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3.2 Pressupostos fundamentais da EAD

3.2.3 Interação

3.2.3.2 Interação na EAD

Moore (1989) propõe que qualquer iniciativa de EAD deve contemplar três tipos de interação:

− aluno-professor9

(forma de interação vista como fundamental pela maioria dos educadores e muito solicitada pelos estudante a distância; pode variar de uma “aula”, onde o professor se dirige a um grupo de alunos, até a interação um-para-um, onde o professor responde a uma demanda individual);

− aluno-aluno (bastante limitada na EAD de primeira e segunda geração, esta forma de interação passa a ser muito valorizada com o advento das mídias a partir da terceira geração, pois acredita-se este “pode ser um recurso extremamente valioso para a aprendizagem e muitas vezes até mesmo essencial” (apud SUTTON 2001, p. 3);

− e aluno-conteúdo (esta é, talvez, a mais importante das interações na EAD, pois é o momento em que o aluno interage com o conteúdo apresentado nos mais diversos formatos – impresso, CD-ROM, vídeo, etc. – e aprende, internalizando as informações acessadas; em muitos modelos de cursos o aluno interage somente com o conteúdo, jamais interagindo com colegas ou instrutores; a interação do aluno com o

9 Esta é uma tradução “contextualizada”, uma vez que no original lê-se “learner-instructor interaction”, significando a interação com o instrutor, que pode ser o tutor, o professor, ou o assessor pedagógico.

conteúdo é um processo interno que vai possibilitar um ‘diálogo simulado’ entre o material e o aluno).

Analisando as interações propostas por Moore, Holmberg e Lundberg (1997) apontam para a presença dos atores nos dois primeiros momentos, o que vai facilitar a aprendizagem do aluno. Mas, para estes autores, o terceiro tem a ver com a relação direta de trabalho do aluno com o conteúdo, se informando e construindo/refletindo internamente com ou sem uma ajuda exterior.

Para Holmberg e Lundberg (1997) o conceito de interação se estrutura em duas dimensões: uma relacionada com o “conteúdo em interação” e outra com o “contexto onde acontece a interação”, com foco nos estudantes e outros atores e o desenvolvimento de relações no processo ensino aprendizagem. Ou seja, conforme afirmam Lave e Wenger (apud SUTTON, 2001, p. 2), “o processo social de interação é requisito para que haja aprendizagem”.

Hillman et. al. (Apud SUTTON, 2001), propõem um quarto tipo de interação, que consideram como característico da EAD a partir da terceira geração – a interação aluno-interface. Esta quarta possibilidade de interação acontece entre o aluno e astecnologias utilizadas na implementação do curso e é obrigatória, pois o aluno deve utilizar alguma tecnologia para interagir com o conteúdo, o professor e/ou colegas.

Sutton (2001) identifica ainda a existência de um quinto tipo de interação – vicarious interaction – que pode ser traduzida como interação vicária, a qual acontece quando um aluno se beneficia de forma indireta da interação de um ou mais colegas com o professor ou entre estes. Para Sutton (op. cit.), nem todos os estudantes vão se beneficiar deste tipo de interação, mas para alguns (mais tímidos, discretos, que têm dificuldade de interagir) pode ser um diferencial entre aprender ou não determinado conteúdo.

A questão da interação permeia as discussões com caráter mais teórico na área, uma vez que este é um conceito fundamental na construção da proximidade, pressuposto da EAD (conforme visto em PETERS, 2001, op. cit.). No trabalho de Holmberg e Lundberg (op. cit.), diversos autores que já trabalharam com o conceito

de interação são mencionados, como por exemplo, as pesquisas sobre teorias educacionais realizadas por Baath (1984), demonstrando a importância dos diferentes tipos de apoio oferecidos aos alunos e concluindo que uma relação individual e personalizada de tutoria é fundamental para o sucesso.

