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CAPíTULO 3. OS RESIDENTES FACE AO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

3.1. Interação entre residentes e turistas num destino turístico

3.1.2. Teoria da Representação Social

A teoria da Representação Social defende que as representações sociais, resultantes da interação dos indivíduos, permitem, relativamente a um dado acontecimento, pessoa ou objeto, associar um conjunto de explicações, crenças e ideias, sendo essas associações comuns a um determinado grupo (Moscovici, 1981).

Moscovici rejeita a definição formal do conceito por acreditar que nas ciências do comportamento, a procura da exatidão tem tido um efeito pernicioso. No entanto, o autor realça que o objetivo da teoria das Representações Sociais se prende com a intenção de explicar os fenómenos em que o ser humano está envolvido, a partir de uma perspetiva coletiva, embora sem ignorar a individualidade do sujeito.

No contexto do estudo da Representação Social destaca-se, para o presente estudo, a perspetiva de Jodelet (1985), que a define como uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada por um conjunto social, possuindo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum. As representações são fenómenos sociais e, por esse motivo, têm que ser entendidas a partir do contexto da sua produção, ou seja, a partir das funções simbólicas e ideológicas que as constroem.

Esta é uma teoria enquadrada no denominado interacionismo simbólico, que conta com o contributo de muitos outros autores, tais como Mead (1934) e Goffman (1959), e que assenta no estudo das simbologias sociais, ou seja, no estudo das trocas simbólicas que proliferam nos diversos ambientes sociais e nas relações interpessoais, e da sua influência na construção do conhecimento partilhado e da cultura.

A teoria da representação social tem como principal finalidade, tornar familiar algo que não o é, através da criação de classificações alternativas, nomeações de acontecimentos ou ideias até então desconhecidas e, deste modo, possibilita a compreensão e manipulação das novas realidades a partir de ideias, valores e teorias preexistentes, interiorizadas e amplamente aceites pela sociedade.

Esta forma de interiorização social de novas realidades está presente em qualquer destino turístico, assumindo, em cada um, particularidades merecedoras de atenção detalhada, o que se procura fazer neste estudo.

Para Moscovici (2007), as representações que fabricamos são resultado de um esforço constante de tornar real algo incomum ou não-familiar. A representação permite superar o problema, integrá-lo e, por ajustamentos sucessivos, enriquecê-lo e transformá-lo. Assim, segundo o autor, o que estava longe, parece atingível e o que era

abstrato torna-se concreto e quase normal. As imagens e ideias utilizadas para compreender o não-usual trazem de volta o já conhecido e familiar. Este processo conduz à transformação de valores e, consequentemente, condiciona o comportamento humano. Para Moscovici (2007), a dinâmica das relações é a dinâmica de familiarização e o que é percebido resulta da experiência anterior e dos paradigmas de referência.

No estudo do turismo e, concretamente, na relação entre os residentes e os turistas ou entre os primeiros e o fenómeno ou a indústria turística, a questão da representação social permite compreender mais facilmente a forma como os residentes percebem a nova realidade e as implicações desta na sua vida quotidiana, quer trabalhem e dependam diretamente do turismo, quer estejam apenas circunstancial e geograficamente ligados ao fenómeno.

Na verdade, os residentes adotam estratégias comportamentais que constituem, em si mesmas, formas de representação da nova realidade e, simultaneamente, respostas adaptativas à mesma. Estas representações, que se manifestam de forma individual ou através da sociedade civil organizada, são muitas vezes propostas e impostas pela indústria turística que geralmente possui maior poder do que os residentes, de impor condutas e procedimentos associados à relação turística. Como Sharpley (1994) refere, será natural que uma comunidade que sente que controla o desenvolvimento turístico seja mais favorável ao seu desenvolvimento do que uma comunidade que, pelo contrário, sinta que o turismo lhe é imposto e está dependente deste. Para este último grupo, o autor realça que, tal como Nash (1989b) refere, o turismo pode ser entendido como uma forma de imperialismo, ou como, no entender de Maitheson e Wall (1982), neocolonialismo. Do ponto de vista sociológico, esta relação turista/hospedeiro (o residente ou comunidade) pode ser baseada no conflito. No caso do presente estudo, uma vez que no concelho de Loulé é uma zona turística importante no destino turístico Algarve e que se verifica a presença de um número cada vez mais elevado de residentes estrangeiros e de turistas que permanecem no território durante um largo período de tempo, é relevante a análise da relação que se estabelece entre estes diferentes tipos de visitantes, turistas e residentes estrangeiros com os residentes locais que cumprem o papel de hospedeiros.

No entender de autores tais como (Fredline e Faulkner, 2000), a teoria da Representação Social vem de alguma forma colmatar as limitações da Social Exchange Theory, por constituir um sistema de ideias, imagens e valores com um significado próprio na cultura de origem e independentes da experiência individual. Para estes autores podem identificar-se três fontes de representação social: a experiência direta com os turistas e com o sistema turístico; a interação social com familiares, colegas ou indivíduos com quem ocasionalmente os residentes se confrontam e os media, que atuam na sociedade atual com um grande poder de persuasão.

A Teoria da Representação Social revela-se útil para esta investigação na medida em que contribui para um estudo das razões que podem levar os residentes a percecionar, de forma diferenciada, os impactos do turismo e as alterações na sua qualidade de vida.