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De novembro de 1989 à outubro de 1992, o país atravessou um período de intensa mobilização política. Na primeira eleição direta para presidente da República desde a instauração, 25 anos antes, de um regime militar no Brasil, a campanha de 89 iria refletir a expectativa do eleitorado, das lideranças políticas e da imprensa em torno da escolha de um governo que, enfim legitimado pelas urnas, seria capaz de promover as mudanças que a sociedade aguardava.

O Presidente Fernando Collor de Mello fez uso excessivo de Medidas Provisórias em 1990, onde o governo editou mais 141 medidas159, o que provocou grande descontentamento no Congresso Nacional, isso sem falar nos vários processos judiciais160. Quando o Congresso deixa de aprovar as Medidas provisórias, o governo passa a reeditá-las, o que provoca grandes controvérsias jurídicas obrigando o Supremo Tribunal Federal a declarar esse procedimento ilegal no caso de medidas que haviam

159 O próprio programa de estabilização criado pelo presidente Fernando Collor de Mello, o Plano Collor, foi

feito via Medida Provisória, 16/03/1990, e seu uso excessivo acabou causando um grande mal estar entre o Executivo e o Legislativo.

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Dentre os processos judiciais podemos destacar aqueles ligados a implantação do Plano Collor, como o gerado pelo confisco da poupança, feito com o Plano Collor (16/03/1990), onde muitos cidadãos se sentindo prejudicados entraram na justiça em busca de reparações.

sido especificamente rejeitadas pelo Congresso Nacional. Essa controvérsia com o Congresso leva o governo à praticamente abandonar esse instrumento em 1991, depois de menos de um ano no cargo.

Collor foi eleito com uma plataforma de cunho neoliberal, suas propostas privilegiavam a diminuição do papel do Estado na economia, privatizações e abertura econômica.

Um pouco antes de tomar posse, o presidente eleito deu uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, que foi resumida desta maneira:

“A tônica mais forte da entrevista foi a redução da intervenção do Estado na economia nacional... Para controlar a inflação e evitar a queda do salário real no Brasil, Collor apresenta a receita de um orçamento mais equilibrado no qual não é possível gastar mais do que se arrecada” (Volpon161, 2003, p.30)

Fernando Collor, ao contrário de José Sarney, acabava de ser eleito pelo povo, o que lhe dava legitimidade para conduzir as transformações que a sociedade brasileira almejava.

A situação da economia era bastante negativa, inflação descontrolada, na casa dos 100% ao mês, dívida externa de US$ 170 bilhões e um déficit fiscal de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB), tudo isso exigia medidas concretas para aliviar o cenário econômico.

Em 15 de março de 1990, a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, anuncia as bases do chamado Plano Collor, congelamento por decreto de 70% de todo o dinheiro disponível por 18 meses e tributando todos os depósitos pela incrível taxa de 8% de seu valor total, algo que transformou o congelamento em um confisco. O objetivo destas medidas era evitar as pressões de consumo e retomar a capacidade do Banco Central de fazer política monetária ativa, em vez de ficar à mercê do mercado financeiro e da necessidade de rolar a dívida pública.

Outra medida adotada pelo governo Collor de Mello foi a reforma administrativa e fiscal, que tinha como objetivo promover um ajuste fiscal da ordem de 10% do Produto Interno Bruto, eliminando um déficit projetado de 8% do PIB e gerar um

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Tony Volpon, economista brasileiro, especialista em mercado financeiro e em mercados emergentes com passagens pelo Banco Safra e pelo Banco de Boston, no início dos anos 90 era operador da dívida externa brasileira.

superávit de 2%. Esse ajuste se faria por meio da redução do custo de rolagem da dívida pública, suspensão dos subsídios, incentivos fiscais e isenções, ampliação da base tributária pela incorporação dos ganhos da agricultura, do setor exportador e dos ganhos de capital nas bolsas, tributação das grandes fortunas, IOF extraordinário sobre o estoque de ativos financeiros e fim do anonimato fiscal, mediante a proibição dos cheques e das ações ao portador.

Destaca-se ainda o congelamento de preços e a desindexação dos salários em relação à inflação passada, definindo uma nova regra de prefixação de preços e salários que entrariam em vigor a partir de 01/05/90. A política cambial também sofreu mudanças, sendo adotado um regime de taxas flutuantes definidas livremente pelo mercado.

