• Nenhum resultado encontrado

121 É importante também salientar que o déficit não está distribuído homogeneamente

pelo Município, tampouco pelos distritos municipais inseridos nas áreas de proteção aos mananciais, mas apresenta contrastes. Dentro disso, o estudo da espacialização das necessidades fundamentais da população, inclusive mediante análise comparativa com outros indicadores passíveis de vulnerabilidade social, faz-se necessário para o melhor atendimento da demanda pelas políticas públicas.

Em relação à elaboração de indicadores que propiciem a melhor condução das políticas públicas, o Município de São Paulo tem trabalhado com possíveis indicadores ambientais sintéticos37 a serem incorporados ao planejamento urbano da cidade. Embora

não esteja diretamente relacionada às condições habitacionais nos assentamentos precários, a utilização de indicadores ambientais, além de ser fundamental para a elaboração do Diagnóstico Ambiental do Município, ajuda a compreender melhor as características de cada distrito do Município, inclusive no que se relaciona à vulnerabilidade social de seus moradores, corroborando uma realidade conhecida, mas também apresentando novas dimensões da relação entre meio ambiente/ pressão urbana/ gestão.

Um dos indicadores desenvolvidos apresenta a situação da Precariedade Urbana, sendo composto por seis variáveis: a) taxa anual de crescimento no período de 1991 a 2000; b) Í ndice de Desenvolvimento Humano – I DH; c) ocupação por assentamentos irregulares; d) população moradora em favela; e) população moradora em loteamentos irregulares; f) domicílios não ligados à rede de esgoto. A combinação destas variáveis permite evidenciar a heterogeneidade da periferia da cidade, tanto em relação ao nível de pressão quanto à sua distribuição, podendo direcionar as ações públicas. A figura 3.1, a seguir, apresenta a caracterização dos distritos de São Paulo segundo este indicador. Observa-se que justamente nas áreas de mananciais sul a tensão em relação à precariedade dos assentamentos é mais gritante, tanto pela proporção da área abrangida quanto pelas características ambientais da mesma.

37 O governo Municipal, por meio da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente – SVMA, em

parceria com o I nstituto de Pesquisas Tecnológicas – I PT, e com o Centro de Estudos da Metrópole- CEM, está trabalhando na elaboração de uma série de indicadores ambientais sintéticos utilizando a metodologia proposta pelo Programa das Nações Unidades para o Meio Ambiente (PNUMA), que se fundamenta no sistema PEI R ( Pressão- Estado – I mpacto – Ação). Os indicadores sintéticos finais foram selecionados pela disponibilidade de dados, possibilidade de análise comparativa e estatística (fatorial), sendo definidos: Pressão 1 – Adensamento Vertical; Pressão 2 – Precariedade Urbana; Estado – Cobertura Vegetal; Resposta 1 – Controle Urbano da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente; Resposta 2 – Conservação da Biodiversidade. A intenção é revelar as condições socioambientais as demandas específicas de cada um dos 96 distritos do Município, auxiliando na formulação de propostas e ações.

Figura 3.1: Precariedade urbana na cidade de São Paulo.

Fonte: Sepe e Gomes (2008, p. 59).

Em compensação, a região dos mananciais sul também apresenta grande conservação das áreas verdes, o que se reflete no conforto térmico de muitas áreas de seus distritos. Verifica-se, conforme salienta Richards (2009), que nos distritos onde as áreas de prestação de serviços ambientais são escassas ou inexistentes, há intensificação dos efeitos das ilhas de calor38. Os padrões de uso e ocupação do solo são determinantes das ilhas de

calor e sua abrangência é determinada por fatores como temperatura, umidade, velocidade dos ventos e inversão térmica.

Nota-se, na figura 3.2 a seguir – que apresenta o mapeamento das ilhas de calor no Município de São Paulo no ano de 2002 –, que a temperatura relativa da superfície vai amenizando à medida que aumenta a proporção de áreas verdes preservadas, ou seja, nos bairros residenciais de alta renda, onde há maior arborização urbana (vetor sudoeste); próximo às áreas de remanescentes florestais e nas periferias com ocupação rural predominante, como é o caso de boa parte da área dos mananciais sul.

38 I lha de Calor: conceito criado pela professora Magda Lombardo (1985), para definir o fenômeno

atmosférico de mudança de temperatura em escala local e relacionado à presença de grandes áreas urbanas de alta densidade populacional, com escassa vegetação.

CAPÍTULO 3 ■  A POLÍTICA URBANA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO E OS MANANCIAIS SUL 

123

Figura 3.2: I lhas de Calor.

