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XXI2, Jacques Delors e colaboradores falam dos quatro pilares da educação . Segundo esses autores, este século é chamado era da informação, e o papel da educação é ensinar o indivíduo a explorá-la, aprofundando seus conhecimentos e se adaptando a essa nova realidade e suas mudanças. Eles descrevem os quatro pilares da educação como: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

Segundo o relatório, aprender a conhecer é mais do que apreensão das informações, é a assimilação do conhecimento, desenvolvimento do senso crítico.

O aprender a fazer está diretamente ligado ao aprender a conhecer. Está relacionado com a formação profissional das pessoas, é por em prática seus conhecimentos, adaptar a educação ao trabalho. Aprender a ser é mais do que preparar o aluno para assumir tarefas materiais, repetitivas nas indústrias, fábricas, é desenvolver a capacidade de transformar o conhecimento em inovações geradoras de novos empregos, novas empresas.

O terceiro pilar aprender a viver juntos é conscientizar as pessoas a conviver com suas semelhanças e diferenças, é saber solucionar os conflitos, abrir-se para o diálogo indispensável à educação, respeitando uns aos outros, sem discriminação e preconceitos.

O quarto pilar aprender a ser é pautado no compromisso da educação com o desenvolvimento total da pessoa, possibilitando o pensamento independente e eficaz, o autoconhecimento, o indivíduo capaz de formular suas próprias ideias, agindo por conta própria nas diversas situações da vida.

Esses pilares da educação são também a base para a educação universitária.

2 DELORS, Jacques. Educação um Tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI.

Atualmente as faculdades e universidades recebem alunos que estão ainda na fase da adolescência e recebem alunos que já estão na fase adulta, portanto estamos entre a pedagogia e a andragogia.

Benedicto (2004) relata a necessidade de demonstrar as diferenças conceituais e técnicas entre a educação da criança e adolescentes para uma educação de adultos. Desta forma, abre-se um novo campo, a andragogia, isto é, a ciência da educação de adultos. Andragogia é a filosofia, ciência e a técnica da educação de ser humano adulto (Do grego: Andros = homem; Agein = conduzir e Logos = tratado, ciência). É uma teoria que tem em seu objetivo a tentativa de estabelecer e ajustar metodologias que respeitem as particularidades da aprendizagem no indivíduo adulto. De acordo com Oliveira (2002), o termo Pedagogia (etimologicamente, do grego: Paidós = criança; Agein = conduzir e Logos = tratado, ciência), deixando claro que seu objeto é a criança. Portanto, a palavra pedagogia tem em seu significado a arte e ciência de ensinar crianças.

Não há como trabalhar de forma semelhante a aprendizagem na criança e no adulto. O adulto já faz parte de uma sociedade, tem suas experiências na vida cotidiana que não apenas servem de referencial, mas fornecem a base para seus processos de aprendizagem, sua autonomia e independência. O adulto busca novos conhecimentos tanto para ter melhor desempenho de papéis sociais como na vida profissional, é necessário levar em consideração o seu perfil para aprender. Já as crianças precisam de um acompanhamento mais intenso e presente em seus processos de aprendizagem.

Segundo Mezirow (1996), a educação de adultos apresenta suas teorias voltadas para a aprendizagem como um processo individual baseado na troca de conhecimentos, de experiências, de normas, como resultado de uma necessidade interna e de uma demanda da sociedade.

Lindeman (1926, p. 8-9) foi um dos autores que mais colaborou para a pesquisa sobre educação de adultos. O autor relata que: ,

Nosso sistema acadêmico cresce em ordem inversa: disciplinas e professores constituem o centro educacional. Na educação convencional, é exigido do estudante ajustar-se ao currículo estabelecido; na educação de adulto, o currículo é construído em função da necessidade do estudante. Todo adulto se vê envolvido com situações específicas de trabalho, de lazer, de família, da comunidade, etc. - situações essas que exigem ajustamentos. O adulto começa nesse ponto. As matérias (disciplinas) só devem ser introduzidas quando necessárias. Textos e professores têm um papel secundário nesse tipo de educação; eles devem dar a máxima importância ao aprendiz.

experiência do aprendiz, porque os adultos sentem a necessidade de serem vistos como autônomos e participantes do planejamento e das atividades educacionais. E a educação ainda é muito centrada na figura do professor.

