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Capítulo III. Revisão da Literatura sobre Sociedade Civil

2. Teorização do Conceito de Sociedade Civil

O termo sociedade civil tem vindo a ocupar uma posição cada vez mais fulcral no discurso das ciências sociais e de desenvolvimento. O conceito foi repescado para a época moderna, dentro de um contexto sociopolítico caracterizado pelo depauperamento das formas de organização política baseadas no domínio primordial da bifurcação Estado - mercado, por um conjunto de ativistas e académicos sóciopolíticos e de desenvolvimento que viram na sociedade civil um potencial incontornável para resolver os problemas existentes, tanto nas democracias firmadas como nas emergentes, bem como para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento justo e duradoiro

49 (sustentável). Como afirma Karl Marx, “A sociedade atual não é um cristal sólido, mas

um organismo capaz de transformação e que está constantemente em processo de transformação” (Marx, 1977).

Este termo – sociedade civil – como vimos, foi repescado para a época moderna, com a utilidade que nos dias que correm se conhece, por António Gramsci, que via a sociedade civil como parte da interação social que não pertencia nem ao Estado nem à Economia (Glasius, 2001). Porém, pouco tempo depois desta remição, assistiu-se a uma paulatina indiferença por parte dos pensadores políticos europeus e americanos em relação ao tema. Segundo John Keane, isto ficou a dever-se, em parte, à sua referência a um socialismo autogerido que provavelmente destruiu por completo o potencial democrático da nova ênfase na sociedade civil (Keane, 2001: 25.26).

A partir do início da década de 70 do século XX assistiu-se a um ambiente de crítica crescente em conexão com as ditaduras totalitárias dos países do Leste europeu, em parte por causa de uma das suas caraterísticas mais marcantes, a união entre o Estado e a sociedade civil, que, apesar de ser considerada imprescindível para uma ordem política e social democrática, estava completamente absorvida pelas estruturas burocráticas do aparelho de Estado controladas pelo partido. O surgimento efetivo do conceito teve lugar em 1980, dentro do cenário teórico e político que é caraterístico da época. Segundo Leonardo Avritzer (1993) apud Vieira (1996), tal renascimento deve-se principalmente a três fatores:

i) o esgotamento das formas de organização política assente na tradição marxista, com a consequente reavaliação da proposta marxista de fusão entre a sociedade civil, Estado e mercado;

ii) o fortalecimento no Ocidente da crítica ao Estado-providência (welfare state) pelo reconhecimento de que as formas estatais de implementação de políticas de bem- estar não são imparciais, e o surgimento dos chamados “novos movimentos sociais”, que concentram a sua estratégia não na procura de ação estatal, mas na afirmação de que o Estado respeite a autonomia de determinados setores sociais, como forma de alcançar a estabilidade social;

iii) os processos de democratização da América Latina e Europa Oriental, onde atores sociais e políticos identificaram a sua ação como parte da reação da sociedade civil ao Estado.

Todavia, diferentes autores sustentam que o papel capital na reaparição e ganho de importância da sociedade civil como debate da teoria pertence aos dissidentes da Europa

50 Central e do Leste da América Latina contra os Estados autoritários dos seus países, para

quem a ideia de sociedade civil como algo separado do Estado era estrategicamente de grande utilidade (Wolfe, 1992; Glasius, 2001).

Os sucessivos fracassos dos regimes socialistas nas variadas áreas da vida social, bem como no setor do mercado, marcados por crónicos insucessos de planeamento, estagnação técnica, desperdício e carência, e um impetuoso subdesenvolvimento do improfícuo aparelho estatal, conjuntamente com a interdição de associação, que tinha como efeito o aumento de descontentamento e a limitação do desenvolvimento das capacidades morais e sociais de cada indivíduo, fizeram com que pensadores como György Konrad e Vaclav Havel exaltassem o sentido da sociedade civil e adotassem o conceito, tal como outros reformadores, para responder aos desafios da mudança (Wolfe, 1992). Assim, a sociedade civil passa a ser considerada simultaneamente como um novo tipo de sociedade, caraterizada por normas liberais e democráticas, e também como um veículo para alcançá-las através da construção de movimentos sociais suficientemente fortes para derrubar os Estados autoritários. Como afirma Edwards, uma sociedade civil altamente articulada é vista como “a base de uma democracia política estável, a defesa

contra a dominação por parte de qualquer grupo e uma barreira para as forças anti- democráticas” (Edwards, 2004: 7).