Fonte: Atlas Ambiental do Município de São Paulo, 2002.

Cumpre dizer que os indicadores ambientais dos distritos, combinados com os indicadores sociais anteriormente mencionados, que compõem e caracterizam o déficit e a inadequação habitacional, são de extrema importância para a elaboração de políticas setoriais e se refletem nas definições das priorizações de intervenção por microbacia indicadas pelo Sistema de Priorização de I ntervenções do Habisp, sendo fundamentais para a definição das áreas a serem atendidas pelos programas habitacionais e, em especial no caso desta pesquisa, pelo Programa Mananciais.

O sistema armazena um banco de dados, alimentado pelos técnicos de Habi e pela Sabesp. A partir da leitura de foto aérea ortorreferenciada, fornecida pela Sabesp com base no ano de 2003, é possível sobrepor legendas para identificar, com os cruzamentos dos dados georreferenciados, o tipo de assentamento e o grau de precariedade em que se encontra, que leva em consideração a instalação de redes de infraestrutura, localização em áreas de risco e a vulnerabilidade social39.

39 O grau de vulnerabilidade social é correspondente ao Í ndice Paulista de Vulnerabilidade Social

A construção do Sistema iniciou-se no âmbito do “programa de assistência técnica firmado entre a SEHAB e a Aliança de Cidades40 (Cities Alliance), intitulado Estratégias para o

Planejamento, Financiamento e I mplementação Sustentáveis da Política Habitacional e de Desenvolvimento Urbano”, conforme apresentado por Coelho e França (2008, p. 18). Dentro do escopo deste programa, foram desenvolvidos estudos buscando fundamentar a elaboração do Plano Municipal de Habitação (PMH), no âmbito da aprovação e revisão do Plano diretor Estratégico de São Paulo (2002-2012).

Para determinar o grau de priorização, foram definidos os seguintes indicadores: risco de salubridade; risco estrutural; risco de incêndio, risco de infraestrutura; vulnerabilidade social; risco de solapamento e escorregamento; saúde. Cada um desses indicadores, aplicáveis aos sistemas de priorização de cortiços ou assentamentos precários, recebe um peso, sendo que a composição dos fatores gera uma classificação para a área levantada. No caso das intervenções em assentamentos precários, uma das principais ações em área de mananciais, a priorização é dada pelo grau de precariedade, composto por quatro variáveis: atendimento por infraestrutura; risco geológico; vulnerabilidade social e saúde – e variando de 0 a 1.

No âmbito da gestão dos recursos hídricos e da obrigatoriedade de criação de um sistema georreferenciado de informações que contemple as ações nas Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais (APRMs), conforme disposto na nova legislação de proteção e recuperação dos mananciais, entende-se que a utilização do Habisp, com a alimentação dos dados realizada também pelos Subcomitês de Bacia, poderia ser mais do que providencial, uma forma de não dispersar a informação que com muito esforço procurou-se reunir nesta ferramenta.

E, dentro disso, é importante destacar, como de interesse para a gestão de recursos hídricos, a possibilidade que o Habisp oferece de monitoramento das ações realizadas pelo Poder Público. Conforme explica Herling (2008, p. 60), estão sendo elaborados41 cinco

40 A Aliança de Cidades (Cities Alliance), conforme explicam Coelho e França (Coords.) (2008, p. 116),

“é um consórcio internacional de cidades e organismos de desenvolvimento econômico e social comprometidos em encontrar soluções para a redução da pobreza”. Ela foi criada em 1999 pelo Programa das Nações Unidades para os Assentamentos Humanos (UN-HABI TAT), em conjunto com o Banco Mundial, com o objetivo de auxiliar os governos locais dos países em desenvolvimento a enfrentar dois desafios: o crescimento das favelas e a sustentabilidade socioambiental das pequenas e grandes cidades. A primeira parceria com a prefeitura de São Paulo foi firmada em 2001.

41 Os indicadores em elaboração são: 1. domicílios beneficiados um programa ou projeto; 2.

segurança de posse do imóvel; 3. incremento de domicílios com acesso a rede de água; 4. incremento de ligações de esgoto apropriadas; 5. densidade ocupacional do domicílio; 6. escolaridade do responsável pelo domicílio (como determinante de outros comportamentos); 7. renda média do responsável pelo domicílio (como determinante de outros comportamentos); 8. idade do responsável pelo domicílio (como determinante de vulnerabilidade) (HERLI NG, 2008, p. 60).

CAPÍTULO 3 ■  A POLÍTICA URBANA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO E OS MANANCIAIS SUL 

125

Outline

Documentos relacionados