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A CRISE DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL E PRODUTIVA CAMPONESA DO SUDOESTE DO PARANÁ

Não se pode discernir com precisão a época em que a tipicidade da orga- nização social e produtiva camponesa da região do Sudoeste do Paraná começa ser engolida pelas relações tipicamente capitalistas. Entende-se, no entanto, que a década de 1960 pode se constituir no marco que distingue dois momentos da organização social e produtiva da região do Sudoeste do Paraná. Alguns fatores são essenciais para fazer essa distinção, entre os quais se destacam: 1) o processo de urbanização, referindo-se não apenas ao crescimento das cidades, mas também à centralização dessas na admi- nistração das propriedades rurais; 2) a lógica produtiva, implementando uma objetividade de produção exclusiva para o mercado, objetivando o aumento da margem do lucro, deixando a propriedade rural de fornecer produtos de sobrevivência para a família; e 3) a utilização de mão-de-obra assalariada no lugar da antiga mão-de-obra familiar.

Mas essa tipicidade nitidamente capitalista assumida pela organização social e produtiva do Sudoeste do Paraná foi antecedida por uma crise profunda, de enorme empobrecimento.

Um dos fatores desse empobrecimento se deve ao papel predatório dos antigos aliados dos colonos, os comerciantes, na extração do sobretrabalho do agricultor pelo lucro extraído da compra de seus produtos agrícolas e da venda de produtos manufaturados de primeira necessidade. Portanto, a crise dos pequenos agricultores nasceu dessa dependência entre comerciante e agricul- tores. No fi nal, com a crise da produção camponesa, os próprios comerciantes entraram em crise, tanto é que nas décadas de 1970 e 1980 os tradicionais comerciantes da região redirecionaram seus investimentos para outras re- giões, como foi o caso da capital do estado, das terras no Mato Grosso etc. Outro fator que explica essa crise da organização social e produtiva do Sudoeste do Paraná diz respeito à própria dinâmica implementada na pas- sagem de uma organização tipicamente camponesa para uma tipicamente capitalista. Uma passagem um tanto quanto brusca. Trata-se da própria lógi- ca tecnológica e instrumentalista, originada do modelo de desenvolvimento econômico capitalista. Tal lógica foi adotada pelos agricultores no trabalho agrícola, coagidos pelos fi nanciamentos bancários e pelas orientações dos serviços de extensão rural. Como exemplo se tem o uso de insumos, inse- ticidas e implementos industriais, ocasionando, ao mesmo tempo, desgaste ambiental (e a improdutividade da terra) e um perigoso comprometimento fi nanceiro das propriedades. Não se trata de uma problemática própria da região do Sudoeste do Paraná, mas diz respeito aos fundamentos teóricos e ideológicos do modelo dominante de desenvolvimento, com fundamen- tos nos pressupostos básicos do conceito de ciência e de conhecimento científi co e tecnológico.

Organização e luta camponesa no Sudoeste do Paraná

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A região do Sudoeste do Paraná foi descoberta num momento histórico da entrada do capitalismo no campo. Caracterizou-se, no mínimo até a década de 1950, como produtora de mercadorias a serviço do modo de produção capitalista, porém sem incutir em sua base produtiva relações sociais capitalistas. Em outras palavras, constituiu-se em relações não- capitalistas engendradas pelo capitalismo como recurso para garantir sua própria expansão. O entrelaçamento dessas duas formas de produção, a não-capitalista (interna) e a capitalista (no nível de mercado), foi garantido graças à intervenção do capital comercial.

O capital comercial, por sua vez, chegou à região em dois momentos: o primeiro, desde o instante da produção tipicamente cabocla, intensifi cando- se com a chegada do migrante, interessando-se na comercialização do exce- dente de produção agrícola da região, trazendo em troca produtos indispen- sáveis à sobrevivência dos pequenos produtores rurais. Representava essa fração do capital comercial uma rede de comerciantes, desde os sediados nas vilas até os das cidades regionais distantes. Porém, nesse segmento do capital comercial, após a chegada dos migrantes na região, instituiu-se um sistema produtivo regional entre produtores rurais e comerciantes, um garantindo a sobrevivência do outro. O segundo momento da entrada do capital comercial na região deu-se por companhias de terra. Interessava a esse segmento do capital comercial a exploração do título da propriedade da terra e a madeira existente naquela área, provocando confl itos com os posseiros lá instalados. A evolução de tais confl itos desencadeou o Levan- te Armado dos Colonos do Sudoeste do Paraná em 1957, caracterizado como um movimento de resistência camponesa pela garantia da posse da propriedade da terra.

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FORMOSO

E TROMBAS:

LUTA

PELA

TERRA

E

RESISTÊNCIA

CAMPONESA

EM GOIÁS – 1950-1964

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