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Discussão dos Casos Clínicos e Considerações Finais

No documento GIANNA FILGUEIRAS MOHANA PINHEIRO (páginas 149-176)

Apresentei no capítulo anterior o material obtido através da aplicação do Procedimento de Desenhos-Estórias em dez crianças de nove anos, sendo feita análise das unidades de produção e síntese de cada caso em particular.

Meu trabalho, primeiramente, partiu de uma inquietação: O período de latência hoje é igual ao que Freud postulou em 1905? Ou este período está diminuindo devido a uma adolescência que pode estar iniciando mais cedo? Essa inquietação surgiu ao acompanhar debates sobre uma possível erotização precoce das crianças; ao ler artigos em jornais e revistas que questionavam a influência da mídia, principalmente da televisão, sobre a constituição subjetiva das crianças; ao perceber a aflição de pais e educadores frente às mudanças tecnológica, cultural e econômica por que vem passando a sociedade.

Ao iniciar a pesquisa de mestrado pude compreender melhor que o meu ponto de partida seria estudar não o período de latência como um todo, mas sim a organização psíquica da sexualidade em algumas crianças que estivessem no período de latência, levando-se em consideração o meio sócio-cultural e econômico em que essas crianças estavam inseridas.

O ponto de partida e o percurso percorrido, na trajetória de minha pesquisa, já foram relatados. Agora o momento é de refletir sobre o que foi vivido ao longo da caminhada. Cheguei, ou melhor, chegamos à reta final. Momento de reflexão, de entrelaçar teorias, práticas e descobertas. Para isso começarei a tecer minhas considerações sobre os casos clínicos.

No primeiro caso, Felipe, um menino de nove anos e três meses, no decorrer da aplicação do D-E mostrou que o seu ego parecia estar sendo inundado por sensações e impulsos tão intensos que ameaçavam a sua solidez egóica, a sua capacidade de pensar. Na primeira unidade de produção, ainda não estava claro o que estaria ocasionando essa fragilidade egóica. Na segunda unidade de produção, fica mais nítido que Felipe atribui o seu sentimento de naufrágio e a sua turbulência emocional a uma serpente que está crescendo e pegando fogo, quando disse: Uma vez a cidade de São Luís estava tudo calmo. Dizem que de

baixo da ilha de São Luís tinha uma serpente que cada dia crescia [...] ela se despertou zangada e provocou ondas que quase derruba os prédios da cidade. Essa serpente é um

símbolo fálico, que desperta de uma forma tão impetuosa que vai derrubando e destruindo tudo.

Felipe, nas unidades de produção três, quatro e cinco ainda demonstra em suas estórias como se sente ameaçado por uma sexualidade que surge abruptamente. Uma sexualidade que inibe sua capacidade de pensar, como indica a seguir: Uma estátua mostrou

que é proibido ficar com a cabeça na cidade e no mundo inteiro.

É possível perceber de forma clara neste primeiro caso que, quando a sexualidade surge antes da existência de um ego capaz de elaborá-la, ela é vivida como algo ameaçador e destrutivo. Vera Maria de Mello (2000, p. 6-7) faz uma importante afirmação sobre as conseqüências de uma erotização precoce na mente infantil:

Retomamos Freud (1905) que disse haver um quantum de angústia que pode ser metabolizada ou pensada. Desta forma o indivíduo, submetido até certo grau de estímulo, teria condições de responder com um fluxo de representação próprio e elaborar essa situação. No entanto, se o quantum de excitação supera o limite de tolerância psíquica, o aparelho psíquico se desorganiza, não há uma metabolização desse quantum de energia e se dá uma ruptura do pensável, podendo provocar sérias patologias. Entendemos que a erotização precoce, tanto da infância como da adolescência, provoca uma sobrecarga psíquica e que esta seria, então, uma forma de violência, de maus tratos, de abuso.

Felipe demonstra em todas as unidades de produção como o seu ego e sua mente encontram-se em perigo devido a uma quantidade de impulsos que surgem sem que o seu ego esteja apto para lidar com eles. Dessa forma, a sexualidade é vivenciada como algo destruidor, perigoso, cortante. Nas palavras de Felipe: o vulcão provocou gases igual o ser humano e

saiu lava bem quente e água bem quente. Os peixes morreram e as pessoas ficaram assombradas por o vulcão ter explodido. O vulcão começou a fazer muitos estragos na cidade.

