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4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS NO PERÍODO DE 2007-2015

4.2.5 PROGRAMA EDUCAÇÃO – COMPROMISSO DE SÃO PAULO

Lançado em 2011, o ECSP é apresentado no site oficial da SEE-SP como fruto de um compromisso coletivo entre o governo e a sociedade (Figura 19). Ele foi estruturado em 5 elementos (pilares) principais, a saber: (1º) a valorização dos profissionais; (2º) aprimoramento da gestão com atenção no resultados dos alunos; (3º) lançamento de um novo modelo de escola; (4º) a viabilização de mecanismos organizacionais e financeiros para o programa; (5º) e a mobilização, engajamento e responsabilidade da sociedade no processo de ensino- aprendizagem.

Figura 19. Infográfico dos 5 pilares do Programa Educação – Compromisso de São Paulo.

Fonte: Site oficial do Programa na SEE-SP, disponível em:

<http://www.educacao.sp.gov.br/compromisso-sp>, acesso em 16 mai. 2016.

De acordo com o site oficial, em relação ao 1º pilar “Valorização do Capital humano” foram tomadas ações relacionadas à política salarial e à contratação de novos professores. O aumento salarial teria ocorrido por meio de um reajuste de 45% (professores que recebiam em 2011 – R$ 1.655,05 por 40h/semanais, passaram a receber em 2014 – R$ 2.415,89 pela mesma jornada) e através das Provas do Mérito (avaliações anuais nas quais os servidores, em intervalos de três ou quatro anos, teriam a oportunidade de evoluir em sua carreira e receber um aumento de 10,5% no salário147). Em relação às contratações teriam sido convocados 34 mil servidores de 2011 a 2012 e 59 mil em janeiro de 2014.

Apesar desses reajustes, a fala dos professores entrevistados ainda mantém o discurso que denuncia os baixos salários da profissão docente.

“Estou sempre sem dinheiro pra nada. Peguei tudo que dava pra completar as 30h/semana.” (Carmem, 54 anos, PBC)

O que se deve lembrar aqui, é que a conjuntura inflacionária acaba destruindo o poder de consumos dos salários e que a profissão docente é uma das que pior remunera os profissionais com nível superior no país. A prova das inúmeras insatisfações dos docentes com suas condições de trabalho (incluindo a insatisfação salarial) foi a greve de 89 dias que ocorreu no primeiro semestre de 2015. Sem a conquista de grande parte de suas reivindicações, os profissionais voltaram às escolas no dia 12 de junho de 2015.

Outro ponto que merece destaque e revela as concepções que orientam as ações da SEE-SP é o uso do termo “capital humano” na apresentação do Programa Educação – Compromisso de São Paulo. A Teoria do Capital Humano (TCH) foi proposta por Theodore Schultz na década de 60 sob a influência do pensamento neoliberal, que dominava a cultura norte-americana na época. Ela se baseia na perspectiva de que se deve investir no desenvolvimento humano como forma de obter rendimentos futuros. Para Schultz, o treinamento no emprego e gastos com educação não são vistos como uma forma de consumo, mas como uma forma de investimento econômico. Essa forma de pensamento, que se difundiu no Brasil desde a década de 60 através da divulgação de seus principais autores, das políticas desenvolvimentistas, e dos incentivos de órgãos internacionais (ONU, OCDE, BM e UNESCO), marcou uma nova relação entre educação e crescimento econômico (SAUL, 2004; BRYAN, 2016).

Segundo autores como Renato P. Saul148 (2004), a TCH levou a graves consequências no mundo do trabalho, dentre as quais se destacam: o incentivo a competição entre os pares; e a individualização dos salários.

Quando essa análise é deslocada para as UEs analisadas neste estudo, destaca-se o fato de que, na SEE-SP: a maior formação profissional possibilita o ingresso dos docentes em outros programas, como o PEI, a atuação como PMEC, ou ainda a atuação como membro da equipe gestora ou do núcleo pedagógico; as evoluções funcionais e, portanto, salariais vinculadas a realização de cursos pela DE ou externos; a extrema atomização salarial, vinculada não só a jornadas, tempo de serviço e localidade, mas também as evoluções por via acadêmica (mestrado e doutorado) e não acadêmica (cursos, eventos, produção de material didático, entre

148 Renato Paulo Saul é um sociólogo, doutor em Estudos Latino Americanos pela Universidade Nacional

Autônoma do México. Atualmente é professor titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos no Rio Grande do Sul.

outros). Como os investimentos em formação continuada tornam-se cada vez mais de responsabilidade do próprio professor, seus salários se tornam atomizados. E o sindicato passa a ficar cada vez mais enfraquecido.

