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Reflexões sobre o período de latência hoje: novas perspectivas

No documento GIANNA FILGUEIRAS MOHANA PINHEIRO (páginas 41-50)

Ao longo do levantamento bibliográfico, deparei-me com um pequeno número de pesquisas científicas, livros e artigos que tratavam especificamente sobre o período de latência. Existem inúmeras pesquisas com crianças em idade escolar que apresentam dificuldades de aprendizagem, contudo, essas pesquisas não têm como foco principal a discussão sobre a latência. Ester Sandler, Lígia Mattos e Paulo Sandler (2000, p. 56-57) no artigo “Latência?” afirmam:

[...] pensamos que não se pode mais deixar de lado o estudo e a investigação do fenômeno latência, tão pouco abordado em discussões científicas e na literatura; constamos que outros assuntos, aparentemente mais atraentes, mobilizam muito mais o interesse dos colegas, embora seguramente haja muito mais latentes do que autistas na face da terra e nos consultórios de psicanálise e de psicoterapia.

É importante ressaltar que alguns trabalhos pesquisados tinham como tema principal a questão da técnica utilizada na análise de crianças na latência. No entanto, investigar e discutir a questão da técnica utilizada na análise de crianças latentes não é um dos objetivos deste trabalho.

Ester Sandler, Lígia Mattos e Paulo Sandler (,2000), no artigo citado acima, destacam a importância do período de latência no processo de inserção do indivíduo na psicologia do grupo.

Sobre as questões relacionadas à influência das mudanças culturais no psiquismo infantil, foi encontrado um artigo apresentado no congresso da Fepal em 2002. Nesse trabalho, a psicanalista Vera Maria de Mello se propõe refletir sobre as alterações que vêm sendo observadas no período de latência e as conseqüências dessas alterações na estruturação psíquica das crianças, ressaltando a importância da cultura nesse processo.

A cultura do prazer instantâneo é algo presente; há como que uma necessidade de gratificação rápida, sem postergação. Isto nos faz lembrar que vimos observando, na clínica, uma menor demarcação no período de latência. Talvez como uma radiografia do que ocorre em nível social – a cultura do prazer instantâneo – podemos pensar que, em nível psíquico, há uma similaridade de processos (MELLO, 2000, p. 3)

A autora acredita que o período de latência pode ser considerado um período essencial no desenvolvimento do indivíduo, pois é o momento em que se dá o processo pleno de simbolização, havendo uma organização, ampliação e diferenciação do psiquismo possibilitando um melhor trâmite do pulsional. Ela sugere que a erotização precoce na infância influencia diretamente a latência, causando entraves no desenvolvimento normal deste período.

Em sua opinião, o que acontece é uma sobrecarga de estímulos que não têm possibilidades de descarga pulsional, proporcionando, dessa forma, uma excitação contínua no psiquismo da criança. A autora questiona que conseqüências teriam essa sobrecarga de estímulos no psiquismo infantil. Sobre esses estímulos escreve:

Hoje vemos o imaginário infantil, povoado de loiras do Tchan e Tiazinha, modelos aos quais as meninas procuram imitar, utilizando roupas, cabelos e gestos. Atualmente, em nossa cultura, as brincadeiras e jogos de roda, estão sendo substituídos gradativamente por concursos entre as crianças de quem consegue reproduzir, com maior qualidade, os movimentos contorcionistas, praticados por esses personagens, semelhantes a acrobacias sexuais [...]. Podemos observar que, aparentemente, nesses modelos há um apelo à sexualidade genital, no entanto, o que se dá é uma sobre-estimulação à sexualidade anal. As ‘bundinhas’ são destacadas, tanto na coreografia, como na linguagem verbal, os aspectos sádicos anais estão em evidencia. Na latência, por vezes, a sexualidade anal é ativada, em função de perigosas fantasias sexuais edípicas. Que se daria então no psiquismo infantil se, associada a isto houvesse uma superestimulação à sexualidade anal, aos impulsos sadomasoquistas? (MELLO, 2000, p. 6)

Com base na afirmação acima a autora levanta algumas hipóteses. Para ela, a super-estimulação da sexualidade anal estaria dificultando a utilização de um dos principais mecanismos de defesa da latência – a repressão. Desse modo, as crianças estariam pulando o período de latência, destinado à elaboração de processos mentais mais sofisticados, e, conseqüentemente, substituindo o pensamento pela atuação, somatização, ou utilizando outros tipos de descarga.

