• Nenhum resultado encontrado

França (op. cit., p. 155) que “o bairro-jardim se concretizou, embora não na totalidade do seu projeto e, até hoje, mesmo envolvido pela malha urbana desorganizada da região, man- tém seu desenho original”.

A ocupação popular cresce drasticamente na região a partir da década de 1940, con- forme registram Mendes e Carvalho (op. cit.), sendo especialmente associada às indústrias e empresas prestadoras de serviços que lá se instalaram, e em parte aos efeitos do aumento do preço da moradia nas áreas mais centrais e da redução de ofertas de aluguel, relaciona- das à Lei do I nquilinato5 de 1942.

Na década de 1940, juntamente com o avanço da área urbanizada, algumas decisões alteraram as condições urbanas da região, destacando-se a construção das Usinas Elevató- rias de Pedreira e Traição, iniciando a operação de reversão6 do rio Pinheiros – levando a

poluição do rio Tietê e afluentes ao reservatório Billings e acarretando desvalorização de seu entorno. As figuras 2.6 e 2.7 abaixo apresentam as usinas elevatórias.

Figuras 2.6 e 2.7. Usinas elevatórias de Traição ( esquerda) e Pedreira ( direita) .

Fonte: Governo do Estado de São Paulo (2010, p. 51)

Na década de 1970, constatada a utilização de quase toda capacidade hídrica da ba- cia do Alto Tietê e a dimensão do problema da ocupação habitacional precária, e conside- rando também, conforme salienta Martins (2006), o estado crítico de poluição da represa Billings – motivando operação de tratamento realizada pela Companhia Ambiental do Esta- do de São Paulo (CETESB) – foi promulgada a Legislação7 de Proteção aos Mananciais da

4 Diretor da Sociedade Anônima de Autoestradas, empresa formada a partir da dissolução da Derrom-

Sanson S/ A, responsável pela implantação inicial das avenidas na região, conforme apontam França (2010) e Mendes e Carvalho (2000).

5 Os efeitos dessa legislação no território do Município de São Paulo serão tratados no item 1 do capí-

tulo 3.

6 A reversão foi realizada com a intenção de aumentar a capacidade de geração de energia na Usina

hidroelétrica de Henry Borden, mediante o aumento do volume de água.

RMSP (LPM) – Leis Estaduais nº s 898/ 75 e 1.172/ 76, regulamentadas pelo Decreto Estadual nº 9.714/ 77 .

A existência de leis ambientais direcionadas à proteção dos mananciais constitui-se em importante instrumento de gestão e controle da produção do espaço urbano nessas á- reas ambientalmente frágeis. A partir da instituição dessas leis, busca-se orientar o uso e a ocupação do solo por um viés ambiental: visando preservar a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos, prioritariamente para o abastecimento público.

A partir de então, apontam Alvim, Bruna e Kato (op. cit., p. 45), foi definida a “área de proteção aos mananciais” da RMSP, abrangendo 27 municípios e, conforme destacam as autoras (Ibidem), “todos os reservatórios e rios que integram o sistema metropolitano de abastecimento de água, sendo eles: a leste – Ponte Nova, Taiaçupeba, Paraitinga, Biritiba, Jundiaí, I tatinga, I tapanhaú e Guaió; a oeste – Cotia e Pedro Breicht; ao norte – Cabuçu, Engordador, Juqueri e Jaguari; ao sul – Guarapiranga, Billings, Capivari – Monos”.

Essa legislação foi criticada por estudiosos do assunto, como Ancona (2002), no sen- tido de não olhar para as especificidades de cada local, considerando-os essencialmente sob o aspecto da qualidade das águas para abastecimento da população, o que, por outro lado, pela elaboração de estudos técnicos sobre a capacidade de absorção da poluição pelos cor- pos-d’água, pode ser entendido como um avanço, conforme também apontam Alvim, Bruna e Kato (op. cit.).

No início dos anos 1980, embora já na vigência da LPM, a poluição desses mananciais continuava sem solução. Conforme apresentado pelo Governo do Estado de São Paulo (op. cit., p. 52), data dessa época a criação do Conselho Estadual do Meio Ambiente –CONSEMA –, em cuja primeira reunião foi discutido o problema da poluição do Reservatório Billings. No ano de 1984, o Governo Estadual decide retornar parte das águas dos rios Pinheiros e Tietê ao curso natural e inicia o monitoramento da qualidade das águas da Billings. Em 1989, com a promulgação da Constituição Paulista, a reversão das águas dos rios Pinheiros e Tietê fica vetada, sendo autorizada apenas em casos de ameaças de enchentes.

Conforme aponta Silva (1997), entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990, os melhoramentos viários promovidos pelo Governo Municipal de São Paulo levaram à remo- ção de muitas famílias de baixa-renda das favelas em que residiam. Boa parte dessa popula- ção acabou se fixando em locais mais distantes daqueles que deixaram e, em muitos casos, nas áreas de proteção aos mananciais.