Outra mudança importante adotada foi no campo comercial, onde se inicia a liberalização do comércio exterior (a chamada abertura comercial), com redução qualitativa das tarifas de importação de uma média de 40% para menos de 20% em quatro anos.

É importante salientar, que a sociedade reagiu bastante positivamente as medidas adotadas pelo governo, onde muitos passaram a acreditar que o país estaria entrando num ciclo de crescimento econômico e desenvolvimento moral, o que levou o Jornal do Brasil a publicar a manchete “Collor anuncia a reforma moral do País”.

O Plano econômico adotado pelo governo, a aí estavam os maiores desafios, revelou-se um paliativo para a inflação endêmica brasileira. Seu fracasso, em menos de um ano, ironicamente veio reforçar a crença generalizada de que o Brasil era diferente. Fórmulas econômicas experimentadas alhures simplesmente não se aplicavam ao Brasil.

Não era só no campo econômico que Collor de Mello encontrava dificuldades, destacamos ainda, o comportamento da imprensa, que durante os governos militares foi impedida pela censura de revelar notícias mais detalhada do poder, dentre elas casos de corrupção. Com esta liberdade maior os jornalistas se sentiram mais estimulados a buscarem, dentro do governo, questões mais detalhadas sobre denuncias de corrupção.

Neste momento, os meios de comunicações, os meios empresariais e sindicais e nos partidos políticos, a percepção de que a corrupção tornara-se uma prática de governo alastrou-se rapidamente.

Segundo Rodrigues:

“Os ‘anéis burocráticos’ que ganharam corpo com a combinação entre industrialização e autoritarismo nos anos 70 é um exemplo de como a desestruturação da dimensão pública do Estado pode ocasionar canais privilegiados de acesso a grupos econômicos, os quais acabam por constituir-se em ante-salas de práticas de corrupção. Essas, por sua vez, podem ter seu caminho facilitado e sua incidência potencializada mediante duas condições: (a) a presença de uma tradição personalista que tenda a diluir as fronteiras entre o público e o privado e que ofereça às relações em questão um substrato ético segundo o qual as práticas de corrupção são pensadas como trocas entre indivíduos e grupos, escoradas nos valores tradicionais (compadrio, relações de patronagem, etc); e (b) a erupção de crises econômicas que gerem um escasseamento dos recursos públicos destinados a investimento, recursos que em condições sociais como as brasileiras são objeto preferencial de desejo de diversos grupos econômicos” (2000, p.159-60).

Como podemos notar, ambas as condições estavam dadas no Brasil do início dos anos noventa, agravadas ainda, pela profunda crise de legitimidade que já atingia o governo..

A situação política do governo era bastante delicada, que setores do PSDB e do PMDB já articulavam a criação de um “movimento pela governabilidade”, onde surgiram até idéias para uma “solução parlamentarista162”.

As acusações de corrupção no governo Collor se avolumavam, as ligações do Presidente Collor e o seu ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Cavalcante Farias163, era motivo de inúmeras suspeitas, o que criava um clima de grande instabilidade.

O ex-tesoureiro de Fernando Collor tinha uma farta experiência na arrecadação de recursos, como destacou Dias164, que na campanha:

162 As vozes que falavam em antecipação do parlamentarismo não o faziam obviamente por alguma

preferência abstrata por sistemas de governo, senão antes por conta da deterioração política do governo Collor.

163 Paulo César, o PC, o principal personagem e mentor intelectual do esquema de corrupção, ex-seminarista,

ex-locutor de rádio, ex-vendedor de automóveis novos e usados, ex-advogado de júri, PC era um empresário alagoano, não muito bem sucedido como empresário, mas dotado de muitos contatos importantes com políticos e empresários e detentor de uma retórica fantástica, aparece no cenário nacional como tesoureiro de campanha de Fernando Collor em 1989, quando este se candidata a presidência da República, mas a ligação entre PC e Collor era antiga, começou quando Collor se candidatou e ganhou a eleição para governador de Alagoas, neste momento PC foi o tesoureiro de sua campanha.

