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CAPíTULO 2. O FENÓMENO TURÍSTICO: DESENVOLVIMENTO E

2.1. Natureza e emergência do turismo

A inevitabilidade do turismo é marcante na sociedade atual. Trata-se de um fenómeno social da modernidade, de dimensão global e com manifestações diferenciadas nos territórios, que se veem progressiva ou drasticamente transformados em destinos. Considera-se, como Kastenholz refere, que o turismo pode ser considerado um fenómeno omnipresente na sociedade moderna (Kastenholz, 2002).

Atualmente, no mundo ocidentalizado e nas regiões destino, todos estão, de alguma forma, envolvidos no fenómeno turístico: porque são turistas ou porque não podem ou não o querem ser; porque trabalham no turismo ou para ele; porque são responsáveis pelo desenvolvimento dos lugares; porque lhes cabe a função de garantir o equilíbrio no desenvolvimento dos mesmos ou ainda porque acolhem os turistas. A realidade descrita, e que se vive atualmente, nem sempre se configurou desta forma. Assistiu-se a uma evolução que conduziu à transformarão de uma prática esporádica e apenas acessível a alguns, num hábito e necessidade da maioria, constituindo até, segundo (Nash, 1996), uma “terapia social” e aquilo a que o autor designa “viagem sagrada”. Trata-se de um novo paradigma na relação trabalho – lazer, e na vivência do quotidiano que se faz, grande parte das vezes, pelo turismo (Graburn, 1983).

O desenvolvimento turístico é muitas vezes apontado como um fenómeno positivo associado à sua vertente cultural, uma vez que põe em contacto indivíduos com origens, práticas sociais e culturais diferenciadas (Besculides et al., 2002; Richards, 2011). O turismo tem sido entendido como uma prática capaz de promover a troca cultural, o desenvolvimento social, o entendimento e a paz entre os povos e, não sendo uma indústria poluente, tem sido também considerada uma forma adequada e promissora de desenvolvimento dos territórios, sendo mesmo encarada como uma atividade promotora do ambiente(Butler e Butler, 2007; Oviedo-Garcia et al., 2008).

Contudo, esta visão sobre o turismo tem vindo a sofrer alterações ao longo dos anos, devido às consequências originadas pela sua difusão, evolução e dimensão, uma vez que o seu desenvolvimento não só beneficia os territórios onde ocorre mas também origina consequências negativas (Allen et al., 1988; Ap e Crompton, 1998; Belisle e Hoy, 1980; Cummins, 1997; Diener e Fujita, 1995; Haralambopoulos e Pizam, 1996; Jurowski e Gursoy et al. 2004; Lankford et al., 1994; Liu e Var, 1986; Madrigal, 1993; Pearce et al., 1996; Perdue et al., 1990; Pizam, 1978; Sheldon e Var, 1984).

Assim, o turismo é hoje entendido, pela maioria, como um fenómeno marcante e determinante da evolução e desenvolvimento dos destinos, originando neles um compósito de consequências que se revela diferente em cada território em função das

tipo e frequência da procura turística. Esta alteração de perspetiva que veio a verificar- se relativamente ao fenómeno turístico será desenvolvida com maior detalhe no capítulo 3, dedicado aos impactos do turismo.

Apesar do reconhecimento dos impactos negativos associados ao turístico, as dinâmicas originadas pelo seu desenvolvimento tornaram esta atividade o fator chave do progresso social e económico de muitos países e regiões. Esse crescimento, segundo a Organização Mundial de turismo (UNWTO, 2011), “anda de mãos dadas” com a crescente diversificação e competitividade entre os destinos.

Como já foi referido na introdução deste estudo, o turismo é, indubitavelmente, uma atividade económica de extrema importância e constitui um motor de desenvolvimento para as regiões onde está presente, contribuindo para o aumento significativo do produto interno bruto e dos postos de trabalho, promovendo o desenvolvimento de infraestruturas e impulsionando, graças ao seu efeito multiplicador, outras atividades económicas e profissionais (Pratt, 2011). Para a (UNWTO, 2011), o turismo contribui para a atividade económica mundial em cerca de 5% e para o emprego em cerca de 6 a 7%. Ao nível das chegadas internacionais de turistas verifica-se, segundo a mesma fonte, desde 1950, um aumento anual de 6,2%, atingindo no último ano os 940 milhões de turistas. A mesma fonte refere que, entre janeiro e agosto de 2012 se registaram internacionalmente 705 milhões de chegadas de turistas o que representa mais 28 milhões do que o número registados no mesmo período em 2011. Na Europa, apesar das dificuldades económicas, regista-se 3% de crescimento relativamente ao ano de 2011.

