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3 CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA E GOVERNABILIDADE: A

3.3 Governabilidade: Políticas Econômicas como solução para momentos de

3.3.2 Crise Econômica: uma solução através de Políticas Econômicas

No contexto de um Estado Social com a pretensão de materializar suas políticas públicas de âmbito social, a problemática da economia ganha especial relevância. Na busca de efetivação da Constituição Social, percebe-se uma Constituição Econômica progressivamente intervencionista.

Ao deparar com um estado de coisas atravessando uma crise econômica, a importância de políticas públicas de cunho econômico vem se mostrando instrumento hábil e indispensável na governabilidade e concretização dos projetos políticos. Como já tratado

anteriormente, as crises que abalam um governo geralmente são fenômenos conjuntos, dificultando sua avaliação de forma isolada.

Alterações constitucionais ou legais de matéria econômica visam justamente à adequação do direito através de providências que deslinde uma problemática socioeconômica, viabilizando, desta forma, a governabilidade. A crise econômica hodierna tem exigido, cada vez mais, a ingerência do Estado na busca do Bem-Estar social.

A interação entre política, direito e economia vem se tornando, principalmente com a Constituição Econômica de 1988, a centralidade dos critérios normativos para as reformas institucionais a serem realizadas em momentos de crise. O regulador econômico vem se inserindo, gradativamente, na promoção de políticas sociais.

Alguns fatores específicos demonstram a instabilidade econômica vivenciada nos últimos anos: a oscilação das taxas de juros, a alta do desemprego, o aumento da inflação e déficit no crescimento do produto interno bruto (PIB). A crise econômica vem representando um dos capítulos – talvez o de maior impacto – na crise política perpassada pelo Brasil nas últimas legislaturas. Coutinho (2012, p. 6), a respeito da interação sistêmica entre política e econômica, esclarece:

Seria por demasiado injusto e incoerente, além de simplista e redutor da complexidade, atribuir aos estudiosos da economia política, aos economistas em geral, as culpas dos sismos. Não; alguns bem que avisaram; muitos se fizeram de ouvidos moucos. A verdadeira crise econômica, da qual não se quer falar, seria uma crise instalada no seio da ciência econômica, porém na sua vertente Economics; indubitavelmente se afasta da “Economia Política”, que pressupõe uma atitude crítica, em abordagem interdisciplinar e envolve “juízos morais ou políticos”, porquanto se constitui como produto social, ciência social, voltada ao homem global (e não ao homo oeconomicus).

Na abordagem crítica dos entraves econômicos vivenciados no Brasil desde 2012, Coutinho, após elencar de forma sistematizada os efeitos econômicos negativos da crise, destaca a necessidade do estudo interdisciplinar, sendo inviável para um desenlace positivo a perspectiva isolacionista de cunho unicamente econômico.

Nesse diálogo travado entre política e economia, Bercovici (2011) certifica que os principais instrumentos de política econômica são a política fiscal, a qual engloba os gastos do governo e o sistema de tributação; e a política monetária desenvolvida pelo Banco Central, o qual disciplina as condições financeiras da moeda nacional.

Nessa definição clássica de políticas econômicas – embora outros setores de intervenção estatal também se enquadrem em seu conceito, a exemplo das empresas públicas

estatais e as empresas de economia mista –, o objeto da dissertação que aqui se propõe é uma análise da política fiscal adotada e reformada por meio de emendas ao texto constitucional.

A DRU se enquadra em uma escolha política de utilização do dinheiro público, arrecadado via tributo, a fim de estabilizar setores da econômica estatal. Tornando-se um ponto de convergência entre controle fiscal e decisão política.

Devem-se perscrutar essas políticas como um método de análise do direito e da realidade posta, mediante a incorporação das mesmas como parte integrante da realização da Constituição Econômica em busca da efetivação do Estado Social e suas demandas.

A Constituição Econômica passa a ter uma dupla instrumentalidade (REICH, 1977 apud BERCOVICI, 2005), tanto tem como espoco direcionar o processo econômico capitalista de mercado, como pode ser empregado como meio de transformação da economia e solução de crises, incorporando em seu bojo a política, bem como a economia.

Desta forma, essa dupla faceta das políticas econômicas possibilita ao Estado uma maior ingerência na manipulação da realidade posta, visando alcançar os objetivos positivados não apenas na normatização jurídica, mas também escopos de caráter eminentemente políticos.

O programa econômico de Estado positivado na Carta de 1988 tem por objetivo a superação do subdesenvolvimento, possibilitando estruturas mínimas de realização dos direitos fundamentais. E, com fundamento nesse programa de Estado, os governos, mormente em períodos de perturbação econômica, traçam programas econômicos vinculados a um momento de crise pontual vivenciado pelo país.

Compreende-se então que uma vez constatados os elementos de determinada crise econômica, devem ser criados programas de governo com fulcro na normatização dirigente da Constituição de 1988. Contudo, o que se tem observado, particularmente ao examinar as emendas da DRU, são saídas propostas de alteração do próprio texto constitucional, no lugar de conjugar os ditames constitucionais – solução a longo prazo - com políticas específicas – resoluções a curto prazo.

O Brasil é visto como um país em busca da sua construção econômica, estabilização das instituições e transformação das relações sociais. Por essa razão, encontramos na Constituição diversas normas de caráter diretivo, cujo escopo é superar as graves diferenças sociais e possibilitar a factualidade das demandas de cunho fundamental.

Esse contexto torna os programas de governo econômico instrumentos indispensáveis na resolução e intervenção das problemáticas políticas e econômicas.

Bercovici (2011, p. 482) enfatiza a finalidade contida no artigo 21933 da Constituição Federal de “internalização dos centros de decisão econômica do país”, por meio tanto de mandamentos constitucionais como leis federais.

Isso deixa claro que as políticas de cunho econômico não devem se limitar à previsão constitucional, primordialmente quando pretendem sanar uma crise específica de natureza política ou fiscal. Recomenda-se a utilização mútua de outros mecanismos legais para realizar essa ingerência no sistema econômico.

Diante do exposto, percebe-se, de forma inegável, o caráter direcionador e intervencionista da Constituição de 1988, trazendo como fim principal, no que se refere às normas de ordem econômica, o avanço social por meio da superação do subdesenvolvimento nacional.

Essa característica se mostra ainda mais notória quando se pretende solucionar uma situação de crise socioeconômica. O intervencionismo estatal é apresentado como uma imposição de interesses públicos em um sistema capitalista, isto é, defrontando-se com uma problemática de cunho econômico, a resposta apresentada dever ser a que melhor realize o programa estatal do Bem-Estar Social.

Em outras palavras, “o intervencionismo salta para os espaços deixados pelo mercado. O direito é usado como seu mais poderoso recurso para obter resultados específicos” (REICH, 2011, p. 757).

Desta forma, frente às constantes dificuldades econômicas de superação de um país ainda periférico e de economia capitalista, o governo se depara com um desafio ao tentar realizar seu programa político sobrepujando as constantes instabilidades que o Brasil vem vivenciando.