• Nenhum resultado encontrado

3.2 Pressupostos fundamentais da EAD

3.2.1 Distância e educação a distância

“Para se ter um conceito de distância, precisa-se de um senso de lugar, ou, mais especificamente, de lugares: a distância se torna o(s) espaço(s) entre lugares” (EVANS, 1989, 175).

Educação a distância é a possibilidade de um programa de ensino organizado se realizar com professores e alunos fisicamente separados. Esta distância física entre professor e aluno é mediada, construindo proximidade, com a utilização de tecnologias que permitem comunicação e interação entre as partes.

Belloni (1999), destaca que os conceitos de EAD sempre se baseiam na comparação com a educação tradicional, partindo do parâmetro da distância como diferencial, mas sempre a distância física, a separação espacial. Para autora, a separação entre alunos e professores é sim um fator diferenciador, mas aponta para a separação no tempo, que implica na comunicação diferida, definidora das relações no contexto da EAD. Esta separação no tempo pode ser também uma distância dialógica, ou transacional, como se vê na teoria proposta por Michael Moore.

A interação entre o professor e o estudante ocorre de modo indireto não apenas no espaço – a distância, descontígua – mas também no tempo – comunicação diferida, não simultânea –, o que acrescenta complexidade ao já muito complexo processo de ensino e aprendizagem (BELLONI, s.d., p. 14).

Peters (2001), dedica um capítulo de seu livro “Didática do Ensino a Distância” ao assunto “Distância e proximidade”, pois segundo ele, a valorização da proximidade e a superação da distância sempre marcaram a EAD, uma vez que a existência do estudar e ensinar a distância quebra um paradigma milenar, uma vez que “ensinar e estudar foram atos que sempre ocorreram em proximidade física”. Essa prática é, então, vista como diferente, sem comparação ao estudo presencial e, ainda, considerada como “especialmente difícil”. Devido à compreensão desta distância como um fator negativo e da contigüidade como positiva e desejável, a EAD vem desde seus primórdios buscando maneiras de “superar, reduzir ou até mesmo anular a distância física” (PETERS, op. cit. p. 47).

Ao apresentar os diferentes modelos pelos quais se buscou responder a essa necessidade de “transformar distância em proximidade” – os modelos da correspondência, da conversação, do professor, dos tutores e do modelo tecnológico de extensão – o autor vai destacar como sempre se buscou na utilização de meios diversos de comunicação em diferentes estruturas e com diferentes abordagens a solução do problema da relação distância e proximidade na EAD (PETERS, 2001).

No entanto, a resposta adequada parece ainda não ter sido encontrada, pois o autor é bastante crítico em relação à eficácia dos modelos existentes, especialmente no que se refere ao ensino superior a distância e ao atendimento do aluno adulto, principal clientela da EAD. Para Peters, o conceito de “distância transacional”, proposto por Michael Moore é o que mais se aproximou de esclarecer teoricamente aquilo que foi

tentado na prática dos modelos apresentados: a redução da distância entre alunos e professores com uso de simulação.

Moore (apud PETERS, op. cit., p. 63) vai distinguir:

distância física e distância comunicativa, isto é, psíquica, e introduz, para designar a última, o conceito de distância transacional, dependendo se os estudantes são abandonados a sua própria sorte com os materiais de estudo ou se podem comunicar-se com os docentes.

A função transacional tem como determinante a possibilidade de interação (diálogo) professor-estudante e é muito influenciada pelo grau de estrutura do programa de ensino no qual a interação acontece. A maior distância transacional acontece quando não existem possibilidades de comunicação interativa professor- aluno e altos graus de determinação institucional no programa. O seu menor grau será atingido, então, se o programa é aberto, atende o indivíduo e suas necessidades e proporciona oportunidades efetivas de diálogo entre aluno e professor. Moore (2002) não defende a redução da distância transacional, pura e simplesmente, mas a busca do equilíbrio entre diálogo e estrutura mais adequado para cada situação.

