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CAPíTULO 3. OS RESIDENTES FACE AO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

3.1. Interação entre residentes e turistas num destino turístico

3.1.4. Teoria da Dependência

A literatura na área do turismo demonstra também uma preocupação crescente com a forma como o desenvolvimento turístico ocorre nos destinos, nomeadamente no que respeita à distribuição equitativa da riqueza e do poder gerado pela atividade.

Muitos estudos apontam no sentido de realçar que, na maior parte dos casos, existe o domínio de empresas, grupos estrangeiros e dos próprios países desenvolvidos sobre os destinos. Esta tendência acentua-se quando existem maiores diferenças de desenvolvimento entre os países emissores e recetores de turismo (Britton, 1982, Brohman, 1996, Khan, 1997). De facto, os estudos têm demostrado que apenas uma pequena fração dos resultados do consumo turístico permanece no local, facto este que limita um desenvolvimento económico real do destino, ver por exemplo Mbaiwa (2011) ou Milne (1987).

A figura 3.3 representa, segundo (Lacher e Nepal, 2010), as relações entre os países e/ou regiões que possuem, nuns casos, a centralidade e poder em termos de desenvolvimento turístico e, noutros casos, considerados não centrais, um poder e capacidade de desenvolvimento limitado e condicionado por estas mesmas relações.

38 Elabora-se, no capítulo 5, respeitante à caracterização do objeto de estudo, uma caracterização sumária das características do

concelho de Loulé e dos stakeholders identificados como fundamentais, conducente à compreensão da participação dos residentes no desenvolvimento da atividade turística e à avaliação da qualidade de vida e dos impactos do turismo pelos mesmos.

Figura 3.3 – Escalas de dependência espacial

Fonte: Lacher e Nepal (2010: 951)

Neste contexto, surgem argumentos na literatura a favor do desenvolvimento de formas de turismo consideradas alternativas relativamente às tradicionais, como, por exemplo, o turismo de aventura, o cultural ou o ecoturismo, uma vez que nestes casos se enfatiza o desenvolvimento local e se promove o envolvimento das populações recetoras (Brohman, 1996; Kontogeorgopoulos, 1998; Lindberg et al., 1996; Scheyvens, 2002). A OMT concorda com esta perspetiva e afirma mesmo que as formas adequadas de turismo podem reduzir a pobreza, aumentar o desenvolvimento social e promover o desenvolvimento sustentável (UNWTO, 2004).

No entanto, tal como Lacher e Nepal (2010) fazem notar, outros autores argumentam que, apesar dos objetivos idealistas das formas alternativas de turismo, estas também sofrem com a dependência externa (Campbell, 1999; Walpole e Goodwin, 2000) e muitos investigadores defendem mesmo a importância das relações centro- periferia nos avanços ou restrições do impacto económico da indústria. Os autores que aplicam a perspetiva do ciclo de vida e modernização associada, realçam o benefício destas relações com investidores estrangeiros, pela sua experiência e pelo facto de trazerem mais dinheiro para a região (Brohman, 1996; Kontogeorgopoulos, 1998, Lindberg et al., 1996; Scheyvens, 2002; Sharpley, 2008; Telfer e Sharpley, 2008).

Contrariamente, os estudiosos que enfatizam a perspetiva da dependência defendem que o núcleo central de desenvolvimento turístico e os que o dominam, são capazes de usar o seu poder económico e geográfico para assegurar que a maioria dos gastos dos turistas vai para o núcleo desenvolvido e assim prevalece a desigualdade económica entre o núcleo e a periferia (Britton, 1982; Mbaiwa, 2005; Walpole e Goodwin, 2000; Weaver, 1998). A teoria da dependência tem sido tradicionalmente limitada à análise da relação desigual entre centro e periferia à escala internacional (Britton, 1982), não sendo aplicada em pesquisas em menor escala espacial, apesar de haver estudos a apontarem para a relevância da teoria da dependência nestes contextos (Walpole e Goodwin, 2000; Weaver, 1998), como é o caso do estudo de Lacher e Nepal (2010) que analisam a utilidade da teoria da dependência a uma escala regional, num estudo realizado no norte da Tailândia.

Britton (1982) examina a política económica no turismo internacional e chega a conclusões semelhantes às dos teóricos da teoria da dependência. O autor conclui que a capacidade empresarial, os recursos e o poder comercial dos países mais desenvolvidos permitem que estes desviem a maior parte do lucro obtido através do turismo nos países periféricos (os países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento) para as grandes potências.

A teoria da dependência relaciona-se, de alguma forma, com as já referidas ideias associadas ao turismo como forma de imperialismo ou neocolonialismo, referidas anteriormente, em que se enfatiza o poder assumido pela indústria turística e pelos países emissores de turistas, sobre o destino e os seus residentes.

No contexto do presente estudo, a teoria da dependência apresenta-se como uma base de reflexão comparativa visto que, nos estudos sobre os residentes, na área do turismo, a literatura faz frequentemente referência à importância da ligação e dependência dos residentes face ao turismo como determinante da sua perceção sobre este fenómeno. Vargas-Sánchez et al. (2009) destacam que, a maior dependência económica do turismo, em termos individuais ou como comunidade, conduz a uma atitude mais favorável face ao turismo (Harill, 2004, Pizam, 1978) e face a um maior desenvolvimento turístico Mcgehee e Andereck (2004), enquanto que a ausência de

dependência económica relativamente ao turismo está associada à falta de apoio ao seu desenvolvimento (Snaith e Haley, 1999). Vargas-Sánchez et al. (2009) lembram, contudo, que o estudo de Smith e Krannich (1998) constata precisamente o oposto, ou seja, que os residentes que se encontram dependentes do turismo estão menos dispostos a que este se desenvolva, pois possuem uma maior noção dos impactos negativos da atividade turística, se comparada com a dos residentes que menos contacto têm com o turismo e que dele não dependem.

Pretende-se, neste estudo, verificar de que forma a teoria da dependência se aplica ou não na área geográfica considerada na investigação e, concretamente, se influencia as perceções dos residentes sobre o impacto do turismo na sua qualidade de vida. Especificamente pretende-se verificar dois aspetos: o primeiro que se relaciona com o grau de dependência do concelho de Loulé, e das suas onze freguesias, relativamente à atividade turística, avaliando em particular o nível de desenvolvimento turístico das regiões naturais do concelho em que cada freguesia se situa e o grau de dependência, externa ou interna, desse desenvolvimento turístico, bem como a existência ou não de outros atividades económicas e profissionais em cada zona; o segundo, relacionado com o grau de dependência pessoal e da comunidade em relação ao turismo, pelo facto de trabalharem e dependerem economicamente deste, situação condicionante ou não da sua perceção face ao fenómeno.