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Interação pressupõe comunicação e vice-versa

3.2 Pressupostos fundamentais da EAD

3.2.3 Interação

3.2.3.3 Interação pressupõe comunicação e vice-versa

Berlo (Apud PRIMO, 2000, p.2) aponta para a existência de uma interdependência no processo de interação, com agentes envolvidos em uma relação de dependência e influência mútuas. Conforme exposto por Primo (op.cit. p.

2), o contexto vai influenciar sobremaneira o grau e a qualidade dessa interdependência, destacando o alerta do autor para o risco de uma compreensão limitada da interação “(...) apenas como ação e reação”.

A segunda falha do uso do conceito de ação-reação diz respeito à nossa permanente referência à comunicação como um processo. Os termos ‘ação’ e ‘reação’ rejeitam o conceito de processo. Implicam que há um começo na comunicação (o ato), um segundo acontecimento (reação), acontecimentos subseqüentes, etc., e um fim. Implicam a interdependência dos acontecimentos dentro da seqüência, mas não implicam o tipo de interdependência dinâmica que se compreende no processo da comunicação (BERLO, 1991, p. 117, Apud PRIMO, 2000, p. 2).

O que se destaca, então, no trabalho destes autores e também em outros importantes teóricos da comunicação (WATZLAWICK, BEAVIN e JACKSON, 1967; Fisher, 1987), é uma visão da comunicação como interação, dinâmica e contextual.

Segundo Picciano (2002), interação e presença são fundamentais para o desempenho do aluno em cursos a distância. Este autor vai interpretar presença de acordo com o conceito proposto por Lombard e Ditton (1997, p. 23), onde esta seria a “ilusão da não-mediação onde o meio aparentemente torna-se invisível, ou se transforma em uma entidade social”. Ou seja, a presença seria a possibilidade de esquecer a mediação tecnológica e sentir-se realmente parte da experiência, presente. Presença é transparência.

Thompson (1998, p. 77) aponta que o desenvolvimento dos meios de comunicação leva ao surgimento de novas formas de interação e de relacionamentos sociais. Este desenvolvimento “faz surgir uma complexa reorganização de padrões de interação humana através do espaço e do tempo”. O autor analisa três tipos de interação: interação face-a-face, interação mediada e interação quase-mediada.

A interação face-a-face acontece em um “contexto de co-presença” e onde os “participantes estão imediatamente presentes e partilham um mesmo sistema referencial de espaço e de tempo”. É dialógica e os participantes compartilham o referencial simbólico, o que facilita a comunicação. Já a interação mediada acontece

com a utilização de algum meio técnico, como o telefone, cartas, etc. As referências simbólicas são diferenciadas e existe uma separação entre os participantes, que pode ser somente no espaço ou também no tempo. O último caso, a quase interação mediada descreve aquelas interações que acontecem mediadas pelos meios de comunicação de massa. É uma interação monológica, pois somente os produtores enviam mensagens, que são recebidas, mas que, na maioria das vezes, não são respondidas de forma direta. A seguir, reproduz-se tabela proposta pelo autor, onde são apresentadas diferenças e semelhanças entre os tipos de interação.

Características interativas

Interação face a face

Interação mediada Quase-interação mediada Espaço tempo Contexto de co-

presença; sistema referencial espaço-temporal comum Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço Possibilidade das deixas simbólicas Multiplicidade de deixas simbólicas Limitação das possibilidades de deixas simbólicas Limitação das possibilidades de deixas simbólicas Orientação da atividade Orientada para outros específicos Orientada para outros específicos Orientada para um número indefinido de receptores potenciais Dialógica/monológica Dialógica Dialógica Monológica Quadro 4. Tipos de interação

Fonte: Thompson, 1998, p. 80

A interpretação proposta por Thompson (1998), e rapidamente resumida anteriormente, destaca a importância do desenvolvimento das TIC e dos meios de comunicação de massa para o surgimento e disseminação de novas formas de interação, onde os indivíduos passam a interagir com situações e eventos distantes da sua realidade com grande familiaridade. Para a educação a distância estas possibilidades são fundamentais, pois vão garantir ao aluno a construção da proximidade, mediada por diferentes tecnologias. Os meios de comunicação de massa também são utilizados com grande intensidade na EAD, especialmente nos países em desenvolvimento, onde a acessibilidade às novas mídias interativas é ainda bastante restrita. Mas, quando isto ocorre, oportunidades paralelas de interação são oferecidas ao aluno, desde a utilização de materiais impressos e

correspondência para a comunicação com a instituição, até a possibilidade da tutoria presencial.

Buscou-se, neste capítulo, delimitar conceitos que são percebidos por esta pesquisadora-autora como fundadores das escassas teorias existentes sobre educação a distância: distância, mediação e interação.

A distância, em suas múltiplas dimensões, é apresentada como característica definidora da EAD e, ao mesmo tempo, o grande desafio para os profissionais da área. A sua superação, criando no aluno um senso de pertencimento, de proximidade, de familiaridade com a forma de trabalhar e com a instituição impulsiona as ações de EAD. Construir a proximidade do aluno com a instituição/organização implica na aceitação e compreensão das diversas dimensões da distância, física, temporal, dialógica.

O processo de mediação pode ser visto como a apropriação/adaptação, pela instituição e/ou organização que está organizando e ofertando um curso a distância, das tecnologias e materiais utilizados no sentido de auxiliar ou facilitar o processo de aprendizagem do aluno. Neste sentido, fica claro o papel que irá exercer o serviço de apoio ao aluno neste processo, onde esta estrutura aparece como uma ponte entre o aluno distante e a instituição/organização de EAD.

Interação é conceito-chave na EAD. Se educação for pensada/abordada como um processo de comunicação, a interação é, justamente, este processo mediado por meios diversos. Sua importância relaciona-se diretamente com o processo de aprendizagem e de socialização do aluno. Criar oportunidade de interação e/ou facilitar este processo entre o aluno e a instituição e/ou colegas e/ou professores é o desafio colocado para os serviços de apoio ao aluno. Na verdade, todas as ações de apoio têm como foco o estímulo à interação, a diminuição da distância, a mediação de processos.

A compreensão dos conceitos de interação e interatividade é fundamental para a discussão dos papéis e funções dos agentes que atuam no apoio ao aluno a distância. Por esta razão a importância da sua utilização neste trabalho, sempre

tendo como foco a atuação do monitor, como agente facilitador da comunicação entre o aluno e a instituição, o professor e seus colegas.

CAPÍTULO 4

SERVIÇOS DE APOIO AO ALUNO: INFORMAÇÃO, ATENDIMENTO E

ACOMPANHAMENTO

4.1 Introdução

Este capítulo apresenta um estudo detalhado da literatura sobre serviços de apoio aos alunos a distância, com ênfase na estrutura e serviços oferecidos, características dos profissionais (monitores/tutores) e importância para o sucesso da EAD. Uma vez que o ponto de partida para a organização de uma estrutura de serviços de apoio ao aluno deve ser o conhecimento do público-alvo, inicia-se o capítulo com algumas considerações sobre as características, necessidades e demandas dos alunos a distância.