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CAPíTULO 2. O FENÓMENO TURÍSTICO: DESENVOLVIMENTO E

2.4. Do planeamento ao desenvolvimento competitivo e sustentável dos destinos

2.4.1. Desenvolvimento turístico e planeamento participativo

No contexto do desenvolvimento turístico, o planeamento revela-se um fator essencial e constitui um estímulo à sustentabilidade, uma vez que antecipa a identificação de consequências nefastas do turismo e, dessa forma, possibilita a prevenção da insatisfação de residentes e turistas. O desenvolvimento turístico deve, no entender de muitos autores tais como Formica e Uysal (1998), Gunn (1994) e Inskeep (1994), ser baseado no processo de planeamento, assente no reconhecimento dos recursos dos destinos e na sua potencial atratividade.

A questão da medição dos recursos turísticos tem sido objeto de preocupação e estudo por parte dos governos e académicos e reflete-se nos planos turísticos como condicionante do desenvolvimento a longo prazo dos destinos turísticos, nomeadamente em destinos focados na sua revitalização e atratividade duradoura (Formica e Uysal, 1998, Mcintoch e Goeldner, 1990).

O reconhecimento dos benefícios, mas também dos problemas associados ao desenvolvimento turístico, para territórios e residentes, resulta no estudo dos impactos

do turismo em várias áreas, incluindo a do marketing dos destinos, que enfatiza a necessidade de planeamento destes territórios.

As ações de planeamento e de marketing têm sido orientadas, em primeiro lugar, para o turista e para as suas necessidades, mas reconhece-se atualmente que este planeamento deve incluir um esforço para ter em conta a vontade dos residentes. O planeamento assume cada vez mais uma abordagem holística, que inclui preocupações com a qualidade de vida dos residentes, influenciada pelo turismo, a preocupação central deste estudo.

De forma progressiva, nas últimas décadas, o planeamento em turismo impõe-se como uma necessidade real para os destinos e, como afirma Costa (2006:236) ”the re- invention of tourism planning has come to the top of the planers agenda”.

Diversos autores têm vindo a desenvolver modelos de análise e de gestão estratégica para o setor do turismo que permitem organizar metodologicamente todo o processo de planeamento desta atividade. Como exemplos paradigmáticos destas modelizações podem-se apontar: (i) o modelo turístico de Getz (1986), que começa por ser desenvolvido em 1970 e se baseia na perspetiva do planeamento físico, integrando a teoria e a prática através da identificação do problema e das soluções possíveis, numa interação entre as fases de diagnóstico e planeamento, implementação e monitorização; (ii) o modelo de Mill e Morrison (1992) que se aplica essencialmente à política turística no planeamento desta atividade e permite fazer o levantamento das características do território e estabelecer ligações com a população residente e com as necessidades do destino; 14 (iii) o modelo Alberta (Gunn, 1994) que identifica várias fases no processo de planeamento, desde o inventário dos recursos até à sua implementação, destacando o papel das entidades com responsabilidade a este nível; (iv) o modelo proposto por Inskeep (1991), acima referido, que tem como núcleo central tem o ambiente socioeconómico e ambiental, circundado por vários elementos infraestruturais, dizendo o último respeito aos diferentes mercados e à utilização das atrações pelos residentes; (v) o modelo baseado na relação Produto – Espaço, proposto por Costa (2001) para a

14 Neste modelo a política do turismo surge da junção dos objetivos turísticos com os constrangimentos encontrados da análise

construção da estratégia/política em várias dimensões; 15 (vi) o modelo proposto por Ritchie e Crouch (2003), que agrupa as ideias presentes nos modelos anteriormente referidos e de outros existentes e se assume como um modelo de competitividade do destino, partindo do levantamento dos recursos para identificar os que podem constituir os fatores críticos de sucesso ou o recurso ou atração considerada o “core” e que prevê a gestão planeada do destino, incluindo a definição de políticas e planos de desenvolvimento e qualificação da oferta.

Como Costa (2006) refere, modelos como os de Getz (1986), Mill e Morrison (1992) e Inskeep (1991), revelam que o planeamento turístico, entre 1980 e 1990, começou a emergir como uma disciplina distinta e diferenciada do planeamento urbanístico das cidades, apesar de muito associado ao mesmo, apresentando um caráter estratégico e não apenas físico como até então.

O planeamento turístico, depois de 1990, e ainda segundo Costa (2006:238), apresenta uma nova fase no seu processo evolutivo, marcada essencialmente por uma maior representatividade do setor privado, o que se revela deveras decisivo em todo o processo de planeamento e desenvolvimento turístico. A este propósito, o autor referenciam os modelos de planeamento turístico de Pearce (1982) e Costa (1996) que contemplam já esta perspetiva participativa no processo de tomada de decisão para o planeamento, nomeadamente com a inclusão das organizações do setor privado e das comunidades locais.

Em qualquer destas abordagens está presente a necessidade de existir um exaustivo estudo preparatório que inclua referências credíveis, levantamento das características da realidade em causa, sua análise e síntese, formulação de objetivos claros, identificação de políticas e preparação do projeto propriamente dito, onde se incluam os planos de ação e a sua forma de implementação e monitorização.

De forma a atuar com maior objetividade em toda a cadeia de produção e comercialização dos produtos turísticos, este levantamento pressupõe que se conheça

em pormenor o setor do turismo, passando pelos diferentes intervenientes e pelas relações que entre eles se estabelecem (operadores turísticos, agências de viagens, transportes, alojamento e restauração, atividades e serviços de apoio e infraestruturas).

É portanto fundamental a recolha de informação sobre a procura atual e potencial (por exemplo as características dos visitantes e as tendências do mercado), sobre a oferta, no que respeita aos recursos naturais e patrimoniais (muitas vezes os mais determinantes para a procura turística), sobre o tecido empresarial e seus recursos humanos (incluindo as questões relacionadas com a formação e a educação), sobre os recursos dependentes dos organismos públicos (determinantes das condições políticas, legais e físicas de usufruto do território por parte dos visitantes e da sua partilha com a população local).

A gestão do destino, para o seu desenvolvimento, é encarada por (Weaver, 2000) num contexto amplo, em que quatro possibilidades se apresentam (ver figura 2.2.), conforme o volume de negócios turísticos existentes e o grau de regulação organizacional no mesmo. O autor apresenta um modelo de gestão de destinos turísticos, que foi aplicado à Gold Coast na Austrália.

Figura 2.2 – Possibilidades do destino

Alternativas deliberadas para o turismo (ADT) Turismo de massa sustentável (TMS) Alternativas circunstanciais para o turismo (ACT) Turismo de massa não sustentável (TMNS)

Neste modelo o autor identifica quatro possibilidades de desenvolvimento, associando o grau de regulação à intensidade turística, realçando assim que, conforme o número de turistas que afluem ao destino, assim a maior ou menor exigência em termos de regulação e o leque de opções em termos de oferta turística. O autor identifica quatro hipóteses: (a) Alternativas deliberadas para o turismo (Deliberate Alternative Tourism) (b) Alternativas circunstanciais para o turismo (Circunstancial Alternative Tourism); (c) Turismo de massas sustentável (Sustainable Mass Tourism); (d) Turismo de massas não sustentável (Unsustainable Mass Tourism). As situações a) e c) são aquelas que pressupõem a deliberada definição de objetivos estratégicos e, por isso, as mais desejáveis do ponto de vista do desenvolvimento do destino.