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109 dadas pela legislação orientaram o interesse e a atuação do mercado imobiliário segundo as

diferentes áreas da cidade, o que resultou na diferenciação morfológica dos mesmos.

Entretanto, como grande parte do território urbano havia sido demarcado como Z2, e não era interessante ao mercado imobiliário a construção limitada a uma vez à área dos terrenos, procurou-se estabelecer mecanismos para alterar esse parâmetro em casos específicos. Aponta Rolnik (op. cit.) que: “as pressões dos incorporadores rapidamente lograram aprovar a Lei 8.001/ 73 (Lei Adiron), que permitia a elevação de todos os coeficientes para o uso residencial verticalizado” (inclusive na Z216), mediante a redução da

área de projeção da edificação (taxa de ocupação). Essa possibilidade é mantida17 até hoje

pela Lei de Uso de Ocupação do Solo vigente, permitindo elevar o coeficiente de aproveitamento básico18 das antigas zonas de uso beneficiadas19.

Cabe salientar que na década de 1970, conforme afirma Rolnik (Ibidem, p. 201), ao permitir o coeficiente de aproveitamento máximo 4 e os usos mais diversificados onde já estavam concentrados os terrenos mais valorizados “a lei se transformou num indexador, reiterando o status quo de distribuição de riqueza imobiliária da cidade”.

Já na década de 1980, a destinação das periferias longínquas às camadas populares foi legitimada por lei por meio da instituição da zona de uso Z8 100/ 1, incluída no zoneamento da cidade pela Lei 9.412 de 1981. Explica Rolnik que:

[ ...] a primeira franja da zona rural, destinada a produção de moradia popular apenas pelas empresas estatais, como a COHAB [ ...] possibilitaria, segundo seus autores, a compra pelas empresas estatais de terrenos a baixo preço, já que se tratava de terrenos situados em zona rural, desvalorizados pela impossibilidade de ocupação legal para usos urbanos (Ibidem, p. 203).

Essa lógica de produção, vinculando terrenos baratos na periferia longínqua ao financiamento concedido pelo BNH, entretanto, foi executada a altos custos, considerando-se que a sua localização ainda demandava extensão de toda a rede de infraestrutura e, muitas vezes, a terraplenagem. São altos também os custos sociais inerentes a esse tipo de

16 Conforme disposto no § 3º do art. 18 da Lei Municipal nº 8.001/ 73, alterado pela Lei Municipal

8.881/ 79.

17 A possibilidade do aumento do coeficiente de aproveitamento mediante a redução da taxa de

ocupação incentiva a produção do uso residencial e foi mantida pela Lei 13.885/ 04, conforme disposto no seu art. 240.

18 A legislação vigente não apresenta um único coeficiente de aproveitamento do terreno, como nas

legislações anteriores. A relação entre a área construída e a área do terreno é hoje vinculada ao critério de área computável e não computável para efeitos desse cálculo e possui três parâmetros: mínimo (abaixo do qual o terreno é considerado subutilizado), básico (pelo qual não é necessário pagar à Municipalidade além das taxas referentes á aprovação) e máximo (passível de ser atingido mediante pagamento à Municipalidade, acima do qual não se pode construir).

19 As zonas de uso beneficiadas pelo aumento do coeficiente de aproveitamento, mediante a redução

produção, associado às horas de deslocamento entre essas áreas monofuncionais e os locais de trabalho dessa parcela da população, bem como à falta de equipamentos públicos, que geralmente não encontrados em quantidade e qualidade no entorno dessas áreas. Para Rolnik (Ibidem, p. 204), “a lei reiterou a velha fórmula de criar possibilidades legais para a moradia popular apenas onde não existe cidade”.

Em meados da década de 1970, conforme ressaltam Santoro, Ferrara e Whately (op.

cit., p. 40), no Município de São Paulo, a ocupação junto aos braços da represa

Guarapiranga já era “bastante significativa [ ...] , em especial na margem esquerda, onde se situa a [ subprefeitura] Capela do Socorro”. Além disso, o quadro de poluição das represas Guarapiranga e Billings também se agravava. Como reação a essa situação, foi promulgada a Legislação de Proteção aos Mananciais (LPM), Leis Estaduais nº 895/ 75 e 1.172/ 76.

Conforme destacado no capítulo 2, a LPM considerava qualquer tipo de ocupação urbana como fonte de poluição dos mananciais e definiram locais de preservação total do meio ambiente e áreas com padrões de ocupação pouco adensados, nas quais deveria ser prevista alta permeabilidade do solo. A restrição ao uso, entretanto, não coibiu de todo a ação dos loteadores clandestinos e a invasão de algumas áreas por favelas.

Em geral, leis extremamente restritivas, que não incorporam a situação existente e formas de manter a preservação eficaz do meio ambiente, acabam depreciando o valor da terra, tornando-as indesejáveis ao setor imobiliário e desejáveis ao loteador irregular e clandestino, conforme apresentado no capítulo 1.

Ainda na década de 1970, conforme aponta Villaça (op. cit., p. 235), as invasões para ocupação habitacional de baixa renda passaram a “afetar a organização territorial das classes sociais” na metrópole, à medida que a preferência pelas invasões de locais próximos à concentração dos bairros de alta renda foram definindo também a zona sul como “a nova região de concentração de favelas da área metropolitana de São Paulo, por ser a mais próxima do quadrante sudoeste, onde se concentram as camadas de mais alta renda”.

Alguns anos depois, em 1979, foi promulgada a Lei Federal nº 6.766 (Lei Lehmann), que se tornou marco do quadro legal, dispondo sobre o parcelamento do lote urbano e pela primeira vez incriminando o loteador irregular. A partir desse momento, tornou-se possível realizar medidas para cobrar do loteador irregular as ações necessárias à implantação dos loteamentos (pavimentação de vias, implantação de redes de infraestrutura de saneamento, energia e drenagem, entre outros), quando sua localização era permitida pela legislação, ou cobrar a indenização das pessoas envolvidas e da municipalidade pela irregularidade.

No ano de 1981, foi promulgada a Lei Municipal nº 9.413, que, elaborada à luz da legislação federal de parcelamento do solo, dividiu os loteamentos do município em quatro

CAPÍTULO 3 ■  A POLÍTICA URBANA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO E OS MANANCIAIS SUL 

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