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Critérios para a definição da orientação ideológica dos partidos

CAPÍTULO V – METODOLOGIA DA PESQUISA

V.2 Estabelecimento dos critérios de escolha do campo de análise

V.2.4 Critérios para a definição da orientação ideológica dos partidos

Como indicador de medida utilizado para a classificação dos partidos políticos segundo a orientação ideológica [esquerda, centro ou direita], optou-se por seguir estudo que toma como critério de classificação ideológica dos partidos as opiniões externas, ao invés de estudos apoiados em opiniões internas. A estratégia consistente na busca de dados em fontes secundárias para entabulação de novo estudo é avalizada por autores no âmbito da Ciência Política como Tarouco e Madeira (2015), Strauss e Corbin (2002), Porta (2012) e Sartori (1982). A opção por tomar como base neste estudo uma classificação da posição ideológica dos partidos políticos baseada em estudos fundamentados em opinião de observadores externos decorre da imprecisão observada em outros estudos que buscaram definir tal classificação a partir da autodeclaração de parlamentares (Zucco, 2009) ou em programas dos partidos (Tarouco e Madeira, 2013). Além desses estudos observou-se manifestações em que determinados partidos e seus membros enunciam publicamente sua inclinação ideológica de forma imprecisa. Imprecisão essa em regra atribuída à aversão que partidos e seus membros manifestam diante da possibilidade de serem considerados de direita. Os testemunhos dessa aversão são públicos. Com o título “O incrível caso do país sem direita”, a Revista Veja, semanário de grande circulação no país, publicou matéria em que conclui que nenhum dos então 27 partidos políticos do Brasil se assumiam como direitista. O artigo faz menção à opinião do cientista político Ricardo Caldas, que afirma que a rejeição ao “rótulo de direitista está ligada à herança negativa deixada pelas legendas conservadoras no país. Estes partidos foram contra a abolição da escravidão, contra o fim da monarquia e, na figura da Arena, apoiaram o regime militar”. Nesse mesmo sentido, Power & Zucco (2009), no artigo “Estimating ideology of brazilian legislative parties”, em que entrevistaram mais de 850 congressistas brasileiros de 1990 a 2005, com o intuito de traçar o espectro ideológico dos partidos políticos baseados

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unicamente nas auto perceções e nas perceções recíprocas, também relatam que os políticos brasileiros evitam ser rotulados como sendo de direita: “We also document the rather unexpected persistence of direita envergonhada, by which legislators attempt to avoid being labelled rightist. It must be noted, however, that we base our analysis solely on the self- perceptions and reciprocal perceptions of legislators, so our findings imply simply that politicians recognize and share the understanding of what it means to be on the left or on the right” (Power & Zucco, 2009).

O estudo aqui tomado como fonte secundária dos dados utilizados na construção da variável orientação ideológica foi realizado por Tarouco & Madeira (2015). Esses autores classificaram partidos brasileiros no eixo esquerda/direita utilizando resultado de expert survey elaborado e levado a efeito pela Associação Brasileira de Ciência Política - ABCP, durante encontro promovido por essa associação em Recife, no ano de 2010, ocasião em que foi apresentado questionário autoaplicável a 87 especialistas em Ciência Política. Esses especialistas eram os participantes das áreas temáticas de Eleições e Representação Política e de Instituições, que somavam 87 trabalhos programados para apresentação. Desses, 47 [ou 54%] responderam, o que foi considerado um número suficiente por Tarouco & Madeira para subsidiar a classificação pretendida.33 Nesse questionário, foram os participantes convidados a

indicar a posição dos partidos políticos brasileiros ao longo de um eixo contínuo que tem como polos a extrema-esquerda de um lado e a extrema-direita de outro. Essa indicação foi feita mediante atribuição, pelos especialistas, de valores de um até sete para cada um dos partidos políticos do Brasil. O valor um indicaria um posicionamento político à extrema-esquerda, e o número sete um posicionamento de extrema-direita. Daí, naquele mesmo estudo, calculou-se a média aritmética dos valores atribuídos pelos especialistas para cada partido. Essa média aritmética foi tabelada [Tabela VI.2], e serviu como indicador da posição de cada partido ao longo do eixo ideológico. Na mesma tabela, foram também inclusas medidas de dispersão e o número de respostas “não sabe”, dadas pelos entrevistados, resposta essa que, como se verá, será aqui de grande utilidade quando da realização dos ensaios de depuração da variável explicativa, que se refere à ideologia dos partidos. E conforme exposto no tópico destinado ao estabelecimento dos critérios de escolha do campo de análise, a observação direta extensiva sob a forma de questionário com pergunta de múltipla escolha do tipo estimação ou avaliação, que

33 Essa proporção de respondentes pode ser também considerada satisfatória sob o ponto de vista de Marconi & Lakatos (2003: 201), para quem “em média, os questionários expedidos pelo pesquisador alcançam 25% de devolução.

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foi a modalidade adotada no expert survey ABCP 2010, prescinde de indicação de critérios de referência justificativos das respostas dos inquiridos.

A partir dos dados obtidos nessa fonte secundária, Tarouco & Madeira (2015), percebe-se que os partidos foram distribuídos em posições em toda a extensão da linha iniciada pela esquerda e finalizada pela direita. Mas olhar os partidos com essa dispersão ao longo desse eixo ideológico não atenderia às nossas pretensões com o desenvolvimento deste estudo. Precisava-se de uma classificação operacional que alocasse os partidos em três categorias de orientação ideológica: esquerda, centro e direita. Para tanto, o contínuo das médias possíveis do expert survey, que ia do valor um ao valor sete, foi fracionado em três partes iguais, por meio da inserção de duas separatrizes ou tercis coincidentes com o valor três e o valor cinco. Assim, partidos que obtiveram média de um a três valores foram classificados como de esquerda; os partidos com média acima de três até cinco valores foram classificados como de centro, e os partidos com média acima de cinco até sete valores foram classificados como de direita. Importante aqui observar que não há, aqui, qualquer transformação de variável qualitativa em quantitativa ou vice-versa, pois esse processo mental foi feito pelos próprios especialistas entrevistados, enquanto as diferenças qualitativas entre as três categorias aqui definidas foram devidamente mostradas no Capítulo II. Enfatize-se ainda, por oportuno, que a fonte secundária utilizada para construção da variável ideologia não é, diretamente, o Expert Survey ABCP 2010, mas sim o trabalho elaborado por Tarouco & Madeira (2015).