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CAPíTULO 3. OS RESIDENTES FACE AO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

3.2. Perceções e atitudes dos residentes face ao turismo

3.2.6. Perceção dos impactos ambientais

Os estudos revelam que os residentes percecionam também positiva e negativamente os impactos ambientais da atividade turística. Alguns referem que o turismo ajuda a criar uma maior sensibilidade e apreciação relativamente ao meio ambiente, originando maiores investimentos em infraestruturas de suporte. Outros entendem o turismo como uma “indústria limpa”, sem problemas ambientais

associados, se comparada com outras indústrias e, por isso, apoiam o seu desenvolvimento.

Os residentes expressam a sua opinião concordante relativamente a afirmações que sugerem que o turismo aumenta e melhora a aparência do seu espaço de residência e arredores ou que aumenta a qualidade das atrações e promove a manutenção dos parques nacionais (Perdue, 1987).

No entanto, Pizam (1978) verificou que, na opinião dos residentes, o turismo afeta negativamente a qualidade da água e aumenta o nível de ruído e de lixo existindo um número crescente de residentes a reconhecer que os impactos ambientais do território, tais como o aumento da poluição, a destruição dos recursos naturais, a degradação da vegetação e da vida selvagem ocorrem de forma mais intensa devido ao turismo (Ahmed e Krohn, 1992; Andereck, 1995; Coppock, 1977; Var, 1993)

Associado ao problema da relação entre poluição e turismo, os transportes são um dos principais problemas, uma vez que as deslocações, nomeadamente o transporte aéreo, se desenvolveram muito com o turismo e apresentam consequências nefastas e irreversíveis a nível ambiental. A literatura refere que se verifica um aumento da poluição do ar nas épocas altas de procura turística (Andereck, 1995; Coppock, 1977; Romeril, 1985; Var, 1993) adverte para o facto de os recursos hídricos, um dos principais atrativos turísticos, sofrerem frequentemente, vendo aumentados os seus níveis de poluição.

O aumento dos resíduos sólidos, resultado da grande concentração humana provocada pelo desenvolvimento turístico, é outra evidência dos impactos negativos da atividade, o que se torna particularmente preocupante em destinos com menor capacidade para tratar esses resíduos (Andreck, 1995). Os estudos de Lankford e Howard (1994), mostram que os residentes sentem que o turismo acarreta mais lixo e problemas associados e Liu e Var (1986) no Hawaii, identificaram respostas de 62% dos residentes com o sentimento de que o governo deveria tomar medidas de proteção ambiental em vez de encorajar o aumento do número de visitantes.

Ainda sobre os impactos negativos do turismo no ambiente, Vickerman (1988) adverte para o facto de o conhecimento em relação aos efeitos do turismo na vida selvagem ser limitado e Liu et al. (1987) realçam que os residentes no Havaii não concordam com as afirmações de que os benefícios económicos são mais importantes que os ambientais ou que o turismo não contribui para a degradação ambiental. A maior parte de estudantes inquiridos por Brayley e Var (1989) não concorda que o turismo conserve o ambiente natural.

Também os estudos de Sheldon e Var (1984) revelam que os residentes do norte do País de Gales admitem que o turismo tem um papel importante na degradação ambiental. No entanto, há a confiança de que, com um planeamento a longo prazo, é possível controlar os impactos negativos do turismo no ambiente.

Easterling (2004) identifica vários estudos que abordam esta temática dos impactos negativos do turismo, percebidos pelos residentes, organizando-os por grandes domínios: aumento da poluição (Akis et al., 1996; Gunn, 1994; Lawson et al., 1998; Pizam, 1978; Rothman, 1978; Tyrrel e Spauling, 1984); destruição da beleza natural e diminuição da tranquilidade, (Akis et al., 1996; Ap e Crompton, 1998; Faulkner e Tideswell, 1997); maior densidade humana nos mesmos espaços (Akis et al., 1996, Ap e Crompton, 1998; Brougham e Butler, 1981; Liu e Var, 1986; Var, 1993); aumento do trânsito e tráfego congestionado (Akis et al., 1996; Ap e ;Crompton, 1998; Bro;ugham e Butler, 1981; Perdue et al., 1990); maior dificuldade em utilizar espaços públicos (Cook, 1982; Gunn, 1994; Kendall e Var, 1984).

A questão dos impactos ambientais do turismo suscita particular preocupação pelo facto de se tratar, em grande parte dos casos, de interferências definitivas nas condições físicas do território, uma vez que os recursos dos destinos são limitados e particularmente frágeis.

Esta situação é um dos aspetos importantes no contexto do presente estudo, pela fragilidade do território, particularmente nas zonas protegidas existentes no concelho de Loulé em várias freguesias, tanto do litoral como do interior.

Síntese conclusiva

Este capítulo da revisão da literatura, dedicado aos estudos sobre as perceções e atitudes dos residentes face ao turismo, explicita a importância desta temática entre os estudiosos e para a indústria turística, revelando a forma como este reconhecimento tem vindo a ganhar evidência ao longo dos anos.

Esta circunstância resulta dos efeitos do desenvolvimento do turismo nos destinos e na comunidade, constatando-se que os residentes percebem o turismo de formas diversificadas, condicionadas, em grande parte dos casos, pela sua dependência relativamente a este e tendo em conta a sua proximidade pessoal ao fenómeno na vida quotidiana.

Os estudos apresentados indicam-nos alguma homogeneidade de perceções e atitudes dos residentes em vários locais relativamente ao turismo. Por um lado, os residentes percebem, valorizam e reconhecem o importante papel desempenhado pelo turismo na qualidade de vida do destino e na sua própria qualidade de vida, mas, por outro lado, identificam os impactos negativos do turismo e opõem-se, em algumas circunstâncias, ao seu desenvolvimento.

O capítulo reporta alguns dos mais importantes contributos na área do turismo, para a avaliação das atitudes e perceções dos residentes, relativamente ao turismo (Gursoy et al., 2004; Haralambopoulos e Pizam, 1996; Mason e Cheyne, 2000); e para a criação de escalas de medição destas atitudes e perceções face ao desenvolvimento turístico (Ap e Crompton, 1998; Lankford e;t al., 1994; Perdue et al., 1990).

CAPíTULO 4. QUALIDADE DE VIDA DOS RESIDENTES DOS