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Os Eixos Metodológicos do Projeto

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (páginas 130-137)

3.5 PREMISSAS E METODOLOGIA PARA A IDENTIFICAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS NO PROJETO BID/PROMOS/SEBRAE: A CONSTRUÇÃO DA

3.5.4 Os Eixos Metodológicos do Projeto

A metodologia para a intervenção no tecido social a partir dos APLs foi concebida a partir de três grandes eixos simultâneos e convergentes de trabalho, a saber:

Eixo 1 – Dinâmica de Distrito

Eixo 2 – Desenvolvimento Empresarial e Organização da Produção Eixo 3 – Informação e Acesso a Mercados

Em torno de cada eixo gravitaram ações, projetos, metas e dinâmicas convergentes a cada um e que se autoimplicam, requerendo ações integradas e simultâneas, variando de intensidade conforme as metas e o planejamento estabelecidos. Para melhor entendimento da abordagem, são resumidos a seguir cada um dos três eixos do projeto.

1. Eixo Dinâmica de Distrito

Neste eixo, são trabalhados os fundamentos de natureza interativa do desenvolvimento do setor econômico envolvido (vestuário, calçados, mobiliário e confecções). Tratam-se das interações entre as instituições envolvidas de algum modo com o arranjo, adotando-se, em perspectiva teórica, o institucionalismo de North como fundamento para a ação. Deste modo,

instituições que atuam nas áreas de formação de mão de obra, organização da sociedade civil e o poder público devem ser envolvidas de modo a viabilizar a conexão com o setor empresarial. Trata-se, portanto, da busca da boa governança:

A governança está associada à: (1) qualidade das lideranças empresariais, políticas, sindicais, e sua relação com os problemas das empresas; (2) construção de centros tecnológicos prestadores de serviço – estruturas que as empresas não poderiam suportar de forma isolada, que cumprem o papel de núcleos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e recursos humanos desempenham nas grandes empresas; (3) gestão dos recursos naturais, com vistas a uma conservação adequada das condições ambientais, garantindo que a atividade produtiva não se tornará destrutiva da qualidade ambiental; (4) geração de solidariedade, confiança mútua e atenção para com os problemas sociais; e (5) construção de atitudes positivas no rumo do desenvolvimento técnico, tecnológico e econômico (METODOLOGIA..., 2004, p.41).

Neste eixo, tratam-se também as questões de acesso a crédito, porém são preponderantemente consideradas no campo das ações dos agentes que podem pressionar o sistema financeiro ou o Estado no sentido de viabilizar reduções de taxas de juros ou concessão de linhas de crédito privilegiadas aos participantes do arranjo. Outra linha de ação é a busca de atuação de bancos locais para desbloqueio de pontos de estrangulamento do financiamento à produção das pequenas empresas via, por exemplo, leilão de recebíveis ou cadastro positivo das empresas participantes do arranjo, buscando-se a experiência italiana como base de atuação. O principal elemento a ser destacado no Eixo 1, no entanto, é a criação do Fórum Distrital, instância gestora do arranjo composta por representantes do setor produtivo, de entidades de classe, do setor público, de ONGs e das demais instituições participantes do Eixo 1:

Fórum Distrital é um amplo espaço de debate, análise e concepção de estratégias, iniciativas, projetos e avaliação de resultados de um APL; um ambiente de interação entre os empresários mais intensamente envolvidos no desenvolvimento de um polo. A regra básica do FÓRUM DISTRITAL é democrática: o mérito é submetido ao juízo público; a voz de cada um tem o valor que lhe atribui a instância coletiva, o voto de cada um tem valor unitário (METODOLOGIA...., 2004, p.41).

O Fórum, em tese, apresenta o mérito de tentar viabilizar o adensamento da participação dos atores que compõem o APL e a definição clara do território envolvido na construção do mesmo. Parte-se da proposta de planejamento participativo como instrumento social de desenvolvimento do APL com o intuito de assegurar ampla representatividade

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institucional. Uma vez bem-sucedida, espera-se que uma prática como esta garanta maiores níveis de capital social e associativismo, viabilizando a alimentação de demandas para novas políticas públicas e ações coletivas com melhor coordenação à medida que o tempo passe e reuniões sejam, efetivamente, realizadas no âmbito do Fórum. São esperados os seguintes resultados a partir das ações deste eixo:

1.1 – Desenvolvimento do Fórum Distrital; 1.2 – Fortalecimento da cultura associativa; e

1.3 – Criação de centro de serviços, gerido por conselho composto por governo, empresários e agências de fomento, com objetivo de suprir a demanda de serviços de um APL (da capacitação de mão-de-obra à busca de novas tecnologias).

