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4 ANÁLISE DAS EMENDAS CONSTITUCIONAIS RELATIVAS À DRU:

4.2 DRU: o diagnóstico político-constitucional

4.2.1 Emendas da DRU no governo de Fernando Henrique Cardoso

4.2.1.1 PEC 163/1995

A proposta de emenda constitucional 163 de 1995 foi elaborada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. O objetivo era a alteração dos artigos 71 e 72 do ato das disposições constitucionais transitórias, introduzidas pela emenda constitucional de revisão nº1 de 1994.

A PEC 163 foi transformada em emenda à Constituição nº 10 de 1996, a qual modificou sua denominação, passando a ser chamada de Fundo de Estabilização Fiscal,

42 Imposto de Renda, Imposto sobre propriedade territorial rural, Imposto de Operação de crédito, câmbio e seguro, CLSS e todos os impostos e contribuições de competência da União.

demonstrando o claro objetivo da reforma de contornar uma crise econômica. O período de vigência original da PEC era até o ano de 1999, contudo a reforma foi votada para que a existência do fundo perdurasse apenas até junho de 1997.

Observa-se que o intuito inicial da PEC era que o fundo continuasse existindo por mais quatro anos. Após as discussões que levaram à reforma, ficou acordado que o poder executivo, para viabilizar sua governabilidade, utilizar-se-ia da desvinculação de receitas por mais um ano e seis meses, devendo após esse prazo ser respeitadas as regras constitucionais de destinação das receitas.

A justificativa para a redução temporal do FEF de quatro anos para um ano e seis meses foi que esse prazo inicial era demasiado longo para uma medida de caráter emergencial e transitório, tendo a Câmara dos Deputados reformado no sentido da diminuição temporal e aceito pelo Senado Federal.

No texto inicial da PEC 163 as deduções das vinculações incidiriam sobre o a arrecadação tributária bruta, antes mesmo da repartição de receitas estabelecida na Constituição para os Estados e Municípios, uma renda que iria se concentrar no Poder Executivo da União.

Posteriormente, a emenda 69 elaborada pelo Senador Freitas Neves à PEC 163, reestruturou esse aspecto de renda bruta, de tal forma que continuasse garantindo os recursos dos tributos aos fundos constitucionais Estaduais e Municipais. Assim, ficou estabelecido que primeiramente fossem direcionadas as rendas dos entes federais – decorrentes do imposto de renda e do imposto sobre produtos industrializados - para, só então, desvincular 20% das receitas para uso de estabilização do fisco federal.

A motivação era de que o Fundo de Estabilidade Fiscal, na busca da estabilização econômica da União, não infringisse uma grave crise aos Estados, com consequências pré- falimentares aos mesmos, evitando uma piora nas desigualdades regionais. A forma como o Fundo Social de Emergência foi criado ia de encontro a mais de um dos preceitos da Constituição Econômica: a diminuição do subdesenvolvimento tanto nacional como regional, bem como a forma federativa do Estado.

No voto do relator, o Senador Jader Barbalho afirma de forma inequívoca que a criação do FSE e agora postergação do FEF é uma medida de política de governo econômica. Alega que essa desvinculação seria uma decorrência da excessiva rigidez da dotação orçamentária estipulada pelo constituinte originário, o que dificultaria a governabilidade em momentos de instabilidade econômica.

Defendia-se a vigência do FEF enquanto não fosse elaborada uma reforma fiscal menos rígida, o que possibilitaria o remanejo das receitas da União em áreas consideradas pelo governo como primordiais em determinado momento institucional. No entendimento do relator da PEC no Senado, senador Jader Barbalho:

A contribuição efetiva do FSE para o sucesso do plano real deve-se à ampliação dos graus de liberdade do Governo Federal na condução de sua política fiscal, o que lhe permitiu remanejar recursos orçamentários de áreas superavitárias para as deficitárias, evitando assim a elevação do endividamento público.

Nesse sentido, restou claro que os votos tanto do Senado como da Câmara dos Deputados era pela prorrogação por apenas mais dezoito meses e a modificação da denominação, por não ser um fundo de assistência social, mas com claras finalidades de estabilização fiscal e econômica.

Visando a uma análise das votações da PEC 163 e, principalmente, à disciplina partidária correspondente a sua votação, o Gráfico 1, a seguir, demonstra como os partidos políticos se comportaram nas decisões acerca da vigência do FEF.44-45

Gráfico 1 – Disciplina dos partidos em relação ao Governo FHC na votação da PEC 163

Fonte: Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais (NECI).

44 Os gráficos trazidos no presente capítulo se referem às votações por partidos tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal e se seguiram o voto do Governo, no caso da PEC 163, do ex Presidente Fernando Henrique Cardoso, ou se foram oposição.

45 Não foram desmembradas as votações nos dois turnos de ambas as Casas Legislativas vez que cada proposta de emenda constitucional traz em seu bojo diversas alterações sugeridas pelos parlamentares, as quais influem na aprovação da PEC, por isso foi feito uma média de todas as votações dos partidos nos dois turnos.

Tendo a PEC sido de autoria do Executivo, na época o PSDB, percebe-se uma baixa ou quase nula concordância dos partidos de oposição à época PDT, PT, PV e PCdoB, enquanto os demais seguiram os votos do Governo, como é o caso do PSL, PTB, PMDB e PSC.

Nas votações e sustentação oral dos parlamentares de oposição, percebe-se uma grande preocupação acerca dos recursos desvinculados e suas destinações, retirando verbas de áreas sociais para destiná-las a pagamento de dívidas públicas, o que poderia prejudicar a realização dos direitos fundamentais garantidos na Constituição.

O principal projeto de governo em 1996 era a estabilização da economia com o controle da inflação e o êxito do Plano Real. Considerado um governo liberal, sua governabilidade fundamentava-se mais no caráter econômico do que nos programas sociais. Nesse sentido, por meio do FEF viabilizou sua governabilidade.