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Regiões naturais do concelho de Loulé: desenvolvimento turístico

CAPíTULO 5. O ALGARVE E O CONCELHO DE LOULÉ

5.2. Regiões naturais do concelho de Loulé: desenvolvimento turístico

As onze freguesias do concelho de Loulé (Almancil, Alte, Ameixial, Benafim, Boliqueime; Quarteira, Querença, Salir, São Clemente, São Sebastião e Tôr) apresentam níveis de desenvolvimento turístico distintos pelo que são consideradas de forma independente neste estudo, associadas às regiões naturais em que se inserem no concelho (Litoral, Barrocal e Serra), de forma a analisar a eventual influência que este fator distintivo pode ter nas perceções dos residentes sobre o turismo na sua qualidade de vida.

Figura 5.3 – As zonas endafo-climáticas do Algarve e a distribuição das freguesias do concelho de Loulé, por regiões naturais

Fonte: Adaptado de Lopes e Monteiro (2010) e de Vicente e Silva (2006:20)

Para o estudo empírico, e concretamente para a definição da amostra e subsequente aplicação dos questionários aos residentes, utilizou-se o critério político- administrativo uma vez que, desta forma, se tinha acesso aos dados sobre o universo através das estatísticas do INE. No entanto, para uma análise posterior, utiliza-se a organização por regiões naturais. Desta forma, associam-se as freguesias à região natural a que pertencem, tendo em consideração a localização geográfica da maior parte da área geográfica onde a freguesia se situa. Daqui resulta que as freguesias que se consideram pertencer ao Litoral são as de Almancil e de Quarteira. A região do Barrocal é a que concentra a maior parte das freguesias do concelho: Boliqueime, S. Clemente, S. Sebastião, Alte, Benafim, Tôr e Querença. Neste caso, há que realçar os casos particulares das freguesias de S.Clemente e de S. Sebastião (situadas na cidade de Loulé, sede de concelho), por serem freguesias maioritariamente urbanas, embora ambas incluam também zonas rurais. É ainda de referir a freguesia de Alte, que se situa em parte na zona de Barrocal mas que possui uma grande extensão na zona considerada Serra; neste caso optou-se por incluir Alte na zona do Barrocal pela sua proximidade não só geográfica mas também socioeconómica da freguesia vizinha de Benafim. Na zona natural da Serra incluem-se, neste estudo, as freguesias do Ameixial e de Salir. Salir, a maior freguesia do concelho, está situada maioritariamente na zona da Serra,

pelo que se decidiu incluí-la nesta região, apesar da sede de freguesia se situar na região do Barrocal.

O Litoral possui uma faixa costeira com cerca de 13,5km, com praias extremamente atrativas de areia fina e temperaturas médias da água do mar na ordem do 22.º C, e engloba também a zona que se estende aproximadamente em 12km para norte. Trata-se de uma região natural com grande capacidade de oferta turística. Aqui situam- se algumas das melhores estruturas turísticas do Algarve e do país, pelo que este local se apresenta como um dos principais destinos de férias para portugueses e estrangeiros. Podem-se destacar, no Litoral do concelho de Loulé e a título ilustrativo, a zona de Vilamoura e a sua marina, internacionalmente reconhecida, a variedade de alojamentos turísticos, nomeadamente a hotelaria de 4 e 5 estrelas que constitui grande parte da oferta da zona; os internacionalmente reconhecidos empreendimentos turísticos de Vale do Lobo e da Quinta do Lago, uma oferta concentrada de campos de golfe de excelência, restauração, atrações culturais, como por exemplo as ruínas romanas do Cerro da Vila em Vilamoura e parques temáticos.

O Litoral possui a maior densidade populacional do concelho e caracteriza-se, também em termos populacionais, pela sua grande diversidade. Nesta zona convivem, diariamente, a população oriunda do local e estrangeiros residentes no local, por razões de lazer e/ou de trabalho. Na verdade, neste espaço encontram-se residentes provenientes do Reino Unido e do norte da Europa, que escolhem o Algarve para residir de forma permanente ou durante alguns períodos de tempo alargados, ao longo do ano. Também residem nesta zona pessoas provenientes de África, Brasil ou países do leste europeu, que procuram, fundamentalmente, melhores oportunidades de trabalho.

A principal atividade económica e social no litoral do concelho de Loulé reside nos serviços. Neste contexto, são particularmente importantes as atividades diretamente relacionadas com o turismo (por exemplo, a hotelaria, os operadores turísticos e as agência de viagens, as rent-a-cars) mas também se destacam outras atividades económicas impulsionadas pelo desenvolvimento turístico, por exemplo na área dos serviços e do comércio.