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Maurício Dias, jornalista e historiador, com passagem por inúmeras redações de jornais e revistas do país, entre eles: Jornal do Brasil, Revistas Veja, Isto é e atualmente na revista Carta Capital. Publicou recentemente um livro sobre as relações entre o dinheiro e as eleições no Brasil, intitulado “A mentira das urnas”.

“...criou três categorias distintas de sócios, diferenciados por cotas individuais: cinco empresários de US$ 5 milhões; 10 de US$ 3 milhões; e 20 de US$ 1 milhão. A soma significaria a arrecadação de US$ 75 milhões” (2004, p. 140).

Os negócios escusos de PC Farias e congêneres haviam florescidos sob a opacidade do estilo governamental de tomada de decisões.

A saída de Zélia Cardoso de Mello165 do ministério da Economia abriu espaço, para que PC Farias indicasse para a presidência do Banco do Brasil, Lafayete Coutinho, ficando na Caixa Econômica Federal, Álvaro Mendonça, aliado de PC Farias, Leopoldo Collor e Roberto Marinho. O co-autor da indicação foi Antônio Carlos Magalhães, desafeto declarado do ex-presidente do Banco do Brasil, Alberto Policaro (Rodrigues, 2000, p.167-8).

Nos meses seguintes, o Tribunal de Contas da União (TCU), publicou um relatório colocando dúvidas sobre a lisura das contas publicas no primeiro ano de mandato. O TCU destaca, neste relatório, o imenso número de processos de compras sem licitação.

O clima era de inúmeras denúncias, a revista Isto é Senhor166 revelou que, Pedro Paulo Leoni Ramos, secretário de Assuntos Estratégicos, movimentava uma “conta secreta” do governo, pelo qual circulavam cifras da ordem de US$ 65 milhões, sem qualquer dotação orçamentária específica e sem qualquer autorização do Congresso. Segundo a revista, Pedro Paulo, o PP, disputava palmo a palmo com PC Farias a cobrança dos “pedágios” para a liberação de verbas públicas, que, segundo a imprensa, haviam sido inflacionados da casa dos 10% para a dos 30% ou até 40%.

Outras denúncias apareciam, além das revistas semanais Veja e Isto é Senhor, os jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo entre outros divulgavam todos os dias novas denúncias. O Ministério da Agricultura cancelou licitação a ser feita pelo INCRA, no valor de 21 bilhões de cruzeiros, por haver enormes evidências de fraudes. O presidente da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara acusou o INCRA de promover um prejuízo de pelo menos sete bilhões de cruzeiros aos cofres públicos, numa transação que envolveria favorecimento às construtoras Tratex e Odebrecht.

165 Sempre foi nítida a queda de braço entre a ministra da economia, Zélia Cardoso de Mello e os

administradores de esquemas subterrâneos de corrupção.

166 A revista Isto é Senhor fez um importante trabalho de investigação jornalística, os dados descritos acima

Em janeiro de 1992 o escândalo de corrupção atingia o primeiro escalão do governo: o chamado “escândalo das bicicletas”, protagonizado pelo ministro da Saúde, Alceni Guerra167(Rosa, 2003, p. 394). Segundo a denúncia, o ministro teria adquirido, numa loja que não era do ramo, no Paraná, seu estado natal, um lote de milhares de bicicletas para serem usadas no combate à epidemia de dengue, a preços superfaturados (Rodrigues, 2000, p. 170).

A Revista Isto é Senhor retratou dessa forma o chamado “escândalo da bicicleta”:

“A Fundação Nacional de Saúde, subordinada ao Ministério, adquiriu nas ‘Lojas do Pedro’ 23,5 mil bicicletas Caloi a preços bem superiores ao de mercado, pagando no total 3,3 bilhões de cruzeiros, quando a média de mercado estimada seria de 2,3 bilhões. Esse um bilhão superfaturado, segundo as denúncias da imprensa, somava-se a contratação irregular da construtora paranaense Masters, para prestação de serviços de consultoria aos CIACs, sem licitação, por um valor de dezoito bilhões de cruzeiros” (11/12/91).

