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3.1 GOVERNOS PAULISTAS E SUAS AÇÕES SOBRE A ESFERA EDUCACIONAL

3.1.2 A EDUCAÇÃO NA NOVA REPÚBLICA OU TERCEIRA REPÚBLICA (1986 – 2006)

3.1.2.1 EDUCAÇÃO NO GOVERNO DE ORESTES QUÉRCIA (1987 – 1991)

Em SP, no período de 1987 a 1991, estava em vigência a gestão de Orestes Quércia83 do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Esse mesmo partido político estava governando o país na esfera nacional, através do mandato do presidente José Sarney84 (Quadro 04).

Segundo José Roberto Rus Perez (2000), durante o governo Quércia ocuparam o cargo de Secretário de Educação: Chopin Tavares Lima85 (1987-1989); Wagner Gonçalves Rossi86 (1989-1990); José Goldemberg87 (janeiro à março de 1990); e Carlos Estevam Martins88

(1990-1991).

Quadro 04. Resumo dos acontecimentos do governo de José Sarney na área educacional. Fonte: Construído pela autora.

Com a morte do candidato presidencial Tancredo Neves (eleito indiretamente), assumiu o poder em 1985 o presidente José Sarney, que era filiado do partido ARENA. Foi durante o seu mandato, que um movimento da sociedade civil deu origem a um documento chamado Carta de Goiânia. Essa carta tinha como objetivo influenciar no capítulo sobre educação da próxima constituição brasileira, a Constituição de 1988.

83 Orestes Quércia se formou na Escola Normal Livre em Campinas, foi repórter, cursou a faculdade de Direito,

foi vereador, deputado estadual e senador, antes de ser governador de São Paulo (CPDOC, 2010).

84 José Sarney Costa é o nome legal adotado por José Ribamar Ferreira de Araújo Costa desde 1965. Ele é bacharel

em Direito e foi deputado federal, professor de direito na Faculdade de Serviço Social da Universidade Católica do Maranhão, governador do Maranhão, e senador, antes de assumir a presidência do Brasil com a morte de Tancredo Neves (CPDOC,2010).

85 Chopin Tavares de Lima foi formado em Direito pela USP e deputado estadual antes de ser Secretário de

Educação do Estado de São Paulo (CPDOC, 2010).

86 Wagner Gonçalves Rossi é formado em Direito pela USP e em Administração de Empresas pela UNAERP

(Universidade de Ribeirão Preto), mestre em Educação pela UNICAMP, foi professor de economia industrial pela USP, deputado estadual e Secretário de Esportes, antes de ocupar o cargo de Secretário de Educação pelo Estado de São Paulo (CPDOC, 2010).

87 José Goldemberg é formado em física pela USP, foi professor catedrático e titular da Escola politécnica da USP,

foi presidente da Companhia Energética de São Paulo (CESP) de 1983 a 1985, foi membro do Conselho Superior de Energia Nuclear, antes de ser Secretário de Educação no governo de Quércia (CPDOC, 2010).

88 Carlos Estevam Martins foi um sociólogo brasileiro, doutor em Ciências Sociais, foi o primeiro diretor e autor

do Centro Popular de Cultura (CPC), Secretário de Educação nos governos Fleury e Quércia, e professor do Departamento de Ciência Política da USP (CPDOC, 2010).

Construída durante a IV Conferência Brasileira de Educação (CBE), a Carta de Goiânia reconhecia os problemas sociais brasileiros, assumindo o compromisso da educação para o seu enfrentamento. Debatendo a má distribuição de renda no país, esse documento criticou as políticas educacionais arcaicas implantadas, que visavam mais a visibilidade dos programas políticos do que a superação de desigualdades (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO-ANDE; ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO-ANPEd; CENTRO DE ESTUDOS EDUCAÇÃO E SOCIEDADE-CEDES, 1986).

Ao criticar o desvio de verbas públicas educacionais para o setor privado, esse documento defendia: o direito ao ensino gratuito em todos os níveis, sem nenhuma discriminação; o ensino obrigatório de oito anos, financiado pelo Estado; o oferecimento por parte do Estado de creches, assim como o atendimento aos deficientes; a definição da carreira do magistério; e a garantia da participação pública na formulação das políticas (ANDE; ANPED; CEDES, 1986).

Após dois anos da publicação da Carta de Goiânia, foi promulgada a Constituição Federal de 1988, que ficou conhecida como a “Constituição Cidadã” (CARVALHO, 2013). Essa Carta Magna brasileira, com objetivo central de construir uma sociedade “livre, justa e igualitária” e de “garantir o desenvolvimento nacional”, incluiu uma série de direitos civis, políticos e sociais no Brasil, dentre os quais destacamos o direito à educação (BRASIL, 1988).

