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3.1 GOVERNOS PAULISTAS E SUAS AÇÕES SOBRE A ESFERA EDUCACIONAL

3.1.1 A EDUCAÇÃO NO FIM DA DITADURA MILITAR (1979-1985)

3.1.1.1 EDUCAÇÃO NO GOVERNO PAULO MALUF (1979 – 1982)

O governo do estado de São Paulo, em 1979, estava sob a responsabilidade de Paulo Salim Maluf63. Eleito indiretamente, o candidato Maluf era membro da ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido político da situação durante a Ditadura Militar. Na esfera nacional, teve início no dia 15 de março de 1979 o governo presidencial de João Baptista Figueiredo64 (Quadro 01), que também era filiado ao partido ARENA.

Quadro 01. Análise das propostas do governo de João Figueiredo para a área educacional. Fonte: Construído pela autora.

O governo de João Figueiredo perdurou de 1979 a 1985, e para organizar as políticas a serem desenvolvidas nesse período foi publicado o III PND (Plano Nacional de Desenvolvimento). Esse documento regulamentou a posição do governo enquanto produtor e investidor, ressaltando a necessidade de: tornar os planejamentos mais flexíveis; promover o desenvolvimento humano, e melhorar a distribuição de renda. A educação, que recebeu destaque no documento, teve seu desenvolvimento vinculado ao controle das desigualdades, pois foi concebida como um “direito fundamental”. Outra questão importante foi o aparecimento do planejamento participativo, como forma de valorização dos recursos humanos (BRASIL, 1980).

Complementando o III PND, o III Plano Setorial de Educação, Cultura e Desporto (III PSECD) apresentou a educação básica como direito fundamental e propôs a redução das desigualdades sociais e desequilíbrios regionais através do incentivo a participação da comunidade e a descentralização. O documento estabeleceu que, para melhorar a área educacional, seria necessária a ação conjunta dos diferentes ministérios, pois muitos problemas educacionais provinham de problemas sociais preexistentes (como, por exemplo, a miséria e a falta de saneamento básico). Alertando para a forte tendência seletiva do sistema educacional, o diagnóstico do plano anunciou que o sistema educacional brasileiro estava distante de universalizar o 1º grau, pois havia, além das altas taxas de evasão e repetência, uma grande distância entre as Universidades e os problemas sociais educacionais (BRASIL, 1982).

Entre as linhas de ação levantadas pelo III PSECD estavam: a promoção da educação no meio rural (descentralização do currículo e participação da “clientela”); estímulo à educação nas periferias urbanas; valorização dos recursos humanos (combate a posição salarial precária e a instabilidade docente, capacitação profissional e participação docente nas decisões); e o planejamento e a modernização da estrutura técnico- administrativa (superação dos entraves burocráticos, sistema de distribuição e alocação de recursos e a promoção do planejamento participativo) (BRASIL, 1982).

Estritamente em relação ao 1ºgrau, o documento apresentou a articulação entre a educação formal e não formal; a inovação dos planos curriculares; as melhorias nos métodos e técnicas do ensino para reduzir a evasão e repetência; a introdução de processos alternativos de recuperação e intensificação; a criação de programas intermunicipais de educação. Ele sugeriu ainda, para a região Sudeste: a municipalização do 1º grau e a transformação dos colégios agrícolas em técnicos nas zonas rurais; a participação da comunidade; a adaptação do serviço educativo à realidade; a flexibilidade do currículo; e a introdução das escolas de tempo integral nas periferias urbanas (BRASIL, 1982).

Durante a gestão de Maluf, que perdurou de 1979 a 1982, a SEE-SP foi comandada por Luiz Ferreira Martins65. De acordo com José Roberto Rus Perez66 (2000), esse governo foi

63 Na época, Paulo Maluf já havia atuado como prefeito do município de São Paulo, no período de 1969 a 1971, e

como Secretário de Transportes, de 1971 a 1975 (CPDOC, 2010).

64 João Baptista de Oliveira Figueiredo, antes de se tornar presidente do Brasil, foi comandante de tropas rebeldes

na Revolução Constitucionalista de 1932, deputado no Distrito Federal, instrutor de cavalaria, tenente coronel e oficial de informação (CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC, 2010).

