• Nenhum resultado encontrado

Resultado 6.3. –Sistema de Monitoramento e Avaliação informatizado, adequado às

4 A POLÍTICA DOS ARRANJOS E A ESCOLHA DA POLÍTICA: IMPACTOS DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NO BRASIL

4.1 OS ARRANJOS ESCOLHIDOS: O ESTADO, A MICRORREGIÃO E O MUNICÍPIO-SEDE

4.1.3 Tobias Barreto

Tobias Barreto possuía, em 2002, pouco mais de 44 mil habitantes. De acordo com dados do SEBRAE, o polo de confecções de Tobias Barreto era composto, em 2002, por cerca de 490 empresas e 2.500 empregados. A primeira questão que se coloca sobre o arranjo é a sua composição setorial. De acordo com o SEBRAE e com o Projeto, Tobias Barreto é um arranjo (polo) de confecções e, portanto, do setor de vestuário.

O exame da produção do arranjo de Tobias Barreto, apresentada no próprio Projeto como sendo de roupas de cama, mesa e banho e, em um período mais recente, de roupas para crianças. Estudos sobre o arranjo mostram que

[...] é formado por um grande número de estabelecimentos de porte muito pequeno, em sua maior parte unidades produtivas domésticas em que 2 ou 3 pessoas dedicam-se à fabricação de produtos de cama, mesa e banho [...]. Os produtos de cama, mesa e banho são, sobretudo, colchas, lençóis e toalhas que recebem apliques e bordados [...] (MELO; HANSEN, 2007, p. 213).

159

Curiosamente, a literatura tem conferido pouca atenção à classificação de atividades e produtos da economia brasileira104. Esta falta de atenção foi, provavelmente, a causa de um equívoco na concepção do Projeto para Tobias Barreto, considerando-o um aglomerado produtivo do setor de confecções e artesanato, ou seja, do setor de vestuário e artesanato. Nossa observação in locu ao longo de vários anos sobre os produtos fabricados e o exame de estudos sobre a região permitem afirmar que a tradição sócio-histórica e, portanto, o que daria o start up ao arranjo, está relacionada à produção de roupas de cama, mesa e banho. É nesses produtos que são aplicados os bordados e apliques em “ponto de cruz” e “richelieu”.

Pesquisa realizada por este autor em julho de 2009 com moradores de Sergipe e que teve como questão única e aberta “o que se produz em Tobias Barreto?” apontou resultados da percepção sobre o arranjo destacados na Tabela 13105.

As respostas apontaram, como era a nossa percepção, roupas de uso doméstico como o produto principal do arranjo na percepção dos sergipanos. A resposta imediata que aponta “confecção” como a produção do arranjo indica a confusão do senso comum entre setor e produto e entre setores distintos: têxtil e vestuário. A confusão que se faz no senso comum é aceitável e natural; no entanto, a definição do arranjo de Tobias Barreto como um polo de confecções, levando o cálculo de estatísticas econômicas e de emprego ao setor de vestuário é equivocada e grave.

104

Em geral, apenas especialistas no tema apontam a sua importância para a definição de estruturas de cadeias produtivas e para a produção de estatísticas no Brasil. Deste modo, destaque deve ser dado para os trabalhos do Gruo de Classificação de Atividades de Produtos da Indústria do IBGE que por sua incansável insistência na importância do tema e pela compreensão de tal fato pelo órgão, ganhou maior dimensão interna [no IBGE] e no cenário da produção de estatísticas econômicas. Destaque deve ser dado também para as recomendações da ONU na década de 1990 no sentido de compatibilizar sistemas de classificações dos vários países-membros e para a necessidade de comparabilidade emanada da area de comércio exterior que acabaram por gerar demanda e atenção para o tema. A criação da CONCLA, Comissão Nacional de Classificações para unificar as discussões sobre o tema na indústria, no comércio, construção e serviços foi certamente um avanço. A produção de estudos sobre cadeias produtivas também permitiu maior compreensão da importância do tema. Merecem destaque, por fim, os trabalhos de Therezinha Lamego do Nascimento, sempre buscando a harmonização entre as classificações, e de Wasmália Bivar e Marcus José de Oliveira Campos, sempre atentos à importância das classificações para a correta representação da estrutura produtiva brasileira.

105

A pesquisa teve o caráter de levantar a percepção de moradores do estado de Sergipe sobre o que é produzido em Tobias Barreto. Não teve a pretensão de ser estaticamente representativa e nem de estabelecer o que, de fato, é produzido no arranjo. A pergunta inicial foi a mesma para os 40 participantes. Após a questão inicial sobre a pessoa conhecer Tobias Barreto, perguntamos: “o que é produzido em Tobias Barreto?”. Quase todas as pessoas responderam “confecções”. Perguntamos, então, “qual o tipo de confecção era produzido” e as respostas apontaram o que esperávamos: roupas para uso doméstico. Para detalhes sobre a pesquisa, consultar o APÊNDICE B.