Para explicar esse processo de saturação da mente infantil, a autora recorre primeiramente a Freud (1905) quando este afirma que, se uma quantidade de excitação supera o limite da tolerância psíquica, o aparelho psíquico se desorganiza, não havendo elaboração dessa quantidade de energia, ocasionando uma ruptura do processo de pensamento, o que pode causar graves patologias. Em seguida, a autora cita a Teoria do Pensamento e do Conhecimento de Bion (1962), na qual este afirma que, se uma experiência emocional não é processada para formar representações simbólicas que possam ser utilizadas para o pensar e o sonhar, será necessário evacuá-las, pondo para fora o excesso de estímulos que estaria sobrecarregando a mente.

Ao longo deste artigo Vera Maria de Mello nos convoca a refletir sobre as mudanças sociais e culturais que estão ocorrendo na sociedade e sua inter-relação com o psiquismo infantil. Ela usa esse texto como disparador de perguntas e inquietações. Perguntas para as quais ainda não temos respostas. Fica, então, um convite implícito para que mais pesquisas, debates e reflexões sejam feitos.

Durante o levantamento bibliográfico, foi encontrado apenas uma tese de doutorado que tinha como tema principal o período de latência. A tese intitulada “Da infância para o mundo adulto” foi defendida em 1989 por Claudete Ribeiro na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Neste trabalho, a pesquisadora estuda o período de latência como um período de transição entre a infância e o mundo adulto. Ela busca compreender essa etapa do desenvolvimento, utilizando as teorias de Freud e de Erik Erikson acerca do desenvolvimento infantil. Sobre a importância de sua pesquisa a autora escreve:

Justificamos a execução desta proposta a partir da nossa necessidade prática, visto que um grande número de atendimentos em psicologia clínica ocorre com crianças que vivem a latência. Outro motivo é a insuficiência de estudos realizados com descrições mais precisas sobre amostras específicas, oferecendo informações sobre este momento evolutivo para o atendimento da criança (RIBEIRO, 1989, p. 8).

Em o seu percurso teórico duas perguntas nortearam o trabalho: O que é latência? Quais são as características básicas deste período?

Na tentativa de responder a estas perguntas, a pesquisadora fez um estudo com 212 crianças de oito a onze anos de baixa renda, estudantes de uma escola estadual da periferia da cidade de Assis, interior de São Paulo. Para coletar os dados da pesquisa, a autora utilizou duas técnicas – o Bender e a Investigação Psicológica da Percepção.

No primeiro capítulo, Claudete Ribeiro (1989) faz uma revisão da literatura, focalizando a latência dentro processo evolutivo. Retoma o conceito freudiano de latência e apresenta as idéias de Erik Erikson sobre o desenvolvimento humano, dando maior ênfase ao período de latência.

Os problemas e objetivos são apresentados no capítulo dois. A autora busca através do material coletado compreender e explicar, de acordo com o referencial teórico escolhido, quais são os aspectos que definem essa etapa do desenvolvimento humano. Ela observa que, durante o período de latência, é comum a criança vivenciar uma série de transtornos emocionais que surgem em decorrência de uma evolução emocional inadequada.

Através da análise dos dados obtidos, Claudete Ribeiro (1989) conclui que vivenciar a latência na condição de escolar carente e de periferia não favorece a ultrapassagem de estágios anteriores à latência. Foi detectado que as crianças analisadas se relacionam com as figuras paternas de forma muito distante ou, praticamente, essa relação é inexistente. Um outro aspecto que veio à tona foi o ambiente familiar desses estudantes ser constituído predominantemente por pais separados, ausentes ou distantes.

