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CAPÍTULO I – SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO

1.5 Princípios que devem ser observados

1.5.2 Princípios especialmente relacionados em matéria tributária

1.5.2.1 Princípio da legalidade

Nos termos do §2º do artigo 5º da Constituição Federal, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Dispõe o artigo 5º:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

Conforme se observa, o legislador constitucional conferiu à legalidade a condição de direito fundamental, de forma que não se pode imaginar a criação de obrigação tributária que não esteja devidamente prevista em lei.

No entanto, a segurança em tela foi “reforçada” no âmbito tributário, pela existência de previsão constante do artigo 150, inciso I da Constituição Federal, que assim dispõe:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

O princípio da legalidade tributária surge em 1215 uma vez que incorporado à Magna Charta52 e logo foi replicado nos ordenamentos de nações democráticas, sob

52 Magna Charta Libertatum seu Concordiam inter regem Johannen at barones pro concessione libertatum ecclesiae et regni angliae (Grande Carta das liberdades, ou concórdia entre o rei João e os barões para a outorga das liberdades da Igreja e do rei Inglês).

a máxima de que não é legítima “nenhuma tributação sem representação” – no taxation without representation.53

Diante da reafirmação do princípio da legalidade em matéria tributária, somos da opinião que a ideia de “palavras inúteis” no âmbito da Constituição não pode ser levada adiante, de maneira que referido “reforço” agrega característica especial à legalidade quando em matéria tributária.

Tal especificação no âmbito tributário impõe que o exercício da competência tributária ocorra por meio de lei, mas não repetida aqui por mero reforço, a legalidade tributária agrega a concepção de rigor quanto à positivação das materialidades. Sobre o rigor adicionado à legalidade em matéria tributária em função da disposição específica já destacada, merece consideração a opinião de Hugo de Brito Machado, para o qual esta não importa somente na pormenorização dos aspectos da hipótese de incidência, nos seguintes termos:

A rigor, o que a lei deve prever não é apenas a hipótese de incidência, em todos os seus aspectos. Deve estabelecer tudo quanto seja necessário à existência da relação obrigacional tributária. Deve prever, portanto, a hipótese de incidência e o consequente mandamento. A descrição do fato temporal e da correspondente prestação, com todos os seus elementos essenciais, e ainda a sanção, para o caso de não prestação.54

Isso porque, a legalidade é princípio constitucional escorado nos valores da igualdade, da democracia e da segurança jurídica, visando proteger o particular de excessos por parte do Estado, contra o patrimônio. Neste sentido, José Artur Lima Gonçalves55 compreende a existência de um princípio do consentimento, pelo qual seria “aquele que exige que o particular consinta (i) em concorrer para os gastos públicos e (ii) em que medida o fará”.

Gilmar Mendes, por sua vez, aborda o ponto sob o mesmo aspecto, enfatizando a relação existente entre legalidade e segurança jurídica, nos seguintes termos:

53 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 1281.

54 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 25.ed. rev. atual. e ampliada. São Paulo: Ed. Malheiros p. 79.

(....) o princípio da legalidade tributária tem suas raízes fincadas no terreno da antiquíssima luta pelo consentimento na instituição de tributos.

(...)

Nos dias atuais, essse princípio consubstancia a garantia de que nenhum tributo será exigido ou aumentado sem lei que o estabeleça – CFB, art. 150, I o qua aponta, desde logo, para outro princípio – o da segurança jurídica -, na medida em que, sendo público o processo legislativo, qualquer do povo poderá acompanhá-lo, diretamente ou pelos representantes, e prevenir-se contra as investidas “surpreendentes” do poder de tributar. Mais ainda, como legalidade estrita, leciona Paulo de Barros Carvalho, esse princípio estabelece, também, a necessidade de que a lei adventícia traga no seu bojo os elementos descritores do fato jurídico assim como os dados prescritores da relação obrigacional.56

Desta forma, o consentimento, ocorrido por meio do Poder Legislativo, condiciona a atividade tributante, bem como legitima a exigência do tributo, que passa a ser exigível pelo Poder Executivo.

Tal princípio pressupõe que a exigência e o aumento de tributos se sujeitem à lei formal, a qual deverá especificar pormenorizadamente o fato a ser tributado, de acordo com todos os aspectos da hipótese de incidência tributária, conceito que exploraremos melhor a seguir. Não o sendo, a lei deverá ser declarada inconstitucional. A ideia de legalidade estrita, ou de reserva absoluta da lei, faz-se presente ao imaginarmos o oposto, a possibilidade de uma norma que permitiria ao Estado exigir tributo ao seu talante.

Por este motivo, o trabalho necessário no exercício da tributação deve ser de mera subsunção, de verificação das exigências da lei, sem qualquer valoração sobre eventual justiça ou injustiça da exigência, esta deverá ser a preocupação de outras normas. Neste sentido, Roque Antonio Carrazza57:

A lei tributária deve conter critérios idôneos e suficientes para cortar quaisquer arbitrariedades do Fisco. Tais critérios devem necessariamente apontar: a) os destinatários do tributo (os contribuintes), porquanto não se admite fique relegada ao arbítrio da Fazenda Pública a inclusão ou exclusão de determinadas categorias de contribuintes; e b) os pressupostos do tributo, isto é, a coisa, o ato, o fato, a situação ou a qualidade da pessoa que constitui o

56 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 1281.

57 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 29.ed. São Paulo: Ed. Malheiros, 2013, p. 290.

pressuposto objetivo da tributação, e também, a relação em que se deve achar o sujeito passivo da prestação.

Luciano Amaro, a respeito da legalidade tributária, busca verificá-la a partir daqueles para os quais a norma é dirigida, o que auxilia na compreensão da questão:

O conteúdo do princípio da legalidade tributária vai além da simples autorização do Legislativo para que o Exxstado cobre tal ou qual tributo. É mister que a lei defina in abstracto todos os aspectos relevantes para que, in concreto, se possa determinar quem terá de pagar, quanto, a quem, à vista de que fatos ou circunstâncias. A lei deve esgotar, como preceito geral e abstrato, os dados necessários À identificação do fato gerador da obrigação tributária e À quantificação do tributo, sem que restem à autoridade poderes para, discricionariamente determinar se “A” irá ou não pagar tributo, em face de determinada situação.58.

Devemos observar, ainda, que a lei aqui tratada é a lei ordinária, salvo nos casos onde o constituinte ressalvou, quais sejam os empréstimos compulsórios, os impostos residuais e as contribuições sociais previstas no §4º, do artigo 195, da Constituição Federal.

1.5.2.2 Princípios da igualdade (isonomia) e da capacidade