As taxas geométricas de crescimento anual (tgca) da RMSP verificadas entre as déca- das de 1970 e 2000 elucidam melhor a contribuição dos deslocamentos populacionais por período. Alvim, Bruna e Kato (op. cit.) ressaltam que as maiores taxas geométricas de cres-

CAPÍTULO 2    ■   LEGISLAÇÃO E PROGRAMAS PARA AS ÁREAS DE MANANCIAIS DA RMSP E A RECUPERAÇÃO DO ESPAÇO URBANO 

57

cimento anuais da população metropolitana foram registradas no período entre 1970 e 1980 (cerca de 4,46% na RMSP), havendo uma redução nas décadas de 1980 e 1990 (1,68% e 1,64% a.a., em 1980/ 1991 e 1991/ 2000, respectivamente). Nas últimas décadas, destacam as autoras (Ibidem, p. 62), “os fluxos internos ocorridos em seu território cada vez mais indi- caram o esvaziamento do centro e reforçaram a ocupação da periferia, particularmente nas áreas de proteção dos mananciais”, resultando em taxas “superiores à média registrada na metrópole, sendo algumas relativamente altas (acima de 3% ao ano)” nos mananciais sul.

A figura 2.8, a seguir, ilustra a taxa anual de crescimento das últimas duas décadas, podendo-se verificar a manutenção desaceleração da tgca nas APRMs Guarapiranga e Bil- lings (ao menos no Município de São Paulo).

Figura 2.8. RMSP – Taxas Geométricas de Crescimento Anual da população ( 1991-2000 / 2000-2007)

Fonte: Alvim, Bruna e Kato (op. cit., p. 75)

Atualmente, só no Município de São Paulo, cerca de 654.057 mil pessoas residem em assentamentos precários localizados nas áreas de proteção aos mananciais conforme dados da PMSP8 apresentados por Herling (2008). A figura 2.9, a seguir, apresenta a evolução da população total por localização na RMSP, evidenciando o crescimento populacional nos ma- nanciais sul. Em seguida, na figura 2.10, são apresentados os dados da população total por setor censitário nas duas sub-bacias, de acordo com dados do Censo Demográfico do I BGE.

Observa-se a predominância dos setores com população de 500 habitantes ou mais, entre-

8 Esses dados foram atualizados pela Fundação Seade a pedido da PMSP, tendo como base o ano de

2007. Não foram encontrados dados da população específica dos assentamentos precários dos ma- nanciais antes do ano de 2007.

tanto, conforme apresentado na sequência na figura 2.11, a densidade habitacional da maior parte da área dessas sub-bacias é baixa.

Figura 2.9. RMSP. População total 1991, 2000 e 2007.

Fonte: Alvim, Bruna e Kato (op. cit., p. 74).

Figura 2.10. Sub-bacias Guarapiranga e Billings. População total por setor censitário, 2000.

CAPÍTULO 2    ■   LEGISLAÇÃO E PROGRAMAS PARA AS ÁREAS DE MANANCIAIS DA RMSP E A RECUPERAÇÃO DO ESPAÇO URBANO 

59

Figura 2.11. Sub-bacias Guarapiranga e Billings. Densidade demográfica por setor censi- tário, 2000.

Fonte.: Alvim, Bruna e Kato (op. cit., p. 84).

As figuras acima evidenciam o crescimento populacional ocorrido nas últimas três dé- cadas na região dos mananciais sul, bem como o decréscimo ocorrido nas áreas mais cen- trais da RMSP. Bógus e Pasternak (2009) também ressaltam que o crescimento populacional na RMSP desde a década de 1980 tem diminuído. Nas periferias, com destaque para a região dos mananciais, o crescimento populacional também vem mostrando redução, especialmente em relação às décadas de 1960 e 1970. Esse comportamento reflete a redução da contribui- ção por migração, que foi significativa durante a década de 1970, de forma contraditória ao pretendido na Legislação de Proteção aos Mananciais.

No entendimento de Grostein (2001, p. 15) o processo de expansão da cidade infor- mal na referida década relaciona-se também à homogeneização praticada no zoneamento urbano, que ofereceu nesse período, não somente na área de proteção aos mananciais, “re- gras similares para situações desiguais”, demarcando grandes manchas (zonas extensas) sobre o território e funcionando, no entendimento desta pesquisa e em conjunto com a LPM, “como limitadores da oferta de moradias ou loteamentos no mercado regular”. Essa situa- ção, para a autora (Ibidem), acabou contribuindo “decisivamente para a escalada da ilegali- dade urbana”, cuja “reprodução e a permanência [ ...] apontam para a incapacidade recor-

rente do Estado em controlar e fiscalizar o uso e a ocupação do solo e atuar como controla- dor, financiador ou provedor de moradia para as populações com menos recursos”.

2 .1 .2 O pa pe l con t r a dit ór io da LPM e a sit u a çã o da ir r e gu la r ida -

Outline

Documentos relacionados