Alexander Kapp, professor alemão, em 1833, criou o vocábulo andragogia; em 1921, Rosenstok elaborou seu relatório resgatando esse termo como educação de adultos, que deve ter docentes, didática e filosofia diferenciadas. Em 1927, Eduard Lindeman, baseado nas experiências de Alexandre Kapp, traz essa expressão para os Estados Unidos. Na década de 60, a andragogia foi bastante discutida na França, Iugoslávia e Holanda, com a proposta de uma disciplina para estudar o processo de instrução do adulto ou a ciência da educação de adulto (NOTTINGHAN ANDRAGOGY GROUP, 1983).

Knowles (1990) fala que devem ser inseridos os conceitos andragógicos nos currículos e na didática do ensino superior. Os professores terão de aprender a trabalhar em equipe, a desenvolver ideias próprias, aprender a ter um olhar crítico, desenvolver sua própria metodologia de estudo e utilizar a informação para desenvolvimento do seu aprendizado. Em seu livro The Adult Learner a Neglected Species, Knowles (1990) define andragogia como a arte e ciência de ajudar adultos a aprenderem. Esse conceito valoriza o aluno que já possui sua autonomia, suas experiências, para buscar o conhecimento e se autodesenvolver, contrariando a pedagogia que não considera a experiência do aluno um fator importante. O adulto é o sujeito da educação e não objeto dela. Esse conceito mostra ainda que o professor, na andragogia, assume o papel de facilitador da aprendizagem, e não de um transmissor de conteúdos, como descreve a pedagogia.

Para dar significado ao conhecimento, e como o homem olha o mundo em sua volta e como estes elementos influenciam no processo de aprendizagem dos sujeitos, é que Jack Mezirow tornou-se grande protagonista na literatura norte-americana, dedicando-se a pesquisar e aprofundar durante duas décadas passadas (1980 e 1990) estudos introduzindo a Aprendizagem Transformativa na Instrução do Adulto (MEZIROW, 1978). Essa teoria foi caracterizada por muitas influências como: o construtivismo, pedagogia crítica, corrente progressista e, em destaque, os estudos de Paulo Freire.

Especialmente, a partir da década de 90, esse conceito foi difundido e tem sido alvo de muitos debates e discussões, alguns autores concordam com o conceito, outros discordam, particularmente, da corrente pós-modernista e da pedagogia crítica.

Os estudos de Mezirow foram de extrema importância para o desenvolvimento das Ciências Educativas, com o enfoque na Educação de Adultos. O indivíduo adulto se destacou como um ser aprendente e foi o foco das investigações que também contemplou a pesquisa

articulada entre aprendizagem de adultos e aprendizagem organizacional. De acordo com Cranton (1994, p.22), essa teoria contempla uma descrição detalhada e complexa de como os aprendizes interpretam, validam e reformulam o significado de sua experiência .

Mezirow enfatiza que a aprendizagem é concebida:

como o processo de utilizar as interpretações anteriores, com vista em construir uma interpretação nova, ou uma interpretação alterada acerca do sentido da experiência pessoal em ordem a guiar a ação futura (MEZIROW, 1996, p. 162).

O autor afirma que cada indivíduo possui sua interpretação da realidade que o rodeia. A aprendizagem depende dos conhecimentos anteriores que o adulto possui, interpretando novos conhecimentos, relacionando com a realidade e dialogando a teoria com a vida prática. Dentro desta perspectiva, estudiosos, como Canário (1999), Brookfield (1995), Courtois e Pineau (1991) reforçam que a experiência do indivíduo torna-se um fator primordial da aprendizagem na vida adulta e não pode deixar de ser considerada.

Finger citado por Moura (2000, p.13), em concordância com o pensamento de Mezirow, considera que:

O processo de transformação de perspectivas se caracteriza por três etapas: 1) distanciamento, possibilitando que o sujeito analise a sua experiência do

lado de fora , permitindo uma leitura menos apaixonada e parcial;

2) transformação de perspectiva, caracterizada pela tomada de consciência da sua transformação;

3) continuidade, verificando-se a integração da nova perspectiva na vida do indivíduo. A experiência assume uma dimensão de ruptura da continuidade.

Autores como Freire (1996), Anatal, Lenhardt e Rosenbrock (2001) e Hedberg (1981) afirmam que o indivíduo para aprender tem de desaprender, ou seja, construir novos conhecimentos, desconstruir e reconstruir permanentemente.

