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Desafios para produção de pêssegos no sul do Brasil

No documento Anais... (páginas 77-80)

Maria do C. Bassols Raseira1; Rodrigo Cezar Franzon2; Davis H. Byrne3; Silvia Carpenedo4; Idemir Citadin5

1 Eng. Agr. Ph.D., Pesquisadora Embrapa Clima Temperado, Bolsista CNPq, Pelotas/RS, maria.bassols@embrapa.br 2 Eng. Agr. Dr.,Pesquisador Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS, rodrigo.franzon@embrapa.br

3 Eng. Agr.Ph.D., Pesquisador e Professor da Texas A&M University, Consultor, dbyrne@tamu.edu 4 Eng. Agr. Dr.,Bolsista pós-doutorado, CAPES/Embrapa Clima Temperado, carpenedo.s@hotmail.com 5 Eng. Agr.Dr., Professor, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, idemir@utpfpr.edu.br

Frutífera de clima temperado, o pessegueiro era, até alguns atrás, cultivado em latitudes de 45° N e S. Entretanto, trabalhos de melhoramento aliados a práticas de manejo estenderam seu cultivo a latitudes menores, inclusive próximas de 0°, em áreas de elevada altitude. Esta é uma das espécies de clima tempe- rado que mais tem sido trabalhada no sentido de conseguir adaptá-la a condições de clima subtropical ou mesmo tropical de altitude. Para isso, vários obstáculos tiveram de ser vencidos e vários problemas desafiam a capacidade de pesquisadores, técnicos e produtores.

A baixa frutificação é um dos principais problemas em regiões de clima tropical e subtropical. Um dos fatores que determinam a adaptação é a necessidade de frio. Este foi o primeiro desafio: reduzir a ne- cessidade em frio das cultivares a serem plantadas nessas áreas. Este objetivo foi alcançado com cultivares desenvolvidas por diversos programas de melhoramento genético, como o programa da University of Flo- rida, o da Texas A&M University, nos Estados Unidos; os programas mexicanos de melhoramento genético (Instituto Nacional de Investigaciones Forestales Agrícolas y Pecuarias; e o programa do Dr. Salvador Perez); e, no Brasil, no IAC (Instituto Agronômico de Campinas/SP), EPAGRI/SC, Instituto Agronômico do Paraná/PR e Embrapa Clima Temperado/RS.

Mas a redução da necessidade em frio e a precocidade de maturação dos frutos trouxeram novos desafios. As cultivares de menor necessidade em frio florescem já no início do inverno, causando riscos de perdas por geadas em diversas regiões. Além disso, o ápice proeminente da fruta, embora sendo uma ca- racterística genética, é muito influenciada pelo ambiente, notadamente a temperatura logo após a floração. Topp e Sherman (1989), trabalhando com 22 cultivares, encontraram uma correlação altamente significati- va e negativa entre a forma da fruta (extremidade pistilar) e as temperaturas médias de 0 a 50 dias após a floração. Sob condições subtropicais, é um problema comum, mas que algumas cultivares ou seleções não apresentam ou é muito pequeno. Este é o caso, por exemplo, das cvs. Kampai, Maciel, e Doçura 2.

Outro problema enfrentado nestas regiões é a dificuldade de conseguir tamanho de fruto, competi- tivo com aqueles produzidos nas regiões de clima tipicamente temperado. Entretanto, cultivares tipo mesa como Douradão (do IAC); BRS Fascínio (Embrapa), ou tipo indústria, como Granada, Santa Áurea, Maciel, BRS Âmbar (Embrapa) mostram o progresso que se conseguiu nesta característica. O período de colheita foi estendido. Foram desenvolvidas cultivares com melhor tamanho, produtividade e qualidade, adaptadas às condições subtropicais, mas os problemas ainda continuam e novos surgiram. A falta de mão de obra no campo para efetuar os tratos culturais nos pomares exige mudanças na condução de plantas, adaptando-as à mecanização ou o desenvolvimento de plantas com hábito de crescimento diferenciado (plantas abertas,

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tipo chorão, ou de hábito colunar ou ainda com folhas estreitas para melhor aeração e redução de incidência de patógenos com consequente redução de aplicações fitossanitárias).