Depois da Europa Central e da América Latina, a ideia da sociedade civil espalhou-se repentinamente por todo o mundo em desenvolvimento, sobretudo em países com ditaduras e em países que delas emergiram recentemente, como é o caso das Filipinas e da África do Sul, entre outros. De igual modo, tornou-se popular em sítios onde recentemente não tinham sido experimentados regimes de despotismo, como a Índia, ou o Ocidente. O seu aparecimento estava relacionado com a corrosão da democracia, demonstrada na crescente desilusão e apatia do eleitorado. Neste contexto, a sociedade civil era vista como forma de revitalização da democracia perante o desencanto da população pela esperança esquerdista fornecedora de bens sociais, e pela direita convencida de que o crescimento económico é suficiente para produzir e distribuir benefícios a todos (Glasius, 2001).

Nos PvDs, mormente, os africanos, a adoção é feita basicamente a partir do exterior, visto que os doadores adotam o dogma de que o reforço da sociedade civil é indispensável para o desenvolvimento, usando para este fim uma “linguagem” de condicionalidade, na qual a sociedade civil é apresentada como sendo necessária para se conseguir uma melhor relação entre afetação e consolidação dos fundos doados. Sobre

51 este facto, Nelson Kasfir refere que os doadores estão fortemente envolvidos em

encorajar e financiar apenas as organizações que adotem a noção de sociedade civil defendida por eles (Kasfir, 1998).

Com base nas propostas de desenvolvimento e de revitalização da democracia, povos de vários lugares do mundo tomam por adquiridas as forças da sociedade civil, assim como doutrinam sobre as fraquezas que gostariam de corrigir. Este fato deu origem a uma convergência de abordagem entre as culturas cívicas comunitaristas e liberais, que confirmam a sociedade civil como área independente, geradora de vida associativa, que introduz valores de solidariedade, de emancipação, de organização autónoma de interesses, e outras formas de cidadania participativa conforme o princípio “tanta

sociedade quanto possível, tanto Estado quanto necessário” (Castro, 1999).

Nas democracias liberais do Ocidente, como diz Liszt Vieira (1996), a noção tem sido considerada por alguns analistas como destituído de potencial crítico para discutir as disfunções e injustiças da sociedade contemporânea, ou ainda como pertencente às formas modernas iniciais da filosofia política que se tornaram insignificantes para as sociedades complexas de hoje. No entanto, o conceito de sociedade civil tem sido empregue com crescente assiduidade, não só com o intuito de apontar o território social ameaçado pelos mecanismos do poder político e económico, mas também no sentido de aludir o principal caminho para o desenvolvimento da democracia nos regimes democráticos - liberais do Ocidente.

Com a crise dos anos 70, começou-se um processo de mudança profunda a nível económico, institucional e político, colocando novos desafios à sociedade civil, fáceà incapacidade do Estado e do mercado em dar resposta às novas demandas sociais no que diz respeito ao emprego, participação e proteção social. A mudança da economia-mundo, facilitada pelo neoliberalismo, rompe com o modelo fordista e o Estado Regulador. O incremento do desemprego, da exclusão e da pobreza são algumas das consequências dessa transformação. Se a economia social fora, no século XIX, concomitantemente, uma solução inédita e um ajuste funcional à economia de mercado, neste início do século XXI, a nova economia social/solidária é uma solução inovadora à incapacidade conjunta do mercado e do Estado em abonar proteção social e pleno nas mesmas bases da época de expansão de uma economia mista.

A sociedade civil, ou terceiro setor ou, então, a economia social, para além de ser amortecedor dos efeitos negativos da crise, também é tida no seu potencial de mudança ou transformação da sociedade. É daqui que Rifkin (1996) considera a sociedade civil ou

52 o terceiro setor como lugar singular para o desenvolvimento de um novo tipo de

sociedade, no qual o político e o social não se subordinam à economia. Através de um conjunto de incentivos, este setor cria uma alternativa de emprego para aqueles cujos trabalhos já não são requeridos pela economia de mercado. Este setor engloba todos aqueles que queiram canalizar o seu tempo livre (voluntariado) para serviços úteis à comunidade (cuidados de saúde, apoio aos carenciados e aos idosos, educação, arte...).

