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De acordo com Scharmach e Domingues (2008) a interdisciplinaridade é a interação entre as disciplinas ou áreas do saber. Entretanto, essa interação ocorre em diferentes níveis de complexidade. Esses níveis são chamados multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.

Figura 1: Diferenças terminológicas de interação entre as disciplinas. Fonte: Autoria Própria

A multidisciplinaridade é o primeiro estágio de integração entre os conhecimentos disciplinares. Para Fazenda (1999), pode ser considerada uma etapa para chegar à interdisciplinaridade. Japiassu (1976) diferencia a multidisciplinaridade dos demais termos definindo-a como um sistema em que as disciplinas trabalham o mesmo tema, mas não ocorre cooperação entre elas, ou seja, o tema comum aparece como um meio para se chegar ao fim original da disciplina.

Na multidisciplinaridade, buscam-se informações de muitas disciplinas para estudar um determinado objeto, ou assunto específico, sem realizar a ligação entre as disciplinas, isto é, aborda-se um assunto por meio de várias disciplinas.

Autores como Morin (2001), Zabala (2002), Fourez (2001) também compartilham deste pensamento afirmando que a multidisplinaridade reúne os resultados de várias disciplinas em torno de um tema comum, sem articulação entre elas. Existem muitos programas e currículos baseados nessa prática multidisciplinar, que é válida, mas limitada. É importante saber que existem níveis mais elevados na prática pedagógica. Essa prática, entretanto, ainda é muito fragmentada, pois não realiza nenhuma articulação, ou diálogo entre os conhecimentos disciplinares e não há nenhum tipo de cooperação entre as disciplinas.

A pluridisciplinaridade também pode ser considerada por Fazenda (1999) uma etapa para a interdisciplinaridade. Jantsch (apud Japiassu, 1976, p.73) define pluridisciplinaridade como justaposição de diversas disciplinas situadas geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo a fazer aparecer as relações entre elas .

Ainda segundo Japiassu (1976, p.41), a pluridisciplinaridade traria a existência de cooperação entre as disciplinas, mas cada disciplina ainda estaria apegada ao seu fim original, sendo assim, o tema ainda aparece como um artifício da disciplina . Na pluridisciplinaridade, as disciplinas trocam informações, reúnem os conhecimentos buscando uma relação entre elas, mas não há mudanças de conteúdo, elas apenas cooperam entre si.

Zabala (2002) complementa dizendo que a pluridisciplinaridade é existência de relações complementares entre disciplinas mais ou menos afins, como as diferentes histórias (arte, ciência, literatura, entre outras). A pluridisciplinaridade não é tida como eficaz para passar o conhecimento, pois cada disciplina colabora com as informações que são específicas do seu campo do saber, sem levar em consideração que existe uma integração entre elas.

A multidisciplinaridade e a pluridisciplinaridade estabelecem a junção das disciplinas sem que haja cooperação ou integração entre elas. Na multidisciplinaridade, há o envolvimento de duas ou mais disciplinas, mas a metodologia e teoria se mantêm sem modificações, sem interação de resultados obtidos. Procura-se resolver o problema sem tomar

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conhecimento das articulações. Na pluridisciplinaridade, ocorrem algumas ligações que podem ser propositais ou não, entretanto sem qualquer inter-relação entre elas.

O termo transdisciplinaridade é mais amplo e complexo. Para estudar interdisciplinaridade, é preciso conhecer o que é a transdisciplinaridade, respeitando suas limitações, suas diferenças, suas semelhanças. Apesar de a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade serem quase inseparáveis, elas se diferenciam pelo modo de ação.

A transdisciplinaridade vai além das ciências e das disciplinas e a interdisciplinaridade visa às relações, ou seja, as interações entre uma ou mais disciplinas. De acordo com Japiassu (1976):

Na transdisciplinaridade, os limites disciplinares parecem deixar de existir totalmente, as disciplinas dialogam entre elas, trocando suas informações de caráter científico, mas também com o conhecimento socialmente produzido dos discentes e docentes, como sua vivência social, por exemplo.

Alguns autores não concordam que exista um limite que diferencia o transdisciplinar e o interdisciplinar. Ivani Fazenda (1999), por exemplo, tem seus estudos e suas obras pautadas na aplicabilidade pedagógica da interdisciplinaridade e não diferencia a interdisciplinaridade da transdisciplinaridade. A autora, inclusive, faz uma crítica à transdisciplinaridade considerando-a uma utopia, por apresentar uma incoerência básica, pois a própria ideia de uma transcendência pressupõe uma instância científica que imponha sua autoridade às demais, esse caráter impositivo negaria a possibilidade de diálogo, condição sine qua non para a interdisciplinaridade (FAZENDA, 1999, p.33).

O termo transdisciplinaridade foi criado por Piaget (1972), em 1970, no I Seminário Internacional sobre Pluri e Interdisciplinaridade, na Universidade de Nice. O autor define transdisciplinaridade como uma etapa superior à interdisciplinaridade que não só atingiria as interações ou reciprocidade, mas situaria essas relações no interior de um sistema total. O autor ainda complementa sua definição dizendo que é a interação global das diversas ciências. A transdisciplinaridade ultrapassa os limites entre as disciplinas, com alto grau de integração, ela propõe novas teorias, novas formas de conhecimento e novas metodologias, que vão além da rotina das disciplinas. É a busca por sentido da vida relacionando os diferentes saberes como artes, ciências humanas, exatas, políticas.

Na interdisciplinaridade, há interação entre duas ou mais disciplinas, há mudança de conteúdo e uma disciplina passa a depender da outra, elas se relacionam entre si dando significado ao conhecimento. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN (1999, p. 89)

individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados.

Os interesses de cada disciplina são mantidos, mas a busca por uma solução aos problemas da realidade é alcançada por meio da articulação entre as disciplinas e os resultados obtidos são compartilhados. Para Japiassu (1976, p.74): A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa .

A interdisciplinaridade propõe o trabalho com projetos que possuem tema específico envolvendo várias disciplinas, com o objetivo de compreender as relações entre as diferentes áreas do conhecimento, buscar soluções inovadoras de acordo com a vida cotidiana, superando a fragmentação pelo conhecimento do todo, conhecimento integral.

Fortes (2007) fala da importância de se enfatizar que a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador com as disciplinas de um currículo, para que os alunos aprendam a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes .

Quando há em uma turma a consciência de um projeto integrador, com uma visão do todo, tende a ocorrer o envolvimento dos alunos e professores, com respeito, responsabilidade, espírito de equipe.

Deste modo, pode-se dizer que existe um processo interdisciplinar acontecendo em sala de aula, que exige na prática muita dedicação ao trabalho cotidiano e, principalmente, parceria.

Segundo Japiassu (1992), atualmente o modelo dominante do sistema educacional no Brasil é a multidisciplinaridade e a pluridisciplinaridade, pautado na fragmentação do ensino, que aos poucos poderá ser substituído por um sistema de ensino inovador, em que nenhum saber é mais importante que o outro, ambos são igualmente importantes, como propõem a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade.

Na próxima seção, será apresentada a interdisciplinaridade e a andragogia.