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4 A POLÍTICA DOS ARRANJOS E A ESCOLHA DA POLÍTICA: IMPACTOS DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NO BRASIL

4.1 OS ARRANJOS ESCOLHIDOS: O ESTADO, A MICRORREGIÃO E O MUNICÍPIO-SEDE

4.1.2 Nova Friburgo

Conhecida como a “capital da moda íntima”, a cidade possuía mais de 174 mil habitantes em 2002. Primeira cidade brasileira projetada, primeira cidade de colonização não- portuguesa e primeira com liberdade religiosa, Nova Friburgo abriga mais de 3000 empresários em cerca de 600 estabelecimentos formais e informais de confecções. Anualmente, estima-se que o mercado mundial de têxteis e confecções atinge valores de US$ 316 bilhões.

O Arranjo e a Análise de Ameaças e Oportunidades

A partir de pesquisa da Fundação Getúlio Vargas/SEBRAE, foi elaborado o Quadro 9 a seguir, que fornece, para o APL de Nova Friburgo, um resumo de oportunidades e ameaças.

Pontos Fortes Debilidades Pontos Fracos Oportunidades

Ambiente político- institucional favorável Experiência empresarial insatisfatória Custos menores de produtos nordestinos Qualidade na produção Eficiência coletiva empresarial emergente

Inovação e design Produtos com menor qualidade importados da China Nichos de mercado identificados na Europa Sinergia com oferta de expertise lombarda Dependência no suprimento de tecidos

Apoio BNDES, Apex

Existência de empresa-líder Dificuldade de acesso a crédito Investimentos diretos de empresas lombardas na região

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Pontos Fortes Debilidades Pontos Fracos Oportunidades

Localização estratégica

Instrumentos de marketing e promoção comercial

Quadro 9 - Matriz de Oportunidades: Nova Friburgo

Fonte: elaborado a partir dos dados originais contidos em Metodologia de Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais, SEBRAE, 2004, p.222.

O quadro anterior, instrumento clássico de análise de mercado potencial101 e de construção de estratégias de negócios, fornece alguns importantes pontos analíticos. Em primeiro lugar, remete-nos a considerar que o Projeto possui um olhar de estratégia competitiva sobre os arranjos102. O grifo é nosso e a “coisificação” do Projeto esconde, certamente, os atores que o construíram. Entretanto, deixamos a análise das intenções implícitas e da eventual articulação de atores para os sociólogos e cientistas políticos por acreditarmos que os profissionais destas áreas possuem os métodos e ferramentas adequados para empreender essa árdua tarefa. Para nossos propósitos, reconhecer a existência de intenções para além da simples aplicação dos recursos (financeiros e metodológicos) do Projeto já significa um grande avanço no pensamento linear.

De volta à análise do uso da matriz SWOT, destacamos que:

a) a análise traz duas vertentes importantes: o cenário interno e o cenário externo. As forças e fraquezas consideradas e as oportunidades e ameaças destacadas apontam elementos internos às empresas do arranjo e externos ao ambiente do mesmo. O movimento é importante e traz boas perspectivas. Afinal, o arranjo não está sozinho no mundo (Benko; Lipietz, 1984);

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O quadro apresentado deriva da Análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats), ferramenta popularizada há alguns anos na área de gestão de negócios (provavelmente sua origem remonta à década de 1960 com os trabalhos de Albert Humphrey na Universidade de Stanford, mas os registros a esse respeito não são confiáveis, havendo os que atribuem a sua elaboração aos professores Kenneth Andrews e Roland Christensen, da Universidade de Harvard ou, ainda, os que afirmam que a concepção já era usada há mais de três mil anos – ver um dos conselhos de Sun Tzu, de 500 a.C. na epígrafe deste capítulo). Utilizada em análise de cenário pode ser a base para a gestão estratégica de uma organização, mas pode ser usada em praticamete todas as situações, desde as pessoais às econômicas e organizacionais, e visa ao posicionamento estratégico de uma situação ou organização em um dado ambiente.

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Metodologicamente, o Projeto constrói a matriz de SWOT (em forma de quadro) para os quatro arranjos. Os quadros apresentados nesta tese são apenas resumos dos desenvolvidos na metodologia do Projeto. A análise apresentada para Nova Friburgo sobre o uso da matriz SWOT estende-se aos demais arranjos do Projeto.

b) o corolário da matriz SWOT é a análise estática. A matriz é usada, entre outras finalidades, para traçar estratégias. Deste modo, ao ser apresentada, sempre será uma fotografia, um momento do arranjo. Se forem traçadas estratégias a partir das forças e oportunidades, certamente a matriz estará morta e inútil algum tempo depois de sua criação. Deste modo, o processo de construção de estratégia para os arranjos tem que ser contínuo.

A observação poderia ser ingênua se não fosse claro que os arranjos são as construções sociotécnicas de Becattini. Se o são, a estrutura de governança estabelecida nos mesmos tem que tratá-los como processos, como coisas que virão a ser. A pergunta que permanece é “em que se transformarão as coisas?”. A resposta é, para nós, bastante clara: em outras coisas que não se definem a priori a não ser que refutemos nossa base analítica que é a da constante transformação das formações sociais. As “novas coisas”, os novos arranjos serão o que a interação de seus membros, a estrutura de suas governanças e a evolução dos ambientes (interno e externo) permitirem;

c) vale destacar que as “debilidades” destacadas são sanáveis (no caso de Nova Friburgo e nos casos que serão apresentados a seguir). No entanto, como formações abertas, os arranjos abrem-se a outras “debilidades” que precisam de novas matrizes SWOTs e novas implementações estratégicas que levem as formações a um ponto de ruptura com a situação pretérita. Inovações em design são possíveis a partir do intercâmbio com o exterior e a partir da interação com instituições de ensino e de fomento à pesquisa. Novamente, temos a organicidade do arranjo como ponto-chave para a sua sobrevivência. É a governança que tem seu grau definido pela maturidade do arranjo, pela possibilidade de interação entre os atores. Não há modelo canônico como alguns advogam, pois seria um contra- senso absoluto a hipótese de replicabilidade de experiências históricas em territórios outros que não os de sua ocorrência. Há, possivelmente, o que os “modernos gestores” dignificam como benchmarks, as referências que, por vezes, atingem a categoria de “incriticável”103;