Mas, dentre os problemas, o mais grave e de conseqüências mais perversas, tanto para Collor quanto para PC Farias, estava por vir. Collor havia incentivado a entrada de PC e seus irmãos no mercado de comunicações168 de Alagoas, o que provocou a contrariedade de Pedro Collor, irmão do Presidente, que gerou graves crises familiares no clã dos Collor de Mello e contrapôs os irmãos Fernando e Pedro (Rodrigues, 2000, p.171).

Outras denúncias estavam por vir à tona, dessa vez, o acusado foi o ministro do Trabalho, Antonio Rogério Magri, que segundo um funcionário do INSS, recebera da construtora Odebrecht uma propina de US$ 30 mil para apressar a liberação de verbas

167 É importante destacar que no episódio relacionado ao ex-Ministro da Saúde Alceni Guerra, foram

cometidos inúmeros equívocos e exageros por parte da imprensa, que massacrou o ex-ministro, levantando a suspeita de que teria cometido irregularidades em sua gestão, mas que depois se comprovaram infundadas. Tão infundadas que o “procurador-geral da República, Aristides Junqueira deu o seguinte parecer sobre o assunto, ‘não há sequer indício de ilícito penal ao ser imputado ao então ministro da Saúde, Alceni Guerra’.O inquérito foi encerrado. Um mês depois o STF mandou arquivar o processo. O despacho foi do insuspeitíssimo ministro Paulo Brossard, oposicionista do governo a que servi e nada menos que meu adversário político na época” (Rosa, 2003, p. 394).

168 A família Collor de Mello era proprietária da Gazeta de Alagoas, na época administrada por Pedro Collor.

PC Farias e seus irmãos compraram a Tribuna de Alagoas por US$ 4 milhões, e passou a concorrer com a família de Collor. Neste momento Pedro Collor denuncia que o investimento feito por PC e seus irmãos era incompatível com os rendimentos “oficiais” dos proprietários.

do FAT e do FGTS para a construção de obras cujas concorrências haviam sido vencidas pela construtora, em especial a obra do “Canal da Maternidade”, em Rio Branco, no Acre (Rodrigues, 2000, p.172)..

As sucessivas denúncias de irregularidades e corrupção, levaram o presidente a recompor o ministério, dando mais poder ao PFL. Neste momento, foram substituídos os ministros Antônio Rogério Magri e Margarida Procópio, em seus lugares assumiram Reinhold Stephanes e Ricardo Fiúza169.

As coisas tomaram proporções gigantescas em 5 de maio de 1992, neste dia, o irmão mais novo do presidente, Pedro170, em entrevista à revista Veja, denunciou o esquema PC Farias e afirmou categoricamente que havia ligações diretas entre as ações de PC e Collor. Ao amplificar o que parte da imprensa já noticiava desde o ano anterior e adicionar a carga emocional de uma denúncia feita no próprio seio da família, Pedro Collor deflagrava a crise que poria termo ao governo.

As acusações de Pedro Collor171 foram acompanhadas por fitas de vídeo, onde o denunciante fazia graves denúncias ao Presidente e a PC Farias. Segundo Pedro Collor, PC Farias, atuando no governo, roubava, extorquia e corrompia, tendo como cacife sua amizade com o Presidente.

O Vice-Presidente da República, Itamar Franco, defendia uma antecipação do plebiscito, opinião que chegava também aos meios empresariais (Folha de São Paulo, 20/10/91).

Diante dessa manifestação, disseminava-se a sensação de que o governo era um barco à deriva, sem rumo e sem perspectivas de sobrevivência.

Como ressaltou Skidmore:

“O irmão de Collor, Pedro, avisara que o preço para ele parar com suas denúncias era que PC Farias abandonasse o plano de lançar em Alagoas, um jornal que

169 Ricardo Fiúza envolveria o governo em mais um escândalo: confessou ter recebido US$ 100 mil da

Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) para a sua campanha eleitoral (a doação era ilegal) e um jet ski da empreiteira OAS.

170 Segundo Pedro, o irmão Fernando, em aliança com PC Farias, tentara por quatro vezes, pela compra de

ações ou buscando convencer a mãe, detentora de 75% do controle acionário da empresa familiar, tirar Pedro do controle da administração. Sem sucesso, teria apoiado o projeto de montar empresa concorrente (Veja, 27/05/92).