Ainda em relação ao 1º pilar, as convocações de professores nestes últimos concursos reduziram significativamente o número de professores categoria O dentro das escolas. Mas deve-se destacar que por conta das condições de trabalho e por motivos particulares muitos professores ingressantes já exoneraram de seus cargos. Segundo a APEOESP, em uma reportagem publicada no dia 2 de setembro de 2015, 9.279 professores paulistas exoneraram de seus cargos públicos no período de 2011 a 2015, o que gera uma média de 172 professores exonerados por mês (APEOESP, 2016).

Já para o 2º Pilar “Gestão Pedagógica” a SEE-SP apostou em programas de alfabetização, como o programa Ler e Escrever e o programa “Early Bird”, em parceria com o governo holandês.149 Além disso, a SEE-SP criou a EVESP, para oferecer aos alunos da rede

pública uma série de cursos gratuitos na modalidade à distância.

No 3º Pilar “Educação Integral” a SEE-SP criou o Programa Ensino Integral150

dentro da modalidade de Escola de Tempo Integral. No novo programa existe um discurso de maior preocupação com a formação integral dos alunos através do desenvolvimento interligado e relacionado de atividades da base curricular comum e optativas, os professores têm regime de dedicação exclusiva e desenvolvem algumas práticas diferenciadas como a tutoria, o nivelamento e a culminância.

Tutoria

“Tive quinze tutorados em 2015.” “Todos são tutores. Tutores são adultos que auxiliam o aluno no que ele precisar” (Aline, 52 anos, PMA3)

“A tutoria acadêmica acaba dando apoio emocional pras crianças.” (Adriana, 52 anos, PPa2) Nivelamento

“No início do ano ocorre um processo de nivelamento, no qual ocorre a identificação e analisa das habilidades em defasagem. As provas são feitas pelos próprios professores de português e matemática e os professores de todas as áreas ajudam a suprir estas demandas.” (Aline, 52 anos, PMA3)

Culminância

“Para nós se chama culminância, que é o fechamento dos trabalhos realizados ao longo do semestre.” (Agenor, 44 anos, PVDA)

“No início do ano letivo na PEI é construído um Varal de Sonhos. Nele os alunos colocam suas aspirações e isso mobiliza os professores a construírem suas disciplinas. A partir dos projetos, os professores criam a ementa das disciplinas e têm as duas primeiras semanas para divulgar as eletivas entre os alunos. Os alunos fazem suas escolhas com a 1ª, 2ª e 3ª opção de curso, e partindo de suas escolhas são remanejados. No final do semestre existe um dia especial denominado de Culminância onde os produtos do trabalho semestral são apresentados aos pais e à comunidade.” (Aline, 52 anos, PMA3)

149 Esses programas não serão explorados neste trabalho por se destinarem especificamente aos anos iniciais do

EF.

150 Informações sobre a criação e normatização das ETIs e do PEI estão disponibilizados nos Quadro 08 e 09, no

O Programa de Ensino Integral, assim como o SPFE, também contou com a atuação da FCAV. De acordo com o site oficial da empresa,

A GTE/FCAV é responsável pela gestão da produção editorial de materiais de apoio às equipes gestoras das editoras de ensino e das unidades escolares participantes do programa, pelos materiais de apoio a professores e pelos materiais para alunos desenvolverem seus projetos de vida. (FCAV, 2015)

A inclusão dos serviços pela FCAV foi feita por meio do 2º Termo Aditivo do Contrato nº 034/2012 (Processo nº 7070/CGEB/2012), que garantiu à fundação o valor de R$ 1.580.937,80 dos cofres públicos.

Em relação ao 4º Pilar “Gestão Organizacional e Financeira”, a SEE-SP oferece: transporte escolar, aos alunos que residem em lugares afastados, na zona rural e em locais com barreiras físicas que dificultam o acesso à escola; programa de alimentação escolar, através da parceria entre o Estado e os municípios; e o Programa Creche Escola, no qual o governo estadual financia a construção de creches com o apoio dos municípios.

No 5º e último pilar, “Mobilização da Sociedade”, o governo propôs o Programa Escola da Família. Nesta iniciativa, as escolas ficam abertas nos finais de semana para atender os alunos e suas famílias. Nesses encontros são priorizadas atividades lúdicas, interativas e que favoreçam a construção de uma identidade dos jovens e da comunidade em geral com a unidade escolar.

Contudo, em 2015 outra medida foi tomada pela SEE-SP com a justificativa de melhorar a qualidade do ensino: a Reorganização Escolar.