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1 PREMISSAS METODOLÓGICAS E DELIMITAÇÃO DO OBJETO

2.4 Os princípios que regem a atividade fiscalizatória tributária

2.4.3 Eficiência

A notabilidade do princípio da eficiência na orientação da atividade do administrador público, especialmente do auditor fiscal, é evidenciada por

154 “O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta,

e conterá obrigatoriamente: I - a qualificação do autuado; II - o local, a data e a hora da lavratura; III - a descrição do fato; IV - a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; V - a determinação da exigência e a intimação para cumpri-la ou impugná-la no prazo de trinta dias; VI - a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula.”

constar enunciada na Constituição Federal, repetida da Constituição Estadual e reiterada na lei que rege o processo administrativo federal.

Nas palavras de Odete Medauer:

A eficiência é princípio que norteia toda a atuação da Administração Pública. O vocábulo liga-se à ideia de ação, para produzir resultado de modo rápido e preciso. Associado à Administração Pública, o princípio da eficiência determina que a Administração deve agir, de modo rápido e preciso, para produzir resultados que satisfaçam as necessidades da população. Eficiência contrapõe-se a lentidão, a descaso, a negligência, a omissão – características habituais da Administração Pública brasileira, com raras exceções155. Em sucintas palavras, objetiva-se, com o princípio da eficiência, o alcance das finalidades públicas da melhor forma possível, isto é, com o menor dispêndio de tempo e de recursos financeiros, já que o Estado tem como objetivo a tutela dos direitos da mais ampla gama factível de administrados.

Um desdobramento do princípio da eficiência, portanto, é a celeridade156: a eficiência requer a ausência de delongas desnecessárias na conclusão dos procedimentos fiscalizatórios. Com efeito, esse tipo de conduta prejudica ambas as partes envolvidas na fiscalização, no sentido de que o sujeito fiscalizado sofre insegurança quanto ao comprometimento do seu patrimônio, além da negativa reprovação social perante seus contatos, e a Administração expende fundos com diligências e deixa de arrecadar em função de eventual ausência de autuação.

Outro aspecto relevante concerne ao fato de a eficiência não significar a exclusiva maximização da arrecadação por meio da tributação, mas a maior prática possível do interesse coletivo, por meio do desenvolvimento da

155 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno – de acordo com EC 19/98. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 145.

156 A celeridade está enunciada na Constituição Federal, no artigo 5º, inciso LXXVIII, in

verbis: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”

atividade fiscalizatória com qualidade157. Neste sentido, alerta Hely Lopes Meirelles:

O princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o exercício público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros 158.

Com efeito, a desenfreada busca pela constituição do crédito tributário gera negativos reflexos diretos no contencioso administrativo: em razão da autuação de casos que não se subsomem à norma, bem como da lavratura de autos de infração sem atendimento aos devidos requisitos formais, o número de impugnações administrativas é sobremaneira elevado, importando em maiores gastos com o aparato revisional do crédito tributário e, eventualmente, com o próprio corpo fiscalizatório, em evidente afronta ao postulado da eficiência159. É a conjugação da celeridade com a qualidade no proceder do agente fiscal traduz a fiel imagem do princípio da eficiência. Postura que intenta homenagear essa ideia é a adotada pelo Estado de São Paulo, por meio da Lei Complementar nº 1.059/2008, que, entre outras disposições, institui o prêmio

157 Neste sentido, não é acertada a ideia de que os crescentes recordes superados pelas

fiscalizações no tocante à constituição do crédito tributário significam a concretização do princípio da eficiência. Conforme anunciado no Balanço da Fiscalização da Receita Federal, foi constituído crédito tributário no valor de R$ 190,1 bilhões no exercício de 2013. Desse montante, contudo, não há dados seguros a respeito da quota anulada em razão do controle de legalidade realizado pelos próprios órgãos administrativos ou judiciais.

158 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2000,

p. 90.

159 “O que na verdade deve ser perseguido não é o simples aumento da arrecadação tributária.

O princípio da eficiência tratado neste dispositivo constitucional condiz mais com a ideia de gastar menos e arrecadar de forma eficaz, sem extrapolar os limites constitucionais e legais, uma vez que na ânsia de arrecadar o Estado acaba por promover a multiplicação de litígios, no sentido contrário, portanto, de sua finalidade” (MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro (Administrativo e Judicial). São Paulo: Dialética, 2014, p. 230).

de produtividade dos agentes fiscais160. Conforme prescreve a referida legislação, a remuneração dos agentes fiscais é composta de uma parte fixa, que corresponde ao valor-base, uma parte variável, referente ao prêmio de produtividade, e outras formas que vierem a ser previstas em lei.

O mencionado abono de produtividade é atualmente regulado pela Resolução da Secretaria da Fazenda nº 28, de 08.04.2013, cujo teor enumera em tabelas as atividades que dão ensejo à sua percepção, com os respectivos pontos atribuídos a cada prática, posteriormente convertidos em UFESPs.

