• Nenhum resultado encontrado

43garantia do direito à cidades sustentáveis,33 num momento que o Brasil já era considerado

essencialmente urbano.

Em suas diretrizes gerais, o Estatuto da Cidade reafirmou a “gestão democrática por meio da participação popular e de associados representativas” de grupos na elaboração, execução e acompanhamento da Política Urbana, bem como a importância da “cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os setores da sociedade no processo de urbaniza- ção, em atendimento ao interesse social” (incisos I I e I I I do art. 2º )34. Para Kato, Zioni e Bruna (Ibidem, p. 61-62), “a institucionalização de parcerias entre os setores público e pri- vado propõe medidas de correção das distorções sociais do crescimento urbano, incorporan- do a existência de conflitos e de disputas desiguais no interior da sociedade” e, além disso, utilizando-se dos instrumentos definidos no texto legal, pode “evitar a retenção especulativa dos imóveis e as distorções entre a capacidade e a real utilização de cada parcela da cida- de”.

A aplicação dos instrumentos da Política Urbana previstos no Estatuto da Cidade fica no próprio texto legal condicionada à elaboração do Plano Diretor Municipal, que também se torna obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, entre outras características35.

A figura desse instrumento como “elemento básico da política de desenvolvimento e expan- são urbana”, conforme define o art. 40 da referida Lei Federal, indica a legitimação da auto- nomia do Município em legislar sobre o seu território.

É importante salientar nesse sentido que, embora tenha autonomia, a legislação ur- banística municipal submete-se também às legislações estadual e federal existentes sobre os mesmos temas – o que é particularmente notável no caso de seus aspectos relativos à pro- teção ao meio ambiente – e, nesse sentido, deve sempre prevalecer o caráter legal mais restritivo36 ou, no caso da falta de amparo municipal para uma determinada questão, deve

33 O direito a cidades sustentáveis é definido no inciso I do art. 2º do Estatuto da Cidade como: “direi-

to à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, apara as presentes e futuras gerações”.

34 A condução das políticas urbanas no país fortaleceu-se particularmente com a criação o Ministério

das Cidades, em 2003, quando foi dado início à formulação da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), “o que têm possibilitado a construção de entendimentos sobre a questão urbana”, conforme entendem Kato, Zioni e Bruna (op. cit., p. 67).

35 Conforme disposto no art. 41 do Estatuto da Cidade, o Plano Diretor também é obrigatório para

cidades integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; onde se pretende aplicar o art. 182 da CF/ 88; integrantes de áreas de especial interesse turístico; e inseridas em área de influên- cia de empreendimentos de impacto ambiental de âmbito regional ou nacional significativos.

36 As competências são definidas pela Constituição Federal. Conforme disposto no inciso I I do art. 30

da CF, compete aos Municípios “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”, ou seja, em caso de competências concorrentes, este tem o poder de formular legislação que desdobre o conteúdo mais geral editado pelo Estado ou pela União, dentro do que lhe couber, ou ainda suprir a ausência de disposições legais sobre um determinado tema. Conforme salienta Passos (2007), “da omissão da competência concorrente deriva a competência suplementar”.

prevalecer a legislação das instâncias de governo superiores existentes sobre o tema, como será apresentado para o caso dos assentamentos precários em área de proteção e recupera- ção dos mananciais.

Por outro lado, outras ações associadas às políticas urbana e ambiental – como “pro- teger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”; “preservar flo- restas, a fauna e a flora”; “promover programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico” – são definidas no art. 23 da CF/ 88 como “competências comuns dos três entes federativos”. Essa situação, de “competência comum”, difere da competência concorrente, conforme esclarece Passos (2007), pois indica que pode ser simultaneamente exercida, ou seja, sem a prevalência entre os entes – como requer a competência concorrente. Além desse artigo, cabe mencionar também o artigo 255, que versa sobre o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito de todos e “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras ge- rações” (art. 255, CF/ 88).

No Município de São Paulo, no ano de 2003, entra em vigor o Plano Diretor Estratégi- co37 (PDE) – Lei Municipal nº 13.430 de setembro de 2002 – por meio do qual foi estabeleci-

da a descentralização da gestão do planejamento urbano nas 31 Subprefeituras, que ficam responsáveis pela elaboração do zoneamento de uso e ocupação do solo de sua porção terri- torial. Para acompanhar a aplicação do PDE, analisar casos não previstos e esclarecer dúvi- das, entre outras competências, foi constituída a Câmara Técnica de Legislação Urbanística38

(CTLU), com membros da sociedade civil e aberta à participação popular.

Dois anos após a aprovação do PDE e em complementação ao mesmo, foi promulga- da a Lei Municipal nº 13.885 de 2004, que trata do uso e ocupação do solo no Município de São Paulo, na qual constam em anexo os Planos Regionais Estratégicos (PRE), elaborados pelas 31 subprefeituras. Os PRE, seguindo as diretrizes colocadas pelo Plano Diretor, estabe- lecem objetivos e diretrizes específicos para o desenvolvimento urbano e ambiental em seu território, caracterizando um importante avanço na descentralização do planejamento urbano e da gestão.

37 Conforme apontam Bernadini e Montandon (2010, p. 84), o Plano Diretor em vigor anteriormente

(Lei M. nº 10.676/ 88) “havia sido aprovado pelo expediente autoritário do decurso de prazo – ou seja, não foi aprovado por votação dos vereadores na Câmara Municipal e nem tampouco passou por audi- ências públicas para consulta popular”. A promulgação do Estatuto da Cidade condicionou os municí- pios com mais de 20.000 habitantes a elaborarem ou revisarem os seus Planos Diretores.

CAPÍTULO 1    ■   PRODUÇÃO E GESTÃO DO ESPAÇO URBANO NAS APRMs DA RMSP:CONFLITOS E PERSPECTIVAS 

45

Outline

Documentos relacionados