Embora seja algo difícil de determinar os limites de observação e do objeto científico atinente à sociedade civil, é possível, contudo, delimitá-los tendo presente duas dimensões fundamentais: uma que resulta da sua historicidade enquanto paradigma alternativo às modalidades da regulamentação e de controlo desenvolvidas pelo mercado e pelo Estado; outra que está reportada às contingências de acomodação e de resposta da sociedade civil à crise de regulamentação e de controlo por parte do Estado e do mercado nas sociedades contemporâneas. Desse modo, a sociedade civil representa um progresso histórico integrado em princípios e práticas, com uma geografia cultural e específica e decorre dos impasses contemporâneos que a sociedade civil é forçada a assumir diante das contingências da crise do Estado e do mercado nas suas variadas dimensões.

Anthony Giddens colocou de forma clara o que a sociedade civil é e que importância ela tem nos dias de hoje. Diz ele que “temos de deixar de pensar que a

sociedade é composta apenas por dois setores: Estado e o mercado, ou o setor público e o setor privado. Entre os dois, encontra-se a área da sociedade civil, que inclui a família e outras instituições de natureza não económica (…). A sociedade civil é o forum onde as atitudes democráticas, incluindo a tolerância, têm de ser cultivadas” Giddens (2000: 77).

Por sua vez Ulrick Beck afirma que, diante da crescente perda de importância e eficiência dos parlamentos como centro da formação da vontade popular, visto que “a política está

a perder a sua qualidade polarizadora, utópica e criativa”, ela (a política) tende a “sair”

das áreas oficiais para as diversas OSCs (Beck, 1998: 239).

A sociedade civil representa todas as atividades económicas, sociais, culturais e políticas que sobrevivem às coações estruturais e institucionais de regulamentação e de controlo do Estado e do mercado. Contudo, há que salientar que as suas atividades são distintas da economia informal e da economia doméstica. Há um denominador comum que normalmente é materializado no regime jurídico e funcionamento organizacional das associações, fundações, cooperativas que integram a sociedade civil: possuem uma estrutura institucional; são de caráter privado; não geram dividendos dos lucros; têm autonomia e controlo das suas atividades; podem usufruir da participação do trabalho

53 voluntário ou benévolo. Por fim, a sociedade civil subordina-se muito à amplitude da

crise do Estado e do mercado, da cultura e da história do país em que a sociedade civil emerge e do país que já teve oportunidade de atingir um relativo desenvolvimento económico no quadro da racionalidade instrumental do capitalismo (Fernandes, 1997).

No âmbito da multidimensionalidade das OSCs como são os casos de associações, cooperativas, fundações, mutualidades… parte delas integra-se num tipo de atividades económicas designadas de economia social, como é o caso nos países como França, Bélgica, Portugal, Canadá e Espanha; ou, então, são denominadas do conceito genérico de organizações ou instituiçoes sem fins lucrativos ou de trabalho social, como ocorre nos países anglo-saxónicos e países escandinavos; e por fim, organizações da sociedade civil (OSCs) como é o caso de Moçambiuque e países da América Latina. Como denominador comum, todas elas são de natureza privada, não têm como objetivo o lucro, baseiam o seu modo de funcionamento na solidariedade, no apoio mútuo e na reciprocidade.

Entretanto, vivemos numa época em que, por um lado, o Estado enfrenta sérias complexidades para fazer face às suas obrigações e, por outro, o mercado vive um momento de euforia, que, com a globalização da economia, gera as políticas neoliberais que fragilizam o Estado na sua função de regulação e de provedor do bem-estar social. O Estado não consegue impulsionar um conjunto de políticas sociais consequentes para eliminar os problemas que afetam excessivamente a vida do dia-a-dia das famílias e das comunidades locais que incluem a sociedade nos domínios de segurança, do crime, da droga, da violência, da pobreza e da miséria.