2. Eixo Desenvolvimento Empresarial e Organização da Produção

Produção, produtividade, design, qualidade, logística e todos os temas relacionados à produção, qualitativa e quantitativamente, estão abrigados no Eixo 2. Neste sentido, são previstos programas de qualificação da gestão, melhoria do capital humano, empreendedorismo e aprimoramento de recursos burocráticos, todos relacionados, portanto, a questões de eficiência de processos produtivos. Neste Eixo, ganha destaque a cooperação, pois planos individuais de redução de custos, estratégias de produção, qualidade, certificação e demais estratégias de produtos e processos das empresas devem estar relacionados ao conceito de cooperação, definido pela metodologia como “instrumento em que as partes reconhecem que possuem recursos, “expertise” e conhecimento, e que, trabalhando juntas, reduzem os custos de suas transações, melhoram a sua performance na área de atuação, minimizam as desconfianças mútuas e promovem o desenvolvimento”89.

São esperados os seguintes resultados com o êxito das ações do Eixo 2:

2.1 – Melhoria da gestão empresarial; 2.2 – Melhoria da qualidade dos produtos; e 2.3 – Aumento de produtividade.

89

METODOLOGIA de Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais, Projeto Promos/Sebrae/BID: versão 2.0. Brasília: Sebrae, 2004. p. 43.

3. Eixo Informação e Acesso a Mercados

Vendas, conhecimento pleno do mercado, dos “interesses dominantes, secundários e emergentes”, avaliações de qualidade do produto vendido e pós-venda das empresas do APL, concorrência e capacidade dos concorrentes são focos de atuação neste eixo. Trata-se, então, de conhecer o ambiente externo ao APL e as relações deste com seus canais de comercialização.

São esperados os seguintes resultados para o eixo 3:

3.1 – Acesso a novos mercados através de atividades como participação em feiras, capacitação em marketing, fortalecimento de feiras próprias, estudos de mercado, entre outras; e,

3.2 – Internacionalização do Arranjo Produtivo Local através da “capacitação do empresário brasileiro para conhecer e competir com os produtos internacionais dentro do Brasil” (p. 54).

Tão importante quanto os eixos são os indicadores utilizados para o acompanhamento e avaliação da implementação das ações estabelecidas. Neste sentido, o projeto utilizou indicadores de competitividade, relacionando-os com os eixos na forma como se apresenta a seguir.

Para o eixo Desenvolvimento Empresarial e Organização da Produção foram utilizados indicadores de produtividade, uma vez que o resultado esperado se relaciona diretamente com a questão da eficiência produtiva: produção e produtividade física foram as variáveis-base para o cálculo destes indicadores.

Os eixos Fortalecimento da Dinâmica de Distrito e Desenvolvimento Empresarial e Organização da Produção também objetivam a melhoria de indicadores de capacitação nos termos de Coutinho e Ferraz90.

Por fim, optou-se por apresentar indicadores de desempenho para o eixo Informações e Acesso ao Mercado, uma vez que o mesmo tem como objetivo fomentar a participação do setor produtivo nos mercados nacional e/ou internacional, mas,

90

COUTINHO, Luciano; FERRAZ, João C. Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Campinas: Papirus, 1994.

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[...] considerando de um lado, a grande informalidade do setor e, de outro, a precariedade ou mesmo inexistência de estatísticas nacionais desagregadas por sub-setores e por municípios ou regiões, considera- se muito difícil se obter algo consistente neste campo, que possa se prestar para ser um indicador de desempenho efetivo. Por exemplo, é dito que o setor de moda íntima de Nova Friburgo detém 20% do mercado nacional, mas, em termos estatísticos não é possível utilizar tal informação como um indicador (CONSÓRCIO..., 2006, p. 36).

A Figura 2, a seguir, é apresentada nas notas metodológicas do projeto para exemplificar a montagem do sistema de indicadores proposto, apresentando o mérito de fornecer uma dimensão temporal da trajetória proposta.