No Barrocal e na Serra do concelho de Loulé as freguesias apresentam características de ruralidade e baixas densidades populacionais (que se revelam inferiores às da região Litoral e à média do país). Nestes territórios de interior, com um índice de envelhecimento acentuado, 133.4,82 (Pordata, 2012), apesar do esforço que tem sido feito pelas entidades competentes para reduzir o seu caráter periférico face à região Litoral, continua a constatar-se a necessidade de criação de melhores condições de vida para os residentes e de formas de atração de novos residentes e visitantes, reconhecendo-se que estes últimos se interessam cada vez mais pelas particularidades do rural e pelas práticas e valores associados a estes locais. É de realçar, no entanto, que a baixa densidade populacional e o reduzido ou inexistente desenvolvimento turístico, tem permitido preservar muitos dos recursos naturais e construídos existentes, o que constitui um potencial turístico importante para estas regiões naturais do interior do concelho.

O Barrocal, caracterizado pela presença da atividade agrícola, fundamentalmente pelos pomares de sequeiro e de citrinos, hortas e vinhas, é uma zona menos povoada do que a do Litoral. Alguma população local ainda se dedica à criação de gado de pequeno porte, fundamentalmente para consumo familiar, e o estilo de vida dos habitantes continua a apresentar marcas tradicionais, embora em vários momentos se registem alterações socioculturais, resultantes, em parte, das experiências de encontro entre residentes e turistas em eventos /ou locais que transportam as marcas de modernidade.

Muitos dos residentes nesta região trabalham em Loulé, Albufeira ou Faro e, uma parte deles, na indústria turística, a qual ainda não se encontra muito presente no Barrocal. No entanto, o território tem vindo cada vez mais a despertar o interesse de turistas e da própria indústria, havendo já uma oferta concertada para o turismo no interior do concelho apesar de, na maior parte dos casos, os turistas não pernoitarem nesta zona mas regressarem ao Litoral.

82Valor provisório. Índice de Envelhecimento - Relação entre a população idosa e a população jovem, definida habitualmente como

o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos (expressa habitualmente por 100 (10^2) pessoas dos 0 aos 14 anos). Fonte: metainformação – INE (Pordata, 2012).

Nesta região natural registam-se algumas dinâmicas positivas de desenvolvimento endógeno, como é o caso da Via Algarviana83, particularmente em alguns centros urbanos do interior mais atrativos turisticamente, núcleos antigos, centros históricos e património arqueológico importantes.

Figura 5.4. -Localização geográfica da Via Algarviana

Fonte: Almargem (2012)

A região natural da Serra situa-se a norte do concelho de Loulé e faz fronteira com o Alentejo. É a região que apresenta um menor número de residentes sendo a procura e oferta turística quase inexistentes. Pode-se afirmar que, nesta região, o evento que se revela mais atrativo em termos turísticos é o Rally de Portugal que passa pela Serra do Caldeirão. A Serra é uma zona montanhosa onde o sobreiral marca presença. Apresenta um clima mais agreste do que as outras duas zonas (mais frio no inverno e mais quente e seco no verão). As acessibilidades a este território, e no seu interior, são mais difíceis, o mesmo acontecendo às oportunidades de emprego que são escassas. A principal atividade económica da Serra é a que resulta da exploração da cortiça, do fabrico da aguardente de medronho e dos enchidos de carne de porco. A apicultura também é uma atividade importante nesta zona.

Para identificar com maior clareza o nível de desenvolvimento turístico das regiões naturais do concelho de Loulé foi contactado um conjunto de indivíduos

considerados informantes chave para validar a distinção do nível de desenvolvimento turístico entre as regiões. Os informantes chave foram inquiridos on-line, 84 através de formulário eletrónico, sendo solicitado que classificassem, para cada região, o nível de desenvolvimento turístico, de acordo com a seguinte escala: Início, Desenvolvimento, Maturidade e Declínio. Esta escala baseou-se na proposta de Butler (1980) dos quatro níveis de desenvolvimento dos destinos, sem se considerar as estratégias de atuação identificadas por este autor.

As respostas dos informantes-chave, que são apresentadas85 no apêndice 2, vêm confirmar a descrição anteriormente efetuada sobre as regiões e os níveis de desenvolvimento turístico, que a observação no terreno e a documentação sobre estes territórios também sugerem. Assim sendo, e tendo por base as respostas dos informantes-chave ao inquérito, pode-se considerar que, relativamente ao nível de desenvolvimento turístico, o Litoral se encontra na fase de maturidade, o Barrocal numa fase de crescimento e a Serra numa fase inicial.