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2.2. Metodologia da investigação

2.2.3. Critérios de confiança e de credibilidade

Nesta secção abordaremos os critérios de confiança e credibilidade que desejámos salvaguardar. Na investigação qualitativa, além de existir uma dimensão de extrema criatividade, largamente dependente do perfil do investigador, existe simultaneamente uma dimensão técnica, rigorosa e estruturada que não pode ser descurada (Patton, 1990).

Reconhecendo que o conhecimento depende da interação com os outros, a confiança entre o investigador e os participantes é absolutamente fundamental para que se possa ter acesso ao seu mundo interno (Lincoln & Guba, 1985). Na investigação que realizámos, a presença e observação no terreno, abrangeu desde a não interação com os atores, até à presença e atitude pró-ativa para recolha de informação, que resultou da evolução da pesquisa e da esperada consolidação e aceitação da presença do investigador. Quando surgiram questões relacionadas com o processo de recolha de dados por parte dos envolvidos respondemos de uma forma honesta (Tuckman, 1994/2000)46.

Nomeadamente, em relação às entrevistas que foram realizadas, a relação de confiança, empatia e segurança tentou ser salvaguardada, explicitando o objetivo da pesquisa e as regras de

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A explicitação das regras nos momentos iniciais pode ajudar na sua autonomia para prosseguir conversando. São elas: a) só uma pessoa fala de cada vez; b) evitam-se discussões paralelas para que todos participem; c) ninguém pode dominar a discussão; d) todos têm o direito de dizer o que pensam (Gondim, 2002, p. 154).

46 Eis as questões mais frequentes: a) o que é que, na realidade, vai fazer?; b) vai ser discreto?; c) o que vai fazer com as

conclusões?; d) porque somos nós os entrevistados?; e) qual será, para nós, o resultado?. Um conjunto de estratégias relativamente ao comportamento do investigador pode também ser considerado (Bogdan & Biklen, 1982).

privacidade, anonimato e confidencialidade47 em relação à identidade do entrevistado e à informação recolhida (N. Afonso, 2005). No caso desta investigação, particularmente nas entrevistas, logo no primeiro contacto, esses direitos foram apresentados, tendo sido esclarecido o seguinte (Arabis, 2005): a) a participação é voluntária e a qualquer momento pode haver desistência sem qualquer penalidade; b) qualquer pergunta pode não ser respondida; b) os nomes dos participantes não serão associados com os resultados do estudo (no texto da tese a pessoa envolvida não será referenciada pelo seu nome, mas sim, por um nome fictício ou código criado); d) o acesso às gravações originais será condicionado. Um formulário foi utilizado não só para registar os dados de identificação pessoal, mas também para informar o participante destes direitos, e ainda solicitar o seu consentimento por escrito. Logo no início de cada entrevista48, onde o tema específico foi introduzido e onde qualquer esclarecimento foi dado, e antes de ligar o gravador, explicámos que a mesma será gravada em suporte magnético, e que será possível desligar o aparelho se tal for solicitado. Pretendemos que cada entrevista fosse totalmente áudio gravada para que posteriormente fosse transcrita49, e finalmente se procedesse à análise de conteúdo (Bardin, 1977/1991). No caso concreto do nosso trabalho, a maioria das entrevistas foram áudio gravadas, com o consentimento expresso das pessoas, posteriormente transcritas na íntegra e sujeitas então à análise de conteúdo (categorização, subcategorização e identificação de unidade de registo). De salientar que, a fim de manter a confidencialidade das respostas, os entrevistados passarão a ser designados por E1..En. Registe-se que numa das escolas, três professores mostraram-se constrangidos, não tendo anuído em ter a conversa gravada, tendo-se optado pelo registo de notas.

A interação com os outros não só levanta a importante questão da confiança, mas também torna igualmente importante a compreensão de como os valores do investigador influenciam incontornavelmente (pois o investigador assume o papel de intérprete) a sua conduta e análise. O viés do observador pode conduzir à elaboração de conclusões não legítimas, baseadas em preconceitos e perspetivas pessoais, os quais influenciam a recolha, processamento e interpretação dos dados (Gay, Mills & Airasian, 2006). Assim, de forma a minimizar esse viés, estivemos conscientes desse potencial enviesamento (Maxwell, 1996). A exposição de informações pessoais e profissionais pertinentes, bem como alguma mudança ocorrida no investigador durante a investigação que seja passível de afetá-la de alguma forma,

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Os três conceitos podem ser distinguidos, a saber: a privacidade refere-se ao controle sobre o acesso que o pesquisador tem da pessoa e dos seus dados pessoais. A confidencialidade salvaguarda o que está acordado entre os dois, em relação ao que será feito com os dados. O anonimato assegura que não se pode identificar a pessoa ou organização que providenciou os dados (Sieber, citado em Miles & Huberman, 1994).