Essa mesma sensação está presente, de forma clara, nas unidades de produção 1 (um) e 5 (cinco) de Marta. O surgimento abrupto de impulsos sexuais não aparece de maneira tão intensa como em Felipe. No entanto, sinaliza, novamente, que, se a sexualidade chegar impetuosa em um momento do desenvolvimento em que o ego não tem capacidade para elaborar todos esses impulsos, ela vai ser vivida como algo destruidor e perigoso, conforme dito na unidade 1: sua esposa estava preparando a comida quando de repente: Cabrum,

começou a chover. Ele foi correndo para a casa. Quando voltou, as suas flores estavam todas caídas. Na unidade de produção 5 (cinco), esses impulsos aparecem assim representados: “o pai e a mãe foram comprar mais carne que estava faltando. Compraram a carne e voltaram para a casa. Quando voltaram, a carne estava pegando fogo e estava começando a incendiar porque os meninos estavam lá em cima no quarto deles.

Felipe em todas as suas unidades de produção e Marta na unidade de produção 1 (um) e 5 (cinco) expressam, por meio dos Desenhos-Estórias, uma organização psíquica da

sexualidade diferente daquela esperada no período de latência. Em Felipe, mais intensamente, no lugar da calma da latência, há uma evidente turbulência emocional. Freud (1905), no entanto, refere-se ao período de latência como um tempo de tranqüilidade, em que ocorre a diminuição das manifestações sexuais infantis. Nesse período,s impulsos sexuais são suprimidos pela repressão e o ego utiliza-se de defesas mais evoluídas como a sublimação, a repressão e a formação reativa.

Observei por meio da análise dos desenhos-estórias que, em geral, as crianças estudadas estão vivendo o período de latência de forma adequada, com exceção de Felipe e Saulo que apresentou sérios indícios de depressão.

Em algumas unidades de produção, as crianças mostram de forma clara que, se este período for invadido por estímulos sexuais, os quais elas não conseguem elaborar, o ego fica muito ameaçado. A sexualidade é vivida de forma destrutiva e ligada a impulsos agressivos. Isto é, ela não vem relacionada à idéia de fertilidade, de procriação, de obtenção de prazer. Caio, por exemplo, na unidade de produção1 (um), fala de um carro que surge no meio de uma floresta desgovernado, sem motorista e que quase atropela um senhor. Entendo que ele esteja se referindo, nesse momento, a uma sexualidade que, se aparecer em um momento inadequado, pode ser perigosa. Na unidade de produção 3 (três), ele volta ao tema da unidade 1 (um): Tinha 2 (duas) pessoas passando pela faixa de pedestre e um carro

passou no sinal vermelho, e quase atropelou as pessoas que estavam passando pela rua.

Nas meninas, verificou-se a existência de uma fantasia que liga o representante masculino a algo destrutivo. Assim, o homem chega não para fertilizar, mas para ameaçar e destruir. Clara na unidade de produção 2 (dois) relata: estava tudo calmo por lá. Mas um dia,

veio um homem à noite e destruiu as plantas e os animais que moravam lá. Érika na unidade

de produção 2 (dois) diz: Essa família vivia muito feliz. Até que um dia apareceu um

vendedor de laranjas e quando a mãe de Priscila foi pagando, ele puxou sua mão, pegou a arma e assaltou a casa.

O conteúdo presente nas unidades de produção de algumas crianças confirma a hipótese de alguns autores, mais especificamente, Sarnoff, Carignani, Outeiral e o próprio Freud. A hipótese desses autores é de que uma interrupção no período de latência pode ocasionar sérios entraves no desenvolvimento infantil. A análise do Desenhos-Estórias destas crianças leva-me a propor uma segunda hipótese baseada nesta primeira – uma sexualidade genital adulta, que irrompe antes do momento, pode ocasionar uma interrupção ou uma grave perturbação no processo normal da latência. Para adentrar nesta discussão, acredito que,

primeiramente, seja importante (re)ver o que esses autores discutem sobre as conseqüências de uma possível alteração no transcurso da latência.