Dewey (Apud VRASIDAS, 2000) destaca a interação como um dos mais importantes componentes da aprendizagem, da mesma forma que Vigotsky (Apud VRASIDAS, 2000), para quem a interação caracteriza a relação do indivíduo com o ambiente. Neste sentido, o “grande desafio para educadores é criar ambientes de aprendizagem que ofereçam aos estudantes possibilidades de elaborar e desenvolver seus próprios processos intelectuais” (HOLMBERG; LUNDBERG, 1997, p. 2). O ambiente deve ser estimulante e criativo, gerar idéias, oferecendo ao aluno múltiplas possibilidades de interação.

Outro trabalho nesta área foi realizado por Rekkedal (1995), que destacou a importância dos tutores e sua relação com alunos, observando resultados positivos em termos de persistência, atitudes e desempenho daqueles alunos que tiveram um acompanhamento individualizado e próximo. Ou seja, fica destacada a importância da interação aluno-tutor para o processo ensino-aprendizagem.

A relação professor-tutor/aluno é planejada e assegurada pela instituição, o que é uma característica diferenciadora da EAD (KEEGAN, 1996). Esta relação é fundamental em qualquer situação de ensino e, segundo Holmberg e Lundberg (1997) acontece em uma “arena formal”,10 formada pelas diferentes áreas nas quais o estudante atua e se relaciona.

Diferentes autores na área de EAD têm se preocupado com a relação professor-aluno e com a integração desta relação nos materiais de estudo produzidos. Holmberg (1995) ao trabalhar o conceito de conversação didática, preocupa-se com esta questão, e com a integração de um aspecto relacional aos materiais. Keegan (1996), propõe a idéia da reintegração do ato de ensinar e aprender com os materiais e também se mostra preocupado com a dimensão

10 A “arena formal” é o contexto institucional, onde as interações estabelecidas são pré-determinadas, com o professor e, eventualmente, com os colegas.

relacional. Outros autores citados são Moore (1993) e sua teoria da distância transacional e Garrison (1989), com a teoria sobre transações educacionais.

Holmberg e Lundberg (1997) destacam que acontecem no contexto da “arena formal” as interações do aluno com os conteúdos e/ou materiais de estudo, com o professor ou outro representante da instituição, e com seus colegas, sendo todas organizadas e planejadas no contexto organizado da instituição.

Educação a distância freqüentemente significa uma intervenção ou mudança das atividades educacionais para a casa do aluno. Nesta situação, o que é mais importante para organizadores dos estudos é mediar a relação aluno-professor, para reduzir a distância o mais eficientemente possível (HOLMBERG; LUNDBERG, 1997, p.5). A casa do aluno é “colonizada” pela instituição de EAD, pois é aí que a interação do aluno com o conteúdo e mesmo com o professor ou outros atores vai acontecer, especialmente com novas tecnologias de comunicação (EVANS, 1989). Provavelmente, a interação que acontece em contextos outros que a instituição segue um padrão já conhecido na sala de aula e, ainda assim, é influenciado/organizado pela instituição de EAD – arena formal.

Holmberg e Lundberg (1997) argumentam que os alunos também vão interagir em contexto informais, que são normalmente desconsiderados. Atores informais, como colegas de trabalho, vão apoiar e encorajar o aluno nos seu processo de aprendizagem. As relações aluno-aluno e aluno-contexto social são fundamentais, sendo que a interação nesta “arena informal”11 é provavelmente mais profunda, uma vez que está imersa em valores emocionais e relações afetivas. Para a instituição de EAD é fundamental que esta “arena informal” seja cooperativa e auxilie o aluno, motivando-o para os estudos e para sua permanência e finalização do programa iniciado.

A definição de interação está focada nas relações entre as pessoas, não na tecnologia utilizada para mediar estas relações. Interação envolve elementos como local, contexto e conteúdo. Holmberg e Lundberg (1997) definem interação como:

11 O que autores chamam de “arena informal” é a vida social do aluno em casa, a família, o trabalho, os amigos, onde as relações estabelecidas também vão auxiliá-lo nos alcances de seus objetivos, ou não.