Nesta mesma linha, Ioschpe (2005) diz que o impacto de um Estado que vem reduzindo a sua ação social e de uma sociedade com carências cada vez maiores, cresce a perceção nas pessoas – tanto físicas quanto jurídicas – de que é indispensável posicionar- se proativamente no espaço público, se o que se deseja é um desenvolvimento social sustentado. A sociedade civil é, portanto, um espaço de participação de novos modos de pensar e agir sobre a realidade social.

Todos estes fatores, sem exceção, engendram a exclusão e desigualdades sociais e fenómenos sociais desviantes com incidências negativas na coesão social e na ordem social. Desse conjunto de problemas despontam novas necessidades de índole social, política e cultural. Os indivíduos e grupos que formam a sociedade perderam a vocação de produção de sociabilidade e de sentido identitário. Não sendo o Estado e o mercado as estruturas e as instituições com capacidade para esse efeito, as OSCs surgem como uma

54 solução plausível. É, assim, que a sociedade civil e suas organizações seja chamada a ter

um papel preponderante/interventivo (fiscalizador e de complementaridade) na sociedade. Apesar de comummente se considerar a sociedade civil como o terceiro setor da organização societária, depois do Estado e do mercado, Rifkin (1996: 21) diz que, na realidade, a sociedade civil é o primeiro setor, pois,

“é preciso compreender que quando se estabelece a civilização, em

primeiro lugar, estabelece-se a comunidade (o capital social), depois surge o comércio e o governo: a comunidade vem em primeiro. Neste século, invertemos o raciocínio e passamos a crer numa ideia bizarra de que, de início, criamos um mercado forte, porque ajuda a construir uma comunidade forte. Isso é completamente falso. Antes, surge a comunidade; posteriormente, começa-se a comerciar, aparece o mercado, depois surge o governo”.

Isto mostra a origem e a importância que a sociedade civil tem nas dinâmicas organizacionais societárias, embora se chame terceiro setor. A sociedade civil é vista, portanto, como uma rede de instituições, localizada entre o Estado, o mercado e a existência privada, onde se sintetizam todas as potencialidades da vida individual, e onde se concilia à virtude própria do sector privado, a liberdade, à virtude do sector público, o sentido de justiça (Castro, 1999), dando espaço para atividades simultaneamente voluntárias e públicas. Contudo, como os conceitos de público e privado já não se acomodam automaticamente ao conceito de Estado e sociedade civil, respetivamente, levantou-se um debate bastante complexo sobre o caráter público ou privado das OSCs (Vieira, 1996). Devido à magnificência do fenómeno e à sua complexidade, é difícil fazer a generalização sobre a sociedade civil. Ela abrange um desmedido leque de formas institucionais, agentes constituintes, capacidades, táticas e objetivos que tornam urgente a sua clarificação. Iniciemos, então, por dizer o que não é e o que não faz parte dela.

Primeiro, a sociedade civil não é o Estado. Os diversos grupos da sociedade civil não fazem parte do aparato do Estado, nem pretendem controlar a função pública ou alcançar o poder. Pelo contrário, o Estado, através do seu papel regulador e judicial, assegura a observância e a prática da lei, a ordem social, e outros componentes da sociedade e civilidade. Como exemplo temos os partidos políticos, que, ao declararem ter um fim público, uma vez que desejam o bem comum da sociedade, são formalmente consideradas instituições da sociedade civil; todavia, na prática não o são, uma vez que têm o comportamento de organizações pró - estatais, organizadas para a conquista do

55 poder público. As entidades ou grupos vinculados aos partidos, ao realizarem ações de

cidadania são consideradas detentoras de fins públicos (a não ser que essa atuação fique claramente identificada com os propósitos do poder do partido político em questão), mas não do partido ao qual se encontram aliados (Scholte, 1999).

Segundo, a sociedade civil não é o mercado, ela é um domínio não comercial onde não existe a apreensão com a produção de lucros. Não fazem parte dela as empresas e firmas, ou corporações, nem mesmo as empresas estatais; embora formalmente públicas, a sua racionalidade baseia-se na defesa de interesses coletivos, porém particulares, económicos ou setoriais, de uma categoria profissional ou mesmo de uma classe social, cuja atuação não abrange o espaço público, apesar de o submeter à sua estrutura e dinâmica, procedendo na prática como organizações de mercado (idem).

