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CAPÍTULO II – ANÁLISE DO ARQUÉTIPO CONSTITUCIONAL DO ICMS-

2.1 Antecedente normativo

2.1.2 Critério espacial da regra matriz

Em relação ao critério espacial da regra matriz de incidência, já devemos ressaltar que este indicará as circunstâncias de espaço pertinentes ao nascimento da obrigação tributária. Noutras palavras, ele refere-se ao local onde a conduta do critério material deverá ocorrer para que se instale a obrigação tributária.

A indicação do critério espacial também deverá ser localizada no âmbito da Constituição Federal, de forma que encontramos relação direta entre o aspecto espacial e o juízo de competência tributária, no que diz respeito ao âmbito territorial de validade da lei que instituiu o tributo.

114 MENDONÇA, Christine. O leasing na Importação e o ICMS. In: ICMS: Aspectos Jurídicos Relevantes. CAMPILONGO, Paulo A. Fernandes (Org.). São Paulo: Ed. Quartier Latin, 2008, p. 46.

Sobre o aspecto espacial da hipótese de incidência, bem esclarece Geraldo Ataliba, nos seguintes termos:

40.2 Pois, as conotações espaciais da hipótese de incidência são decisivas para a conformação do fato imponível.

Essa perspectiva genérica do aspecto espacial da h.i. está presa ao (dependendo) âmbito de competência do legislador ordinário; a lei municipal só tem eficácia no território do Município; a lei estadual só no próprio estado. Só a lei federal tem abrangência nacional115. Paulo de Barros Carvalho descreve que o critério espacial da hipótese de incidência deverá apresentar uma das três formas abaixo:

a) hipótese cujo critério espacial faz menção a determinado local para ocorrência do fato típico;

b) hipótese em que o critério espacial alude a áreas específicas, de tal sorte que o acontecimento apenas ocorrerá se dentro dela estiver geograficamente contido;

c) hipótese de critério espacial bem genérico, onde todo e qualquer fato, que suceda sob o manto da vigência territorial da lei instituidora, estará apto a desencadear seus efeitos peculiares116.

No que diz respeito do ICMS incidente sobre a circulação de mercadorias, a indicação de critério espacial deverá ser compreendida a partir do conceito de estabelecimento, ou seja, o local onde são efetuados os atos comerciais que levam à saída em operação mercantil.

José Eduardo Soares de Melo destaca a importância de compreender-se quanto ao que pode ser compreendido por estabelecimento, trazendo à tona diversas definições doutrinárias, que aqui transcrevemos da obra deste autor:

Aplicando-se os conceitos doutrinários à regra-matriz constitucional, depreende-se a figura do “estabelecimento”, que significa o próprio local ou edifício em que a profissão vai ser exercida ou o negócio vai ser instalado, de modo que passa a compreender todo um conjunto de instalações e aparelhamento necessários ao desempenho da profissão ou negócio, inclusive o próprio edifício em que se instala. (De Placido e Silva)117.

115 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6.ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 104. 116 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23.ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2011, p. 329.

117 MELO, José Eduardo Soares de. Vocabulário Jurídico. v. II. Rio de Janeiro: Forense, 1966. Apud MELO, José Eduardo Soares de. ICMS - Teoria e Prática. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2012, p. 24.

Estabelecimento é o complexo de bens, materiais ou imateriais, que constituem o instrumento utilizado pelo comerciante para a exploração de determinada atividade mercantil (Oscar Barreto Filho)118.

Por isso que também se entende que estabelecimento, ou fundo de comércio, é o instrumento de atividade do empresário (Rubens Requião)119.

A indicação do estabelecimento como critério espacial da regra-matriz de incidência do ICMS consta do artigo 11 da Lei Complementar nº 87 de 1996, o qual traz conceituação legal do que se pode compreender por estabelecimento:

Art. 11. O local da operação ou da prestação, para os efeitos da cobrança do imposto e definição do estabelecimento responsável, é: I - tratando-se de mercadoria ou bem:

a) o do estabelecimento onde se encontre, no momento da ocorrência do fato gerador;

(...)

d) importado do exterior, o do estabelecimento onde ocorrer a entrada física;

(...)

§ 3º Para efeito desta Lei Complementar, estabelecimento é o local, privado ou público, edificado ou não, próprio ou de terceiro, onde pessoas físicas ou jurídicas exerçam suas atividades em caráter temporário ou permanente, bem como onde se encontrem armazenadas mercadorias, observado, ainda, o seguinte:

I - na impossibilidade de determinação do estabelecimento, considera-se como tal o local em que tenha sido efetuada a operação ou prestação, encontrada a mercadoria ou constatada a prestação; II - é autônomo cada estabelecimento do mesmo titular;

III - considera-se também estabelecimento autônomo o veículo usado no comércio ambulante e na captura de pescado;

IV - respondem pelo crédito tributário todos os estabelecimentos do mesmo titular.

Nestes termos, o critério espacial da regra-matriz de incidência do ICMS devido nas operações de circulação de mercadorias é o território de cada unidade da Federação, mais precisamente o estabelecimento de onde for dada a saída em operação mercantil, uma vez que o ICMS nesta modalidade é tributo devido na origem.

No entanto, ao analisarmos a hipótese do ICMS incidente nas operações de importação (art. 11, I, d, da Lei Complementar nº 87 de 1996), constatamos que

118 BARRETO FILHO, Oscar. Teoria do Estabelecimento Comercial. 1966, p. 75. Apud MELO, José Eduardo Soares de. ICMS - Teoria e Prática. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2012, p. 24.

119 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. v. 1. 18.ed. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 203-204. Apud MELO, José Eduardo Soares de. ICMS - Teoria e Prática. 12.ed. São Paulo: Dialética, 2012, p. 24.

nesta modalidade o ICMS somente poderá ser devido de acordo com a localização do estabelecimento que promover a importação das mercadorias.

Especificamente em relação ao critério espacial do ICMS-Importação, compreendemos que este se limita aos Estados onde estiver localizado o estabelecimento destinatário do bem, por ser este o único critério possível, uma vez que somente após o ingresso das mercadorias no estabelecimento é que estas terão ingressado no ciclo econômico interno, quando podemos imaginar que será cobrado o ICMS120. Esta verificação implica, necessariamente, a indicação do sujeito ativo da relação tributária, ou seja, a unidade da Federação onde estiver localizado o estabelecimento que promover a importação de mercadoria.

Da mesma forma, a percepção quanto ao critério espacial da regra-matriz indicará o critério temporal, qual seja o momento da entrada no estabelecimento daquele que promover a entrada de mercadoria do estrangeiro. Isso porque a disposição constante do art. 11, I, d, da Lei Complementar nº 87 de 1996 menciona expressamente a entrada física dos bens objeto da importação, o que poderá ser compreendido de forma que o ICMS seja devido no momento em que se der o desembaraço aduaneiro das mercadorias.