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Capítulo II. Conceitos-Chave

3. Inclusão Social

Hoje, apesar do franco crescimento económico e até tecnocientífico, nota-se, todavia, a degradação das condições sociais, a discrepância ou desigualdade na distribuição de rendimentos, provocadas pelo modelo neoliberal ou capitalismo desenfreado que não tem sustentabilidade empírica. A degradação das condições sociais, provoca o aumento do descontentamento social, o crime, a violência e outros conflitos sociais. Em suma, o este capitalismo desenfreado ou selvagem coloca um pequeno grupo de pessoas no luxo ou na “relva” e a maioria no lixo ou na “selva”, isto é, coloca uns poucos na prosperidade ou a viver à grande e à francesa (a elite) e a maioria na pauperidade ou a viver do pão que o diabo amassou/a comer feno (o povo).

No dizer de Wallerstein e por aquilo que notamos, vivemos num mundo altamente desigual, de diferenças sociais facilmente notórias. Ele afirma que “o sistema-mundo

moderno é uma economia-mundo capitalista. É baseado na prioridade da acumulação incessante de capital. Um sistema deste tipo é necessariamente desigual, certamente polarizador, tanto económica como socialmente” (Wallerstein, 2003: 123).

Num mundo em que a polarização cresce constantemente, mesmo com a melhoria das condições de vida dos estratos médios, estes não conseguem acompanhar proporcionalmente os estratos superiores. Urge, portanto, lutar contra esta tendência excludente, que põe muitas pessoas à margem do crescimento económico e até do desenvolvimento cientifico-tecnológico. Daí que seja importante falar-se e, sobretudo, lutar-se pela inclusão social. Mas, antes, urge falar da exclusão social.

Falar da exclusão social é falar de ruturas e desigualdades sociais, da impossível sobrevivência de uma população alheia ao crescimento económico e da partilha dos benefícios daí decorrentes. No dizer de Eduardo Vítor Rodrigues (2000: 174-175),

“a exclusão social um processo de ruptura com a sociedade,

processo que pode assumir duas formas principais: por um lado, a ruptura pela ausência de um conjunto de recursos básicos (recursos económicos, culturais, sociais, simbólicos), que afecta populações fragilizadas, como os sem-abrigo, os toxicodependentes, os desempregados de longa duração, etc.; por outro, a ruptura como consequência de mecanismos de estigmatização que afectam grupos sociais específicos, nomeadamente as minorias étnicas. Neste caso, excluídos são, na linha de Peter Townsend, pessoas que acumulam um conjunto de riscos, de obstáculos ou de handicaps, através de percursos de vida. Excluídos são, portanto, os que não têm direito a um rendimento, a um trabalho, a uma atividade

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económica, à educação, à formação, à saúde, à habitação e à igualdade de oportunidades”.

Num outro desenvolvimento, Eduardo Vítor Rodrigues (2000: 20) diz que “as

causas da exclusão social são tendencialmente externas ao indivíduo, pois é o próprio modelo de crescimento económico e de organização social que produz consequências nefastas, não sendo posteriormente capaz de proteger as camadas sociais vulneráveis”.

Diz ainda que “o funcionamento do mercado é arbitrário e não pondera as suas próprias

desregulações, encaradas como uma consequência inevitável e intrínseca do crescimento económico. No risco social do funcionamento injusto e desequilibrado do mercado radicam os mecanismos sociais excludentes” (E.V. Rodrigues, 2000: 16).

A noção de exclusão social abrange um conjunto vasto de dimensões de vulnerabilidade (alojamento, saúde, participação, política, rendimento, território, etc.), pode falar-se de exclusão cultural, económica, política, entre outras. Portanto, a exclusão social diz respeito à acumulação e/ou à intensificação de handicaps numa ou mais destas dimensões, conduzindo à dissolução do elo social e a um défice de cidadania e integração sociais. Diante de todo este cenário, urge a necessidade de falar de inclusão social tendo em vista um mundo menos desigual, mais fraterno e mais humano.

A inclusão social reflete uma aproximação proativa ao bem-estar. Os processos e as estratégias de inclusão social apresentam-se indissociáveis das dinâmicas de informação, conhecimento e inovação da nossa sociedade. É a consciencialização da sociedade dos seus direitos – direito à educação, à igualdade de oportunidades, à participação ativa nas políticas que conduzem as suas vidas. Nesta linha de pensamento, Rawls (2000: 58) diz que “a todos os cidadãos devem ser assegurados os meios

necessários para usufruírem de forma inteligente e efetiva das suas liberdades básicas. Na ausência desta condição, os detentores de riqueza e rendimento tendem a dominar os que têm menos e a controlar cada vez mais o poder político em seu próprio benefício”.

Afirma ainda o mesmo autor que “a insistência nos direitos humanos irá, esperemos,

evitar o desenvolvimento de fomes e irá exercer pressão sobre a acção dos governos com vista a uma Sociedade dos Povos bem-ordenada” (Rawls, 2000: 120).

Por inclusão social se advoga, portanto, a necessidade de uma maior preocupação com a promoção social e económica das populações, a repartição mais equitativa dos rendimentos e a correção dos desequilíbrios ou assimetrias regionais, como é caso de Moçambique. Na luta pela inclusão social, há que ter em conta que o Estado, per se, não é capaz de dar vazão a este problema. É necessário, portanto, uma sinergia de ações,

30 envolvendo instituições privadas rumo ao que se designa por “welfare mix”, como

consequência quer da fragilidade estatal, quer da incapacidade do mercado (Gómez, 1998

apud Rodrigues, 2000: 193). Abre-se, assim, o caminho para a intervenção das OSCs, de

tamanha relevância para a luta contra a exclusão social.

Diante dos argumentos acima apresentados, podemos definir a inclusão social como o processo de:

i) fornecer aos mais necessitados oportunidades de acesso a bens e serviços, dentro do sistema que beneficie a todos e não apenas aos mais favorecidos no sistema meritocrático em que vivemos (“the survival of the fittest”);

ii) criar condições ou lutar por uma equidade/igualdade social proporcional (eliminação de barreiras relacionadas com idade, género, religião, região, cultura, igualdade de oportunidades);

iii) lutar para que os excluídos tenham uma participação ativa no mundo social em que vivem; que passem da situação de exclusão para a de participação social e de cidadania, por um lado, e, por outro, que as instituições ofereçam aos excluídos, reais oportunidades de iniciar estes processos.

Segundo Capucha (2000) apud Viegas e Dias (2000: 199),

“uma das razões mais fortes por que as pessoas em situações de

exclusão ficam tantas vezes amarradas às teias da exclusão é, precisamente, a menor capacidade para fazerem jogar a seu favor as lógicas das instituições, em grande parte devido ao desconhecimento e à incompreensão acerca dessas mesmas lógicas. As políticas de combate à exclusão devem ser acessíveis e transparentes. Desde logo, devem assentar em organizações próximas das populações visadas e ser desenhadas de modo a facultar-lhes o acesso”.

Atendendo a que a exclusão social é produto de relações desiguais de poder, a Inclusão social é a possibilidade de redistribuição de recursos materiais, sociais, políticos, culturais, simbólico, deste modo, a inclusão significa também a adoção e aplicação do princípio de igualdade e do reconhecimento da diferença.