A pesquisadora observou também que a maioria das crianças vive o período produtivo de “indústria” de forma muito comprometida, e conseqüentemente, não elabora de forma satisfatória o período edípico. Ela ressalta que o processo de transição da infância para o mundo adulto, vivenciado por esses escolares, encontra-se perturbado.

A psicanalista Sônia Carneiro Leão, em seu artigo “O período de latência e as atividades sociais da criança”, aborda a latência sob um outro ponto de vista – o do narcisismo. Ela deixa de lado o caminho usualmente percorrido, as fases do desenvolvimento psicossexual, e escolhe o narcisismo como ponto de partida para a sua reflexão.

Quero supor que a latência é a idade em que realmente o desejo de torna possível e efetivado. Desejar é perceber-se em falta, é bom lembrarmos, e a entrada na latência significa que o sujeito pode aceitar-se enquanto definitivamente incompleto, enquanto irremediável separado do seu objeto primordial, e que terá que buscar, pelas vias do desejo, da metonímia, da substituição esse projeto perdido. É justamente por esse motivo que na latência intensificam-se as atividades intelectuais, lúdicas, etc. (LEÃO, 1996, p. 71).

Esta autora, diferentemente de outros psicanalistas, afirma que na latência não existe um entorpecimento da vontade. Ao contrário, a criança está à procura de suas próprias

coordenadas, buscando a satisfação por outras vias que não as do objeto. O prazer é perseguido, entretanto, o fim não é mais sexual, e sim cultural. Sônia Leão sugere que, na latência, tudo o que não existe é a latência do desejo, mas a sua operação incessante.

Acredito, porém, que a latência seja a fase em que a criança consegue realmente conviver com a falta e que passa para o espaço social – relações com o outro. É um período muito difícil de ser elaborado e, não é à toa que comparecem com tanta freqüência aos consultórios médicos e psicológicos crianças com comportamentos típicos de fases anteriores à latência, mostrando com isso a dificuldade que enfrentam em resolver a grande virada da vida que se dá com a elaboração do Complexo de Édipo (LEÃO, 1996, p. 579-580).

O artigo é concluído enfatizando a importância da fantasia tanto na vida da criança latente como na vida adulta. A autora ressalta que na latência sonho e realidade caminham juntos, destacando, também, a importância da sublimação e da recuperação do objeto na fantasia para que ocorra a entrada da criança na adolescência.

Concluindo, eu gostaria de sugerir que é importante pensar sobre o período de latência não somente como um período de pausa e repressão, mas também, como um período de desenvolvimento muito importante. A noção de pausa ou repressão, de defesas contra a sexualidade, pode ser útil para entender os problemas da criança latente neurótica, mas não para a criança latente saudável, nem para a borderline. (LEÃO, 1996, p. 580).

Em um artigo apresentado na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, o psicanalista italiano Paulo Carignani aborda o período de latência sob um ponto de vista inovador. Ele considera o período de latência como um importante momento no desenvolvimento do indivíduo. Segundo ele, esse período tem um papel decisivo na constituição da identidade individual e na integração do indivíduo no contexto de sua geração. Em suas reflexões iniciais, Carignani (2000, p. 2) diz:

Se o desenvolvimento da criança prevê um período de repressão e de particular apego à realidade, em prejuízo das fantasias mais livres da infância, deve haver certamente bons motivos para que isto ocorra, e nós deveríamos antes nos perguntar que função desenvolve semelhante período de vida num crescimento harmônico da criança.

Para Paulo Carignani (2000), a visão da latência como um período de construção de sólidas defesas, que acabam empobrecendo a vida imaginativa e de fantasia da criança, foi a que mais prevaleceu no campo psicanalítico. Ele relata que a passagem da primeira infância para o período de latência constitui um momento de intensa transformação tanto no âmbito do pensamento como no âmbito do comportamento social da criança.