Há, na metodologia, a preocupação com a criação de uma “identidade de distrito” explicitamente identificada com o distrito italiano. Tal posicionamento é contraditório com os objetivos do projeto, visto que a reprodução de um modelo externo no tecido social brasileiro não deve ser vista como prioridade. Entendemos que a dinâmica sócio-territorial é capaz de modificar as características consideradas intrínsecas ao distrito marshalliano. Se há identidade a construir, esta identidade deve ser a do APL brasileiro X ou Y.

Construção dos signos de identidade das estratégias vitoriosas (marcas, patentes, selos de origem, etc) Ações de cooperação entre empresas, intra -

setorial, com instituições do APL , etc Ganhos de competitividade individual, setorial, nacional e internacional Contexto de Competição intra- setorial Identidade de Distrito Competitividade global APL Cooperação+ Ga n h o s d e c o m p e ti ti v id a d e m ic ro e m a c ro +

Crescente aprox do modelo do "Distrito Industrial Italiano" –

Figura 2 – Eixos de Formação/Evolução do APL

Fonte: Metodologia de Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais Versão 2.0

Outra premissa equivocada do projeto está explicitada em outro trecho da metodologia:

Em outras palavras, por meio das estratégias competitivas/cooperativas as empresas vão abandonando o ambiente competitivo de negócios do tipo “predador”, no qual umas se contrapõem às outras para, por meio da cooperação e articulação conjunta, conquistarem novos patamares de competitividade e, assim, reconhecerem-se e serem reconhecidas como portadoras de uma identidade que as solidifica no mercado enquanto empresas ganhadoras (este agrupamento ou “arranjo produtivo” se expressa então por meio das várias formas que essa identidade pode assumir: marcas, selos, patentes, entre tantos outros aspectos) (METODOLOGIA..., 2004, p.16).

O arranjo, dado ser fenômeno social, não se molda a modelos previamente definidos, engessados em conceitos estanques. Ao contrário, é determinado e determina forças e contra- forças, sempre em perspectiva dinâmica. É por ser assim que o arranjo se desarranja e se reinventa. Não há como, a priori, prever o abandono do que se caracteriza como concorrência predatória em favor de uma postura colaborativa. A depender dos laços fortes ou fracos de Granovetter, a depender das expectativas e esquemas de confiança entre agentes e instituições, a trajetória do arranjo é somente uma indicação possível entre tantas outras. Adicionalmente, o ganho metodológico está em um trabalho que não tem o porvir pré- determinado, apenas trajetórias possíveis embora não sujeitas a um mapeamento completo. Vale destacar que as relações que engendram as transformações, como bem destaca a própria metodologia do Projeto, estão imbricadas umas nas outras e se codeterminam. Para resolver esta questão, o Projeto optou por determinar que as relações que sustentam o objeto de investigação, as empresas, “nos seus movimentos em direção aos ganhos de competitividade” são definidas conforme a figura a seguir.

135 S E B R A E A Ç Õ E S IN D U T O R A S E M P R E S A S A P L S E T O R T E R R IT O R IA L ID A D E P ro c e ss o s R e su lt a d o s

Figura 3 - Relações Estruturantes

Fonte: Metodologia de Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais Versão 2.0

Claramente, as transformações esperadas emanariam de um agente indutor, o SEBRAE, que, com suas ações no Projeto, geraria resultados nos âmbitos das empresas, do APL, do setor e do território. Dito de outro modo, as ações seriam indutoras de transformações na cadeia produtiva e no ambiente sócio-econômico local/regional. Tais transformações seriam captadas pelos indicadores.

No âmbito do território, merece destaque a consideração dos organizadores da metodologia sobre o tema. A territorialidade é vista como uma dimensão ativa da competitividade, ou seja, os autores partilham da posição de que o território atribui, per se, valor aos produtos, instituições e agentes (valor, aqui, considerado em sentido genérico, sem relação necessária com a Teoria do Valor).

A particularidade local é o mesmo que as qualidades e características que tornam um local único. Os fatores que compõem a diferenciação de um território são de natureza cultural, ambiental, paisagística e sócio-econômica. [...] A história e a cultura de um lugar representa uma componente essencial da economia de um território, de uma área, mas de qualquer maneira pode estar empobrecida por observações pouco atentas [...]. É necessário, então, analisar todas as pequenas e grandes características únicas de um território. [...]. A particularidade local é um conceito relativamente novo que deve ser

explorado e aprofundado a fim de tornar o território competitivo no bojo de um mercado global e sempre mais agressivo (METODOLOGIA..., 2004, p. 84).

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (páginas 130-137)