Segundo a Const. de 88: a União tem o dever privativo de legislar sobre as “diretrizes e bases da educação nacional”; os Municípios se tornaram responsáveis por legislar sobre o ensino pré-escolar e fundamental; os professores ficaram isentos de 5 anos no tempo de trabalho e de contribuição previdenciária; a educação se tornou um direito de todos, cuja oferta é dever do Estado e da família; é formalizada a garantia da gratuidade do ensino, da pluralidade de concepções pedagógicas, do direito ao acesso e permanência na escola, da gestão democrática, da autonomia das universidades, e da valorização dos profissionais da educação; a União adquire caráter supletivo e redistributivo de recursos; e é estabelecido o PNE (Plano Nacional de Educação) de duração plurianual (BRASIL, 1988).

De acordo com Minto (2006), o texto dessa constituição dá continuidade às políticas baseadas no pensamento de privatização hegemônico no período da Ditadura Militar. A partir de uma nova ideologia de público não Estatal, os fundos públicos se tornam abertos ao ensino privado. Nessa perspectiva, observa-se a partir da década de 90, uma influência profunda das políticas neoliberais sobre a área educacional, através de reformas curriculares, da proposição de diretrizes para a formação de docentes, de programas de financiamento da educação nacional e da introdução de sistemas de avaliação em larga escala (JACOMELI, 2011).

Logo que assumiu o governo de SP, Quércia retirou o pagamento dos gatilhos salariais dos professores paulistas, o que levou a uma rápida deterioração dos salários frente a grande onda inflacionária que assolava o país. Reagindo ao bloqueio de 4 gatilhos salariais, os professores permaneceram em greve por 3 semanas. Durante as manifestações, os professores foram impedidos de se agruparem na frente do Palácio do Governo e duramente reprimidos pelas tropas de choque (APEOESP, 2010; LOURENÇO, 2011). Contudo, após a greve e as batalhas judiciais, a obrigatoriedade no pagamento dos gatilhos foi efetuada.

Nesse período, algumas medidas educacionais importantes foram tomadas, dentre elas destacam-se: a transformação da Fundação para o Livro Escolar em Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) através do Decreto nº 27.102/87 (a FDE seria responsável pela produção, aquisição e distribuição de materiais, e suprimento de recursos físicos para as escolas) (SÃO PAULO, 1987-a); a municipalização e descentralização dos funcionários de apoio administrativo das escolas públicas estaduais através do Decreto nº 27.265/87 (escriturário, serventes e inspetores passaram a ser contratados pelo município) (SÃO PAULO, 1987-b); a jornada única docente e discente no ciclo básico (1º e 2º ano) através do Decreto nº 28.170/88 (determinou para os alunos 30h de aula por semana, incluindo

educação física e artes; uma única classe/turma para o professor com carga de 40h/semana, sendo 32h-aula e 8h-atividade; e ficou garantido o reforço da merenda) (SÃO PAULO, 1988- a); e a criação dos CEFAMs para os professores do ensino pré-escolar até 4ª série do 1º grau, através do Decreto nº 28.089/88 (SÃO PAULO, 1988-b).

Em 1988, segundo o site oficial da APEOESP, o governo Quércia tentou retirar o Estatuto do Magistério Paulista de 1985 em vigor. Esse fato repercutiu em uma mobilização dos professores e na deflagração de estado de greve por 30 dias, que repercutiu em uma vitória dos professores (APEOESP, 2010).

Já no ano seguinte, foi promulgada a nova Constituição Estadual em 5 de outubro de 1989, que, mesmo com algumas alterações, ainda está em vigor. A educação aparece nessa constituição: no art. 23, que se refere a aprovação de um Código de Educação através de uma lei complementar, fato este não realizado; e na Seção I - “Da Educação” do Capítulo III – “Da Educação, da Cultura e dos Esportes e Lazer”. Nessa seção os princípios que regem a educação estadual são a liberdade e a solidariedade humana, sendo um de seus objetivos o desenvolvimento integral e a capacidade de refletir criticamente sobre a realidade. Alguns pontos dessa constituição que devem ser destacados para posterior análise são: o art. 238, que diz que o princípio que rege o funcionamento do sistema estadual de ensino é a descentralização; o art. 251, que aborda a valorização profissional do docente através de um plano de carreira, piso salarial e de ingresso na carreira mediante concurso público; e o art. 255, que estipula que 30% da verba arrecadada com impostos devem ser destinados à educação (SÃO PAULO, 1989).

Em 1989, os professores de todo país se organizaram novamente para lutar pele defesa da escola pública e pela constituição de um piso salarial, que reajustaria o salário em 51 a 126%. Essa greve, considerada uma das greves mais longas de professores, durou 80 dias, e os reajustes foram conquistados (APEOESP, 2010).

No ano seguinte alguns direitos foram adquiridos, como: a extensão do atendimento no hospital do servidor para o marido das professoras; e o direito a estabilidade regulamentado por lei (APEOESP, 2010).