Este psicanalista propõe ao longo do artigo uma nova forma de compreender o período de latência. Para ele, por exemplo, a atividade de colecionar objetos como selos ou moedas, tão característico desse período, pode ser entendida não apenas como um processo

defensivo, mas também como uma nova forma da criança organizar sua relação consigo mesma e com a realidade. Nas palavras de Carignani (2000, p. 4):

Estes são os anos em que as capacidades de discriminação e distinção da criança alcançam os pontos máximos de crescimento, e também são os anos em que ela constrói e desenvolve seus principais modelos de aprendizagem. A realidade é catalogada, organizada, sistematizada, de modo que possa ser tornada compreensível e gerenciável com os novos instrumentos cognoscitivos à disposição da criança. Este processo, então, não pode ser mais explicado, segundo o modelo de Freud, de Anna Freud ou de M. Klein, como um sistema defensivo voltado para as pulsões do passado, mas deve ser pensado como um processo evolutivo aberto para o futuro.

A interpretação da latência como idade voltada para o futuro tem suas bases nas hipóteses do psicanalista Armando Ferrari. Este parte do pressuposto que nem a mãe nem o seio materno é o principal objeto psíquico da criança, mas sim o conjunto de sensações e percepções provenientes do interior do seu corpo. Para Ferrari3 (1998 apud CARIGNANI, 2000), a latência não está restrita a um momento no qual tem fim a constelação edipiana; o período de latência é um momento do desenvolvimento em que começa uma notável busca pela identidade.

Agora os pais não são mais o mundo da criança, mas fazem parte do seu mundo. Progressivamente, o Eu da criança se torna cada vez mais artífice e edificador de seus processos de conhecimento, e a busca de sua própria identidade se torna o impulso maior na afirmação de si própria. Assim, enquanto a relação vertical vai se transformando com as mudanças corpóreas e as novas capacidades de percebê-las e de tolerá-las emocionalmente, a capacidade de relações horizontais vai se ampliando, e a criança introduz em seu universo relacional um número de pessoas cada vez maior (CARIGNANI, 2000, p. 5).

Essa necessidade do latente de introduzir um número maior de pessoas em seu universo de relações muda a forma da criança de se relacionar com mundo. Assim, o sentimento de pertencer a um grupo vai substituindo o sentimento de possuir o mundo. A família que, antes preenchia completamente o cenário das fantasias infantis, vai progressivamente deixando mais espaço para a relação com os coetâneos. Segundo Carignani (2000), a raiz do sentimento de pertencer a uma geração está intrinsecamente relacionada a essa primeira tentativa do latente de pertencer a um grupo de coetâneos. No confronto com os membros desse grupo, o latente vai descobrindo os contornos de sua própria identidade.

Uma outra teoria defendida por este psicanalista italiano é que a latência discutida nessa fase do desenvolvimento infantil não é apenas uma latência sexual, mas também uma latência relacionada ao inteiro impulso vital da criança, sobretudo àqueles de sensações corpóreas. O movimento de reter esses impulsos é, segundo Carignani, uma tentativa de constituição da própria identidade e pode ser percebido na forma como a criança se relaciona

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com o mundo e consigo mesma. Exemplos disso são: momentos de silêncio, timidez, busca pela solidão, entre outros. Sobre este tema, ele propõe a seguinte reflexão:

A idade de latência está bem longe de ser uma idade desprovida de pressões pulsionais, de turbulências emocionais, de agitações interiores. São as formas como estes impulsos criativos se exprimem que são diferentes, e são adequadas a uma idade de transição, a um período de preparação. Se esta preparação ocorrer de maneira suficientemente organizada e elástica, o impacto com a adolescência será violento mas tolerável; se, ao contrário, houver um excesso de organização ou um excesso de elasticidade, o jovem encontrará dificuldade em gerir a turbulência da adolescência. Os anos preciosos da latência servirão então para fornecer uma preparação adequada para acolher uma revolução física, psíquica e hormonal sem comparação, para qual, de qualquer modo, não se poderá chegar realmente preparado, uma vez que a surpresa e a desorientação são as condições inevitáveis da explosão da adolescência (CARIGNANI, 2000, p. 12).

