Teste das hipóteses alternativas após depuração

A refutação da hipótese básica de trabalho, agora reafirmada após a depuração, em função do desvio padrão, dos dados usados para classificação da orientação ideológica dos partidos,

177

também levou à constatação, circunscrita aos parâmetros pesquisados, de que a orientação ideológica influencia a formalização do OP. Tal constatação leva à necessidade de verificação das hipóteses alternativas, nessa circunstância pós-depuração, segundo as quais uma das categorias de orientação ideológica, esquerda, centro ou direita, favorece a formalização do OP em relação às outras duas categorias. Então, a exemplo do que foi feito no teste da hipótese básica, e segundo o mesmo método, passa-se ao teste das hipóteses alternativas, que são as mesmas formuladas ao início: (i) são os prefeitos de partidos de esquerda que mais propiciam formalização ao OP, ou (ii) são os prefeitos de partidos de centro que mais propiciam formalização ao OP ou (iii) são os prefeitos de partidos de direita que mais propiciam formalização ao OP.

Em meros termos de números absolutos, poder-se-ia avançar que os partidos de esquerda são os que mais tendem a favorecer a formalização do OP: as frequências observadas após a depuração (Tabela VI.14) revelam que, dos 90 períodos em que houve formalização do OP, em 50 deles, ou seja, em mais da metade desses períodos, o governo municipal era exercido por prefeito filiado a partido aqui classificado como de esquerda. Em 35 períodos com OP formalizado, o governo era de centro, e em apenas 5 dos 90 períodos o governo era de direita. Essa preponderância dos partidos de esquerda na formalização do OP, em termos absolutos, após depuração dos dados está ilustrada no seguinte gráfico:

20Figura VI.8 – Frequências observadas: número de períodos com OP formalizado por classificação ideológica após depuração dos dados pelo DP

Elaboração própria Legenda: E = esquerda C = centro E = 50 C = 35 D = 5

178 D = direita

Esse quadro parece confirmar a primeira hipótese alternativa: partidos de esquerda tendem a mais favorecer a formalização do OP. Não é, porém, conclusivo, porquanto formulado em números absolutos. Necessário efetuar ponderação dos dados, o que foi feita mediante confronto entre as frequências esperadas e observadas após a depuração de dados em função do DP, o que se passa a fazer com o auxílio do quadro a seguir, que contém as frequências esperadas e observadas de OP formalizado por categoria de orientação ideológica, cujos dados foram copiados das Tabelas VI.14 e VI.15:

NÚMERO DE PERÍODOS COM OP FORMALIZADO

RELAÇÃO ENTRE FREQUÊNCIAS OBSERVADAS E ESPERADAS

Classe ideológica Esp Obs Diferença

Esquerda _{41,4 50,0} 20%

Centro _{38,4 35,0} - 10%

Direita _{10,2 5,0} - 50%

0-21Tabela VI.16 – Períodos com OP formalizado por classe ideológica após depuração Elaboração própria

Como se percebe também após depuração dos dados referentes à orientação ideológica pelo desvio padrão, somente em governos de esquerda é que houve aumento do número de OPs formalizados observados em relação ao número estatisticamente esperado: havia expetativa estatística de que houvesse formalização de OP em 41,4 períodos governados pela esquerda. Observou-se, contudo, formalização de OP em 50 períodos. Em sentido inverso, a expetativa estatística não foi superada quanto aos governos de centro e de direita: houve 35 períodos com OPs formalizados em governos de centro e apenas 5 em governos de direita, ao passo que eram respetivamente esperados 38,4 e 10,2 períodos com OPs formalizados, circunstância que pode ser visualizada no gráfico a seguir, em que, de cada par de colunas correspondente a cada inclinação ideológica, a coluna posicionada do lado esquerdo (com

179

perímetro tracejado) representa sempre o número de períodos com OPs formalizados esperados; a outra, o número de OPs formalizados realmente observados.

21Figura VI.9 – OP formalizado: frequências esperadas (linha tracejada) e observadas pós- depuração Elaboração própria Legenda: E = esquerda C = centro D = direita

Percebe-se visualmente pelo gráfico acima que, também nesta versão depurada, foi a esquerda que mais privilegiou a formalização do OP. Essa situação pode ser também constatada se analisada a situação sob o enfoque do incremento, em que se percebe, ainda a partir da Tabela VI.16, que nos municípios governados por prefeitos filiados a partidos de esquerda, houve formalização do OP em um número de períodos 20% superior ao número de períodos estatisticamente esperado. Já nos municípios governados por prefeitos pertencentes a partidos de centro e de direita, houve formalização de OP em quantidade de períodos 10% e 50% inferior ao número esperado, respetivamente. Essa situação encontra-se representada pelo gráfico a seguir, em que se ilustra o incremento ou decremento da quantidade de períodos com OP formalizado em LOA com base no número esperado de períodos com OP formalizado por classe de orientação ideológica do partido após depuração dos dados.

41,4 38,4 10,2 50,0 35,0 5,0 0 10 20 30 40 50 60

180

22Figura VI.10 – Incremento / decremento em OP formalizado pós-depuração Elaboração própria

Com fundamento nos parâmetros aqui adotados para depuração dos dados relativos à variável orientação ideológica com base no desvio padrão indicado em Tarouco e Madeira (2015), com o que, pretende-se, tenha reduzido sobremaneira a incerteza sobre a classificação lá efetuada dos partidos políticos de acordo com sua orientação ideológica, considera-se satisfatoriamente demonstrada a preponderância de governos de esquerda nos municípios e períodos em que houve formalização do OP. Depois, portanto, de refutada a hipótese básica da pesquisa também em sua versão depurada, confirma-se, mais uma vez, a primeira das hipóteses alternativas: os governos vinculados a partidos de esquerda são os que realmente mais privilegiaram a formalização do OP em LOA.