Em muito bom passo, são prestigiadas atividades afetas ao aprimoramento e modernização da Administração Tributária e à gestão do conhecimento dos servidores públicos, de modo que, a título ilustrativo, são atribuídos 200 pontos ao dia aplicado na elaboração ou revisão de material didático, manuais de conhecimento ou de técnicas fiscais, assim como para o dia aplicado para apresentação em cursos, treinamentos, congressos, seminários ou outro evento assemelhado161 . No mesmo sentido, são atribuídos pontos à autuação, automaticamente cassados na hipótese de o julgamento administrativo resultar na anulação do lançamento ou auto de infração162.

160 “Art. 15. A remuneração do Agente Fiscal de Rendas compreende: I - como parte fixa, o

valor-base, expresso em quantidade de quotas, conforme o nível em que estiver enquadrado, constante do Anexo desta lei complementar; II - como parte variável: a) o prêmio de produtividade; b) outras que vierem a ser previstas em lei; III - como vantagens pecuniárias: a) o adicional por tempo de serviço, de que trata o Art. 129, calculado à razão de 5% (cinco por cento) por quinquênio de serviço, sobre o valor da parte fixa, acrescido do prêmio de produtividade e do “pro labore”, observado o disposto no inciso XVI do Art. 115, ambos da Constituição Estadual; b) a sexta-parte, de que trata o Art. 129 da Constituição Estadual, calculada sobre o valor da parte fixa, acrescido do prêmio de produtividade, do “pro labore” e do adicional por tempo de serviço; c) décimo terceiro salário; d) acréscimo de 1/3 (um terço) das férias; e) “pro labore”; f) adicional de transporte como ajuda de custo para indenizar despesas de locomoção; g) verba indenizatória pelo exercício em unidades localizadas nas divisas do Estado; h) diárias; i) gratificação de representação, de que trata o inciso III do Art. 135 da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968.”

161 Conforme tabela V, da Resolução SF nº 28, de 08.04.2013.

162 Conforme tabela III, da Resolução SF nº 28, de 08.04.2013 e Nota Explicativa III.6: “O

Agente Fiscal de Rendas e a respectiva equipe perderão os pontos que lhes foram atribuídos na mesma proporção dos valores do Auto de Infração e Imposição de Multa –

Contudo, no que tange às atividades relacionadas à atividade fiscalizatória, o Legislador Estadual cometeu algumas falhas na escolha da sistemática de atribuição de pontos. Expressão disso é o conteúdo da Tabela 1, abaixo colacionada:

Tabela 1 - Atividades relativas à apreensão de mercadorias, bens, documentos, equipamentos e arquivos digitais:

Código Denominação Pontos

2.1 Apreensão de mercadorias e/ou bens em situação irregular perante a legislação tributária.

90 2.2 Apreensão de livros, documentos, impressos e papéis de efeitos

fiscais com a finalidade de comprovar infração à legislação tributária, desde que a apreensão sirva de prova para a constituição do crédito tributário:

2.2.1 por livro. 8

2.2.2 por documento, impresso e papel de efeitos fiscais. 2 2.3 Apreensão de equipamento emissor de cupom fiscal – ECF ou

qualquer outro equipamento que possibilite o registro ou o processamento de operação ou prestação de serviços, que constituir prova material ou indício de infração à legislação tributária ou em situação irregular – por ECF ou equipamento.

90

2.4 Copiagem ou captura de dados digitais com finalidade de subsidiar o desenvolvimento da ação, por determinação ou autorização superior – por estabelecimento diligenciado.

540

De uma breve leitura, é possível constatar que a Tabela 1, referente à Resolução SF nº 28/2013, especificamente no subitem 2.2, encoraja a apreensão de mercadorias e livros com a finalidade de comprovar infração à lei, atribuindo pontos àquele que dessa forma proceder, sendo que, conforme nota explicativa, a devolução das mencionadas mercadorias e livros sem a respectiva constituição do crédito tributário torna os pontos outrora atribuídos sujeitos à decisão do Inspetor Fiscal acerca da necessidade da conduta perpetrada pelo agente163. Isto é, a atribuição de pontos é realizada no momento da apreensão, sendo que, apenas em virtude da constatação do excesso do meio

AIIM não confirmados em decisão de julgamento de defesa ou não ratificados pelo Delegado Regional Tributário.”

163 Tabela II - NOTAS EXPLICATIVAS […] II.4 – Na hipótese de mercadorias ou bens

apreendidos, sem a correspondente constituição de crédito tributário, o Inspetor Fiscal decidirá sobre a manutenção dos pontos atribuídos quando da apreensão tiver sido necessária para a segurança das verificações fiscais.”

empregado – apreensão –, atestado pelo Inspetor Fiscal, é realizada a subtração do benefício remuneratório.

Ora, a dificuldade na definição dos lindes do excesso da conduta do agente fiscal é uma barreira à realização do princípio da eficiência. Isso porque a ausência de critérios objetivos na resolução que visa a premiar a produtividade, combinada com a qualidade, quiçá honra o crescimento de condutas que atentam à boa administração (apreensão ilegal de livros e mercadorias), em flagrante afronta aos direitos e garantias fundamentais dos sujeitos fiscalizados.