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As entrevistas foram realizadas por nós nos estabelecimentos de ensino. A nossa orientadora, Maria Odete Valente, realizou um grupo focal na Escola Ómega, o que constituiu para nós um momento de aprendizagem.

49 De acordo com Stake (1995, p. 66), a decisão de gravar e transcrever deve ser meticulosamente ponderada dado o

investimento que é requerido. Na sua opinião, o esforço deve ser em ter tempo e condições para que, no final da entrevista possa ser efetuado o respetivo facsimile e comentário interpretativo.

são elementos relevantes nesse processo (Patton, 1990). No caso em concreto, é assim importante referir que numa das escolas envolvidas, lecionámos durante um ano letivo, principalmente ao nível do 9º ano de escolaridade. Na outra escola, estivemos na condição de alunos durante 5 anos, do 5º ano ao 9º ano de escolaridade.

Em relação à força das interpretações efetuadas, o alvo é reduzir o enviesamento interpretativo, resultante da ambiguidade da própria comunicação e de existir somente um investigador no terreno50. Assim, a utilização de múltiplas fontes visou incrementar a credibilidade, o rigor e a profundidade do estudo qualitativo, lidando com o fenómeno da forma mais ampla e completa possível, cruzando informações e evidências. Particularmente, no âmbito da nossa investigação, tal foi obtido através do uso de técnicas diversificadas (quando se verifica a consistência dos dados obtidos através de diferentes métodos) e do uso de várias fontes, aumentando os fatores de produção dos dados (quando se verifica a consistência entre diferentes fontes de dados recorrendo ao mesmo método; mas também não negligenciando os dados estranhos ou inesperados) (Denzin & Lincoln, 1994; Miles & Huberman, 1994; Patton, 1990; Stake, 1994, 1995). Essa triangulação ou bricolagem (Denzin & Lincoln, 1994) confere robustez interpretativa ao estudo de uma realidade complexa. Como afirma N. Afonso (2005), ela clarifica o significado da informação recolhida, reforçando ou mesmo pondo em causa as interpretações realizadas, ou ainda identifica significados complementares ou alternativos que sublinham a complexidade do contexto. Além disso, o estudo dos objetivos de investigação já mencionados e os focos particulares acima descritos implicou especificamente a recolha de informação ao nível da Escola, nomeadamente dos alunos, professores, membros da liderança e outros que fazem parte da comunidade escolar como os auxiliares da ação educativa.

O rigor da investigação qualitativa não prescinde então da presença do investigador, que estabelecerá um conjunto continuado de interações providas de interesse, que não poderá prescindir de descrever da melhor forma possível o fenómeno do estudo, o contexto respetivo onde se insere, a natureza da interação que estabelece com os participantes e finalmente a interpretação das suas perceções (Altheide & Johnson, 1994; Lincoln & Guba, 1985). Por isso, a investigação que encetámos consistiu num estudo de dois casos com triangulação de métodos e fontes. Não obstante, gostaríamos de ter incluído mais duas escolas, mas detivemo-nos com obstáculos vários que condicionaram essa intenção inicial.

Ainda outro aspeto importante prende-se com a inevitável reatividade ao observador. Portanto, mantivemos uma vigilância crítica para que se pudesse minimizar essas indesejáveis

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Dada a forte componente de observação direta que o estudo deveria ter, idealmente, de forma a conferir mais fidedignidade, mais do que um observador, mas tal não será possível dada a natureza individual do projeto de investigação (Tellis, 1997).

consequências no processo de investigação51. A todos aqueles que foram nossos interlocutores no terreno, explicitámos que o foco da investigação se relacionava globalmente com o modo como a Escola entendia e agia em matéria de desenvolvimento pessoal e social.

No que concerne especificamente à credibilidade de um estudo de caso, individual ou coletivo, atentámos ainda para os seguintes aspetos que ainda não foram apresentados (Sturman, 1997, p. 65): a) explanação dos procedimentos de recolha de dados; b) dados recolhidos devem ser mostrados e prontos para reanálise; c) ocorrências negativas devem ser reportadas; d) documentação da análise do trabalho de campo; e) clarificação do relacionamento entre asserção e evidência; f) distinção entre evidência primária e secundária e entre descrição e interpretação; g) registo do que é realmente efetuado durante o processo da investigação.

Por último, queremos referir, que dado o forte envolvimento subjetivo do investigador neste trabalho, ao longo do período da realização da tese, apresentámos e debatemos ideias e os resultados preliminares com investigadores, em encontros científicos educacionais.