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A sociedade brasileira sempre conviveu com a corrupção, as denúncias sempre inundaram os meios de comunicação de massa, onde os desvios de recursos públicos sempre estiveram presentes.

Analisar a corrupção é um assunto complexo, envolve inúmeras variáveis e deve ser encarado pela sociedade, pois, representa um dos grandes males da sociedade brasileira.

Como destaca Torres: “A corrupção deve ser entendida como um mal em si, que destrói as relações sociais e éticas mais fundamentais da sociedade. Nenhuma concessão pode ser feita quando falamos sobre corrupção, pois não há situação em que ela seja justificável” (2002, p. 111)

No meio de tanta denúncia de corrupção, calcular o tamanho da economia da corrupção no Brasil e no mundo sempre foi um desafio para os pesquisadores e intelectuais, e uma grande curiosidade para a população em geral.

Os cálculos são sempre difíceis, pois, é sempre complicado dimensionar e quantificar o tamanho da corrupção e das fraudes, qualquer número que se tome como parâmetro fatalmente será apenas uma aproximação da verdade. A corrupção é sempre feita

103 Disfunções institucionais para o Banco Mundial englobam os sistemas tributários, as leis de regulação do

“às escuras”, as pessoas corruptas e os corruptores não dão nota fiscal, não declaram no imposto de renda e, na maioria das vezes não reclamam em público, pois esta reclamação iria, com certeza, comprometê-los diretamente. Os casos de corrupção são descobertos, na sua maioria, quando há conflito entre os agentes envolvidos na operação, quando um dos lados se encontra descontente e, se sentindo prejudicado, adota como solução para a insatisfação, a denúncia dos ilícitos praticados.

Os índices disponíveis até agora, como o da Transparência Internacional, são baseados na percepção das pessoas, geralmente de agentes envolvidos em negócios transnacionais. São levantamentos de percepção, como o próprio nome diz, é apenas percepção, indicam algo, mas não são fatos.

Kaufmann, especialista do Banco Mundial em corrupção, acredita que a corrupção extrai da sociedade mundial algo em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Se considerarmos, que se produz anualmente, algo em torno de US$ 30 trilhões a US$ 40 trilhões, isso daria algo em torno de US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões ao ano. Estes valores, se considerarmos US$ 1,5 trilhão, são maiores que o Produto Interno Bruto de todos os países industrializados, com exceção dos Estados Unidos (US$ 10,4 trilhões), do Japão (US$ 3,2 trilhões), da Alemanha (US$ 1,9 trilhão) e da China (US$ 1,6 trilhão); agora, se considerarmos os US$ 2 trilhões, este valor só é menor que o produto interno bruto dos Estados Unidos e do Japão. Dessa forma, percebemos que a corrupção gera o terceiro ou o quinto maior produto interno bruto mundial.

O efeito econômico da corrupção é devastador. Uma pesquisa104 feita pelo Banco Mundial (Bird), apontou algumas conseqüências da corrupção:

• Há um aumento na incerteza dos agentes econômicos. Isso provoca redução nos investimentos internos e externos nos países.

• Surgem distorções no estabelecimento de prioridades. A corrupção está quase sempre por trás dos gastos militares de alta tecnologia feitos por nações miseráveis da Ásia e da África, dinheiro que poderia estar sendo aplicado na melhoria dos indicadores sociais, como a construção de novos hospitais.

104Os responsáveis pela pesquisa do Banco Mundial foram a diretora do setor de redução de pobreza, Cheryl

• As menores empresas sofrem mais. A corrupção tende a favorecer os cartéis e as grandes corporações, que podem pagar propina a legisladores e funcionários corruptos para defender seus interesses.

• Em países em que a corrupção é mais grave, pessoas pobres chegam a gastar a maior parcela de seu orçamento familiar pagando gratificações para conseguir um atendimento qualquer, especialmente da polícia e da saúde, serviços obrigatórios prestados pelo Estado.

• Entre 1989 e 1998, os países que apresentaram maior queda no PIB, ou seja, nos quais a economia encolheu, foram justamente os campeões mundiais da corrupção.

A corrupção traz graves desequilíbrios para a sociedade, além de aumentar os custos de transação, o investimento se torna menos produtivo, a eficiência das empresas diminui e geram distorções estruturais no mercado, criando vantagens artificiais para empresas ou setores que, no geral, resulta em economia menos competitiva.