Terceiro, a sociedade civil não implica a família. Há diferentes formas culturais de famílias, ou formas organizacionais da família como uma unidade (onde se incluem os agregados familiares, os sistemas de família alargada, as dinastias, etc.) que manifestam diferentes linhas de fronteira entre a esfera privada da família e a esfera pública de toda a sociedade, mas que, no entanto, não cabem na esfera da sociedade civil (Vieira, 1996).

A sociedade civil é, sim, o que abarca uma variedade de caraterísticas. Jan Aart Scholte (1999) diz que a sociedade civil é muito variada tanto em termos de membros e seus constituintes, onde se envolvem institutos académicos, organizações comunitárias, associações de consumidores, grupos de cooperação para o desenvolvimento, campanhas ambientais, grupos de camponeses, organizações de direitos humanos, sindicatos, ativistas de paz, entre muitas outras, como em termos de formas organizacionais. Dentro das formas organizacionais, tanto estão os grupos que, formal e oficialmente, são constituídos e registados, como as associações constituídas de forma informal. Frequentemente, as diversas formas organizacionais adotadas pelos grupos da sociedade civil resultam das diversidades culturais. Algumas organizações são unitárias e centradas em determinada entidade, como a Ford Foundation. Outras são uma espécie de federação, onde as filiais apresentam uma independência considerável em relação à casa central como, por exemplo, a Amnistia Internacional. Outros grupos cívicos, ainda, formam coligações ou uniões em que não existe uma entidade coordenadora. Outras são redes frágeis que sustentam contactos irregulares e limitados.

Tendo em conta a sua capacidade, a sociedade civil tanto abarca entidades generosamente equipadas com recursos financeiros, materiais e humanos, com uma clara visão e elucidada orientação de valores, enorme capacidade de análise e uma linguagem

56 capaz de dispor de um quadro constitutivo e uma liderança efetiva, como também

abrange outras entidades que batalham para sobreviver, frequentemente sem êxito. Alguns corpos cívicos exploram a proximidade com as elites, enquanto outros estão totalmente separados dos centros de poder estabelecidos (Scholte, 1999).

Em termos de tática, as associações fazem uso de uma imensidade de recursos para conseguirem os seus fins. Muitos grupos atuam diretamente sob a forma de lobbies, e perseguem os seus propósitos através da cooperação com autoridades públicas e/ou agentes de mercado. Outros adotam uma postura de confronto e declinam todos os acordos celebrados com os centros de poder. Outros ainda optam por reunir o público em geral através de simpósios, reuniões, petições, campanhas de abaixo-assinado e boicotes, apelando diretamente ao coração, através do uso de imagens, músicas e slogans, e mais outros ainda que apelam à mente, através de debates, publicações e estatísticas. Há também Associações que estão bem inseridas na era da informação e fazem uso corrente da Internet, enquanto outras não (idem).

Finalmente, em termos de objetivos, a sociedade civil abarca grupos conformistas, reformistas e radicais. A distinção geral é importante, apesar de na prática confundem-se na atuação. Os conformistas são os grupos cívicos que pretendem defender e reforçar as normas existentes, como, por exemplo, as associações profissionais, as fundações, os

lobbies empresariais ou os centros de estudos. Os reformistas são as entidades cívicas que

anseiam corrigir as imperfeições do sistema, e não só, deixando as estruturas sociais subjacentes intactas; são disso exemplo grupos numerosos de defesa dos direitos humanos. As radicais são as associações cívicas que pretendem mudar a ordem social. Frequentemente chamadas “movimentos sociais”, incluem anarquistas, ambientalistas, fascistas, feministas, pacifistas e revivalistas religiosos, que são os implacáveis opositores contra o Estado, o industrialismo, os valores liberais, o patriarcado, o militarismo e o secularismo, respetivamente (Scholte, 1999).

Na visão de Boaventura de Sousa Santos (1993), a sociedade civil seria, de certo modo, o desenvolvimento da sociedade-providência, que surge como compensação da ineficácia e ineficiência do Estado-providência em Portugal. A sociedade-providência,