa na vida social, visto que é por meio do acionamento destes direitos que se pode promover a efetiva inclusão ou inserção social. A introdução dos direitos sociais nas sociedades capitalistas contribuiu para dar a cada pessoa condições de vida independentes do mercado, o que permitiu que se evitasse fazer de cada cidadão uma simples mercadoria ou objeto sujeito à troca mercantil.

20 e de exclusão social, o que nos remete invariavelmente para uma percepção alargada de

proteção social. Por outras palavras, num mundo ou numa época em que o dogma economicista da “sustentabilidade financeira” parece substituir ou ocultar a fundamental perspetiva da “sustentabilidade social” é imperioso que se fale/discuta a urgente e incontornável necessidade de políticas sociais.

A discussão sobre políticas sociais, hoje, acontece num contexto económico global relativamente penalizador. É um contexto baseado na liberalização dos mercados internacionais, marcado pela desregulação das economias (fruto de uma menor intervenção do Estado na própria organização dos fluxos comerciais e económicos). Mas é também um contexto global penalizador, devido, por um lado, ao aparecimento de um conjunto de alterações estruturais do mercado de trabalho (acentuando uma precariedade das formas de trabalho e de contratação) e, por outro, devido aos riscos de fraqueza das formas de proteção social (fruto de algumas tentativas de privatização dessa mesma proteção social) e aos riscos de gradual vulnerabilização de franjas cada vez mais alargadas da população (Capucha, 2000; Fernandes, 2001 apud E.V. Rodrigues, 2010).

Concluindo, podemos afirmar que, políticas sociais têm como objetivo promover o bem-estar social, tanto a nível coletivo, como pessoal; dar resposta a necessidades sociais; equilibrar desigualdades sociais para reduzir desvantagens. A sua razão de ser são a solidariedade (com grupos ou faixas etárias em situações de dependência ou vulnerabilidade), a redistribuição (dos bens que o país ou região usufrui no âmbito da justiça social), os direitos (sociais, políticos e económicos) e a igualdade (seja de oportunidades ou de resultados). Elas constituem objeto de reivindicação dos mais diferentes movimentos sociais. São, enfim, políticas de ação e controle sobre as necessidades sociais básicas das pessoas insatisfeitas com o modo capitalista de produção e de “distribuição”. Ou seja, com as políticas sociais têm-se em vista a continuidade e melhoria do bem-estar social, onde os benefícios de crescimento económico ou do desenvolvimento devem alcançar todas as classes da sociedade de forma justa.