Se trouxéssemos estes dados para o Brasil, onde o Produto Interno Bruto (PIB) é de aproximadamente US$ 700 bilhões ou R$ 1,75 trilhão, 5% representaria algo em torno de US$ 35 bilhões ou R$ 87,5 bilhões.

Pesquisas realizadas por Marcos Fernandes Gonçalves da Silva, com base em análises econométricas, envolvendo amostras de 100 países com formação bruta de capital, capital humano e utilizando índice de corrupção do Banco Mundial, descobriu-se o impacto da corrupção na produtividade dos trabalhadores.

Depois da pesquisa concluída, Silva destacou:

...cada trabalhador, no Brasil, deixou de produzir, em decorrência da corrupção, nos últimos 20 anos, o equivalente a US$ 3,6 mil, o que significa US$ 180 anuais. Multiplicando-se isso pela população economicamente ativa, chega-se a quase US$ 100 bilhões, algo em torno de 10 a 15% do PIB brasileiro. São números que, mesmo por aproximação, mostram a má influência da corrupção na vida do país (apud Schettino, 2002, p.27).

Para que se tenha a real dimensão do prejuízo causado na economia brasileira, pelas práticas ilícitas de corrupção, é necessário fazermos algumas comparações, pois os R$ 100 bilhões, quase dariam para financiar a pesquisa e a produção de 120 milhões de doses de vacinas; pagar a fabricação de um bilhão de medicamentos de mais de 30 tipos, dentre eles,

sete remédios dos 12 utilizados no coquetel anti-AIDS; preparar cerca de dois milhões de kits de diagnósticos de doenças; e realizar mais de 360 mil consultas médicas gratuitas e 5700 análises de qualidade de produtos.

Poderíamos ainda comparar os R$ 100 bilhões escoados anualmente no Brasil, via corrupção, aos gastos com segurança pública em 2002105, R$ 102 bilhões, o que equivalem a cinco vezes o orçamento do Ministério da Educação ou quatro vezes o que se gasta com planos de saúde.

Analisando a corrupção no país Torres, destaca:

“Também é errônea a idéia de que a corrupção seja mais intensa agora que passamos por um período relativamente longo sob o regime democrático. A história brasileira ensina que a corrupção tanto em períodos autoritários quanto nas fases em que predomina a democracia. Provavelmente, a única diferença significativa é que, sob o regime democrático, os casos de corrupção vêm à tona com muito mais facilidade. Com uma imprensa livre, os escândalos ganham uma dimensão muito grande, criando a falsa sensação de que o problema tende a se agravar na vigência dos regimes democráticos. Na época do regime militar também havia muita corrupção, mas encontravam-se intransponíveis dificuldades para tornar públicos os escândalos” (2002, p. 112-3)

Segundo dados coletados da pesquisa do Banco Mundial, podemos concluir que se a corrupção no Brasil diminuísse em 50%, a mortalidade infantil teria uma redução de 51%, o que representaria uma esperança de vida para 22 crianças, pois a mortalidade infantil no Brasil é de 44 crianças mortas antes de completar 5 anos de idade num universo de 1000. A desigualdade na distribuição de renda apresentaria uma diminuição de 54% ou a porcentagem da população que vive com menos de 2 dólares por dia diminuiria em 45%, o que tiraria da pobreza 32 milhões de pessoas.

Outra pesquisa interessante foi divulgada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com relação a corrupção na América Latina. Segundo o BID, a América Latina perde anualmente com a corrupção 10% do Produto Interno Bruto (PIB), chegando aos US$ 200 bilhões, de um PIB de quase US$ 2 trilhões (2003).

Estes recursos, ao serem desviados da sociedade latino-americana, aumentam os desequilíbrios sociais, gera e intensifica a violência e a degradação social, e tendo como

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Estes valores foram extraídos da Revista Época, 02/03/2003, que compara os gastos com segurança pública, R$ 102 bilhões, com os gastos de educação, onde os dispêndios em segurança pública representam cinco vezes o orçamento do Ministério da Educação.

conseqüência maior, uma região com indicadores sociais negativos e com um abismo social entre ricos e pobres cada vez maiores.