Tabela 13: Percepção da Produção em Tobias Barreto. Produção Frequência Confecções 20 Colchas 15 Toalhas de mesa 18 Bordados 10 Artesanato 9 Redes 3 Total 45106

Fonte: pesquisa de campo.

A estrutura produtiva do setor têxtil incorpora algumas possibilidades de configuração de cadeias, possivelmente resumidas em: fiação; fiação e tecelagem integradas; tecelagem. O setor de vestuário trata da produção a partir da transformação de produtos de tecidos planos (de algodão) ou de malha em artigos “para vestir”. Deste modo, o arranjo de Tobias Barreto é um arranjo do setor têxtil, uma vez que produtos de cama, mesa e banho estão na cadeia têxtil e não na cadeia do vestuário. Esta diferença conceitual implica alterações cruciais não somente nas medidas de emprego e renda como, por conseqüência, nas medidas locacionais que fornecem ao pesquisador os instrumentos para afirmar ter este ou aquele local uma concentração espacial da produção do produto X.

Embora a classificação de um estabelecimento produtivo107 tenha que ser feita pelo valor da transformação industrial (VTI) que ele gera (o maior VTI determina a atividade para fins estatísticos) e não tenhamos acesso aos VTIs dos estabelecimentos de Tobias Barreto quer pelo grau de informalidade existente nas empresas, quer pela indisponibilidade de dados desagregados para o nível de produtos, os quocientes locacionais no Projeto foram calculados com dados da RAIS e levaram em consideração dados do setor de vestuário. Este procedimento, no mínimo, traz uma subestimação da atividade produtiva local, uma vez que, embora com alta informalidade, a atividade historicamente desenvolvida é têxtil e a produção de roupas para uso infantil ou de bermudas e vestidos é recente e não confere densidade ao polo.

106

A pesquisa permitia múltiplas respostas. O total, portanto, corresponde ao número de pessoas entrevistadas e não ao somatório da freqüência.

107

Aqui não se está fazendo a devida distinção entre estabelecimento, unidade local e empresa por não ser o foco da análise.

161

Outro ponto decorrente da classificação do arranjo como um polo de confecções é a incongruência com a literatura de arranjos produtivos: se a base do arranjo é a tradição produtiva local que passa de geração à geração e tem um produto (setor) como âncora, a tradição produtiva em Tobias Barreto não está retratada ao defini-lo como um arranjo de vestuário.

O Projeto, em sua metodologia, destaca Tobias Barreto como um arranjo de confecções e artesanato. A classificação do polo como um arranjo de artesanato, embora potencialmente verídica, não substitui a produção têxtil nem na concepção do arranjo nem na produção de estatísticas, visto que a produção artesanal estará classificada no setor a que pertence a sua matéria prima. Como exemplos: a customização em uma camisa é têxtil (e não vestuário); o bordado em uma colcha é têxtil; o trabalho artesanal em madeira pode ser madeira ou mobiliário.

Em resumo, toda a produção de bordados e rendas que tenha sido classificada como artesanato é, na verdade, produção da indústria têxtil e qualquer mensuração que não considere a indústria têxtil subestimará os dados do arranjo.

O Arranjo e a Análise de Ameaças e Oportunidades

Pontos Fortes Debilidades Pontos Fracos Oportunidades

Ambiente político- institucional favorável Experiência empresarial insatisfatória na determinação de mercados potenciais Concorrência no nordeste, especialmente no Ceará Qualidade dos produtos Progressivo adensamento territorial produtivo Eficiência coletiva empresarial insuficiente. Baixo nível tecnológico das empresas Programa de desenvolvimento setorial integrado

com apoio APEX

Predominância de

micro e pequenas empresas.

Inovação e design. Produtos chineses

com menor

qualidade mas com preço mais baixo

Apoio BNDES e

Pontos Fortes Debilidades Pontos Fracos Oportunidades Sistema de educação profissionalizante (SENAI) Reduzido número de lideranças empresariais Dificuldades de acesso a crédito Quadro 10 - Matriz de Oportunidades: Tobias Barreto

Fonte: elaborado a partir dos dados originais contidos em Metodologia de Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais, Sebrae, 2004, p.212.