Para Freud (1905), a precocidade sexual, presente na etiologia das neuroses, poderia se manifestar na interrupção, encurtamento ou término do período de latência. Uma das conseqüências seriam perturbações nas manifestações sexuais, que poderiam ter características típicas das perversões.

Freud não desenvolve essa idéia ao longo da sua obra, no entanto, abre uma possibilidade, para refletirmos sobre as conseqüências da precocidade sexual na vida psíquica de um indivíduo. Algumas crianças estudadas sinalizam o que poderia acontecer com a solidez do seu ego; com a sua capacidade de pensar, de aprender; com a representação da sexualidade que se formaria em seu mundo interno se, nesse momento do desenvolvimento, fossem invadidas por estímulos, impulsos e sensações sexuais. Felipe na unidade de produção 5 (cinco) diz: começaram a jogar livros no fogaréu e começou a pegar muito fogo. Eles

pensavam que ia queimar tudo.

Carignani (2000) se refere à latência como um período de preparação para a adolescência. Para este autor, se a preparação ocorrer de maneira suficientemente organizada e elástica, o impacto com a adolescência será violento, mas tolerável. No entanto, se houver um excesso de organização ou um excesso de elasticidade, haverá dificuldades em vivenciar e elaborar a turbulência característica da adolescência.

Levando em consideração a afirmação de Carignani, posso pensar que uma das possíveis conseqüências de uma erotização precoce em crianças latentes seria a dificuldade de elaborar conflitos inerentes à adolescência. É na latência que a criança fortalece o seu ego, utiliza defesas mais evoluídas, forma o seu superego, começa a exercer a sua plena capacidade de simbolização, dessexualiza as suas relações objetais, volta os seus interesses para a realidade externa; sendo todo esse processo, necessário e importante, para a criança chegar à adolescência com mais recursos egoícos e intrapsíquicos para vivenciar a turbulência emocional característica desse momento do desenvolvimento.

Sarnoff (1985), assim como Carignani, afirma que um bom desenvolvimento do período de latência é de grande importância para que, na medida do possível, a criança chegue preparada para enfrentar a adolescência. Este autor, como foi explicitado no capítulo um, diferencia duas estruturas no ego da criança latente: os mecanismos de repressão e a estrutura da latência. Para ele, se essas estruturas fracassam em se desenvolver ou funcionam precariamente, começam a surgir sintomas neuróticos e comportamento impulsivo.

Este tipo de comportamento impulsivo de que fala Sarnoff pode ser resultante de uma falta de contenção interna e também externa, isto é, uma fragilidade relacionada às funções do superego. Melanie Klein (1932) ressalta a importância da criança ter representantes do superego no mundo externo para ajudá-la nesse processo de contenção da ansiedade. A presença desse superego externo auxilia a criança da latência na luta pulsional, que ela trava no seu mundo interno.

Marta, nas unidades de produção 3 (três) e 5 (cinco), deixa evidente a importância das figuras parentais para conter a ansiedade resultante dos conflitos entre ego, id e superego. Na unidade 3 (três), Marta assim narra: Era uma vez uma menina chamada

Jéssica Priscila. Ela estava em seu quarto, quando, de repente, percebeu que estava começando a criar bolinhas. Correu até a sua mãe e falou: mamãe, mamãe, eu estou começando a criar bolinhas, será que é alergia? Leandro na unidade de produção 5 (cinco)

também demonstra a importância de um relacionamento suficientemente bom com a figuras parentais para um desenvolvimento saudável das questões relativas à sexualidade.

Outeiral (2003) sugere que a excessiva exposição à sexualidade e ao erotismo genital, a que são submetidas às crianças, pode ocasionar uma abreviação no período de latência. Segundo este psicanalista, isto poderia resultar em dificuldades que iriam repercutir em vários aspectos da estruturação do psiquismo, interferindo no processo normal do desenvolvimento tanto na área da conduta como nos processos afetivos e cognitivos.

