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A 31 de janeiro de 1991, antes que o Plano Collor completasse seu primeiro aniversário, a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Melo, ocupou rede nacional de rádio e televisão para expor a população o mais novo pacote governamental, que ficaria conhecido como Plano Collor II. Diante de uma inflação que, ao contrário das previsões governamentais, ficaria em quase 20% em janeiro, o novo pacote buscava estabelecer uma “trégua”: congelava preços e salários, baixava um “tarifaço” e promovia uma dexindexação ampla da economia.

A repercussão do Plano Collor II foi bastante negativa, mais uma vez, o plano foi concebido às escondidas, sem negociação e sem nenhuma discussão com a sociedade. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), não gostou do Plano e fez duras críticas ao congelamento de preços.

Mais uma vez surgiram criticas com relação a inconstitucionalidade e sobre o autoritarismo das medidas adotadas pelo governo. Segundo Faria:

“Embora o governo mais uma vez tenha agido com base no artigo 62 da Constituição, o qual [...] permite ao presidente da República editar medidas provisórias com força de leis nos casos de ‘relevância e urgência’, o problema é que tanto o espírito quanto o teor desse controle – ou dessa ‘trégua’ – colidiram com pelo menos quatro dispositivos da Constituição de 1988: o inciso IV do artigo 7q, que assegura a liberdade de negociação dos salários por meio de dissídios, acordos e convenções coletivas; o inciso IV do artigo 170, segundo o qual o Estado – como agente normativo, controlador e regulador da atividade econômica – exerce funções de fiscalização, direção, promoção e planejamento de modo ‘determinante para o setor público e indicativo para o setor privado’” (Faria, 1993, p. 93-4).

O Plano Collor II representou uma intervenção de emergência para estancar o descontrole inflacionário, ficando longe de uma tentativa de combate mais definitivo à inflação e contando desde o início com um grau de credibilidade muito reduzido.

O governo, com uma base instável e fisiológica, teve grandes dificuldades para a aprovação do Plano no Congresso Nacional. Para conseguir aprovar alguns pontos o governo teve que se comprometer com a alteração de algumas medidas importantes155.

As medidas mais do Plano Collor II que tiveram efeitos mais relevantes e duradouros foram as modificações no mercado financeiro: a criação da TR156, como nova referência para operações financeiras (em substituição à indexação por índices de preços), a extinção do “overnight” e dos fundos de curto prazo e a criação dos FAF.

“Destacamos ainda, outras medidas que foram tomadas com o intuito de reforçar as finanças públicas: o congelamento da Tabela do IR-fonte; a proibição do empenho de 90% dos recursos do orçamento (contingenciados no Ministério da Economia); a tentativa de antecipação do início do ano fiscal seguinte para julho daquele mesmo ano de1991, visando acelerar a entrada em vigor de uma reforma tributária que o Governo pretendia encaminhar (a antecipação não foi aprovada pelo Congresso); e a indexação dos tributos à TR (posteriormente desautorizada pela Justiça, o que provocou fortes perdas de arrecadação em face da reaceleração dos preços) (Andrei e Arruda Sampaio, 1993, p. 26).

Em março de 1991, o governo apresenta ao Congresso, o Programa de Reconstrução Nacional157 (PRN), que reunia as principais propostas de reforma (redução) do Governo, tais como a redução do papel do Estado – como a implantação do sistema de concessão de serviços públicos, a desregulamentação dos serviços portuários e a redefinição dos monopólios da União -, de liberalização externa (como a reformulação da legislação sobre capital estrangeiro) e de ajustes das contas públicas (como a revisão da estabilidade no emprego de servidores públicos e diversas medidas visando reforçar a arrecadação e o combate à sonegação).

O PRN visou organizar o discurso liberal hegemônico entre as elites e credenciar o governo como catalisador da “modernização”.. Apesar da boa acolhida do

155 Para piorar a situação, nas eleições de 1990 para o governo dos estados, especialmente a derrota dos seus

candidatos nos maiores estados do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, etc...).

156 A criação da TR representava a substituição da inflação passada pela inflação futura enquanto indexador

financeiro, pois sua fixação basear-se-ia nos juros praticados pelo mercado.