Para Moore (op. cit.), a distância é composta de dois elementos mensuráveis: a comunicação em duas vias, ou diálogo, que pode variar de um sistema ou programa para outro; e a extensão pela qual cada programa é responsável pelas necessidades e objetivos do estudante individual. Considerando esses dois elementos, o autor classifica os programas de EAD como “autônomos” (determinados pelo aluno) ou “não-autônomos” (determinados pelos professores). Moore coloca que o grau de autonomia de um programa pode ser determinado pela autonomia do aluno na elaboração dos objetivos, seleção dos métodos de ensino e avaliação (apud BITTENCOURT; MORAES, 2000).

Diálogo, estrutura e autonomia, presentes no conceito de distância transacional e na teoria do estudo independente propostos por Moore são três elementos fundamentais para a EAD e estão diretamente relacionados aos conceitos de distância/proximidade, mediação e interação.

Landim (1997, p. 17), aborda os muitos sentidos e significados do termo distância e sua importância para o conceito de EAD. “Distância é um conceito relacional para o espaço entre lugares”, ou seja, é possível desconstruir este espaço no âmbito das interações mediadas.

Nossa sociedade tende a classificar distância como algo negativo, mas: a distância pode ser importante, ao dar ao ser humano tempo e espaço para pensar e para ser. Pode significar liberdade, possibilitando-lhe assumir as suas próprias atividades e gerir o seu tempo. Todos os membros de um grupo humano experimentam a distância psicológica, por meio da qual se define quem são (LANDIM, 1997, p. 17).

Mas, para muitos autores a sociedade globalizada, baseada no uso intenso das TIC, caracteriza-se justamente pela “diminuição” do tamanho do planeta, onde “a retórica contemporânea sugere que vivemos em um mundo unitário, onde espaço e tempo entraram em colapso e a experiência da distância foi implodida para sempre” (SREBERNY-MOHAMMADI, apud FRANZ, 2001). Esta sociedade caracteriza-se pela reconfiguração da relação espaço-tempo (GIDDENS, 1990) e pela “compressão do tempo e do espaço” (HARVEY, 1993), que leva os indivíduos a perceberem as distâncias como transparentes. Ou seja, as TIC transformaram o planeta no que MacLuhan (apud FRANZ, 2001) chamou de “aldeia global”.

Para a EAD, a distância aparece como fator que pode dificultar a relação do aluno com o professor, especialmente a distância temporal, uma vez que a distância espacial é mais facilmente superada. Mas, para o aluno a distância, a assincrocidade que caracteriza algumas tecnologias utilizadas para mediar a sua interação com o conteúdo, professor e colegas, pode ser sentida como um fator dificultador do processo de aprendizagem (SILVA, 2001).

3.2.1.1 A distância e suas múltiplas dimensões

Raghuram, Wiesenfeld , Garud (1996), ao estudarem as implicações da distância para o mundo do trabalho (tele-trabalho, organizações virtuais, etc.),

conceituam distância como tendo pelo menos mais três dimensões, além da física. Estas dimensões são a distância da informação, das relações sociais e das normas e rotinas organizacionais. A primeira dimensão está relacionada com a distância das informações tácitas ou articuláveis, que podem ser codificadas em formato eletrônico ou papel. Quanto a distância das relações sociais, os autores se referem a uma separação que se manifesta numa redução do poder de influência e confiança em relação aos pares, supervisores, subordinados, clientes, pessoas próximas. A terceira dimensão significa, para os autores, a liberdade de trabalhar sem se adequar às normas e rotinas da organização, sejam estas explicitadas ou implícitas.

Os autores também concluem em seu trabalho que as dimensões apresentadas são interdependentes e com um potencial para interagirem umas com as outras de formas complexas. Por exemplo, um aumento da distância das relações sociais entre empregados pode enfraquecer a criação de normas de comportamento compartilhadas. O enfraquecimento de normas de comportamento compartilhadas, por sua vez, pode levar a redução da troca de informações entre os empregados. Esta redução da troca de informações pode aumentar a distância nas relações sociais, e assim por diante (RAGHURAM; WIESENFELD; GARUD, 1996, p.10).

A distância como separação física, no espaço, ou distância geográfica, está relacionada com outras formas de distância que caracterizam o processo descontíguo de construção do conhecimento que se chama de educação a distância. No entanto, segundo Belloni (1999), esta é a mais facilmente superada com as facilidades comunicacionais das TIC, que permitem uma interação efetiva dos alunos com o professor, colegas e instituição.