À semelhança do que ocorre mundialmente, Portugal tem também beneficiado da atividade turística que se revela dinamizadora da economia do país e constitui um elemento determinante para a sua competitividade para o aumento do PIB e para o crescimento do emprego. No que respeita ao Algarve, onde se situa o concelho em estudo, a região atingiu, no ano de 2009, os 5.06.801 passageiros, apesar do decréscimo de 7,1 %relativamente ao ano anterior (ANA, 2011) e apresentou 2.739.621 hóspedes instalados em estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos, o que revela a importância turística da região.

A importância do turismo, enquanto atividade económica e fenómeno social das massas, dos segmentos ou dos nichos, é inquestionável e reconhecida pelo setor público, pelas empresas do setor do turismo e de outros setores, pelas organizações não lucrativas, pelos residentes e pelos académicos e estudiosos da matéria, que lhes dedicam cada vez mais atenção, no sentido de perceber como se caracteriza e assim poder agir em conformidade. Neste contexto, os organismos públicos responsáveis pelo desenvolvimento dos territórios assumem um papel preponderante na medida em que lhes cabe a função de propiciar as condições necessárias para que a atividade turística se possa desenvolver de forma sustentável. Em Portugal, várias medidas têm vindo a ser tomadas neste sentido, nomeadamente a inclusão, nos sucessivos programas governamentais, da vertente turística como um fator prioritário com vista ao desenvolvimento e à competitividade do país e a elaboração de programas estratégicos e operacionais para que este desenvolvimento ocorra da forma melhor forma para o país.6

O XIX Programa do Governo (GP, 2011: 51) a propósito dos seus objetivos estratégicos, e perante a crise económica e financeira que o país enfrenta, realça a importância do turismo consubstanciada nos seguintes aspetos:

Diferenciação e autenticidade do serviço e do produto, com presença numa combinação de mercados que reduzam as debilidades atuais de concentração em mercados e produtos, através da incorporação de elementos de inovação, eficiência na gestão dos recursos financeiros e regulação da atividade, com vista ao reforço da competitividade e massa crítica dos agentes económicos na cena internacional.

Esta definição de objetivos estratégicos apresentada revela-se importante no contexto do presente estudo, não só pelo facto de serem definidos pelo Governo, principal responsável e dinamizador da atividade turística mas por fazer referência à importância da diferenciação e da autenticidade, o que, neste estudo se acredita ser possível, fundamentalmente, através da participação ativa e motivada dos residentes dos destinos.

Ainda no mesmo programa, o governo português enfatiza a necessidade de adoção de medidas que permitam (i) “criar mecanismos e instrumentos de apoio” às empresas turísticas, fatores determinantes da competitividade das mesmas e promotores da empregabilidade; (ii) “reforçar a atratividade turística” através do ordenamento do espaço, ambiente, transportes, saúde, mar e cultura; (iii) “reforçar a ação reguladora e a visão estratégica partilhada entre atores públicos e privados”; (iv) incrementar o Turismo Sénior, o Turismo para Emigrantes e o Turismo para Cidadãos com deficiências e incapacidades, o Turismo Religioso e o Turismo de Saúde; (v) “aumentar o crescimento da receita por turista”; (vi) “simplificar a legislação do turismo”.

O governo considera ainda que é determinante a aposta na “Marca Portugal”, a recuperação de mercados estratégicos e a afirmação do mercado interno como prioritário e a promoção de novos conteúdos de valorização do destino Portugal, com base na história, valores partilhados e autenticidade do produto turístico, em cooperação com as indústrias criativas. Constata-se, desta forma, a importância reconhecida por parte do poder político, em relação ao turismo e ao seu papel preponderante no desenvolvimento do país.

Outros aspetos relevantes que demonstram a dimensão e reconhecimento da importância política, social e económica do turismo são, por um lado, a oferta formativa especializada a nível universitário na área do turismo (Eurico, 2011) e (Jafari, 2005), por outro lado, as publicações neste domínio que proliferam nos últimos anos, assumindo natureza científica, técnica, jornalística ou literária.