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4 ANÁLISE DAS EMENDAS CONSTITUCIONAIS RELATIVAS À DRU:

4.2 DRU: o diagnóstico político-constitucional

4.2.3 Emendas da DRU no governo Dilma Rousseff

4.2.3.1 PEC 61/2011

A proposta da emenda à Constituição nº 61 de 2011 tinha como escopo a prorrogação da vigência da DRU até o final do exercício financeiro de 2015. Tendo por autor o Poder Executivo, sua fundamentação segue a mesma linha argumentativa das propostas anteriores, alegando a extrema vinculação do orçamento público e ausência de discricionariedade para alocação dos recursos nas políticas governamentais.

Inova quando o ex-Ministro da Fazenda Guido Mantega (2011, p. 1)55 justifica a prorrogação em razão da conjuntura do Brasil, o qual necessitava de “investimentos e respectivas fontes de financiamento, a fim de adequar a infraestrutura do País às exigências internacionais correlatas à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016”.

Com base no argumento ministerial supramencionado, percebe-se a prevalência de um fator específico e temporário – Copa do Mundo e Olimpíadas - aos ditames orçamentários vinculativos previstos na Constituição de 1988, ou seja, uma escolha política de direcionar recursos à Copa do Mundo em detrimento das áreas elencadas como fundamentais pelo Constituinte Originário.

54 EC 77 de 2014 à EC 95 de 2016.

A cada nova PEC acerca da DRU renovam-se as discussões favoráveis e contrárias à desvinculação das receitas, tanto em âmbito parlamentar como na sociedade. Os argumentos favoráveis permanecem os mesmos desde a criação do FSE, os quais se baseiam na necessidade da DRU para a estabilidade econômica nacional e para proporcionar meios de garantir a governabilidade, fatores esses que estavam sendo prejudicados devido ao excesso vinculativo do orçamento público.

O Deputado Maurício Quintella Lessa- PR em seu voto (2011, p. 4)56 alega que os fins da DRU são o saneamento econômico e a executoriedade de políticas públicas:

A DRU é um mecanismo que permite que parte das receitas de impostos e contribuições não seja obrigatoriamente destinada a determinado órgão, fundo ou despesa. A desvinculação de receitas tornou-se necessária para enfrentar o problema do elevado grau de vinculações de receitas no Orçamento Geral da União. Tais vinculações implicam uma grande inflexibilidade na alocação de recursos públicos, que tem sido apontada como um sério problema de gestão governamental, já que prejudica tanto a execução das políticas públicas quanto o uso dos instrumentos de política fiscal. As vinculações de receitas, somadas a gastos em boa medida incomprimíveis – despesas com pessoal, benefícios previdenciários, serviço da dívida etc. –, dificultam a capacidade de o governo federal alocar recursos de acordo com suas prioridades sem trazer endividamento adicional para a União. Assim, as finalidades da desvinculação são: a) permitir a alocação mais adequada de recursos orçamentários, evitando que algumas despesas fiquem com excesso de recursos vinculados, enquanto outras apresentem carência de recursos; b) atender melhor às prioridades de cada exercício, bem como possibilitar uma melhor avaliação do custo de oportunidade das ações públicas; c) permitir o financiamento de despesas incomprimíveis sem endividamento adicional de União; d) viabilizar a obtenção de superávits primários, especialmente com a introdução das metas fiscais na lei orçamentária anual, a partir do exercício de 1999.

No voto do Deputado Maurício Quintella fica clara a ratificação das razões argumentativas trazidas desde a introdução da DRU, quais sejam: alto nível de vinculação constitucional de despesas e necessidade de alocar recursos para viabilizar políticas de governo sem que para isso haja um endividamento do país. A desvinculação vem agindo como saneadora das contas públicas desde o ano de 1994, sem que haja reformas estruturais que possibilitem aos governos atuarem independentemente da DRU.

O deputado federal Onyx Lorenzoni, do Democratas, em voto na tramitação da PEC em comento defendeu pela não postergação da validade da DRU fundamentando que em 2011 o Brasil passava por uma realidade econômica completamente diversa da implementação do FES e do Plano Real, tendo inclusive aumentado a arrecadação de receitas do Governo em 12%, nível bem superior aos 2% em 1994 e 1998.

Assim, o argumento da imperiosa necessidade da DRU para solidificação das contas públicas mais se enquadra como uma escolha política de alocação de receitas do que

instabilidade econômica brasileira propriamente dita. Assim, os governos FHC, Lula e Dilma têm escolhido manter a DRU em vez de reformular o sistema financeiro-econômico.

Quanto à alocação das receitas desvinculadas, no ano de 2012 a Lei Orçamentária Anual estabeleceu um déficit na previdência de R$ 65,4 bilhões, enquanto a DRU somará um valor aproximado de R$ 53,4 bilhões só da área de seguridade social57. Neste caso, como o governo não deixou de pagar as despesas com a previdência, no lugar de utilizar a verba constitucionalmente vinculada, a saída foi emitir títulos da dívida pública, o que prejudicou ainda mais o superávit primário.

Gráfico 7 – Disciplina dos partidos em relação ao Governo Dilma na votação da PEC 61

Fonte: Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais (NECI).

Quanto à votação da PEC 61/2011 e fazendo uma análise comparativa das coalizões políticas formuladas desde o governo Lula, há uma constância dos partidos políticos em votar seguindo sua base aliada. PPS, PCB, DEM e PSDB, seguindo a mesma linha das propostas de emenda nº 41, 50, 277 e agora a PEC 61, têm votado contra a prorrogação da DRU.

Quanto aos partidos da base aliada ao governo, em especial, PDT, PTB, PMDB, PSC, PTdoB e PCdoB mantiveram seus votos em favor da PEC 61 e vigência da DRU até o exercício financeiro de 2015.

Dos dados analisados nos sete gráficos referentes em todas as PEC da DRU até 2011, chega-se à conclusão de que os votos relativamente à matéria da desvinculação vêm sendo votos políticos e não ideológicos, alternando segundo os interesses das coalizões em favor do governo ou da oposição.