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“Incriticável” seria, por exemplo, um projeto que recebeu o aval de uma instituição reconhecida mundialmente como um “modelo de projeto”. A crítica a tal projeto pode levar o autor (da crítica) à condição de outlier, de marginal da teoria sobre o tema.

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d) uma vez mais, as questões relacionadas ao ambiente interno de uma empresa são “controláveis” por seus dirigentes; as questões relacionadas ao ambiente interno do arranjo seriam controláveis por...? A resposta também pode estar no estabelecimento de uma estrutura de governança que seja por todos reconhecida. A tarefa não é simples, mas é possível. Assim como nas empresas, ao arranjo cabe, quando não a eliminação de uma ameaça ou de uma fraqueza, a sua minimização em termos de danos potenciais aos produtos “de classe made in”;

e) o que dizer, finalmente, do ambiente externo? A simples conclusão de que está totalmente fora do controle seja da empresa, seja do arranjo. Aqui temos um elemento potencialmente desestabilizador de qualquer arranjo organizacional ou produtivo que se promova em um território. A fazer temos o planejamento que pode evitar potenciais elementos desagregadores da coesão interna dos arranjos.

O Município-Sede e o Orçamento

O Gráfico 3 a seguir apresenta os dados orçamentários de Nova Friburgo, da capital fluminense e do estado do Rio de Janeiro nos anos 2002 e 2006, respectivamente início e final da ação do Projeto. Embora apresentando estrutura semelhante a de vários municípios brasileiros, as receitas próprias de Nova Friburgo registraram elevação superior à da capital fluminense. Enquanto em 2002 o município financiou suas despesas com 24% de receitas próprias, em 2006 este percentual subiu para 32%, resultado superior ao da capital fluminense, que teve elevação de apenas 0,7 pontos percentuais no período em suas receitas próprias como proporção da receita total. O resultado é ainda mais significativo quando comparado ao do estado do Rio de Janeiro, que apresentou redução de seu percentual de receitas próprias na receita total de 47,1% em 2002 para 39,1% em 2006. No entanto, este comportamento deve ser avaliado com cautela. No caso de elevação do nível de atividade industrial no município (supondo que o arranjo produtivo tenha influência direta neste comportamento), duas classes de tributos devem sofrer elevação: ICMS e, em menor grau, ISS e imposto de renda (na hipótese de elevação de patamar de renda de pessoas físicas e jurídicas derivada do aumento do nível de atividade). No caso de Nova Friburgo, nenhum dos impostos considerados sofreu elevação no período, conforme mostra o Gráfico 4.

Gráfico 3 - Dados Orçamentários: Nova Friburgo, Rio de Janeiro Capital e Estado do Rio de Janeiro

Fonte: elaboração do autor. Dados primários obtidos no Sistema SIAFI, Secretaria do Tesouro Nacional/Ministério da Fazenda

As informações apontam, portanto, a redução dos impostos que deveriam sofrer elevação com o aumento do nível de atividade industrial no município. O melhor resultado de receitas próprias em Nova Friburgo no período destacado é explicado pelo aumento do IPTU, que teve sua participação elevada de 11% em 2002 para 19% em 2006.

Gráfico 4 - Evolução da participação de impostos selecionados na receita própria e na receita de transferências de Nova Friburgo

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O Índice de Desenvolvimento Humano e a Microrregião

Nova Friburgo possuía, no ano 2000, um dos maiores índices de desenvolvimento humano do estado do Rio de Janeiro e sua microrregião também apresentava indicadores de desenvolvimento humano acima da média nacional. O Gráfico 5, a seguir, mostra tais evidências. A microrregião, por sinal, era uma das que apresentavam o mais alto IDH do estado, aproximando-se do IDH da capital fluminense e da região metropolitana. A Figura 4 apresenta uma ideia geral do desenvolvimento humano no estado do Rio de Janeiro. As cores mais próximas da vermelha registram os maiores indicadores e as mais claras, os menores. No mapa, percebem-se a proximidade entre as regiões de Nova Friburgo e Metropolitana, marcadas com elipses. Em contraste, as regiões Noroeste e Norte do estado do Rio de Janeiro, apresentavam os menores indicadores de desenvolvimento humano e, embora, houvesse configurações produtivas também capazes de abrigar o Projeto, não foram selecionadas para compor seu portfólio. Na região Noroeste, por exemplo, destaca-se a aglomeração produtiva de pedras ornamentais, principalmente em Santo Antônio de Pádua, que ficou fora do âmbito do Projeto. 0,842 0,810 0,760 0,733 0,742 0,712 0,712 0,699 0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000

Rio Capital Friburgo Média ERJ Bom Jardim Microrregião

Duas Barras Sumidouro Média Brasil

Gráfico 5 - IDH-2000 – Nova Friburgo, Microrregião e Áreas Selecionadas

Figura 4: IDH – Estado do Rio de Janeiro

Fonte: elaboração do autor. Dados primários em www.pnud.org.br, acessado em 15/08/09.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (páginas 153-159)