(...) a relação entre o aluno e elementos significativos (pessoas, ambiente) no contexto que o rodeia. Este contexto pode ser formalmente organizado ou informal. A relação tem conteúdos específicos. Sempre vai lidar com tarefas cognitivas, administrativas e emocionais relacionadas com objetivos educacionais ou com o desenvolvimento do aluno durante o curso. Interação pode acontecer com atores presentes no mesmo local ou separados. Pode acontecer em tempo real ou com atraso. Quando atores estão separados ou quando interação é atrasada algum tipo de solução para ligar os atores é necessária, normalmente alguma “ponte tecnológica” (HOLMBERG; LUNDBERG, 1997, p 9).

Os autores vão explorar diferentes cenários onde interações podem acontecer, com foco nas duas arenas contextuais – formal e informinterações com conteúdo (cognitivas, administrativas e emocionais) vão acontecer. Cenários apontam para importância do pessoal e atividades de apoio.

Atores de diferentes contextos podem, provavelmente, oferecer conselhos, ajuda sobre como estudar, utilizando suas próprias experiências como referência, mas somente o pessoal de apoio da instituição é que estará habilitado a explicar com detalhes “as regras do jogo” (HOLMBERG; LUNDBERG, 1997, p. 13).

O conceito de interação tal qual trabalhado por diferentes autores na área de EAD deixa clara a sua importância para os serviços de apoio ao aluno. Os profissionais envolvidos nas diferentes atividades que compõem os serviços de apoio aos alunos na EAD atuam no sentido de facilitar as interações e muitas vezes a interação do aluno com a instituição de EAD é formalizada por eles – caso da relação aluno-tutor, por exemplo.

Ainda em Holmberg e Lundberg (1997), fica clara a necessidade de se criar, para o aluno, um ambiente que lhes dê poder sobre o seu processo de aprendizagem, com a oferta de diferentes meios e formas de trabalho para chegar aos seus objetivos. Os autores sugerem que a sua definição de interação:

torna o estudante e todo o seu ambiente de aprendizagem visível. Tendo este tipo de definição e colocando em prática de forma criativa é possível trabalhar com novos e diferentes cenários para o apoio aos estudantes (HOLMBERG; LUNDBERG, 1997, p.13).

Para Robson (1996), a importância da interação na EAD está relacionada com a aprendizagem e a socialização do aluno, que aprende ao interagir com os

colegas, com o professor e, também, com o contexto onde ocorre o processo ensino-aprendizagem.

Numa interpretação behaviorista, a interação pode ser vista como uma situação onde acontece um estímulo-reação-estímulo. Mas, pode também ser vista como a construção do saber no contato com o outro, pois “[Q]uando as pessoas interagem elas interpretam o meio ambiente e relacionam esta visão com asal. É nestes cenários que as circunstâncias.” Neste sentido interação “é a interação de idéias com aquelas de outros para explicar as suas próprias, para apreciar as idéias dos outros e estimular a criação de novas” (ROBSON, 1996, p.315). Ou seja, as pessoas vão ajustar a sua compreensão e interpretação de um fenômeno por meio de interações com outras pessoas.

Na EAD a tecnologia utilizada pode determinar a quantidade e qualidade da interação. Moore (apud ROBSON, 1996, p. 315), coloca que é:

importante examinar a capacidade da tecnologia para facilitar e aumentar a interação no processo de ensino ao mesmo tempo em que se mantém na cabeça que mesmo que, em muitos casos, a distância física separa alunos e professores, existem muitos outros fatores, como a presença de outros estudantes, que pode levar a sensação de separação, mesmo quando professor e alunos estão bem próximos, na mesma sala-de-aula.

Fica evidente, neste caso, a importância da escolha de tecnologias adequadas ao perfil do público-alvo, uma vez que a acessibilidade e nível de interatividade devem ser vistos como fatores fundamentais deste processo, sem , no entanto, esquecer-se a importância da seleção de estratégias adequadas para a facilitação da aprendizagem do aluno.