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CAPíTULO 3. OS RESIDENTES FACE AO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

3.1. Interação entre residentes e turistas num destino turístico

3.1.3. Teoria dos Stakeholders

A participação dos residentes no planeamento e nas decisões sobre o desenvolvimento turístico do lugar onde residem começa a ganhar dimensão em alguns destinos turísticos e tende a generalizar-se devido à importância reconhecida do seu papel como intervenientes ativos no território, quer em termos individuais, quer, mais frequentemente, através da designada sociedade civil organizada.

A literatura fornece-nos estudos relevantes sobre o papel dos stakeholders no desenvolvimento dos territórios e, particularmente, face ao desenvolvimento turístico (Hunt, 1991; Jamal e Getz, 1995; Keogh, 1990; Long et al., 1990).

Assim sendo, a teoria dos stakeholders (Freeman, 1984), fornece contributos importantes para o presente estudo, na medida em que considera, entre outros, o papel dos residentes (ver figura 3.2).

Figura 3.2 – Stakeholders theory

Fonte: Adaptado de (Sautter e Leisen, 1999) adaptado de Freeman (1984:55)

Segundo o esquema proposto por (Sautter e Leisen, 1999), os responsáveis pelo planeamento turístico deverão estabelecer relações simultâneas com diferentes

stakeholders, sendo o contributo de todos eles e de cada um em particular igualmente

importantes para o planeamento turístico. A relação dos responsáveis pelo desenvolvimento turístico com cada um destes intervenientes estabelece-se nos dois sentidos, o que deixa antever a cada vez mais valorizada situação de coprodução no destino turístico. Realça-se neste esquema a diversidade de stakeholders e a inclusão dos residentes, aspeto particularmente relevante neste estudo.

Para Stoner et al (1995:63), citado por Murphy e Murphy (2004), o termo “stakeholder” tem sido, na literatura de gestão, definido como “os grupos ou os indivíduos que, direta ou indiretamente, são afetados pelos objetivos de uma organização”. Os autores realçam que os stakeholders podem ter diferentes tipos de relações com o negócio, podendo identificar-se como: (i) stakeholders internos (por exemplo os proprietários ou os empregados); (ii) stakeholders externos (os consumidores, os fornecedores ou os grupos de interesse).

situação é tanto mais verdadeira quanto menos tem sido dada a devida importância à participação ativa dos diferentes stakeholders na tomada de decisão, sendo esta assumida normalmente pelo poder político e/ou pelos grandes investidores.

Murphy e Murphy (2004) destacam que muitos stakeholders têm que lutar para serem incluídos nos processos de decisão e que, mesmo depois de serem incluídos, podem não vir a conseguir participar efetivamente nas decisões que acabam, na maior parte dos casos, por ser tomadas por uma minoria, como atrás se referiu.

É certo que aqueles que vivem numa comunidade com significativa atividade turística podem eventualmente desempenhar múltiplos papéis em relação à indústria e os que vivem na região e trabalham diretamente nesta área ou que têm familiares que nela trabalham, se comparados com os que vivem no destino mas que não dependem do turismo, tendem a ter uma opinião diferente sobre a atividade. (Lankford e Howard, 1994, Milman e Pizam, 1988, Williams e Lawson, 2001).

Murphy (1983) refere ainda que se devem considerar também os indivíduos que propõe designar por shareholders, por apresentarem frequentemente opiniões diversas dos demais. O autor considera que os shareholders são os indivíduos que não trabalham diretamente na indústria nem estão indiretamente ligados à mesma, pelas suas atividades, mas que se relacionam com o fenómeno e são influenciados pelo turismo. Esta ideia é interessante porque revela o que acontece muitas vezes aos residentes de um destino turístico.

Na identificação dos grupos de indivíduos a considerar como stakeholders Murphy e Murphy (2004:189), encontram-se na literatura várias propostas de organização: (i) Wheeler (1994) organiza os interesses turísticos em três grupos - os fornecedores, os turistas e a população local; (ii) Wearing e Neil (1999), ao estudar o ecoturismo, dividem a comunidade de stakeholders em quatro grupos - a indústria turística, o governo a comunidade e as organizações não-governamentais; (iii) Cock (2000) propõem a divisão da comunidade de stakeholders em quatro grupos: ambientalistas; indústria turística, comunidade hospedeira e visitantes; (iv) Ritchie

(2002), por seu lado, considera existirem na comunidade quatro grupos de stakeholders - os residentes, a indústria, os visitantes e o governo local.

Em qualquer destas propostas, embora sob diferentes designações, os residentes são considerados como elementos importantes a ter em consideração no contexto do desenvolvimento turístico, em conjunto com os restantes stakeholders e representando papéis diferenciados destes.

Alguns autores sugerem que uma representação mais detalhada é necessária e que medidas concretas devem ser adotadas para a efetiva participação dos diferentes intervenientes nos processos de desenvolvimento. A este propósito Jamal e Getz (1995:187) argumentam sobre a importância do envolvimento da comunidade no processo, realçando o papel crítico do planeamento e afirmam que a colaboração para o planeamento turístico deve abranger associações da indústria turística e do setor público, convention bureau, autoridades turísticas regionais, organizações turísticas, agências sociais e interesses de grupos especiais.

Como (Gray, 1984) refere, os stakeholders são os que têm o direito e a capacidade de participar no processo de decisão e Blank (1989) faz notar que qualquer comunidade deve assegurar-se que os stakeholders considerados são capazes de representar os seus interesses. Neste contexto, é necessário não só uma atitude de reconhecimento da importância da participação dos diversos stakeholders, identificados como forças vivas dinamizadoras do lugar, como a sua efetiva participação e envolvimento ativo no processo de planeamento e implementação dos planos para o desenvolvimento turístico.

No presente trabalho, acredita-se que a participação dos residentes nestes processos, para além de ser conveniente que ocorra a título individual e voluntário é também importante que se manifeste através da sociedade civil organizada, por exemplo através de associações sociais, culturais, ambientais, associações de desenvolvimento local ou outras, às quais os indivíduos pertençam e em que estejam envolvidos. Na verdade, os estudos apontam para uma maior assertividade quando existem já consensos em grupos mais restritos, para que estas perspetivas sejam depois articuladas em

contexto mais alargado, como é o caso das reuniões com os diversos stakeholders num destino.

Neste estudo, embora se adote a perspetiva dos residentes do destino turístico, nomeadamente através do estudo de caso do concelho de Loulé, no Algarve, procura-se contextualizar e tipificar a sua participação, articulada com os restantes stakeholders do local considerado38.