As mudanças climáticas pelas quais o planeta vem passando, principalmente relacionado ao aumen- to da temperatura, são motivo de preocupação também para a cultura do pessegueiro. Além da insuficiência de horas de frio, apontada como um dos efeitos do aquecimento global, nos últimos anos, não tem sido rara a ocorrência de temperaturas próximas a 30°C, mesmo nos meses de Julho e Agosto. Altas temperaturas na floração e, em algumas espécies, durante o período de desenvolvimento dos frutos, podem causar baixa fertilização e irregularidade nas colheitas. Esta é mais uma das causas de inconsistência de produção entre safras, que afetam a rentabilidade dos pomares. As altas temperaturas, no verão, época de diferenciação de gemas floríferas, também são responsáveis pelo aumento da porcentagem de gemas cegas que são impro- dutivas e, portanto, reduzem a produção seguinte (Boonprakob e Byrne, 2003).

Outro sério problema muito conhecido e estudado no sul do Brasil está relacionado a pragas e doen- ças, o que só tende a aumentar com os invernos ainda mais quentes e chuvosos. Dentre as doenças, podri- dão parda (Monilinia fructicola) e bacteriose (Xanthomonas arboricola pv. pruni) são consideradas as mais im- portantes. Entretanto, antracnose e Botryosphaera têm crescido em importância. Em algumas áreas, como em São Paulo, por exemplo, a ferrugem da folha (Transzchelia discolor F.) merece atenção. Outras doenças, como crespeira verdadeira (Taphrina deformans), por exemplo, causam problemas em alguns anos e em de- terminadas áreas. Quanto às pragas, a mosca das frutas (Anastrepha fraterculus) e a mariposa oriental (Gra-

pholita molesta) são ainda as mais preocupantes.

Como se tudo isso não bastasse, há ainda as perdas causadas por morte precoce do pessegueiro (Peach tree short life) que são ainda mais comuns se, aliadas à incidência do nematóide anelado e manejo inadequado de solo e planta, ocorrem grandes flutuações de temperatura e estresse hídrico.

Este é, portanto, um tempo desafiador, mas ao mesmo tempo excitante para todo o setor frutícola, principalmente pesquisadores e, em especial, melhoristas. Esses têm a missão de buscar soluções ou alterna- tivas para reduzir as perdas de produtividade e qualidade e, além disso, desenvolver cultivares produtoras de frutas com maior conteúdo de produtos benéficos à saúde e buscar novidades que interessem ao mercado.

Algumas das cultivares lançadas nos últimos anos pela Embrapa Clima Temperado, ou algumas das seleções em teste, atenuam alguns destes problemas. Assim, por exemplo, foi lançada a cv. BRS Mandinho, que embora produza frutas pequenas, ainda com alguns defeitos, é a primeira produtora de frutas tipo pla- ticarpa desenvolvida no Brasil, adaptada a invernos com acúmulo de frio inferior a 150h, representando, portanto, uma novidade no mercado brasileiro. A cv. BRS Fascínio produz frutas de tamanho grande e polpa branca, mas muito firme, reduzindo as perdas por manuseio e transporte em pós-colheita. A cv. Regalo, apesar de produzir frutos menores do que a anterior, destaca-se pela estabilidade de produção através dos anos. Seleções como a seleção Cascata 1513, a cv. BRS Libra, BRS Âmbar, entre outras, não apresentam ápice proeminente, isto é, não têm problemas quanto à forma. Há progênies sendo avaliadas quanto a resistência a doenças que mostram indivíduos com potencial para este caractere.

Portanto, o programa de melhoramento da Embrapa, continuação do iniciado pela Estação Expe- rimental de Pelotas, Ministério da Agricultura, segue em busca de seu objetivo central que é promover e incrementar a competitividade da cadeia produtiva de pêssegos, desenvolvendo genótipos adaptados às condições do Sul e Sudeste do Brasil, mais resistentes a fatores de estresse bióticos e abióticos, e que propor- cionem produtos diferenciados com valor agregado. Para isso, a Embrapa conta, não apenas com seu quadro de pesquisadores, mas com colaboradores de diversas instituições de pesquisa, ensino e extensão (do Brasil e do exterior) e, sobretudo, com a valiosa cooperação de diversos produtores.

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79 Bibliografia

Topp, B.L. and W.B. Sherman. 1989. Location influences on fruit traits of low-chill peaches in Australia. Proc. Fla. State Hort. Soc. 102:195–199.

Boonprakob, U. e Byrne, D. Temperature influences blind node development in peach. Proc. XXVI- Environ- ment stress. Eds. Tanino et al; Acta Hort.618, ISHS, 2003.

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