Acredito que essa interferência, na área da conduta, poderia se dar através da diminuição da capacidade de pensar dessas crianças, fazendo com elas substituam o pensamento e a capacidade de simbolizar pela atuação. Lembro-me de Bion (1962) e da sua teoria do pensamento em que afirma que, se uma experiência emocional não é processada para formar representações simbólicas que possam ser utilizadas para o pensar e o sonhar, será necessário evacuá-las, colocando para fora o excesso de estímulos que estariam sobrecarregando a mente. Uma das possibilidades de atuação relacionada à erotização precoce poderia ser a gravidez na adolescência. Sobre este assunto Eda Tavares (1999, p. 121-130) escreve:

Os índices de gravidez na adolescência têm crescido vertiginosamente. Em menos de 10 anos, cinco vezes mais meninas de menos de 15 anos deram à luz (Veja). Cerca de 8300 meninas com menos de 15 anos são mães a cada ano no país, o que representa 20% do total de nascimentos, segundo estimativa do IBGE.

[...]

No Brasil tanto o governo quanto os serviços de saúde pública estão alarmados com as dimensões que vem tomando a incidência de gravidez na adolescência.

Os médicos, assim como os serviços de saúde, tendem a considerar esse fato como conseqüência da pouca informação adequada que acompanha a sexualização precoce dos dias de hoje, favorecida pelos meios de comunicação.

[...]

Podemos dizer, então, que essas gravidezes constituem um acting out dessas meninas, ou seja, uma demanda de simbolização.

Além da interferência no processo de desenvolvimento normal da conduta, Outeiral observa que uma abreviação no período de latência poderia interferir também nos processos afetivos e cognitivos. Felipe, na unidade de produção 4 (quatro), demonstra que, quando impulsos genitais irrompem abruptamente nesse momento do desenvolvimento, no lugar do cérebro fica um machado na cabeça, isto é, a capacidade de pensar fica ameaçada. Na unidade de produção 5 (cinco), citado anteriormente, ele relata uma queima de livros que acontece quando toda uma cidade é destruída devido a um vulcão que entrou em erupção. Esses exemplos podem ilustrar como os processos cognitivos podem ficar ameaçados se a latência for interrompida ou abreviada.

Não podemos compreender a criança fora de suas relações com a sociedade na qual está vivendo, e desvinculada de suas interações com os sujeitos e com a cultura do grupo em que está inserida. Essas relações são constituidoras de sua subjetividade, ou seja, de sua forma de sentir, pensar e agir sobre o mundo. Erikson (1972) destaca a importância da influência exercida pela cultura e pela sociedade no desenvolvimento humano. Para este autor, cada estágio do desenvolvimento representa uma organização que corresponde às exigências da cultura de uma determinada sociedade.

Discuti no capítulo um desta dissertação como o conceito de infância foi surgindo ao longo do tempo, como vivemos em uma sociedade hoje bem diferente daquela em que Freud viveu. No cerne dessa mudança estão as transformações tecnológicas, culturais e econômicas por que vem passando a sociedade.

Não é possível referir-se à excessiva exposição das crianças à sexualidade e ao erotismo genital sem tratar dessas transformações tecnológicas, culturais e econômica. Vive- se em uma sociedade dominada pela ditadura da imagem, que tem a televisão vinte e quatro horas no ar, ditando a todos os ideais de homem, de mulher, de beleza, de felicidade.

As crianças não acreditam mais na estória da cegonha. Os meios de comunicação, principalmente a televisão, revelam segredos que na época de Freud pertenciam ao mundo dos adultos, hoje, no entanto, compartilhados também pelas crianças. Observam-se nas ruas capas de revista com mulheres e homens nus exibindo seu corpo, deixando explícita a diferença sexual entre meninos e meninas, antes tão escondida debaixo de enormes saias e paletós.

Para Freud (1905), um dos fatores que poderia ocasionar rompimentos prematuros no período de latência, bem como seu desaparecimento, seriam as influências externas da sedução. Ele afirma que, se tal fato ocorresse, a educabilidade das crianças estaria prejudicada. Freud, entretanto, refere-se de uma sedução real. Nos dias de hoje talvez pudéssemos falar de uma sedução virtual, midiática, televisiva.