Além das considerações feitas anteriormente sobre a matriz SWOT, destaquem-se os seguintes pontos para o caso de Tobias Barreto:

a) a concorrência com Ceará, apontada como “ponto fraco”, está na linha do que destacamos como uma “febre de APLs”. Se há tradição produtiva para produtos iguais ou semelhantes em uma região/país, como escolher um? Quem será beneficiado? As respostas não são fáceis e dependem da existência de possibilidades de realizar a produção no mercado interno e/ou no mercado externo;

b) a predominância de micro e pequenas empresas é aqui classificada como “ponto forte” do arranjo, o que não se explica senão pelas características do modelo marshalliano de distrito ou pela presença da instituição de apoio a pequenas e micro empresas do Brasil no Projeto. A última possibilidade pode ser encarada, então, mais como uma oportunidade, seja para o SEBRAE, seja para as pequenas empresas da região. A oportunidade, para o arranjo, se refere à possibilidade de capacitar estruturas que não estão rígidas por serem pequenas e que poderão aderir a um projeto de densificação da cadeia têxtil em Sergipe. Neste sentido, a presença do SEBRAE deveria estar classificada como está o apoio do BNDES e da APEX, todos institucionalmente envolvidos no fomento ao arranjo produtivo.

O Município-Sede e o Orçamento

Basicamente, a cidade e a microrregião, composta de mais dois municípios, sobrevivem à custa de transferências de outras instâncias governamentais, como mostra a

163

distribuição da receita de Tobias Barreto em 2002 nos gráficos 4, 5 e 6. Comparado à capital, o município apresenta distribuição da receita tributária semelhante, porém o baixo dinamismo da atividade econômica revela-se pela baixa participação das receitas tributárias na receita total (pouco mais de 3% em Tobias Barreto, comparados aos quase 24% em Aracaju). Tal evidência, no entanto, pode refletir a baixa formalidade das atividades de confecção e artesanato que foram objeto do Projeto de APL para o território de Tobias Barreto. Basicamente desenvolvidas nas casas de moradores, Tobias Barreto é o puro exemplo da tradição sócio-histórica que opera enquanto alicerce para o desenvolvimento de um arranjo produtivo local. 1,5 29,9 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0

Tobias Barreto Aracaju

Gráfico 6- Participação % das Receitas Correntes de Tobias Barreto e Aracaju na Receita Corrente Total de Sergipe – 2002.

Fonte: elaboração do autor. Dados primários obtidos no Sistema SIAFI, Secretaria do Tesouro Nacional/Ministério da Fazenda.

Capital Outras Transf.e Participações Serviços Inds Agro Patrim. Contrib. Tributárias 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

Tobias Barreto Aracaju

Gráfico 7 - Distribuição da Receita Municipal por Origem – 2002

Fonte: elaboração do autor. Dados primários em SIAFI-Secretaria do Tesouro Nacional, Ministério da Fazenda.. 22,5 49,5 15,3 29,8 6,2 7,0 9,9 10,3 2,5 47,1 IPTU IRRF ITBI ISS Taxas

Tobias Barreto Aracaju

Gráfico 8 - Distribuição da Receita Tributária Municipal (em %) – Ano 2002. Fonte: elaboração do autor

O Índice de Desenvolvimento Humano e a Microrregião

Considerando os dados de IDH, ressalte-se que apenas a capital sergipana encontrava- se acima do IDH médio brasileiro em 2000. Tobias Barreto e os municípios de sua microrregião registraram IDH abaixo, inclusive, em relação à média estadual (Gráfico 9). Esta percepção é mais forte ao verificarmos a Figura 5, onde todos os municípios sergipanos são apresentados de acordo com o IDH-2000. A microrregião de Tobias Barreto, destacada com

165

traços vermelhos, encontra-se entre as de mais baixo indicador de desenvolvimento do estado sergipano. 0,7937 0,6993 0,6215 0,5970 0,5961 0,5948 0,5911 - 0,2000 0,4000 0,6000 0,8000

Aracaju Média Brasil Média Estado Poço Verde

Tobias Barreto Microrregião Simão Dias

Gráfico 9 - IDH-2000, Tobias Barreto, Microrregião e Áreas Selecionadas.

Fonte: elaboração do autor. Dados primários em www.pnud.org.br, acessado em 14/08/09.

Figura 5 - IDH-2000, Sergipe.

Pesquisa de campo realizada pelo SEBRAE em 2002108 com 1319 estabelecimentos de Tobias Barreto indicou que havia algum grau de verticalização na produção e comercialização de confecções. Entre os estabelecimentos, 696 somente fabricavam confecções, enquanto 319, além de fabricar, também comercializavam suas peças. Na comercialização, o Sebrae identificou mais 299 estabelecimentos que apenas comercializavam confecções, totalizando 618 “comercializadores puros”. A formalização é sensivelmente maior na comercialização em lojas, como se esperaria, enquanto é baixa na produção, basicamente artesanal na região.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (páginas 159-167)