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Depois destas denúncias contra o presidente Fernando Collor de Mello, a família Collor de Mello destitui Pedro da direção do Grupo Arnon de Mello, a justificativa usada foi de que Pedro apresentava graves desequilíbrios emocionais.

competiria com o jornal da família Collor de Mello, agora administrado por Pedro. Parece que Farias queria construir sua própria dinastia em Alagoas, tendo o jornal como âncora. Seria Collor sócio desta nova dinastia – rivalizando com a de sua própria família – ou seria ele incapaz de pressionar suficientemente PC Farias a abandonar o plano? Ou, o que é mais provável, talvez ele erradamente não acreditasse que o irmão fosse cumprir sua ameaça” (2000, p.37)

Pedro Collor declarou ainda para a revista Veja, na mesma entrevista, detalhes de sua vida familiar. “Eu estive envolvido com drogas quando era jovem, induzido pelo Fernando. Ele era um consumidor contumaz de cocaína e me induziu a cheirar, a aspirar cocaína” (27/05/92).

Depois de tantas denúncias, a família Collor de Mello decidiu acusar Pedro Collor de insanidade mental, o objetivo desta manobra era evitar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as relações entre o presidente Fernando Collor de Mello e o empresário Paulo César Cavalcante Farias.

No final de maio, a Polícia Federal abria, a pedido do Procurador-Geral, Aristides Junqueira, inquérito172 para apurar as denúncias de Pedro Collor.

A CPI ainda não tinha sido aprovada, mas as mobilizações da população em prol da investigação eram constantes, tanto, que alguns partidos, que até então se encontravam indecisos com relação a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, PMDB e PSDB, romperam com o governo e passaram a trabalhar pela implantação da comissão. A CPI foi aprovada e teve, depois de negociações173, como presidente o deputado Benito Gama (PFL) e como relator o Senador Amir Lando (PMDB).

Depois de instalada, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) iniciou seus trabalhos convocando Pedro Collor de Mello, que reitera suas declarações anteriores, dizendo ter alertado Cláudio Humberto, na época secretário de Collor, sobre a rede de influências, corrupção e extorsão montada no governo por PC Farias, mas ressalvou não

172 A investigação envolveria, além de Paulo César Cavalcante Farias, a ex-ministra da Economia Zélia

Cardoso de Mello e o piloto Jorge Bandeira de Mello, todos acusados de participarem dos desvios de recursos públicos e das negociatas dentro do governo.

173 É importante destacar a declaração do deputado Luís Eduardo Magalhães (deputado federal/ PFL-BA e

líder do partido na Câmara dos Deputados, filho de Antônio Carlos Magalhães, aliado do presidente Fernando Collor) sobre o interesse na troca dos cargos da comissão: “se eu tiver maioria na Comissão, derrubo o relatório do relator. Se for minoria não aprovo nem o meu próprio relatório. Tendo a presidência tenho quem convoca para depor, quem marca as reuniões, quem faz a pauta, quem faz e acontece” (Folha de São Paulo, 31/05/92)..

saber se o presidente tinha conhecimento das denúncias. No seu depoimento, Pedro Collor não estabeleceu vinculação entre o presidente Collor e o empresário PC Farias.

O depoimento de PC foi mais interessante e deu um alento às investigações, como registrou Rodrigues:

“Além de reconhecer seu envolvimento em fraudes eleitorais, PC admitiu a prática de tráfico de influência – duas irregularidades que atingiam o governo federal. O empresário classificou-se como ‘coordenador financeiro’ da campanha de Collor à presidência e reconheceu que atuava para favorecer interesses privados junto à administração pública. Ao revelar a existência de um ’Caixa 2’ por onde circularam milhões de dólares na campanha de Collor em 1989, PC parecia emitir sinais ao presidente de que não venderia barato seu ‘sacrifício’” (Rodrigues, 2000,p.189).

As denúncias não pararam, o primeiro empresário a denunciar o esquema PC Farias, foi Takeshi Imai, dono da fábrica de implementos agrícolas Hatsuta. A confirmação vinha no dia seguinte, quando, José Maria da Fonseca, dono da From Brazil, confirmava a existência de um esquema de extorsão e tráfico de influência no Ministério da Saúde.

Do ponto de vista político, a situação era bastante confusa e tensa, onde o