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CAPíTULO 3. OS RESIDENTES FACE AO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

3.2. Perceções e atitudes dos residentes face ao turismo

3.2.4. Perceção dos impactos sociais

Os impactos sociais do turismo revelam-se de forma menos imediata e mais subtilmente que os impactos económicos anteriormente descritos, estando contudo intimamente a eles associados. Estes impactos correspondem a alterações, por exemplo, ao nível do comportamento moral, da estrutura familiar, dos papéis sociais ou dos hábitos religiosos.

Alguns dos impactos mais evidentes e frequentemente apontados como resultantes do desenvolvimento turístico nos destinos são os que invocam a melhoria da qualidade de vida dos residentes e a mudança nos papéis sociais desempenhados e na estrutura social da comunidade. Burns (1996), com base num estudo desenvolvido junto de 112

residentes entrevistados, refere que os impactos mais valorizados pelos residentes são os socioculturais.

Como fatores positivos impulsionados pelo turismo a literatura refere com frequência as melhores infraestruturas básicas e de apoio às atividades, direta e indiretamente associadas ao turismo, a maior e melhor oferta de serviços e comércio e a maior e mais diversificada oferta recreativa fora de casa (Lankford et al., 1994; Liu e Var, 1986).

O efeito positivo do turismo na melhoria dos serviços locais está também representado na literatura. Sethna e Richmond (1978) referem que os residentes das ilhas da Virgínia consideram que a receita que advém do turismo permite melhorar os serviços públicos e Pizam (1978) reconhece que, em Cape Cod, os residentes percecionam os efeitos positivos do turismo nos serviços locais.

Allen et al. (1993) fazem notar que os residentes reconhecem que o desenvolvimento turístico aumenta a sensibilidade dos responsáveis para alterar e melhorar os serviços públicos. No entanto, conclui que a satisfação dos residentes com estes serviços e a disponibilidade dos mesmos é mais uma função da dimensão da população do que do impacto turístico.

Os efeitos positivos do turismo, na esfera do social, na perspetiva dos residentes, podem ser sintetizados, segundo Easterling (2004), como estando associados a fatores como a revitalização das práticas tradicionais (Besculides et al., 2002; Dekadt, 1979); o aumento da procura de artesanato e outras oferta locais e tradicionais (Ap e Crompton, 1998; Liu e Var, 1986); o aumento do orgulho de pertença à comunidade e reforço da coesão social (Ap e Crompton, 1998); o aumento da qualidade de vida dos locais, em termos globais (Burns, 1996; Milman e Pizam, 1988; Perdue et al., 1990; Pizam, 1978).

É frequente, na literatura na área do turismo, o estudo das consequências diretas da interação entre os turistas e os residentes. Neste contexto, é normalmente referido o efeito de demonstração que diz respeito às alterações no comportamento dos residentes,

Para Fisher (2004) é necessário que este efeito seja isolado de outros fenómenos causadores de alterações do comportamento. O autor defende que o efeito pode ocorrer de quatro formas: imitação exata, imitação deliberada inexata, imitação acidental inexata e aprendizagem social. Cada uma destas formas decorre do processo que se inicia quando o potencial imitador (o residente) entra em contacto com o demonstrador (o turista). Fisher (2004) defende que, ao perceber como as decisões são tomadas, se pode distinguir entre as que resultam deste contacto e as que têm outra origem.

De uma forma geral, a literatura aponta, como resultado do desenvolvimento turístico, o aumento dos problemas sociais e dos comportamentos antissociais, a demasiada concentração de pessoas nos espaços públicos, as alterações associadas à prática religiosa, o aumento e congestionamento do trânsito, dos níveis de criminalidade e de prostituição, o aumento do consumo de álcool e de drogas. Exemplo disto são os estudos de Kim e Crompton (1990), que verificam que os residentes percebem o turismo como um fator que origina o incremento do alcoolismo e do crime e o estudo de Smith (1992b), que vem suportar o ponto de vista de que o desenvolvimento turístico tende a desenvolver a prostituição, o abuso de drogas, as doenças sexualmente transmissíveis e aumenta a corrupção policial.

No entanto, também existem estudos, como o de Liu e Var (1986), no Hawaii, em que os resultados apontam para uma associação ao turismo, por parte dos residentes, em apenas 37% dos casos de crimes e o de Allen et al. (1993) que revela, de uma forma geral, fraca perceção por parte dos residentes da relação entre crime e turismo. Murphy e Tan (2003) também conclui que há diferenças na forma como, entre os residentes com diferentes papéis sociais e profissões, os impactos sociais do turismo são percecionados. Outros autores realçam que o turismo é por vezes apontado como originado alterações na sociedade tradicional e deterioração da cultura tradicional e dos costumes dos países recetores (Ahmed e Krohn, 1992; Backman e Backman, 1997)

No que respeita ao congestionamento, Rothman (1978) conclui que este facto e os grandes aglomerados populacionais levam a que os residentes evitem, sempre que lhes é possível, realizar as suas atividades quotidianas durante os picos de procura turística. É neste sentido que o estudo de Liu e Var (1986a) aponta, ao referir que os residentes

reconhecem que o congestionamento das vias rodoviárias, dos estacionamentos e nas lojas se deve ao turismo. Muitos outros estudos também demonstram que os residentes referem o trânsito como o maior problema originado pelas atividades turísticas (Keogh, 1990; Long et al., 1990; Prentice, 1993).

Contudo, Davis et al. (1988) alertam para o facto de as perceções dos residentes sobre o congestionamento do trânsito serem menos graves do que as que se podiam prever. O estudo destes autores, realizado junto de residentes na Florida, revela que estes não acreditam que os problemas do trânsito desaparecessem se não houvesse turismo.

Um conceito intimamente associado ao fenómeno do congestionamento é o da capacidade de carga44, definida na literatura como o momento em que o nível de tolerância por parte dos residentes e do território é excedido (Belisle e Hoy, 1980).

Os impactos sociais negativos do desenvolvimento turístico, percecionados pelos residentes, podem, no entender de Easterling (2004) ser sintetizados como estando relacionados com o aumento da prostituição (Belisle e Hoy, 1980; Liu et al., 1987; Liu e Var, 1986); destruição das relações comunitárias habituais, acentuando a divisão de classes e aumentando o conflito social (Allen et al., 1988; Brayley et al., 1990; Krippendorf, 1987), aumento progressivo do comportamento hostil dos residentes para com o turismo e aumento do conflito (Dogan, 1989; Doxey, 1975; Husband, 1989); aumento do stress dos residentes e maiores exigências de horários de trabalho para os trabalhadores (Brayley et al., 1990).

Verifica-se que a perceção dos residentes sobre os impactos sociais do turismo, apesar de, na globalidade, revelar o reconhecimento de benefícios desta atividade, enfatiza os impactos negativos pelo facto de, por um lado, reconhecerem alterações importantes na vivência social associada a práticas tradicionais e culturais, por outro, interferirem com a vida quotidiana e, em alguns casos, com questões associadas à segurança e à saúde da comunidade.

Pretende-se, nesta investigação, verificar se, efetivamente, para o caso do concelho de Loulé, se verifica esta dupla perceção e medir a sua importância relativa.