Através da análise dos Desenhos-Estórias das crianças que participaram desta pesquisa, ficou claro o cuidado que devemos ter com a exposição das crianças a imagens; cenas; filmes que contenham um quantum de sensações, de estímulos sexuais e eróticos que não são capazes de serem elaborados. Elas mostram como seria aterrorizante e arriscado viver uma sexualidade genital adulta antes do tempo maturacional adequado. Quando o mecanismo da repressão falha, os impulsos pré-genitais também são despertados e inundam o ego e a mente infantil. Considero importante a seguinte reflexão de Levisky (2000, p. 31):

Penso que a relação da mídia com a sociedade precisa ser revista, principalmente quando sabemos de suas influências sobre a estruturação da personalidade das crianças e dos jovens. Os recursos protetores da sociedade são escassos ou pouco eficientes e o sentimento que desperta nos cidadãos é de impotência.

Este autor também escreve sobre os efeitos da violência na estruturação psíquica de indivíduos em desenvolvimento. Ele sugere que uma criança ou mesmo um adolescente assistindo a vários assassinatos, diariamente, pela televisão poderá modificar a sua maneira de perceber a violência. Outeiral (2003), seguindo o pensamento de Levisky e Soifer, propõe que esta modificação não será apenas na maneira do adolescente ou da criança perceber a violência, mas também haverá uma modificação na sua erótica se forem constantemente expostos a uma sexualidade, em todas as suas formas e matizes ao assistirem a filmes, novelas ou propagandas.

É importante deixar claro que este não é um discurso moralista nem nostálgico. Penso que é importante verificar de que modo a sexualidade é apresentada às crianças na contemporaneidade, observando como esta apresentação se difere daquela feita nos séculos XVIII e XIX . Dessa forma é possível analisar melhor quais seriam as conseqüências dessa nova maneira de apresentar e de viver a sexualidade na subjetividade infantil. Safra (2001, p.17) afirma a necessidade de um posicionamento crítico perante a maneira como essas informações são apresentadas, pois “a linguagem e a estética da era digital afetam profundamente a subjetividade humana, principalmente a subjetividade da criança”.

Se de um lado as crianças que participaram desta pesquisa mostraram em algumas unidades de produção como se sentem ameaçadas e em perigo quando impulsos sexuais genitais irrompem precocemente; de outro lado, elas também mostram como é necessário que,

durante esse período do desenvolvimento, a sexualidade, os instintos, os impulsos genitais fiquem nas “florestas”, “do outro lado do rio,” preservados, reprimidos e distantes do seu ego. Caio na unidade de produção 3 (três) ilustra bem essa necessidade: Tinha um homem que

vivia na floresta [...] ele vive numa casa grande, feita de aço, porque do outro lado do rio tem muitos animais perigosos. Para ele se proteger, ele se esconde, se não os animais perigosos podem pegar ele e ele tem medo. E é por isso que a casa dele é de aço. Lia na unidade de

produção 2 (dois): Era uma vez um jardim que vivia vários animais. Nesse jardim não ia

nenhuma pessoa para desmatar. Até que um dia chegou um bando de pessoas querendo caçar aves. Eles não conseguiram pegar nenhum pássaro porque tinha um protetor da selva e em todas as outras selvas e lugares.

Bruno Bettelheim, em seu livro “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, estuda a importância dos contos de fadas na elaboração dos conflitos infantis e faz uma análise sobre a linguagem simbólica do inconsciente presente nesses contos. Nesse livro ele faz a seguinte afirmação:

O id, à semelhança da maneira como os psicanalistas o encaram, é frequentemente retratado sob a forma de algum animal, representando a nossa natureza animal [...] tanto os animais perigosos como os prestativos representam nossa natureza animal, nossos impulsos instintivos. (BETTELHEIM, 1980, p. 93).

Esta afirmação de Bettelheim auxiliou-me a pensar sobre o significado presente nas estórias e nos desenhos das crianças. Querer proteger os animais e deixá-los na floresta significa mostrar a necessidade de deixar os instintos no id. Isto quer dizer que ainda não é o momento desses impulsos invadirem o ego da criança latente. Lia na unidade de produção 1 (um) ressalta a importância do protetor da selva, ou seja, a importância de um superego bem

No documento GIANNA FILGUEIRAS MOHANA PINHEIRO (páginas 149-176)