65 Segundo consta na biografia do Professor Dr. Luiz Ferreira Martins, disponibilizada pelo site oficial da UNESP

(Universidade Estadual Paulista), ele se formou em medicina veterinária e atuou em 1973 na Coordenação dos Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (órgão submetido à SEE-SP). Nesse cargo ele foi responsável pela criação e implantação da UNESP em 1976 (SILVEIRA, 2016).

66 José Roberto Rus Perez é professor livre-docente aposentado da Faculdade de Educação da Universidade

marcado por políticas focalizadas e ações clientelistas. A maioria dos programas apresentados foi criada dentro da lógica do atendimento seletivo, o que acabou por priorizar programas na área assistencial, como, por exemplo, merenda nas férias e programas odontológicos e de saúde escolar.

Um fato que se deve destacar nesta gestão é o progressivo aumento da mobilização dos professores. Logo no início do governo de Paulo Maluf, a Comissão Pró-entidade Única (CPU – formada pela junção do Movimento pela União dos Professores e Movimento de Oposição Aberto de Professores) enviou ao governador a solicitação de um reajuste de 70% no salário dos professores. Frente à falta de possibilidades de negociação, foi então determinado o estado de greve dos docentes em abril de 1979. Concomitantemente a CPU venceu as eleições para comandar a APEOESP (Associação de Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) (FERREIRA JR., 2009; APEOESP, 2010; LOURENÇO, 2011).

Para reduzir a força do movimento, como o sindicalismo público não era reconhecido (o que só viria a acontecer no texto da Constituição de 1988), o governador retirou a arrecadação da APEOESP (Quadro 02) da folha de pagamento dos servidores, com a justificativa de que não se tratava de um sindicato. Paulo Maluf solicitou ainda aos diretores que enviassem listas com os nomes dos professores grevistas, mas os diretores se recusaram a acatar a esta determinação. Os professores permaneceram em greve por 39 dias e, apesar de não terem suas reivindicações atendidas, conseguiram aumentar sua capacidade de organização como categoria67. Outros efeitos da greve foram: o desconto dos dias de greve nas folhas de pagamento dos professores e o um progressivo arrocho salarial (FERREIRA JR., 2009; APEOESP, 2010; LOURENÇO, 2011).

Quadro 02. Origem da APEOESP. Fonte: Criado pela autora a partir de dados disponibilizados pelo site oficial da APEOESP, acesso em outubro de 2016.

A APEOESP, atual Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, foi criada em 13 de janeiro de 1945 e representa uma entidade sindical sem fins lucrativos do qual fazem parte professores e especialista em educação da rede pública paulista.

De acordo com seu site oficial, o movimento deste órgão foi quase completamente esvaziado durante as duras repressões do período da Ditadura Militar até a paralização total em 1977. Nesse ano, os professores de diferentes movimentos começaram a se reorganizar para lutar contra a contratação de “docentes precários”, servidores que adentravam no sistema público sem a realização de concurso e sem o amparo legal oferecido pela CLT.

O fruto dessa mobilização dos docentes foi a criação de um documento intitulado “Memorial dos Professores da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo”, que dentre as inúmeras reivindicações lutava por melhorias salariais, na qualidade do ensino, e no trabalho docente. Esse novo agrupamento dos professores, organizou também a primeira greve que aconteceu no dia 19 de agosto de 1978, durante o governo de Paulo Egídio Martins. Na ocasião, mais de 2 mil professores aderiram ao movimento grevista e, depois de 24 dias de

67 Em julho de 1979 ocorreu o I Encontro Nacional de Professores em São Paulo e, em março de 1980, ocorreu o

II Encontro em Belo Horizonte. Em julho de 1980, mais de 800 professores de diferentes regiões do país se encontraram no I Congresso Nacional de Profissionais da Educação (APEOESP, 2010).

paralisação, a reivindicação de 20% de reajuste salarial foi conquistada (mesmo com a proibição da Polícia Federal de que as notícias da paralisação fossem noticiadas em emissoras de rádio e televisão).

Em 1979 surgiu a proposta de unificação dos grupos de professores, e o grupo oficial dos professores paulistas permaneceu sendo a APEOESP.

Em 1980, ocorreu a ampliação massiva no número de servidores efetivos (professores, serventes, escriturários e inspetores de alunos) nas escolas públicas estaduais, por meio de decretos como o de número 14.673/80. Todos os professores ingressantes passaram a ser admitidos por concurso público e seu regime trabalhista era regido pela lei nº500/7468 (APEOESP, 2010).