Essas mudanças nos conceitos da aprendizagem, nas diretrizes, na didática, com a andragogia, não podem perder de vista a qualidade da educação como lugar central deste processo de educação de adultos. Freire (2000, p.104) foi um dos precursores no estudo de educação de adultos e ele conceitua educação de forma brilhante:

Educação é, antes de mais nada, ato de amor e coragem, que está embasada no diálogo, na discussão e no debate. O homem vive em constante aprendizado, não havendo homens ignorantes absolutos , já que existem diferentes saberes alguns sistematizados, outros não.

Ainda citando Freire (2006, p.83) a Educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos . Charlot (2000, p.74) complementa apontando que para compreender a

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relação de um indivíduo com o saber, deve-se levar em consideração sua origem social, mas também a evolução do mercado de trabalho, do sistema escolar, das formas culturais, entre outras.

Todas essas mudanças exigem um novo professor, capaz de conquistar e fazer ciência, de apropriar-se da técnica sem, entretanto, esquecer sua humanidade e seu compromisso político de colocar a ciência e a tecnologia a serviço do bem-estar social, realizando novos projetos com o intuito de não apenas informar, mas, principalmente, formar (OLIVEIRA, 2006, p.39).

O professor do ensino superior deve estar preparado para essas mudanças, e motivado a trabalhar de forma integrada, cooperando com o aluno, realizando seu papel de facilitador da aprendizagem. Neste contexto Nóvoa (1997, p.26), afirma que "a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando." Mas os professores não são formados para assumir esse papel. O sistema de ensino no Brasil deve preparar os docentes para formar ao mesmo tempo um sujeito com particularidades, um ser individual com a capacidade de pensar, refletir sua realidade pessoal, e ser um cidadão do mundo, com a habilidade de interagir com o outro, respeitando suas semelhanças diferenças e mantendo suas características próprias e suas raízes.

Diante das reflexões da crise que se instala é preciso desenvolver uma cultura de partilha e de ajuda mútua na investigação-ação que os docentes desenvolvem (ZEICHNER, 1997). Para isso, é necessário reconhecer o profissional professor, possibilitando-lhe um papel ativo na formulação dos objetivos e finalidades de sua ação, não o restringindo a ser mero técnico mandado apenas a cumprir tarefas (ZEICHNER, 1993). Um novo modelo poderá ajudar a Educação a enfrentar esses dilemas e inverter essa situação. Segundo Trindade (2008), o exercício da interdisciplinaridade ajudaria no enfrentamento desta crise de conhecimento e das ciências.

Para Piaget (1976), a interdisciplinaridade integra o homem e o mundo, tecendo uma ligação dos diversos campos de conhecimento com uma concepção filosófica que se consolida em ação. Estabelece relações indissociáveis entre o homem, o mundo e o conhecimento.

De acordo com Santomé (1998), ser interdisciplinar é ser mais aberto, mais solidário, flexível e democrático.

O mundo atual precisa de pessoas com uma formação cada vez mais polivalente para enfrentar uma sociedade na qual a palavra mudança é um dos vocábulos mais frequentes e onde o futuro tem um grau de imprevisibilidade como nunca outra época da historia da humanidade (SANTOMÉ, 1998, p. 45).

A interdisciplinaridade surge como uma possibilidade para uma construção, aproveitamento e aplicação do conhecimento formal de maneira ampliada. Ser interdisciplinar é agir ativamente relacionando os conhecimentos aprendidos na vida pessoal e profissional.

A proposta interdisciplinar na educação, segundo Nogueira (2008), reage a abordagem disciplinar normalizada, trazendo a possibilidade de buscar a interconexão entre as disciplinas, concedendo uma relação contextualizada, articulada entre as diferentes disciplinas, os problemas reais e o contexto social vivido pelo estudante.

A interdisciplinaridade é mais que uma teoria ou metodologia, propõe o conhecimento visto como um todo, com a preocupação de dar sentido ao conhecimento e relacioná-lo a vida prática.

Até aqui, discutiu-se a teoria sobre andragogia, interdisciplinaridade, papel do professor e dos alunos relacionados a essas abordagens. Na seção seguinte, serão apresentadas experiências interdisciplinares nos cursos superiores no Brasil.

2.2.4 Ajustando o foco da interdisciplinaridade nos cursos da área de Ciências