157 O Programa de Reconstrução Nacional (PRN) ficou conhecido como “Projetão”, e era composto por sete

PRN por parte dos meios de comunicação e nas principais entidades empresariais, o programa pouco avançou no Congresso.

É neste momento que o Presidente Collor inicia um processo de mudanças importantes em seu governo, com a saída da ministra Zélia Cardoso de Mello e com a entrada do embaixador Marcílio Marques Moreira. Segundo Bresser Pereira, foi neste momento que o presidente Collor iniciou “...uma segunda fase de seu governo, cujo objetivo inicial era o de recuperar o apoio da sociedade civil, especialmente dos empresários” (1996, p. 183).

O ministro da Economia Marcílio Marques Moreira embora bem visto pelo empresariado e pela comunidade financeira internacional, não tinha vínculos partidários explícitos, nem sua indicação partiu dos partidos próximos ao governo.

A entrada de Marcílio M. Moreira no ministério da Economia foi vista como uma sinalização de reforço de orientação neoliberal da gestão econômica, bem como de aproximação com os credores externos e os organismos financeiros internacionais. Politicamente, representava uma postura menos imperial da adotada nos meses anteriores, uma nova fase de relacionamento com os diversos atores sociais.

Tabela 9 - Indicadores econômicos 1990/1992

___________________________________________________________ Ano Crescimento do PIB (%) Inflação

___________________________________________________________

1990 - 4,3 1476,6

1991 0,3 480,2

1992 -0,8 1158,0

____________________________________________________________ Fonte: Confecção própria com dados extraídos do Banco Central do Brasil.

“Concomitantemente”, como afirmou Rodrigues, “ao anúncio do ‘Projetão’ e ao lançamento da idéia de um ‘fórum’ no Congresso, porém, novas denúncias de

corrupção158 no governo contribuíam para o ceticismo generalizado. Dessa vez o envolvido era José Luitgard, colocado no Ministério da Educação por Paulo César Farias, acusado de desviar as verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar (FNDE)” (2000, p.146).

Tabela 10 - Setor externo da economia.- Brasil (em milhões de dólares)

ANO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO

1990 31414 20661 10753

1991 31620 21041 10579

1992 35793 20554 15239 Fonte: Confecção própria com dados extraídos do Banco Central do Brasil.

Nas tabelas anteriores percebemos, que do ponto de vista econômico, o crescimento econômico foi pífio, onde em três anos, dois apresentaram decréscimo do produto interno bruto e um único com crescimento econômico, mas medíocre, 0,3%. A inflação, principal indicador de instabilidade macroeconômica da economia brasileira, ainda estava descontrolada, beirando a hiperinflação.

O setor externo da economia, principalmente o balanço comercial, apresentava indicadores positivos, com superávit comercial de US$ 15 bilhões.

A política de comércio exterior de Fernando Collor apresentava uma constante tensão entre a modernidade e o retrocesso, ambas convivendo conjuntamente.

Vizentini definiu essa tensão da política comercial do governo Collor:

“A visão de Collor era uma volta ao século XIX, com medidas ultraliberais que não foram praticadas de maneira ortodoxa nem mesmo nos países centrais do

158 Outras denúncias de corrupção eram feitas, o ex e o governador do Ceará, Tasso Jereissati e Ciro Gomes,

respectivamente, denunciaram que a empresa Sansuy intermediara verbas do Ministério da Ação Social para a construção de cisternas em municípios cearenses. Em represália, o governo espalhou para a imprensa, que as empresas do grupo Jereissati vinham sendo investigadas por sonegação (Revista Istoé Senhor, 20/03/91).

capitalismo. Enquanto o primeiro mundo buscava proteger-se dos concorrentes (ainda que de forma indireta), o Brasil e o Terceiro Mundo, em geral, foram obrigados a abrir seus mercados” (2003, p. 81).

A política externa do governo de Fernando Collor se caracterizou pela aproximação com os Estados Unidos e por uma política mais centrada nas Américas, afastando-se de sua anterior diplomacia mundial e multilateral (Vizentini, 2003, p. 81).

Essa aproximação com os Estados Unidos foi fundamental para a adoção das políticas liberalizantes na economia e de abertura às proposições do Fundo Monetário Internacional (FMI).