• Nenhum resultado encontrado

CRIAÇÃO DE CULTIVARES DE AMEIXEIRA COM RESISTÊNCIA TOTAL À ESCALDA DURA DAS FOLHAS (Xylella fastidiosa)

No documento Anais... (páginas 150-152)

Marco Antonio Dalbó1; Emilio Della Bruna2

1Eng. Agr., Ph.D., pesquisador na Epagri – Estação Experimental de Videira; Rua João Zardo, 1660; Cx. P. 21; CEP 89560-000; Vi-

deira, SC; dalbo@epagri.sc.gov.br

2Eng. Agr., M.Sc., pesquisador na Epagri – Estação Experimental de Urussanga; emilio@epagri.sc.gov.br

Introdução

A escaldadura das folhas (Xylella fastidiosa) é o principal fator limitante para a produção de ameixas no Brasil. Essa doença está disseminada nas principais regiões produtoras devido à presença de insetos ve- tores (cigarrinhas) e de hospedeiros nativos da bactéria.

O programa de melhoramento de ameixeira da Epagri vem sendo desenvolvido desde 1990, nas Estações Experimentais de Urussanga e Videira. Em Urussanga, o clima é relativamente quente (<150 h de frio (-7,2C) e em Videira, as condições climáticas são de inverno ameno (350-450h de frio). Alguns clones desenvolvidos em Videira são também testados na Estação Experimental de São Joaquim, a 1.450m de alti- tude.Aí o clima mais frio não favorece o aparecimento da doença e apenas características agronômicas são avaliadas.

Metodologia

A primeira etapa do programa de melhoramento foi identificar as fontes de resistência à escalda- dura. Algumas seleções foram identificadas na Argentina, como Chatard e Piamontesa, e outras, de origem pouco clara, como Carazinho e Amarelinha, foram largamente usadas nos primeiros cruzamentos. Cultivares originárias da Flórida, como Gulfruby e Gulfblaze também mostraram altos níveis de resistência e foram uti- lizadas principalmente em Urussanga, devido ao baixo requerimento em frio. Inicialmente, buscou-se obter materiais que retardassem a multiplicação da bactéria dentro da planta. A análise de populações segregan- tes resultantes dos cruzamentos obtidos, complementada com estudos moleculares, indica que a resistência à escaldadura é poligênica e predominantemente recessiva.

Posteriormente, foi encontradauma outrafonte de resistência que mudou significativamente o pro- cesso de melhoramento para resistência a escaldadura. Uma seleção (97-38-2-31), originada do cruzamento Leticia x Piamontesa,aparenta ser imune a Xylella fastidiosa, tendo sido mantido por mais de dez anos sem mostrar qualquer sintoma. Os resultados de testes de diagnose de Xylella por PCR têm sido sempre negati- vos para esse genótipo, mesmo quando este é enxertado sobre plantas contaminadas de outras variedades. Trata-se de uma descoberta acidental, resultante de um estudo paralelo que tinha como objetivo aperfeiçoar os testes de diagnose de Xylella fastidiosa por PCR. Essa seleção passou então a ser largamente utilizada em cruzamentos com o objetivo de gerar cultivares com imunidade à doença.

Resultados e discussão

Em alguns cruzamentos em que seleção 97-38-2-31 foi usada como parental, cerca de 5-10% dos descendentes aparentavam imunidade à Xylella. Nesse caso, os indivíduos resistentes mantinham as folhas verdes até o final do ciclo vegetativo, o que os diferenciava dos demais, e geralmente eram “PCR negativos”. Entretanto, esse mesmo comportamento foi observado também em progênies de outros cruzamentos, não relacionados com a seleção 97-38-2-31, obtidos tanto na E. E. Videira como na E.E. Urussanga. Cerca de 70 seleções com essa característica (“PCR negativas”) foram sobre-enxertadas sobre plantas infectadas das cul-

Anais do VI Encuentro Latinoamericano Prunus Sin Fronteras

151

tivares Fortune e Piuna e, em 100% dos casos, as brotações resultantes passaram a ser “PCR positivas”, além de que muitas apresentavam sintomas claros de escaldadura. Dessa forma, ficou evidenciado que havia outra forma de resistência, em que havia um bloqueio na transmissão da bactéria pelos vetores (cigarrinhas), porém não havia impedimento para a transmissão por enxertia nem para o crescimento da bactéria dentro dos vasos da planta.

A resistência total à escaldadura via bloqueio da transmissão por vetores resolve integralmente o problema da doença, porém restam dúvidas quanto a sua durabilidade. A experiência sobre esse tema ain- da é bastante limitada, mas aparenta ser uma forma de resistência difícil de ser quebrada. Na E. E. Videira, plantas da seleção SC 13, que apresenta essa forma de resistência, tem se mantido livres de Xylella por oito anos, em meio a outras plantas infectadas. Em Urussanga, as seleções com essa forma de resistência tem se mantido isentas de Xylella por vários anos. Uma das limitações é o cuidado necessário para não haver sobre -enxertia com outras cultivares que permitem a infecção pelos insetos vetores, o que abriria uma porta de entrada para a bactéria.

Mesmo com essas limitações, essa forma de resistência representa um grande avanço no melhora- mento genético para solucionar do problema da escaldadura. Como provavelmente não há um número mui- to grande de genes envolvidos, já foi possível obter um número elevado de genótipos com essa caracterís- tica, muitos dos quais apresentam alta qualidade de fruto. De modo geral, as seleções do tipo “zero Xylella” são superiores em qualidade dos frutos em relação às seleções que são apenas tolerantes a Xylella. Portanto, é mais vantajoso optar pela resistência por bloqueio da transmissão, mesmo que exista a possibilidade que esta forma de resistência venha a ser quebrada no futuro.

Alguns materiais das seleções obtidas poderão ser lançados como cultivares em futuro próximo. Um exemplo é a seleção SC 13, atualmente em testes em nível de produtor, e que produz frutos muito semelhan- tes à cultivar Fortune, atualmente a mais plantada na região Meio-Oeste de Santa Catarina. Outras 11 sele- ções criadas na E. E. Videira também estão em estágio avançado de avaliação. Todas apresentam as mesmas características de resistência à escaldadura e com características variadas de fruto, porém com um nível de qualidade que permite às mesmas serem competitivas no mercado atual. Algumas seleções criadas na E.E. Urussanga, adaptadas às condições de pouco frio hibernal, também apresentam características semelhantes e estão no mesmo estágio de avaliação.

Conclusões

Diferentes formas de resistência à Xylella fastidiosa em ameixeira foram encontradas. Além da re- sistência na forma de redução da população desta bactéria dentro do sistema vascular da planta, foram en- contrados genótipos que bloqueiam a entrada da bactéria na planta (resistência total). De maneira geral, o bloqueio parece ocorrer na transmissão por insetos vetores, uma vez que a transmissão ocorre por enxertia e pode ser detectada por testes de PCR. Apenas na seleção 97-38-2-31, não foi observada nem transmissão em colonização da bactéria na planta.

Agradecimentos

Anais do VI Encuentro Latinoamericano Prunus Sin Fronteras

152

ESTIMATIVA DA HERDABILIDADE PARA PODRIDÃO PARDA EM FRUTOS DE

No documento Anais... (páginas 150-152)

Outline

Documentos relacionados