As idéias propostas por Carignani são de fundamental importância para a tessitura desta dissertação, principalmente, quando afirma que a latência é um período essencial na construção da identidade humana e no sentimento de pertencer a uma geração. Outro aspecto relevante é o valor que este período exerce como fase de preparação para a adolescência. Assim, a latência passa ser vista não apenas como um momento de calmaria devido a intensos mecanismos de defesa, mas, principalmente, como um momento de intensa elaboração psíquica, de muitas mudanças na forma da criança se relacionar com o mundo e consigo mesma. Através de seus estudos e análises Carignani ampliou o olhar sobre o período de latência.

Na discussão realizada acerca dos novos estudos referentes ao período de latência, até o momento, foram utilizados artigos publicados em revistas ou encontros científicos e uma tese de doutorado. Como é possível verificar, praticamente não existem livros que tratem especificamente sobre o tema da latência. Ao longo da minha pesquisa bibliográfica, deparei- me apenas com um livro que trata especificamente sobre o assunto abordado.

O livro foi publicado nos Estados Unidos em 1987 e no Brasil em 1995. O autor Charles Sarnoff fez um extenso estudo sobre o período de latência e as características da psicoterapia nesta fase do desenvolvimento infantil. No início do primeiro capítulo, o autor faz uma ressalva ao pequeno número de pesquisas dedicadas à latência.

Embora a criança no período de latência contribua com a porção maior às listas de casos clínicos e de profissionais particulares que fazem terapia infantil, pouco no que se refere à observação ou pesquisa dos aspectos mais refinados do desenvolvimento da criança em latência, foi tentado ou publicado. Em programas educacionais psiquiátricos, tempo insuficiente foi dedicado à palestras sobre latência. Os acontecimentos da latência, com freqüência, eram abordados com idéias preconcebidas baseadas na experiência com outras idades. A latência, um período que a observação direta mostrou ser um caldeirão fervente de ocorrências em termos de desenvolvimento, foi encarada como um deserto, suas características consideradas nada mais do que padrões e sombras, projetadas de outras zonas de desenvolvimento (SARNOFF, 1995, p. 23-24).

O período de latência, segundo Sarnoff (1995), esteve latente durante quarenta anos. Após este tempo, psiquiatras e psicólogos começaram a estudar, ainda que de forma tímida, essa etapa do desenvolvimento.

Este pesquisador apresenta duas definições de latência: latência como uma faixa etária e latência como um estado psicológico. A primeira é definida como o período que vai dos seis aos doze anos de idade. Contudo, o conceito de latência como um estado psicológico é mais amplo. Esta última definição é utilizada para descrever a latência como um período de defesas dinâmicas, no qual a criança vai vivenciar uma complexa reorganização da estrutura defensiva do ego. Nesse momento do desenvolvimento, a docilidade, o bom comportamento, a calma tornam-se características preponderantes advindas de um equilíbrio entre as defesas e as tensões. Acrescenta que esse estado de latência não é obrigatório, ou seja, encontra-se facultativamente presente relacionando-se à cultura na qual vive o indivíduo.

Ainda sobre o estado de latência, Sarnoff propõe algumas considerações que podem servir como importante fonte de reflexão no decorrer desta pesquisa:

As defesas que auxiliam a produzir o estado de latência podem ser esmagadas, caso os impulsos da criança sejam fortemente estimulados por comportamento sedutor, seja de forma direta, seja de uma forma que estimule a ativação simpática dos impulsos. Para que essas defesas possam manter imperturbado o estado de latência, é providenciada uma garantia que preserve suas funções, diante das seduções e traumas (SARNOFF, 1995, p. 26).

Para explicar porque essas defesas podem ser esmagadas, caso os impulsos sejam estimulados, Sarnoff recorre à obra de Freud e faz um minucioso estudo sobre os momentos em que este último discute a questão da latência. Assim, o autor volta aos textos freudianos e analisa cada passagem que se refere à discussão sobre o período de latência.

Sarnoff aponta divergências existentes ao longo da obra de Freud. Em alguns textos, Freud (1905, 1923, 1926,1935) considera a latência como uma fase pré-ordenada, ou seja, que possui uma herança fisiológico-hereditária. Segundo este entendimento, quando a criança chega à idade de seis anos mais ou menos os impulsos sexuais diminuem de

No documento GIANNA FILGUEIRAS MOHANA PINHEIRO (páginas 41-50)