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CAPÍTULO II – IDEOLOGIA PARTIDÁRIA: ESQUERDA, CENTRO E DIREITA – BASE

II.1 Definições de partido político

Pela sua relevância neste estudo, buscamos na literatura conteúdos que dessem uma ideia sobre essa instituição enquanto “agentes privilegiados de representação política” democrática (Belchior, 2015:737), de interesses plurais existentes na sociedade (Bobbio: 2014, 153). Mas, apesar da sua relevância, não há uma definição unívoca de partido político na literatura pesquisada, como pode ser percebido nas definições abaixo.

No início do século XX [1911], Michels (1982), em uma definição ampla, afirmou que partido político é “uma organização […] fonte de onde nasce a dominação dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatários sobre os mandantes, dos delegados sobre os que os delegam”. Assim, toda “organização de partido representa uma potência oligárquica repousada sobre uma base democrática” (Michels, 1982:220/238). Bobbio (1998) observa que Michels “colocou em relevo, no âmbito de uma grande organização, como a dos partidos de massa, o mesmo fenômeno da concentração do poder num grupo restrito de pessoas, […]. A este grupo de poder deu o nome de "oligarquia", […], tem uma conotação negativa de valor, e revela que para o autor, proveniente das filas do movimento socialista, o fenômeno tinha um caráter degenerativo, ainda que inevitável. Tão inevitável que o induziu a formular precisamente a famosa (ou mal- afamada) ‘lei férrea da oligarquia’” (Bobbio, 1998: 386). Miguel (2014) observa que essa ideia de Michels surge em um momento histórico no qual “o movimento democrático e o movimento socialista ganham força na Europa, com suas promessas de superação da desigualdade” (Miguel, 2014:140).

Bobbio, qualifica como “famosa” a definição de partido feita por Weber, no sentido de que partido político é "‘uma associação... que visa a um fim deliberado, seja ele 'objetivo' como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja 'pessoal', isto é, destinado

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a obter benefícios, poder e, conseqüentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente’" (Weber, apud Bobbio, 1998: 898) .

Duverger (1957) observa que a perceção liberal de partido político tem caráter ideológico e cita, como exemplo, o conceito de partido político formulado por Benjamin Constant, em 1816, no seguinte sentido: “Um partido es una agrupación de personas que profesan la misma doctrina política” (Durverger, 1957: 10). Segundo Sartori (1982), Duverger, além de não apresentar nenhuma definição própria de partido político, também não deu importância à tal definição ao ter observado que: “‘Quase tudo o que é chamado de partido em qualquer nação democrática ocidental poderá ser considerado como tal’” (Sartori, 1982:82).

Para Sartori (1982) a definição de partido político é importante para diferenciá-lo de outros grupos e agrupamentos políticos. Para tanto, define um partido como “qualquer grupo político identificado por um rótulo oficial que apresente em eleições, e seja capaz de colocar através de eleições […], candidatos a cargo público” (Sartori, 1982:85). Pasquino (2010) considerou a aceção de partido de Sartori como a “definição contemporânea mais sintética e precisa. […] contém os requisitos mínimos indispensáveis para a caracterização de um partido relativamente às outras organizações que pretendem desenvolver atividades políticas” (Pasquino, 2010:180-181).

A preocupação com a dimensão ideológica dos partidos pode ser também percebida nos escritos de Bonavides (2011), que define partido político enquanto “uma organização de pessoas que, inspiradas por ideias ou movidas por interesses, buscam tomar o poder, normalmente pelo emprego de meios legais, e nele conserva-se para realização dos fins propugnados” (Bonavides, 2011: 373). Além da própria definição de partido político, apresenta ainda Bonavides (2011) definições de outros pensadores do século XX, nas quais pode ser percebida a influência da componente ideológica. Reproduzimos aqui as formuladas por Nawaiasky, Kelsen, Hasbach, Goguel e Burdeau. Para Nawaiasky, partidos políticos são formados por uniões “de grupos populacionais com base em objetivos comuns”. Hasbach considera partido político “uma reunião de pessoas, com as mesmas convicções e os mesmos propósitos políticos, e que intentam apoderar-se do poder estatal para fins de atendimento de suas reivindicações”. Para Kelsen, os “partidos políticos são organizações que congregam homens da mesma opinião para afiançar-lhes verdadeira influência na realização dos negócios públicos”. Goguel percebe partido político como “um grupo organizado para participar na vida política, com o objetivo da conquista total ou parcial do poder, a fim de fazer prevalecer as ideias e os interesses de seus membros”. Para Burdeau, partido é uma “associação política organizada para dar forma e eficácia a um poder de fato” (apud Bonavides, 2011, p. 371 - 372).

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Já para Mainwaring (2001), os “partidos são veículos de acesso aos cargos em que as políticas públicas são formuladas. Em quase todas as democracias, os responsáveis pela elaboração ou são eleitos por intermédio de partidos ou são designados por autoridades eleitas” (Mainwaring, 2001:41).

II.1.1 Definição de partido político nesta pesquisa

Neste estudo, será utilizada a definição de partido político de Sartori (1982). Assim, aqui partido é “qualquer grupo político identificado por um rótulo oficial que apresente em eleições, e seja capaz de colocar através de eleições […], candidatos a cargo público” (Sartori, 1982:85). Entendemos que o significado de partido dado por Sartori vai ao encontro do sentido formal de partido político enunciado na Lei 9.096/2005, conhecida, no Brasil, como lei dos partidos políticos. De acordo com essa Lei 9.096/2005, partido político é pessoa jurídica de direito privado (art. 1º) que tem seu estatuto registrado no Tribunal Superior Eleitoral – TSE (art. 7º, caput) e, com isso, pode participar do processo eleitoral (§2º, art. 7º). Pode-se perceber duas importantes semelhanças entre a definição construída a partir da Lei 9.096/2005 e a de Sartori (1982): (1) ambas pressupõem um partido político enquanto instituição que requer uma chancela estatal, chamada por Sartori de “rótulo oficial”. Tal rótulo corresponderia na Lei 9.096/2005 ao “registro no Tribunal”. (2) Em ambas, um partido é apresentado como instituição formalmente instituída para participar do processo eleitoral.